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Com fim do fundo eleitoral, só elite concorreria, diz cientista política

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/11/2020 18h29

Candidatos a prefeito e vereador, principalmente de partidos de direita, fizeram campanha batendo na tecla de que não estavam usando dinheiro do fundo eleitoral. Logo, que não utilizavam dinheiro público em suas campanhas. A doutora em Ciência Política pela UnB Viviane Gonçalves, porém, defende o fundo como instrumento para abrir as portas de mulheres, pretos e pessoas de classes sociais mais baixas na política.

"Muitos candidatos gostam de dizer que não usam (o fundo). Temos de entender que fundo é para garantir as outras pessoas que não têm recurso próprio. Se a gente defende a extinção do fundo, a gente defende que só a ilute vai concorrer, porque a campanha demanda recursos financeiros", avaliou ela em participação na live do UOL sobre as eleições.

"A gente tem de entender que até hoje não houve um aumento significativo de negros e mulheres porque temos um filtro que está nos partidos. Não é porque a população brasileira não gosta de votar em mulheres e negros. Há aqueles filtros de quais candidaturas são mais viáveis. E elas são na maioria das vezes de homens brancos, que têm muitas vezes entrada na politica pelo capital familiar, midiático e financeiro. Muitos parlamentares vêm do setor empresarial, ruralista", continuou.

A cientista política lembra que a política nacional ainda é dominada por homens e brancos. "Temos ainda quase 67% de homens. Isso é significativo se a gente pensa que a maioria das eleitas não serão as mulheres, mesmo sendo nós a maioria em percentual de eleitorado também. Pretos e pardos são o maior percentual. Então por que pretos e pardos, para cargos majoritários, a prefeitura, por que são menos cotados?", ela questiona.

"As mulheres negras estão na base dessa pirâmide. As mulheres negras que saíram como candidatas são as que mais sofrem violência, física, digital, moral, segundo pesquisa preliminar de dados Instituto Marielle Franco. Temos uma barreira de cota a ser resolvida, mas o lugar é legítimo para essas pessoas, nas palavras da Marielle. Quando desconsideramos essa legitimidade, estamos dizendo que aquele lugar é para a uma pequena parte da população", explica.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede), que também participava da live do UOL, concorda com a cientista política. "Garantia de cota de participação para negros e mulheres é para cumprir Constituição, que diz: tratar desiguais para que se igualem. A conquista da participação feminina e preta nas decisões políticas é levada historicamente. Fomos o último país das Américas a 'abolir' escravidão, entre aspas. Mantemos estrutura escravocrata. Sempre excluímos de tudo."