Cratera e sítio arqueológico: a novela de 16 anos da linha laranja do metrô

Dificuldades geológicas nas obras da linha 6-laranja do metrô de São Paulo podem atrasar em 1.096 dias a entrega das estações, segundo a Folha de S.Paulo.

O prazo aparece em um relatório de administração publicado em março pela concessionária Linha Uni, responsável pela gestão e obra do projeto. Caso todo o prazo seja usado, a linha, que ligará a zona norte à região central, será entregue somente em 2028.

Sobre esse possível atraso, o governo e a concessionária disseram à Folha que estão tentando agilizar cronogramas.

Relembre intercorrências envolvendo as obras da linha laranja do metrô de São Paulo:

Obras paralisadas por quatro anos

Parte do trajeto Linha Laranja em São Paulo
Parte do trajeto Linha Laranja em São Paulo Imagem: Arte Uol

Lançada em 2008 pelo então governador de São Paulo José Serra (PSDB), a linha 6-laranja do metrô deveria ter sido inaugurada em 2012 — essa era a previsão para a entrega do maior trecho, da Freguesia do Ó, na zona norte de São Paulo, até a estação São Joaquim, no centro.

No fim de 2013, o consórcio Move São Paulo —formado pelas construtoras Odebrecht, Queiroz Galvão, UTC Engenharia e um fundo financeiro— venceu a licitação para construir e operar o trecho. À época, foi o único a apresentar proposta.

As obras começaram com atraso, em 2015. No ano seguinte, após a operação Lava Jato —cujas investigações envolviam empresas do consórcio— o Move São Paulo alegou não ter dinheiro e nem linha de crédito e abandonou o projeto. O grupo precisava de R$ 5,5 bilhões para financiamento.

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No total, o projeto foi interrompido por quatro anos. Em 2018, com a obra parada, Geraldo Alckmin, então governador do estado, anunciou o cancelamento do contrato. Antes da desistência do consórcio, a previsão de entrega da linha 6-laranja era justamente 2018. Com isso, passou para 2020 e, depois, 2021. O novo prazo, até então, era 2025.

Troca de concessionária

'Tatuzão' usado em obras do metrô
'Tatuzão' usado em obras do metrô Imagem: Divulgação/Acciona

A obra da linha 6-laranja foi retomada no fim de 2020. O grupo espanhol Acciona comprou os direitos do consórcio Move São Paulo, o que evitou a necessidade de uma nova licitação.

O contrato prevê que o grupo espanhol, além de construir a linha, passe a operá-la por 19 anos. A empresa também deve adquirir a frota de 22 trens.

Ao todo, estão previstas 15 estações —desde a região da Brasilândia até o centro da capital paulista, na ligação com a linha 1-Azul. Com ônibus, esse percurso dura entre uma hora e meia e duas horas. Com o metrô, a estimativa é que os passageiros gastem 23 minutos.

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Cratera na Marginal

Cratera após deslizamento em obra do metrô na Marginal Tietê
Cratera após deslizamento em obra do metrô na Marginal Tietê Imagem: REUTERS/Carla Carniel

Em fevereiro de 2022, um desmoronamento nas obras da linha 6-laranja interditou um trecho da Marginal do Tietê. Imagens aéreas mostraram uma cratera que se formou na lateral da pista, com pedaços de asfalto cedendo. Uma caixa d'água acabou sendo engolida.

A espanhola Acciona, responsável pelas obras, informou que ocorreu um rompimento de uma coletora de esgoto próximo ao VSE Aquinos, ponto onde estava o poço de ventilação e saída de emergência da futura linha.

Na época, Paulo Galli, então secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, disse que houve um vazamento na adutora de esgoto no local. Ele não descartou falha humana.

Sítio arqueológico em canteiro de obras

Impacto da obra da futura estação Vai-Vai Saracura no bairro do Bexiga
Impacto da obra da futura estação Vai-Vai Saracura no bairro do Bexiga Imagem: Inês Bonduki/UOL
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Em maio do ano passado, foi realizada vistoria no sítio arqueológico Saracura, no canteiro de obras de uma das futuras estações de metrô da linha laranja, na região central de São Paulo. A visita fez parte das diligências do inquérito que apurava possíveis irregularidades na preservação dos vestígios arqueológicos no local.

Na época, foram encontrados vestígios que poderiam ser de artefatos utilizados em cerimônias e atividades de religiões de matriz africana, segundo o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

As regiões do Bixiga e da Liberdade, também com história ligada à população negra da capital paulista, foram os únicos pontos do traçado da linha laranja em que não foram feitos estudos arqueológicos prévios, segundo a Agência Brasil. A concessionária Move São Paulo, à época responsável pelas obras, solicitou, em 2020, ao Iphan a dispensa de estudos nesses locais. Assim, a história do Quilombo Saracura só foi mencionada no processo de licenciamento depois de a escola de samba Vai-Vai ter sido removida do local para o início das obras.

Nova cratera

Moradores foram as redes sociais apos a cratera chegar ao condominio
Moradores foram as redes sociais apos a cratera chegar ao condominio Imagem: Reprodução/TV Globo

Já neste mês, a obra de construção da linha laranja do metrô de São Paulo causou uma cratera na Avenida Ministro Petrônio Portela, na altura do bairro Freguesia do Ó.

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Parte da quadra de um condomínio foi afetada pelas escavações do "tatuzão", como é conhecida a tuneladora que faz as escavações.

A concessionária Linha Uni disse que já era prevista a possibilidade de uma cratera ser aberta. "O local já estava isolado como medida preventiva e a região já era monitorada devido a esta condição atípica do solo e sua interface com as escavações do túnel com a tuneladora Norte".

*Com reportagem publicada em 01/02/2022 e Agência Brasil

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