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Lula lamenta assassinato de petista: "selvageria que não conhecíamos"

Do UOL, no Rio e em São Paulo

09/09/2022 16h49

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou hoje o assassinato de um petista por um bolsonarista com golpes de faca e machado em Confresa (MT), depois de uma discussão política. O suspeito, Rafael Silva de Oliveira, 24, confessou o crime e foi preso.

Em entrevista coletiva no Rio de Janeiro, o ex-presidente relembrou outros casos de violência durante esta campanha e voltou a insinuar que Bolsonaro estimula esse tipo de caso. Lula respondeu ainda às críticas do presidente contra seus filhos, lembrando os casos dos imóveis comprados com dinheiro vivo relevados pelo UOL.

O petista está no estado pela segunda vez como candidato, desde o meio de agosto. Ontem (8), fez um grande comício em Nova Iguaçu e hoje, participou de um encontro com evangélicos em São Gonçalo.

"Clima de ódio." Lula afirmou que casos como este e o de Foz do Iguaçu, em janeiro, quando um homem foi morto durante sua festa de aniversário que tinha o ex-presidente como tema, evidenciam que o país passa por um processo "totalmente anormal".

"Estamos vendo o país sendo tomado por um comportamento sui generis", declarou o ex-presidente, que disse só ter descoberto o caso após o encontro com evangélicos, nesta manhã. Segundo o delegado responsável pelo caso, o apoiador de Lula foi morto com 15 facadas e um golpe de machado no pescoço.

Esse país está caminhando para uma selvageria que nós até então não conhecíamos. O que se ouvia falar, de vez em quando, em algumas cidades pequenas, um coronel brigava com outro coronel e se matava. Mas a gente não tinha essa experiência nos grandes centros urbanos, sobretudo em eleição presidencial -- e quem tá falando é um cara expert em disputar eleição.
Lula, sobre petista assassinado

A investigação aponta que a discussão começou por motivos políticos. Os dois eram colegas de trabalho, não amigos, e estavam em uma chácara.

Armamento e indireta a Bolsonaro. Apesar de o crime ter sido executado com faca e machado, Lula usou o incidente para criticar a política armamentista e mandar indireta sobre Bolsonaro, de quem já disse estimular a violência.

Não é a primeira campanha que a gente participa. Nunca teve violência. Qual a recomendação nossa? Acabou o comício vai para casa. não temos a cultura da violência, da antipolitica, da antidemocrática. Isso aconteceu em 2018 e agora. Não é da nossa parte."

Para Lula, esta escalada está diretamente ligada à política de flexibilização armamentista, uma das principais bandeiras da gestão Bolsonaro. Em comparação, ele lembrou que em seu governo, quando foi publicado o Estatuto do Desarmamento, foram destruídas 620 mil armas no país.

"Ele [Bolsonaro] não se dá conta que está armando o crime organizado. Deveria fazer uma pesquisa para saber quem é que está comprando arma. Não acredito que uma pessoa de bem está comprando armas", declarou Lula, que ainda fez especulações, sem provas, sobre uma possível coordenação entre os casos de violência.

Isso é gravíssimo. Espero que a polícia esteja atenta, e a própria Justiça Eleitoral, para ver se isso tem ordem, se tem orientação, se é estratégia de política. Nós vamos continuar falando o que nós falamos, fazendo nossos comícios sem nenhuma preocupação."

Solidariedade. Outros presidenciáveis também se posicionaram sobre o assassinato. Em suas redes sociais, Ciro Gomes (PDT) afirmou que o petista é "mais uma vítima da guerra fratricida, semeada por uma polarização irracional".

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) cobrou posicionamento de Bolsonaro, apontando que ele deveria "clamar por paz e união". Também nas redes, a presidenciável também creditou o crime à "incitação ao ódio".

A senadora Soraya Thronicke (União-MS) posicionou-se fortemente, dizendo: "Envergonham o país com corrupção, nos distraem com a polarização e, além disso, derramam sangue alheio".

Farpas no caso dos imóveis. Lula voltou a falar no caso dos imóveis, citando o UOL nominalmente. Desde a publicação da matéria, no fim de agosto, o ex-presidente tem usado o caso para atacar Bolsonaro sobre o assunto de corrupção.

Esse cidadão [Bolsonaro], toda vez que pensar em falar nos meus filhos, ele tem que lavar a boca. Porque sabe os filhos que tem. Eu era presidente, eu não deixei sigilo de 100 anos para ninguém que era acusado, nem sigilo de 10 ou de 1. [...] Os meus filhos sofreram dois [pedidos de] busca e apreensão, todos, e até hoje não acharam um alfinete para culpar os meus filhos. Os dele estão escancarados pelas matérias feitas pelo UOL, escancarado."

Segundo o UOL apurou, desde os anos 1990 até os dias atuais, o presidente, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo, segundo declaração dos próprios integrantes do clã. O uso de dinheiro em espécie para transações imobiliárias pode indicar operações de lavagem de dinheiro ou ocultação de patrimônio.

A fala é uma resposta ao presidente, que reclamou de o adversário usar o caso em campanha durante entrevista ontem (8).

"Ô, Lula, você quer comparar a minha família com a tua? A tua saiu de dezenas de milhões de reais. Ficaram ricos de uma hora para a outra. E tem muita coisa que se fala de sua família, que eu não vou reverberar por não ter provas. Mas os seus filhos ganham bem. Inclusive usufruindo de benesses estatais. Quer comparar com a minha família? Nós trabalhamos", disse Bolsonaro, durante sabatina realizada pelo jornal Correio Braziliense em parceria com a TV Brasília.

Sem comandantes. Questionado sobre o papel das Forças Armadas nos atos de 7 de Setembro inflados por Bolsonaro, Lula afirmou que não viu comandantes junto ao atual presidente, num indício de separar os atos de Bolsonaro das Forças Armadas.

"Eu fiz 8 vezes o Sete de Setembro, e todo 8 de Setembro estavam do meu lado o comandante da Marinha, o comandante da Aeronáutica, o comandante do Exército, o ministro da Defesa, o presidente da Suprema Corte e o Procurador Geral da República além de outros. Eu não vi no ato de Brasília [no último 7 de Setembro]. Eu vi o 'Véio da Havan' [o empresário Luciano Hang], ele tava lá. [Sobre as Forças Armadas], eu vou tentar me inteirar para saber."

Lula também criticou uma "avacalhação" causada por Bolsonaro na data.

"Eu acho triste que um Presidente da República tenha a pachorra de avacalhar um ato nacional, uma data que é um patrimônio do nosso povo. Independência não é qualquer coisa, e nos 200 anos era pro presidente ter feito um discurso prometendo um futuro para o povo brasileiro."