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Quase sem voz, Lula critica governo, lembra prisão e diz não ter mais mágoa

O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) e o ex-presidente Lula (PT) em comício em Belo Horizonte - FáBIO BARROS/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) e o ex-presidente Lula (PT) em comício em Belo Horizonte Imagem: FáBIO BARROS/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo

18/08/2022 20h59Atualizada em 19/08/2022 08h01

Com a voz falhando, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou na noite de hoje (18), em Belo Horizonte, seu primeiro grande ato após o início oficial da campanha, na terça (16).

O petista criticou o governo Jair Bolsonaro (PL) —embora não tenha citado o nome de seu maior concorrente nas eleições de 2022—, citou o impeachment de Dilma Rousseff (PT), falou que houve "mentiras que contaram" contra ele e contou o período em que esteve preso em Curitiba —ainda assim, disse não guardar mais mágoa.

Eu até já esqueci dos 580 dias que me trancaram na Polícia Federal para que eu não fosse eleito presidente em 2018. Eu não tenho nenhuma razão para ter ódio, eu não tenho nenhuma razão para ter raiva."

Durante o comício, o ex-presidente evocou o discurso feito quando ele se entregou à Polícia Federal, em 2018, no qual disse: "Não adianta achar que tudo vai parar no dia que o Lula tiver infarto. É bobagem, porque o meu coração baterá pelo coração de vocês e são milhões de corações."

Na noite desta quinta, ele repetiu: "Quando meu coração não bater mais, eu baterei pelo coração de vocês. E é o povo que vai recuperar esse país."

Em dupla: O comício em BH foi o primeiro ato público conjunto da chapa de Lula. Na visita à porta de fábrica no ABC paulista, o candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), não estava. No discurso, o ex-governador citou José Alencar, que era mineiro e foi vice de Lula em 2003 —os dois têm sido comparado por aliados.

Nesta quinta, acompanhando Lula e Alckmin, estavam o candidato ao governo de Minas Gerais pelo PSD, Alexandre Kalil e o senador Alexandre Silveira (PSD-MG), aliados no estado.

Efeito Janones: Além da chapa mineira e de figurões do PT, outro presente no palco foi o deputado federal André Janones (Avante-MG), a quem Lula se referiu como "a nova aquisição dessa campanha". Janones deixou a corrida e anunciou apoio ao petista no início de agosto, reta final das convenções partidárias.

Agora, ele participa da coordenação da campanha lulista e é figura central nas redes sociais —área que domina e que o alçou ao estrelato em 2018. Na tarde de ontem (17), já fez um vídeo rápido convocando seus conterrâneos a irem ao comício. Candidato à reeleição, ele foi uma das estrelas da noite —sendo citado por Lula logo no começo do discurso.

Nova independência: Enquanto Bolsonaro vem promovendo atos pelo 7 de setembro, Lula valeu-se da figura de Tiradentes para dizer que, em Minas, a preocupação deve ser com "uma nova independência."

"Se em 1792 um homem desse estado foi enforcado porque queria a independência desse país, se em 1792 eles esquartejaram, cortaram a carne, salgaram e penduraram num poste para que nunca mais ninguém lembrasse de independência, eu quero que os esquartejadores saibam que nós estamos de volta para fazer uma nova independência nesse país."

Repetecos e crítica: No discurso, além da referência à declaração dada quando se entregou à PF, o petista também repetiu diversas frases ditas ao longo da pré-campanha, como:

  • "Vamos voltar a ter churrasquinho, costela" --em referência à crise financeira e ao aumento da fome no país--
  • E que o papel de um governante é de "ser um amigo, um companheiro de 200 milhões de brasileiros".

Perto do fim, subiu o tom ao se referir a Bolsonaro como uma pessoa "desequilibrada mentalmente" e "desestruturada do ponto de vista psicológico".

Beijo em apoiador: Ao encerrar o ato, Lula pediu que os seguranças cuidassem para que ele pudesse descer na direção do público e "dar um beijo" em um garoto cadeirante. "Eu não posso ir embora sem descer até ali."

A transmissão online acompanhou o ex-presidente, enquanto o jornalista Chico Pinheiro, que apresentou o evento, repetia o resultado de pesquisas eleitorais —pouco antes, no entanto, o sinal havia caído e parte do discurso não foi exibida nos canais de Lula.

"Estado pêndulo": A escolha de Minas logo no início da campanha tem alguns simbolismos. O estado é o segundo maior colégio eleitoral do país, atrás apenas de São Paulo.

E, junto ao Amazonas, Minas é um estado em que todos os candidatos que ganharam —tanto no primeiro quanto no segundo turno— foram eleitos desde a redemocratização.

A diferença é que Minas tem mais de 16 milhões de eleitores —cerca de 10% do total do eleitorado do país, contra 1,6% de representação do Amazonas. Embora os modelos sejam diferentes, é o que na eleição norte-americana é chamado de "estado pêndulo", quando a alternância de um ente federativo ajuda a decidir a eleição.

Em 2018, os mineiros elegeram Bolsonaro já com 48% no primeiro turno e 58% no segundo, além de Romeu Zema (Novo) para governador..

A mudança preocupou o PT, que já tinha assimilado o estado como "vermelho", com vitória nas quatro últimas eleições. Agora, Lula está à frente nas pesquisas e quer retomar esse público.

Esse estado é o segundo maior estado da federação, é um estado economicamente forte."
Lula (PT), no palco, em Belo Horizonte

Popularidade: Pouco conhecido entre os eleitores do interior de Minas Gerais, o ex-prefeito de Belo Horizonte Kalil cresce nas pesquisas de intenção de votos quando tem o nome associado ao de Lula. Isso tem motivado as campanhas a reforçarem a aliança entre os dois.

Zema lidera os levantamentos eleitorais. Na última rodada do Datafolha, publicada nesta quinta, o atual governador aparece com 47% das intenções de voto contra 23% de Kalil.

Evangélicos: Além dos apoios de aliados, a conquista do voto evangélico tem sido um dos focos da campanha, inclusive nos discursos de Lula. Embora o PT entenda que não ganhará de Bolsonaro nas chamadas "pautas de costume", tem procurado rebater fake news como as que dizem que, caso Lula ganhe, fechará igrejas.

Antes do comício, nesta tarde, ele recebeu o apoio do grupo "Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito", que defende o voto petista já no primeiro turno.

Início oficial: Embora Lula já esteja em pré-campanha desde junho, o início oficial da campanha, com pedido de voto e uso do número da urna eletrônica, só se deu na última terça (16). O petista falou para trabalhadores na porta de uma fábrica automobilística no ABC paulista.

No próximo sábado (20), fará o segundo grande evento de campanha no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, e deverá ir à Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, na semana que vem. No início de setembro, seguirá para o Norte.

Quase encontro: Por coincidência, Bolsonaro estará em Belo Horizonte na sexta-feira (19). O presidente participará de uma sessão solene de instalação do TRF (Tribunal Regional Federal) da 6º Região, no período da tarde —quando Lula já deverá ter voltado para São Paulo.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, Romeu Zema (Novo) foi eleito governador de Minas Gerais em 2018 no segundo turno, e não no primeiro. O texto foi corrigido.