Morador do RS: Quando a água baixar vamos encontrar, inclusive, gente
Após as águas que inundaram cidades do Rio Grande do Sul baixarem, muitos corpos de vítimas serão encontrados, disse o morador de Canoas (RS) Herbert Poersch em entrevista ao UOL News da manhã desta segunda-feira (6).
Duas coisas que é importante a gente dizer: quando baixarem as águas, vai se encontrar muita coisa, inclusive, gente. Já temos relatos de pessoas que estão embaixo [da água]. Disseram que em Canoas teve dois óbitos. Ontem, recebemos a notícia de nove óbitos na UTI do pronto-socorro de Canoas.
A gente sabe que a tragédia hoje é de água, é de resgate, mas ainda vai aparecer. Já perdi dois amigos que não está divulgado [nos números].
Meu filho pediu para salvar outras crianças antes dele, diz morador
Ele chegou a ficar ilhado no teto de casa com a mulher e dois filhos por 6 horas, e teve de escolher qual filho salvar primeiro.
Teve um momento que a gente não sabia como fazer [para o resgate]. Como salva? Salva primeiro meu filho? Salva eu? Tinha dois filhos comigo e o neto da vizinha, então tivemos que fazer uma escolha. Chegou um jet-ski na frente da minha casa para salvar a gente e meu filho disse para mim assim: 'Pai, salva primeiro aquelas crianças que estavam gritando'.
Eu fiz [salvei as outras crianças antes]. A criança pedindo não tem como [negar]. Minha vontade era botar ele em um pote para que ele fosse [junto].
O que aconteceu
Proximidade com a morte. Herbert passou a madrugada de sexta para sábado escutando o choro de crianças ilhadas no telhado de outras casas, que diziam "eu não quero morrer".
Desespero. A possibilidade de a família ser carregada pela enchente era real. Se Herbert sentasse na primeira linha de telhas, seus pés tocariam a água.
Impotência. Para completar, ele estava incomunicável. O celular dele e da mulher ficaram sem bateria. Também não adiantaria porque a internet havia parado de funcionar. Não havia mais nada que Herbert pudesse fazer.
Pedidos de socorro. Enquanto tinha sinal, o casal enviou mensagens a conhecidos e fez postagens nas redes sociais pedindo resgate. Restava a esperança que alguém lesse as mensagens.
Surge um salvador. Por volta das 11 horas da manhã de sábado, Herbert viu um jet-ski. Ao perceber que o condutor ouviu o assobio, comemorou, mas consciente do que estava por vir.
Nervos em frangalhos. Pela natureza da embarcação, somente uma pessoa poderia ser resgatada. "Tive de escolher que filho salvaria primeiro. Foi o pior momento da minha vida", relembra em meio ao choro.
Chuvas deixaram mais de 80 mortos no RS
A Defesa Civil informou que subiu para 83 o número de mortos em razão das fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul. A atualização é da manhã desta segunda-feira (6).
Mais de 850 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas no estado. São 111 desaparecidos e 276 feridos, segundo o boletim da Defesa Civil Estadual. Ao menos ficaram 121.957 desalojadas e 19.368 estão em abrigos.
Dos 497 municípios gaúchos, 345 sofreram alguma consequência dos temporais. Na região metropolitana de Porto Alegre, a água deixou pessoas ilhadas e fechou hospitais em Canoas. O clima é de "zona de guerra".
Nível do Guaíba era de 5,27 metros, às 8h, desta segunda. Os dados são da régua da Sema (Secretaria Estadual do Meio Ambiente), SGB (Serviço Geológico do Brasil) e UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). No sábado (4), ele já havia superado a marca atingida no ano de 1941 (de 4,76 metros de altura), quando inundou grande parte do centro da capital gaúcha.
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