Conteúdo publicado há 7 meses

Turismo vira preocupação após rua desabar e isolar bairro em Gramado

Depois de uma rua ter desmoronado no bairro Piratini, em uma área rica próxima ao centro de Gramado (RS), 99,9% dos moradores saíram do local após a Defesa Civil ter recomendado o isolamento total da área, que está sob riscos de novos deslizamentos devido às chuvas que atingem o estado. A cidade é o principal destino turístico da Serra Gaúcha.

Na noite de domingo (12), a rua Henrique Bertoluci cedeu. O que acarretou na movimentação de terra nas casas de uma rua paralela situada metros abaixo, a rua Guilherme Dal Ri.

Em ambas as ruas, tapumes foram colocados para impedir a entrada de pessoas, seja em carros ou a pé. Mas entre os tapumes da Guilherme Dal Ri um morador decidiu não sair dali.

Único morador

Paulo César da Silva, 52, é pedreiro, artesão e sempre morou na rua que foi afetada. "A minha filha nasceu e se criou aqui. Então, tem muita história, né?", disse ao UOL na manhã de sábado (18).

18.mai.2024 - Paulo César da Silva na rua Guilherme Dal Ri, onde mora, em Gramado (RS)
18.mai.2024 - Paulo César da Silva na rua Guilherme Dal Ri, onde mora, em Gramado (RS) Imagem: Marcelo Ferraz/UOL

Por sua expertise como pedreiro, Silva considera que o asfalto da rua Henrique Bertoluci foi mal projetado. "Cedeu o asfalto e empurrou a terra aqui. Porque aqui tava firme, só que, como cedeu lá, deu pressão e empurrou essa terra pra baixo", relatou.

A água começa a fazer barro na terra, vira um lodo e começa a ceder.
Paulo César da Silva

O pedreiro estava próximo de casa quando ouviu, por volta das 20h30 de domingo, um grande estrondo e sentiu uma trepidação no solo: "Mas estava muito escuro. No outro dia de manhã que a gente foi ver que era a casa da vizinha lá que tinha desabado."

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18.mai.2024 - Rua Henrique Bertoluci, em Gramado (RS), cedeu em 12 de maio de 2024
18.mai.2024 - Rua Henrique Bertoluci, em Gramado (RS), cedeu em 12 de maio de 2024 Imagem: Marcelo Ferraz/UOL

Na rua onde ele vive, a reportagem observou casas claramente comprometidas. Algumas se escoravam umas nas outras. Também havia casas completamente destroçadas, assim como rachadas. Os postes e as fiações estavam todos derrubados.

"Depois que tirarem com a máquina essas casas aqui, vai dar pra morar tranquilo. Porque aqui tu pode ver que não é tão íngreme", disse o pedreiro, com esperança.

Na frente da casa dele, Silva diz que morava um amigo, também pedreiro. "Ele trabalhou 30 anos pra construir a casinha dele. E agora deu isso aí, né? É complicado", complementou.

Sem casa

Mais de 1,6 mil pessoas de bairros de Gramado estão desalojadas e desabrigadas, de acordo com coordenadores de abrigos do município. As desalojadas das ruas Henrique Bertoluci e Guilherme Dal Ri, que ficam em uma região rica da cidade, próxima ao centro, foram para lares de familiares e amigos.

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Já os abrigos têm recebido pessoas mais pobres, que viviam em bairros mais afastados do centro da cidade, como Várzea Grande e Três Pinheiros, e que não tinham familiares e amigos com disponibilidade para recebê-los. Esses bairros ficam em morros do município.

18.mai.2024 - Trecho de entrada para Várzea Grande, em Gramado, atingida por deslizamentos
18.mai.2024 - Trecho de entrada para Várzea Grande, em Gramado, atingida por deslizamentos Imagem: Marcelo Ferraz/UOL

Nos abrigos, homens, mulheres, crianças e idosos dividem espaço com desconhecidos enquanto torcem para receber a notícia de que podem retornar para suas casas.

Economia afetada

As notícias sobre os desmoronamentos de terra em Gramado fizeram com que turistas que tinham passagens e hospedagens agendadas entre maio e junho cancelassem a visita à Serra Gaúcha.

Além disso, o principal ponto de chegada de turistas à cidade é o aeroporto de Porto Alegre, que está desativado por conta da enchente que atinge a cidade no último mês.

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18.mai.2024 - Casa que desmoronou na rua Guilherme Dal Ri, em Gramado (RS)
18.mai.2024 - Casa que desmoronou na rua Guilherme Dal Ri, em Gramado (RS) Imagem: Marcelo Ferraz/UOL

Outros pontos de acesso, como a BR-116 e a ERS-115, têm trechos intransitáveis. Numa sexta-feira ou sábado de frio, a cidade costumava registrar grande movimentação.

Não foi o que aconteceu entre os dias 17 e 18 deste mês, que tiveram baixas temperaturas. O município estima que, em maio, o turismo na cidade tenha prejuízo superior a mais de R$ 100 milhões.

Em uma fábrica de chocolate, a vendedora encheu os olhos quando a reportagem pediu para entrar. Segundo ela, entre sexta e sábado, seríamos os segundos clientes. O primeiro era um vizinho, que foi tomar um chocolate quente.

Não longe dali, em uma fábrica de malhas, a reclamação da vendedora tinha como mote o medo de perder o emprego. Já fazia uma semana que não conseguia vender. A primeira e a segunda vendas foram feitas só no sábado.

18.mai.2024 - Com deslizamento de terra, asfalto da rua Guilherme Dal Ri, em Gramado (RS), pressionou portão de casa
18.mai.2024 - Com deslizamento de terra, asfalto da rua Guilherme Dal Ri, em Gramado (RS), pressionou portão de casa Imagem: Marcelo Ferraz/UOL
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Enquanto a reportagem se aproximava das ruas interditadas no bairro Piratini, um homem, que não quis se identificar, afirmou ser empresário na cidade e reclamou de reportagens que citam aquela localidade.

O empresário avalia que a publicidade sobre o que de ruim tem acontecido em Gramado afugenta os turistas da cidade.

Já o pedreiro Paulo César da Silva agradeceu a presença da reportagem: "Não dá para jogar para debaixo do tapete. É preciso resolver os problemas com a urgência que cada necessidade exige."

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