Bombeiro preso acusado de matar em área de milícia disputa eleições no RJ
Mesmo atrás das grades há um ano, o bombeiro Marcio Cardoso Pagniez, conhecido como Marcinho Bombeiro (PSL), concorre ao cargo de vereador pela quarta vez em Belford Roxo (RJ), na Baixada Fluminense. Acusado de chefiar uma milícia, ele está preso preventivamente desde outubro de 2019 e é réu por suposta participação na morte de dois jovens em abril de 2017.
De acordo com denúncia do MP-RJ (Ministério Público do RJ), eles foram assassinados em plena luz do dia a mando do vereador porque estariam fumando maconha. Um deles foi amarrado a um poste próximo a um campo de futebol antes de ser morto. Marcinho respondia à acusação em liberdade, mas teve a prisão preventiva decretada após tentar matar uma das testemunhas, segundo a promotoria. A defesa dele nega envolvimento do candidato nos crimes.
Esta é a segunda reportagem da série "Milícia nas urnas". Na primeira, o UOL falou sobre os 'candidatos das milícias' investigados por coagir rivais e eleitores.
Campanha omite que Marcinho está preso
Em setembro de 2019, o MP-RJ (Ministério Público do Rio) pediu o afastamento do cargo de Marcinho Bombeiro, vereador e então presidente da Câmara Municipal de Belford Roxo.
No mês seguinte, ele foi levado para o Grupamento Especial Prisional do Corpo de Bombeiros, em São Cristóvão, zona norte do Rio, onde permanece até hoje.
Com acusações por crimes como associação criminosa, formação de quadrilha e porte ilegal de arma, ele também foi denunciado por crime ambiental e peculato (desvio de dinheiro público).
A denúncia do MP-RJ acusa Marcinho Bombeiro de integrar "uma milícia que age com extrema violência".
Vereador em Belford Roxo desde 2008, o político faz campanha nas redes sociais sem mencionar que está atrás das grades.
Vítima de guerra política, diz advogado
Em entrevista ao UOL, o advogado Flávio Fernandes, que representa Marcinho Bombeiro, contestou a denúncia do MP-RJ. Segundo ele, seu cliente é inocente e não tem envolvimento com milícias.
Está na denúncia [que Marcinho Bombeiro chefia uma milícia]. Mas não quer dizer que seja verdade. Se a denúncia fosse verdade absoluta, a defesa não poderia se utilizar do contraditório. O MP imputou participação em milícia porque é a moda. Quando um agente do estado é acusado de algo, logo é relacionado com a milícia
Flávio Fernandes, advogado de Marcinho Bombeiro
Fernandes descartou impacto negativo da prisão no pleito. Segundo ele, Marcinho tem boa reputação na cidade e é vítima do que entende ser uma "guerra política".
"Ele é vereador há três mandatos e sempre gozou de prestígio no município. O eleitorado o conhece e sabe que isso é, na verdade, uma guerra política. A verdade virá à tona", argumentou.
A defesa informou que entrou com pedido de relaxamento de prisão no começo deste mês na Vara Criminal de Belford Roxo e disse acreditar que Marcinho possa ser solto antes das eleições.
Levantamento do UOL identificou outros quatro candidatos a vereador na Baixada Fluminense investigados por suspeita de envolvimento com as milícias. Sem condenação em segunda instância, eles estão habilitados a disputar o voto nas urnas.
A lei da Ficha Limpa exige condenação em segunda instância para impedir uma candidatura. Se o investigado ainda não foi condenado, não cabe à Justiça Eleitoral fazer o controle
Fernando Neisser, advogado especialista em Direito Eleitoral
Prisão após tentar matar testemunha, diz MP
De acordo com o MP-RJ, mais de dez homens não identificados abriram fogo contra quatro jovens a mando de Marcinho Bombeiro na tarde de 14 de abril de 2017, em Belford Roxo. Dois deles conseguiram fugir.
Inicialmente, Marcinho Bombeiro respondia ao processo em liberdade. A 1ª Vara Criminal de Belford Roxo aplicou medidas cautelares, obrigando-o a manter distância de ao menos 200 m das testemunhas e parentes das vítimas.
Entretanto, o réu é suspeito de ter descumprido a ordem judicial após ser acusado pelo MP-RJ de tentar matar o irmão de uma das vítimas em 15 de outubro de 2019.
Verifica-se através do depoimento detalhado e convincente que houve a tentativa de homicídio por parte de Marcio. [O declarante] teme ser morto por Marcinho Bombeiro ou pelos integrantes da milícia que ele lidera no bairro Andrade Araújo
Trecho da denúncia apresentada pelo MP-RJ
Marcinho Bombeiro é acusado pela testemunha de chefiar a milícia encarregada pela cobrança de taxa mensal feita aos moradores da região. Ele também é réu em outro processo por homicídio qualificado, que corre em segredo de Justiça.
"O que é bom tem que continuar"
"O que é bom tem que continuar. Conto com o apoio de todos", postou o perfil da campanha no Facebook na manhã de 9 deste mês.
No dia seguinte, publicou fotos do lançamento da sua candidatura com a presença de integrantes do PSL. "Foi dada a largada. Hoje em uma reunião de lideranças iniciamos nossa campanha. Venha você também fazer parte dessa família."
O candidato também manifestou apoio à reeleição do prefeito Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho (MDB).
O reduto eleitoral de Marcinho Bombeiro fica nos bairros Andrade Araújo e Heliópolis, apontados pelo Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro como territórios dominados por milícias. O UOL percorreu as ruas da região e encontrou uma faixa de agradecimento ao vereador em nome dos moradores.
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