First Capital Bank: como funcionava banco criado por facção

Um suposto banco criado por um grupo criminoso para lavar dinheiro do tráfico internacional de drogas foi desarticulado pela Polícia Federal neste mês. Em operação há quatro anos, o First Capital Bank movimentou mais de R$ 50 milhões entre 2022 e 2023. As informações são da PF e do Fantástico, da TV Globo.

Como funcionava o First Capital Bank?

Segundo o site do First Capital Bank, a instituição, que se apresenta como banco, foi criada em 2019. Prometendo "práticas mais modernas e inovadoras no mercado financeiro", a empresa oferece serviços para pessoas físicas e empresas, como, por exemplo, conta, cartão, investimentos, empréstimos, máquina de cartão e até seguros.

O suposto banco foi descoberto a partir de uma apreensão de drogas no Pará, em julho de 2022. Na época da operação, uma denúncia anônima levou a PF a um sítio no município de Curuçá (PA). Lá, os investigadores encontraram uma tonelada de cocaína enterrada.

Com o avançar das investigações, a polícia identificou um complexo esquema de envio de cocaína para a África e Europa, por meio de barcos pesqueiros com origem no Pará. O dinheiro da venda das cargas era lavado justamente no First Capital Bank.

Aporte financeiro. O grupo criminoso enxergou a oportunidade de criar uma empresa e apresentá-la ao mercado como banco para lavar o dinheiro que vinha do tráfico de drogas. Lucas Gonçalves, delegado da Polícia Federal do Pará, disse ao Fantástico que, com a criação da empresa, os criminosos tentavam passar legitimidade em suas operações de valores ilícitos.

Entre 2022 e 2023, a instituição movimentou R$ 50 milhões — valor se refere apenas ao que foi movimentado pelo núcleo investigado. Segundo comunicado da PF, "a organização criminosa usava diversos 'laranjas' e 'testas de ferro' para dissimular os valores ilicitamente obtidos, mediante a constituição de diversas pessoas jurídicas."

O autodenominado banco tem site e perfis em redes sociais. No Instagram, inclusive, a empresa se manifestou após a operação da PF: "Negamos qualquer participação ou conivência com práticas ilícitas."

Instituição não tinha registros como banco. Procurado pelo UOL, o Banco Central informou que o First Capital não é regulado pelo órgão. Também em contato com a reportagem, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) disse que o suposto banco não faz parte do seu quadro de associados.

Continua após a publicidade

Ainda assim, não é possível afirmar se toda a carteira de clientes do First Capital Bank sabia que a instituição era controlada por traficantes. A Justiça Federal determinou a suspensão das atividades do banco e o bloqueio de valores nas contas da empresa. Agora, a investigação busca descobrir de quem partiu a ideia de criar o banco "fake" para a lavagem de dinheiro do tráfico.

O que aconteceu

A operação Oceano Azul foi deflagrada no dia 4 deste mês. Na ocasião, foram cumpridos 15 mandados de prisão e 30 de busca e apreensão em seis cidades paraenses e em outros sete estados do país. Além disso, haviam também 27 mandados de sequestro de bens e 15 mandados de suspensão de atividades econômicas, expedidos pela 4ª Vara Federal da seção judiciária do Pará.

Desses mandados, 12 pessoas foram presas, segundo o Fantástico. Também foram apreendidos computadores, carros de luxo, dinheiro vivo e joias em uma das sedes da empresa, em São Paulo. De acordo com a PF, dispositivos eletrônicos apreendidos serão periciados e analisados, "no intuito de corroborar ou refutar as hipóteses criminais levantadas".

Deixe seu comentário

Só para assinantes