Espancamento, tiro: o que se sabe sobre o caso do PM morto pelo irmão em GO

Um conselho familiar foi o que deu início ao conflito que terminou com a morte do policial militar Tiago White Rodrigues de Araújo, de 33 anos, pelo próprio irmão, Alexandre White Rodrigues de Araújo, de 24 anos, na última quinta-feira (11), em Uruaçu (GO), segundo o delegado do caso, Sandro Costa.

O que se sabe:

Policial comemorava aniversário e aprovação em curso da Polícia Militar. Ao final do churrasco de comemoração dos seus 34 anos, que seriam completados no sábado, dia 13, e do ingresso em um curso da PM, Tiago teria aconselhado o irmão mais novo sobre o relacionamento amoroso do caçula com a atual companheira, conforme relataram testemunhas ao delegado.

Na sequência, irmão reagiu ao conselho com críticas ao 'padrão familiar' do policial. "Possivelmente já influenciado pelo álcool no final do churrasco, começou um assunto familiar. A vítima [Tiago] aconselhou sobre o relacionamento do autor [Alexandre] com a sua companheira e, segundo o próprio Alexandre me relatou no interrogatório, ele teria dito que o padrão familiar do irmão mais velho não seria parâmetro e que, por essa razão, não aceitaria o conselho", disse Costa ao UOL.

'Despertou a fúria'

Irmão disse que policial tinha outra família fora do casamento. Argumento usado por Alexandre teria sido exposto em voz alta e próximo à esposa de Tiago, o que teria despertado "a fúria" do PM.

Isso despertou a fúria da vítima [policial], que agrediu o autor [irmão mais novo]. Tiago era bem forte, um policial de grupo especializado. E o autor, até onde a gente sabe, tinha perfil pacífico e não tinha um porte físico avantajado ou atlético como a vítima. Então, a luta foi basicamente uma agressão da vítima contra o autor, até ele [irmão mais novo] praticamente perder a consciência. Sandro Costa, titular da Delegacia Municipal de Uruaçu e do Grupo Especial de Investigação Criminal.

Familiares tentaram intervir na agressão. A discussão entre os irmãos e as agressões duraram alguns minutos, até membros da família intervirem e o policial interromper os "socos, chutes e murros" contra o irmão mais novo, ainda segundo Costa.

Quando recobrou a consciência, Alexandre foi até o quarto do irmão e apanhou a arma usada pelo policial na corporação.

Tiago estava pelo pátio, à beira da piscina, quando seu irmão foi até o quarto, onde possivelmente já sabia que a arma estava, apanhou a arma brasonada, da própria Polícia Militar, e voltou para o pátio. Ali, eles quase se toparam na porta e foi o momento em que o autor apontou a arma e disparou dois tiros, sem conversa, surpreendendo, então, a vítima. Delegado Sandro Costa

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Baleada, a vítima caiu na piscina e foi socorrida por familiares. Um dos tiros atingiu o policial na mão e ricocheteou no abdômen e, o segundo, acertou as costas. "Esse último tiro foi supostamente o que causou o óbito e o fez cair na piscina, alvejado", informou o delegado.

Policial saiu com vida da piscina, mas morreu a caminho do hospital. Antes da chegada dos bombeiros que socorreram Tiago, familiares tiraram a arma da posse de Alexandre. O autor dos disparos teria saído da casa do irmão já com a intenção de se apresentar à delegacia, segundo as testemunhas ouvidas no caso.

'Tinham boa relação'

Irmãos tinham "bom convívio familiar". Testemunhas ouvidas pelo delegado disseram que Tiago e Alexandre tinham "boa relação". Os dois trabalhavam juntos em uma pizzaria de Uruaçu, da qual eram sócios, junto com o pai e outro irmão.

Eles não tinham histórico de má convivência, se davam muito bem, trabalharam juntos (...). Todo mundo reconhece que eles tinham boa convivência. (...) Uns falam que o autor tinha quase um respeito de pai em relação à vítima, que era seu irmão mais velho. Delegado Sandro Costa

Tiago era lotado no 18º Comando Regional da Polícia Militar de Goiás e atuava na 7ª Companhia Independente de Policiamento Especializado (CPE) de Uruaçu, além de ser sócio da pizzaria onde trabalhava com a família.

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Policial é descrito como "bom militar". "Trabalhei com ele em algumas ocorrências, nas quais ele se apresentou como um bom militar, como todos aqui do CPE, que é um grupo especializado de Goiás, ao qual são sempre selecionadas pessoas qualificadas tecnicamente", afirmou Costa.

Irmão se disse 'arrependido'

Autor dos disparos confessou crime ao delegado. Preso em flagrante na mesma madrugada do conflito, Alexandre estava em estado de "choque" quando prestou depoimento na delegacia e assumiu ter disparado contra o irmão, ainda segundo o delegado.

Eu o interroguei no dia do flagrante, acompanhado do advogado, e ele optou por falar. Foi coerente com o que a gente ouviu das outras testemunhas. Ele confessou que foi um momento explosivo que, em função de ele ter sido agredido pelo irmão, tomou essa decisão errada. E estava bastante arrependido, com certeza.

Delegado afastou tese de motivo fútil. "A ocorrência chegou com essa roupagem de motivo fútil. Mas eu afastei [a tese] porque, de fato, o autor foi muito agredido, a ponto de ele praticamente ficar inconsciente, com o rosto todo machucado", concluiu Costa.

A reportagem tentou localizar a defesa de Alexandre, mas não conseguiu. O espaço segue aberto a manifestações.

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