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Ao apoiar Lula, Marina defende estado laico e fala em "ameaça das ameaças"

Do UOL, em São Paulo

12/09/2022 12h29Atualizada em 12/09/2022 14h29

A ex-ministra e candidata a deputada federal por São Paulo Marina Silva (Rede) justificou hoje o apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fechado ontem, alegando que o Brasil enfrenta uma ameaça à democracia. Sem citar diretamente o presidente Jair Bolsonaro (PL), ela se referiu a ele como "a ameaça das ameaças".

Marina e Lula se encontraram ontem na primeira reunião formal desde que a ex-ministra rompeu com o PT. Ela entregou um documento com 27 propostas voltadas ao meio ambiente, sua principal bandeira, e o apoio foi selado. Hoje, os dois concederam uma entrevista coletiva juntos em São Paulo.

Evangélica, Marina se referiu a Deus diversas vezes durante sua fala, mas defendeu o estado laico e também desmentiu fake news que envolvem Lula e religião.

"Ameaça das ameaças". Marina foi ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, no governo Lula, quando deixou o partido por divergências internas. Ela se separou definitivamente em 2014, com apoio ao deputado Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno das eleições contra Dilma Rousseff (PT).

"Esse é um momento muito importante da nossa trajetória. Estamos vivendo um reencontro político e programático. Do ponto de vista de nossas relações pessoais, tanto eu quanto o presidente Lula nunca deixamos de estar próximos", disse hoje.

Nosso reencontro se dá diante de um quadro da história política, econômica, social e ambiental. Temos a ameaça das ameaças: ameaça à nossa democracia, com a corrosão do tecido social."
Marina Silva

Democracia ou barbárie. A ex-ministra disse que manteve suas críticas ao PT, das quais também fez parte, mas que o momento pede união. "Sempre que surge a possibilidade de banalizar o mal, brasileiros e brasileiras devem se reunir em legítima defesa da democracia. Vamos caminhar juntos", completou a ex-ministra, que começou o discurso agradecendo a Deus.

Estamos diante de um quadro que é: democracia ou barbárie, democracia ou aniquilação dos povos indígenas, democracia ou aniquilação do povo preto que está morrendo na nossa periferia, democracia ou destruição da Amazônia...porque é na base da democracia que nós haveremos de reconstruir essas políticas.
Marina Silva

Gleisi Hoffmann, Marina Silva, Lula e Geraldo Alckmin em entrevista coletiva - Lucas Borges/UOL - Lucas Borges/UOL
Gleisi Hoffmann, Marina Silva, Lula e Geraldo Alckmin em entrevista coletiva
Imagem: Lucas Borges/UOL

Para Lula, nunca houve distância. "Hoje é um dia histórico para o PT, para a nossa candidatura e para quem sonha em fortalecer a nossa democracia", respondeu Lula ao afago.

Em tom semelhante, Lula disse que, apesar de divergências, os dois nunca estiveram muito distantes.

Defesa do estado laico. Marina também falou sobre a busca pelo voto evangélico. "Estamos enfrentando uma situação de fundamentalismo religioso com fundamentalismo político", declarou.

Todos de diferentes religiões devem ser respeitados. O estado laico é resultado da reforma protestante. Não vamos impor fé a quem quer que seja.
Marina Silva

Ela também desmentiu algumas fale news ligadas ao governo Lula, do qual fez parte por cinco anos, como a que o petista seria a favor de fechar igrejas. "Os que hoje falam que Lula vai fechar as igrejas é o mesmo que ia no gabinete dele fazer orações", declarou.

Condições

Na reunião ontem, Marina também entregou um documento com 27 propostas voltadas ao meio ambiente, presentes em sua candidatura à Câmara, para serem assimiladas ao programa de governo. Entre elas estão:

  • Criar a Autoridade Nacional de Segurança Climática, "responsável pelo estabelecimento de metas e verificação da implementação das ações para a redução das emissões de gases de efeito estufa";
  • Aplicar os "padrões internacionais de controle de uso de agroquímicos" no Brasil;
  • Garantir "oferta de internet rápida e energia renovável para agricultores familiares, indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outras comunidades isoladas em todo o território nacional" até 2025;
  • Concluir a implementação do Cadastro Ambiental Rural até 2025.

Além disso, interessa a Marina a adoção de uma política de desenvolvimento sustentável no país, o que consta no plano do PT, com propostas de tolerância zero para garimpo, reformulação dos negócios na floresta, incentivo a indústrias mais compatíveis, como a farmacêutica ou de comércio, e a criação do chamado "crédito verde", incentivo fiscal a empresas que atendam a regras ambientais instituídas.

"[No eventual governo,] não haverá politica de ministro. Nossa política ambiental será traçada de forma transversal. A politica será responsabilidade de todos, do presidente ao ministério menor.", prometeu Lula.

"A coisa com o garimpo não terá, o desmatamento vai ser bloqueado. Vamos fiscalizar as fronteiras para combater o narcotráfico."

Ganha-ganha

Com a formalização do acordo com Lula, a expectativa da Rede —partido fundado por Marina— é aumentar o número de parlamentares no Congresso com "puxadores de voto". Nacionalmente, a integração da Rede à coligação em torno de Lula foi iniciativa do senador Randolfe Rodrigues (Rede), um dos coordenadores da campanha do petista.

O PT também prestigiou a Rede e o PSOL com a formação da política ambiental e de desenvolvimento sustentável no plano de governo de Lula, o que se soma ao desejo da candidata de reparar danos ambientais durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Rompimento. Marina assumiu o Ministério do Meio Ambiente em 2003, no primeiro mandato de Lula, e se manteve no cargo até 2008, quando saiu e alegou que os temas de sua pasta não eram prioridade no governo petista. Ela assumiu então uma vaga no Senado e, em 2010, começou a concorrer à Presidência.

A ex-ministra rachou definitivamente com o PT durante a disputa eleitoral de 2014 após as investidas das propagandas da campanha de Dilma Rousseff (PT) contra ela. Fora do segundo turno, apoiou Aécio Neves (PSDB) e cortou de vez os laços com o governo.
Anos depois do afastamento, o partido de Lula vinha tentado uma reaproximação com a candidata a deputada e, para as eleições deste ano, ela foi cotada como vice-governadora na chapa com o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) para o governo de SP. Ela acabou não aceitando e concorrendo à Câmara na intenção de puxar votos para a Rede.