Ex de Bolsonaro ataca imprensa sobre compra de imóveis: 'De saco cheio'
A ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro (PL) Ana Cristina Siqueira Valle, que é candidata a deputada distrital e se apresenta como Cristina Bolsonaro, publicou vídeo nas redes sociais com um "desabafo", após reportagem do UOL que mostrou que integrantes da família do chefe do Executivo compraram 51 imóveis com dinheiro vivo desde os anos 1990.
Na publicação, Ana Cristina diz que está "de saco cheio" e "exausta de tanta mentira". Ela fica com a voz embargada durante sua fala.
"Eu tô cansada. Tô exausta de tanta mentira. De tanto me malharem, a mim, à minha família e ao meu filho. Me esquece, me deixa trabalhar, me deixa viver. A gente não merece isso", afirmou. Ana Cristina foi casada com Bolsonaro de 1997 a 2008 e teve com ele o filho Jair Renan.
Segundo a ex-mulher do presidente, ela e a família são perseguidos pela imprensa desde 2018. "Me diz o que eu posso fazer. Eu tenho 30 anos de trabalho na política. Eu sou advogada. Tenho meu meio, minha fonte de renda. Eu não devo satisfação a ninguém. Mídia escrota, nojenta", acrescentou.
De acordo com apuração do UOL, as compras feitas pelo clã Bolsonaro foram registradas nos cartórios com o modo de pagamento "em moeda corrente nacional", expressão padronizada para repasses em espécie, e totalizaram R$ 13,5 milhões. Em valores corrigidos pelo IPCA, este montante equivale, nos dias atuais, a R$ 25,6 milhões.
Não foi possível saber a forma de pagamento de 26 imóveis, que somaram pagamentos de R$ 986 mil (ou R$ 1,99 milhão em valores corrigidos) porque esta informação não consta nos documentos de compra e venda. Transações por meio de cheque ou transferência bancária envolveram 30 imóveis, totalizando R$ 13,4 milhões (ou R$ 17,9 milhões corrigidos pelo IPCA).
Eles só querem nos prejudicar, me prejudicar, prejudicar o governo Bolsonaro, a família. A perseguição vai desde 2018, com aquela matéria da Veja que eu fui a público desmentir o que falaram que Bolsonaro disse ou deixou de dizer. Tô de saco cheio. Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro (PL)
"Dinheiro por fora", diz ex-funcionário da família
Segundo o relato de Marcelo Nogueira, ex-funcionário da família Bolsonaro, Ana Cristina confidenciou a ele que a primeira mansão onde ela viveu com Bolsonaro na Barra da Tijuca (RJ), entre 2002 e 2007, foi paga com "dinheiro por fora".
O imóvel que fica na rua Maurice Assuf, na zona oeste do Rio, foi comprado em 22 de novembro de 2002. A antiga mansão tinha dois pisos e piscina e ficava no mesmo condomínio do ex-jogador Zico, ídolo do Flamengo.
De acordo com o acerto de Cristina e Jair com os antigos proprietários, R$ 160 mil foram quitados com um cheque, entregue no ato da compra da mansão, e outros R$ 250 mil deveriam ser pagos até o dia 19 de dezembro de 2002. Atualmente a casa vale quase R$ 3 milhões.
Bolsonaro criticou apuração do UOL
Em entrevista à rádio Jovem Pan, na semana passada, Bolsonaro criticou a reportagem do UOL e confundiu deliberadamente o uso da expressão "moeda corrente nacional" com "dinheiro vivo" ao reportar as transações imobiliárias realizadas nos últimos 30 anos por integrantes de sua família.
Ele disse ainda acreditar que os parentes citados devem ser alvos de mandados de busca e apreensão no Vale do Ribeira, em São Paulo.
"Uma covardia esse ataque. Pega a minha mãe, que já faleceu... Botar nesse rol", reclamou o chefe do Executivo federal, mencionando a mãe, Olinda Bonturi Bolsonaro, morta em janeiro desse ano.
Após as acusações, o UOL publicou nova reportagem que mostra as evidências das transações em dinheiro vivo feitas pela família Bolsonaro.
Do total de 51 pagamentos feitos em espécie, 17 são citados em investigações do MP (Ministério Público) do Rio, a partir de dados de quebra de sigilo, sobre o esquema de rachadinha nos gabinetes do vereador Carlos Bolsonaro e do senador Flávio Bolsonaro.
Flávio chegou a ser denunciado por um desvio de R$ 6,1 milhões, mas os dados financeiros foram anulados pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) e a investigação está sendo refeita pelo MP.
Outros 24 imóveis estão em São Paulo, estado em que cartórios devem declarar em escrituras formas de pagamento, "se em dinheiro ou cheque (...) ou mediante outra forma estipulada pelas partes", de acordo com o provimento 58/1989 da Corregedoria Geral da Justiça de São Paulo.
No Rio, o Código de Normas da Corregedoria Geral de Justiça estadual determina desde 1999 que na lavratura de atos notariais conste a "declaração de que foi pago em dinheiro ou em cheque, no todo ou em parte, discriminando, neste caso, valor, número e banco contra o qual foi sacado".
Algumas das escrituras consultadas pelo UOL trazem expressões ainda mais precisas sobre o uso de dinheiro vivo, como moeda "contada e achada certa" ou "em espécie". A reportagem também se baseia em entrevistas com parte dos vendedores e consultas aos próprios cartórios de notas.
Em sete meses, foram consultadas 1.105 páginas de 270 documentos requeridos a cartórios de 16 municípios.
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