Cobras da Câmara são fichinha perto do que passei, diz travesti eleita
Limeira, cidade do interior de São Paulo, elegeu como vereadora, neste ano, a primeira mulher travesti da história da cidade. Com 1.349 votos, Isabelly Carvalho (PT) é uma das 25 travestis ou transexuais que venceram em algumas cidades brasileiras. Ela se identifica como trans mulher e travesti.
Estudante de serviço social na Unip (Universidade Paulista), Isabelly teve de ultrapassar outra barreira: a da maioria conservadora da cidade paulista, conhecida como a capital das laranjas.
Apesar de não serem necessariamente "entusiastas" de pautas LGBTQIA+, ela credita sua vitória como uma "resposta ao governo de Jair Bolsonaro".
Em 2018, o representante da direita conservadora teve 70,41% dos votos na cidade, contra míseros 9,09% de Fernando Haddad, candidato do mesmo partido dela.
"Além de impactar o imaginário social —já que as pessoas não estão acostumadas a ver travestis ocupando espaços de poder—, nossa vitória foi uma resposta ao governo Bolsonaro. Limeira é uma cidade muito coronelizada, com sempre os mesmos mandantes. Isso faz com que o preconceito venha mais forte do que em uma capital", conta.
Outras cinco mulheres foram eleitas na Câmara Municipal. Isabelly disse que vai focar no diálogo com elas e na desconstrução dos próprios colegas vereadores.
"Nosso mandato quer furar essa bolha. Nossas divergências em Limeira devem ser programáticas, no campo das ideias, não no campo de guerra", afirma.
"Esse discurso de uma minoria fascista faz com que assumamos o mandato isoladas. Isso não é bom para a democracia."
Ela conta que a campanha foi difícil. Além da pandemia, teve de enfrentar ataques diários contra ela em suas redes sociais.
Quando a gente estava crescendo [nas intenções de voto], grupelhos de internet se organizaram para me atacar, com xingamentos, no sentido de me calarem ou me desestabilizarem psicologicamente. Ledo engano. Sofro violência desde criança, não é um ataque na internet que vai me deter.
Isabelly Carvalho, eleita vereadora em Limeira (SP)
Da infância à política
Aos 12 anos de idade, Isabelly começou a se descobrir como mulher, o que teve consequências. "A infância trans existe. Há questões de gênero que a sociedade espera. O menino vai brincar de carrinho e jogar futebol, e a menina vai brincar de boneca. Eu exercia esses outros papéis de menina. E a violência vinha de outras crianças até pessoas adultas. Humilhações diárias. Adolescentes costumam ser cruéis", relembra.
Sabendo do perigo de viver num país que lidera o ranking mundial de assassinatos de pessoas transexuais, viu na política uma forma de combater esse cenário.
"Todo mundo tem o direito de andar na rua e não ser humilhado. Todo mundo tem o direito de entrar no ônibus e não ser motivo de chacota. Todo mundo tem o direito de ir ao cinema com seu namorado ou namorada e não ser expulso. Esses direitos sempre foram negados a mim. Me candidatei entendendo que não era só punir, era preciso ir para política para mudar as coisas".
Ela parece preparada para a palavra que resume sua futura vida parlamentar: luta. "As cobras que vou encontrar lá dentro da Câmara são fichinhas perto de tudo o que passei na vida. Vamos para cima."
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