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Análise: Rejeição a Crivella e voto útil ameaçam ida de prefeito a 2º turno

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos) - Saulo Angelo/Futura Press/Estadão Conteúdo
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos) Imagem: Saulo Angelo/Futura Press/Estadão Conteúdo

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

06/11/2020 13h59

A rejeição a Marcelo Crivella (Republicanos) aliada à possibilidade de voto útil colocam em risco a ida do prefeito para o 2º turno, faltando pouco mais de uma semana para a disputa do 1º turno da eleição para a Prefeitura do Rio, segundo apontam cientistas políticos ouvidos pelo UOL. Com base no resultado da pesquisa Datafolha, divulgada ontem (5), especialistas preveem uma disputa acirrada, que só será definida às vésperas do pleito.

Isolado na liderança, Eduardo Paes (DEM) soma 31% das intenções de voto. Com 15%, Crivella continua em 2º lugar —estável devido a um "núcleo duro" de eleitores—, mas sem perspectiva de crescimento significativo, mesmo com apoio explícito do presidente Jair Bolsonaro, devido ao alto índice de rejeição. Há empate técnico entre ele e Martha Rocha (PDT), com 13%. Ela "estacionou" com mesmo índice da pesquisa divulgada há duas semanas.

Com nível de confiança de 95%, a pesquisa encomendada pela Folha de S.Paulo e TV Globo tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, o que explica o empate técnico entre Martha Rocha e Benedita da Silva (PT), que oscilou de 10% para 8%.

Crivella aparece com o candidato com o maior índice de rejeição, com 57%, seguido de Paes (33%) e Benedita (30%). Martha Rocha marca 11% de rejeição —ela viu o índice crescer ante o levantamento anterior (7%) em decorrência dos ataques das campanhas de Paes e Crivella, apontam os especialistas.

Para analistas, Martha Rocha se consolidou como a maior ameaça para Crivella e, na reta final, mira o voto útil.

O cientista político Paulo Baía atribui a desaceleração da arrancada inicial de Martha nas pesquisas aos ataques das campanhas de Eduardo Paes e Marcelo Crivella, que veem a sua campanha como uma ameaça.

Baía afirma acreditar que Martha tem chances reais de tirar o atual prefeito do 2º turno na reta final da campanha. O analista vê maior potencial de migração para ela de votos de Luiz Lima (PSL), que disputa os bolsonaristas com Crivella.

Se ela fizer nessa reta final uma campanha que consiga seduzir sobretudo uma parte do eleitor do Luiz Lima, ela consegue chegar ao 2º turno. Não adianta bater no Crivella, porque ele não se move e tem eleitorado fiel. O apoio de Bolsonaro não o fará crescer. Mas assegura a sua estabilidade

Paulo Baía, cientista político

Para ele, Martha tem menos chances de conseguir votos da esquerda, de eleitores de Benedita da Silva e Renata Souza (PSOL). "São eleitores partidarizados, que votam pela lógica de fortalecimento dos seus partidos", avalia.

Fragmentação da esquerda e voto feminino

O cientista político Ricardo Ismael diz acreditar que essa fragmentação da esquerda e centro-esquerda pode colocar Crivella no 2º turno. Mas ele afirma que Martha pode reverter esse quadro se mirar o voto feminino —a pedetista teve queda de 13% para 10% entre as mulheres.

A Martha Rocha tem chance de crescer, mas depende do voto útil e precisa se comunicar melhor com o público do sexo feminino. Tudo indica que a disputa para o 2º turno vai acontecer até a reta final da campanha

Ricardo Ismael, cientista político

Por outro lado, ele avalia que o crescimento de Luiz Lima —em menos de um mês foi de 1% para 5%— possa atrapalhar a campanha de Crivella. "Como ele é aliado do Bolsonaro, pode atrapalhar o Crivella na reta final. Se crescer, tem condições de tirar eleitores do Crivella que são bolsonaristas", analisa.