'Primitivo, mas seguro': como funciona sistema antigelo de avião que caiu

O acidente com o modelo ATR-72 que caiu em Vinhedo (SP) na sexta-feira (9), resultando na morte de 62 pessoas, trouxe à tona discussões sobre o funcionamento do sistema antigelo dessas aeronaves. A formação de gelo em rota tem sido uma hipótese levantada por especialistas como possível contribuinte para a queda do avião. O acidente, porém, continua sendo investigado e não há qualquer conclusão até o momento.

O que aconteceu

Sistema antigelo é crucial para segurança. Projetado para operar com segurança em condições de formação de gelo, o sistema de proteção é um dos elementos cruciais para evitar que o gelo acumulado comprometa a aerodinâmica e a segurança do voo.

Borrachas inflam para gelo cair. Vídeos publicados nas redes mostram como funciona o sistema de degelo nas asas do modelo ATR-72. As bordas de ataque das asas e os estabilizadores horizontais e verticais são equipadas com sistemas de botas pneumáticas. Elas se parecem com anéis de borracha e podem ser infladas e desinfladas. Quando infladas, as botas se expandem, quebrando e removendo qualquer gelo que tenha se formado.

Sistemas antigelo dos ATR são monitorados e controlados pela tripulação. Por meio de painéis de controle específicos no cockpit, o sistema pode ser ativado ou desativado conforme necessário, dependendo das condições de voo.

Sistema é eficiente, mas depende de vários fatores. Enquanto as investigações sobre a aeronave que caiu em Vinhedo prosseguem, especialistas apontam que o sistema antigelo desses modelos é eficiente, mas sua operação depende de vários fatores, incluindo a correta atuação dos pilotos e as condições climáticas adversas.

O sistema de degelo das asas infla uma fileira de anéis de borracha, quebrando o gelo preso nas bordas
O sistema de degelo das asas infla uma fileira de anéis de borracha, quebrando o gelo preso nas bordas Imagem: Reprodução/YouTube

No ATR, ainda há aquecimento. Fernando Catalano, professor de engenharia aeronáutica da EESC/USP, explica que, além do sistema pneumático nas asas, que funciona por ar comprimido obtido dos motores, o modelo possui sistema antigelo elétrico em alguns componentes fundamentais, como hélices, lemes, profundores, flaps e ailerões, pitots (tubos) e demais sensores. Ele aquece esses equipamentos, evitando a formação de cristais de gelo.

A partir do alarme, ambos os sistemas são acionados manualmente em três fases que aumentam sua ação. O de-icing só é acionado para remover o gelo acumulado. Expande e volta ao normal para não afetar muito a aerodinâmica, por isso é manual. Fernando Catalano, professor de engenharia aeronáutica

Operação "manual" é essencial. Catalano destaca que, embora possa parecer um sistema mais "primitivo", a operação correta por parte do piloto é essencial para garantir sua eficácia. "Pode ser um sistema mais primitivo, mas a 'acha' (operação) correta do piloto torna [o seu funcionamento] mais seguro", completa.

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Seguro para voos regionais

ATR é moderno e usado em todo o mundo. O coronel da reserva Roberto Alves, piloto e especialista em segurança, reforça a confiabilidade do ATR como um avião moderno e amplamente utilizado em voos regionais em todo o mundo, incluindo América do Norte, Europa e Ásia.

Toda aeronave que é destinada a transporte de passageiros tem sistema antigelo. E esse sistema pneumático é extremamente eficiente. Quando infla, ele quebra o gelo, e normalmente não há relação do gelo com acidentes. Além disso, nenhum acidente acontece por um único fator. Roberto Alves, coronel da reserva, piloto e especialista em segurança

O coronel enfatiza a importância da investigação. Ela está sendo conduzida pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). "A intenção do órgão é identificar o que aconteceu para avaliar se dá para tirar algum ensinamento dessa tragédia", diz.

Imagem áerea do local onde avião da Voepass caiu
Imagem áerea do local onde avião da Voepass caiu Imagem: NELSON ALMEIDA/AFP

Aeronaves menores são adequadas para voos regionais. Éder Luiz Oliveira, professor de manutenção de aeronaves na Unesp, o medo comum contra aeronaves turbo-hélice, como o ATR, que são frequentemente vistas como menos seguras. "Este modelo de aeronave é sim adequado ao tipo de missão que ele opera, que são voos regionais, inclusive ela opera em vários países, tipicamente com climas mais severos que o nosso", argumenta.

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Pilotos são treinados para lidar com sistema antigelo. Oliveira também reforça que, mesmo sendo um sistema manual, os pilotos são treinados para lidar com esse tipo de situação. Ele também acredita que uma falha isolada no sistema antigelo não seria suficiente para causar a queda da aeronave.

Aeronaves comerciais são conhecidas por sua segurança. Mesmo que houvesse uma falha isolada no sistema de proteção antigelo, para a queda da aeronave, necessariamente devem haver outros fatores envolvidos. Éder Luiz Oliveira, professor de manutenção de aeronaves

Similar a outros modelos, o ATR tem um sistema de aviso de estol (velocidade mínima para aeronave permanecer voando). E tem um sistema de alerta piloto/copiloto para informar sobre o aumento excessivo do arrasto (causado pelo acúmulo de gelo).

Todavia, a aeronave não deve voar em condição de formação de gelo severo. Segundo Oliveira, se for identificada tal condição, a tripulação deve declarar emergência e procurar sair dessa condição imediatamente, mantendo uma velocidade "predefinida" acima da velocidade estol.

Um acidente deste tipo comove a todos, é lamentável. É importante aguardar a investigação, pois nela serão identificados todos os fatores que levaram a este trágico acidente. Na aeronáutica, sempre que há um acidente, há um esforço muito grande para se identificar os fatores para não acontecer eventos similares. Por isso aeronaves comerciais são tão seguras. Éder Luiz Oliveira

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