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'Pai da mentira': Paes e Crivella fazem duelo de acusações em debate quente

Igor Mello, Herculano Barreto Filho e Jean Sfakianakis

Do UOL, no Rio, e colaboração para o UOL, em São Paulo

19/11/2020 23h12

O primeiro debate entre o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (DEM) e o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) no 2º turno foi marcado por uma intensa troca de acusações de corrupção, deixando em segundo plano a discussão de propostas para a cidade. Paes acusou Crivella de ser o "pai da mentira", em uma referência bíblica ao diabo, enquanto Crivella respondeu, em um comentário de caráter homofóbico, que o adversário era "a madrinha da mentira".

O tom agressivo ocorre no mesmo dia em que o Datafolha mostra que Paes tem vantagem de 42 pontos percentuais sobre Crivella. O atual prefeito abordou denúncias contra Paes e integrantes do seu governo citadas em delações na Operação Lava Jato. Paes citou investigações recentes acerca da administração Crivella, como o chamado QG da Propina e o episódio dos Guardiões de Crivella.

Diante da agressividade dos candidatos, dois direitos de resposta —um para Paes, outro para Crivella— foram concedidos pela organização do debate na Band.

O embate começou logo no primeiro bloco quando o prefeito questionou o adversário sobre a condenação de Alexandre Pinto, ex-secretário de Obras na gestão de Paes, a mais de 70 anos de prisão por corrupção.

"Vou ter que repetir aqui. Impressionante, você é o pai da mentira. Você está há quatro anos fazendo acusações contra mim. Olha quantas pessoas foram presas desde 2014 e eu tô aqui, Crivella", afirmou Paes.

"Você sabe que eu não enriqueci na política. Só tô aqui disputando as eleições contra você porque sou ficha limpa, Crivella. Aliás, fazendo esse debate com você me lembro muito do adversário na última eleição, o ex-juiz Wilson Witzel. Ele me acusava o tempo todo e olha como ele terminou", completou Paes, citando as investigações do QG da Propina e dos Guardiões do Crivella.

Crivella rebateu citando a denúncia de que Paes teria recebido o equivalente a R$ 32 milhões em caixa dois da empreiteira Odebrecht, segundo delação do ex-executivo Benedicto Júnior.

"Lembra que tem nome do doleiro, transportador, tem as contas lá na Suíça. Você vive dizendo que o Crivella não fez nada. Devolve aqueles R$ 32 milhões. Eu vou fazer, manda de volta, Edu. Eduardo tem provas concretas, ele é condenado. QG da Propina é fofoca da Globo", disse Crivella.

Pai da mentira x madrinha da mentira

Depois de Paes insistir diversas vezes em chamar Crivella de "pai da mentira", o atual prefeito reagiu. Ao divergir de Paes sobre os cálculos de mortalidade por coronavírus no Rio, Crivella chamou Paes de "madrinha da mentira", em uma alusão de caráter homofóbico.

"Para com essa bobagem de ficar ofendendo os médicos, os enfermeiros e técnicos dizendo que morreu mais gente aqui. Você não vai ganhar voto assim, fala a verdade. Você diz que eu sou o pai da mentira, você é a madrinha da mentira", acusou Crivella, que empregou o gênero feminino sem ter qualquer relação com o contexto da discussão.

O prefeito repetiu a expressão por diversas vezes ao longo do debate.

Em vídeo que circulou na terça-feira (18) nas redes sociais, Crivella também usou um termo homofóbico para ofender o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Ele chamou o tucano de "viado" ao associá-lo a uma OS (organização social) da área da saúde no Rio. No dia seguinte, Crivella veio a público com um pedido de desculpas.

Após minimizar, em entrevista à CNN Brasil na última segunda-feira (17), a necessidade de novas medidas de isolamento para evitar uma segunda onda da covid-19, Crivella destacou o perigo da doença no debate da Band.

"O fato concreto é o seguinte: eu enfrentei aqui uma luta imensa. Qual o prefeito que teve R$ 15 bilhões a menos e enfrentou uma pandemia? E olha, nós vencemos a pandemia. Nossas curvas caíram e não fizemos lockdown. Mantivemos a indústria aberta, os serviços abertos e só parte do comércio foi fechada. Vem uma segunda onda. Quem vai enfrentar uma segunda onda senão aquele enfrentou a primeira?", disse.

Em uma discussão sobre o aumento no IPTU promovido pela atual gestão, Paes disse que Crivella é despreparado, enquanto o atual prefeito acusou o rival de "cinismo". "Eu peguei 20 mil imóveis em Copacabana que não pagavam IPTU e você tinha medo de mexer com eles", completou Crivella.

Em diversos momentos, Crivella acusou Paes de ser "o candidato da Rede Globo". "O Carnaval dele era o Carnaval mais caro que existia. E quem ganhava com isso? A Rede Globo, que patrocina ele", atacou.

Paes rebateu lembrando da relação do adversário com a TV Record e a Igreja Universal do Reino de Deus, da qual é bispo licenciado. "Ele tem um titio dono de televisão e acha que todo mundo tem alguma coisa a ver com canal de televisão. Quem tem televisão aqui é você, eu não tenho televisão nenhuma".