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Bolsonarista crê que aceno de Lula a evangélicos não cola; PT mira economia

Lula chama Bolsonaro de "fariseu" durante evento de campanha em São Bernardo (SP) - Ricardo Stuckert - Lula rebate primeira-dama Michelle Bolsonaro
Lula chama Bolsonaro de "fariseu" durante evento de campanha em São Bernardo (SP) Imagem: Ricardo Stuckert - Lula rebate primeira-dama Michelle Bolsonaro

Colunista do UOL e do UOL, em Juiz de Fora (MG) e em São Paulo

18/08/2022 04h00

A corrida presidencial começou com os principais concorrentes, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), abordando temas religiosos. Assunto constante nos discursos do presidente que tenta a reeleição, o tema é recente na boca do petista.

Na terça-feira (16), Lula se referiu ao adversário como um "fariseu" —fazendo referência aos homens que se diziam guardiões das verdades e das tradições no Evangelho, mas foram acusados de hipocrisia— e declarou que ele estaria "possuído pelo demônio". Falar a linguagem da Bíblia é uma tentativa de reverter a vantagem que Bolsonaro tem entre os evangélicos. Mas o entorno do presidente avalia a estratégia não deve surtir efeito —porque o histórico do petista reduziria sua legitimidade para tratar de religião.

O raciocínio de uma pessoa próxima à campanha de Bolsonaro é de que as pautas defendidas por Lula em sua carreira política nunca incluíram temas caros às igrejas. Por este motivo, Lula teria dificuldades de gerar aderência entre suas palavras e sua trajetória. O resultado seria um discurso que não reverbera no meio evangélico.

Outro fator contribuinte para limitar o alcance do esforço de Lula em conquistar votos entre os religiosos seria a falta de engajamento do eleitorado de esquerda. Sem identificação com o tema, eles não repercutiriam as palavras do petista e assim o alcance delas ficaria limitado nas redes sociais.

Uma segunda fonte que conversou com o UOL avalia que o enfoque do programa de governo de Lula se concentra em propostas "retrógradas" baseadas em um modelo de "assistencialismo" —de acordo com esta avaliação, na hora que o candidato do PT sai desses temas e se dirige aos religiosos, o faz da maneira errática.

Pesquisa realizada pelo Ipec (ex-Ibope) divulgada na segunda-feira (15) indica que Bolsonaro teria 56% dos votos válidos entre os evangélicos. Lula tem a preferência de 35%.

Efeito Michelle: Mesmo com a vantagem entre os evangélicos, a campanha de Bolsonaro mantém a estratégia de abrir espaço para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Em seus discursos, ela adota tom de pregação e usa vários termos religiosos.

A repercussão entre o eleitorado evangélico do presidente é grande. A subida dela ao carro de som no ato que abriu a campanha de Bolsonaro em Juiz de Fora, na terça, foi o ponto alto do evento. O candidato à reeleição tentou seguir o pronunciamento depois de cumprimentar a mulher, mas precisou parar de falar porque o público gritava o nome de Michelle.

Bolsonaro então fez uma declaração que dá a dimensão da relevância de Michelle. "A pessoa mais importante neste momento não é o presidente ou o candidato. É a senhora Michelle Bolsonaro", disse.

Quando foi a vez de a primeira-dama discursar, houve uma convocação para rezar um Pai-Nosso. O pedido foi prontamente atendido. Escalada para humanizar o marido e tentar quebrar a rejeição junto ao eleitorado feminino, Michelle atrai muita simpatia de evangélicos.

Amém: Mesmo com o cenário positivo, a campanha de Bolsonaro traçou uma estratégia para manter a dianteira neste segmento, informa uma terceira fonte da campanha que conversou com o UOL. Existe uma orientação para Bolsonaro e seus apoiadores abordarem temas religiosos em seus pronunciamentos.

A avaliação até o momento é de que nenhuma iniciativa tomada pelo PT fez os evangélicos balançarem. Mas há consciência que a esquerda tenta uma aproximação.

TSE - Reprodução TV - Reprodução TV
Bolsonaro e Lula sentados praticamente frente a frente na posse do ministro Alexandre de Moraes no TSE
Imagem: Reprodução TV

Conquista pela economia: No PT, a estratégia é olhar para os evangélicos com atenção, mas seguir pautando o discurso pela economia —não pela religião. Do ponto de vista do PT é que, embora o partido consiga conquistar terreno —como tem feito no Rio de Janeiro, estado com alto percentual evangélico—, as chamadas pautas de costume são assuntos dominados pelos bolsonaristas.

Isso não significa que Lula tenha desistido desses votos. O petista pretende conquistar esse eleitor não (apenas) falando de Deus, mas focando em pautas do dia a dia, como problemas financeiros, dívidas, desemprego, alta de alimentos e diminuição do poder de compra.

O levantamento do Ipec aponta que 40% dos eleitores que recebem do governo Auxílio Brasil (ex-Bolsa Família), Benefício de Prestação Continuada (BPC), ProUni, Fies, Tarifa Social e/ou Vale gás, entre outros, dizem ter preferência partidária pelo PT —a média do eleitorado que tem a mesma preferência é de 31%.

Preocupação com fake news: O importante, para a campanha, é mostrar que Lula se importa com os cristãos —algo que ele tem repetido em discursos e em entrevistas—, mas não tornar esse o centro do debate.

Por isso, uma preocupação que tem surgido entre a campanha é combater fake news propagadas por pastores contra Lula. Disseminação de mentiras como o partido ser a favor do fechamento de igrejas é o único ponto que, avalia a campanha lulista, poderia fazer com que o cristão evitasse apertar o 13, mesmo em situação econômica desfavorável.

Como estratégia, o PT deverá intensificar o combate às fake news, em especial nas igrejas. A forma como isso será feito ainda está sendo debatido.

Fajuto, genocida e fariseu: Em seu evento de abertura de campanha realizado em São Bernardo do Campo (SP), Lula rebateu a declaração de Michelle de que o Planalto já foi "consagrado a demônios". O candidato disse que o demônio habita outro local.

"Se tem alguém que é possuído pelo demônio é esse Bolsonaro".

Em outros momentos do discurso, Lula chamou Bolsonaro de "fajuto", "genocida" e "fariseu". A última palavra remete aos homens que se consideravam guardiões das verdades e tradições do Evangelho, mas que foram acusados de hipocrisia.

"Ele [Bolsonaro] está tentando manipular. Ele, na verdade, é um fariseu. Está tentando manipular a boa-fé de homens e mulheres evangélicos."

A conquista do voto evangélico é importante para definir o vencedor da eleição. Pesquisa divulgada pelo Datafolha em junho deste ano indicou que 26% da população brasileira é formada por evangélicos. Os católicos são maioria, 51%.

Tradutor: Bolsonaristas creem que aceno de Lula a evangélicos não cola; PT mira economia