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Bolsonaro defende 'datapovo', mas é o que mais gastou com pesquisa

Do UOL, em Brasília

14/09/2022 04h00Atualizada em 14/09/2022 10h15

Embora crítico das pesquisas de opinião e entusiasta do que tem chamado de "datapovo", Jair Bolsonaro (PL) é atualmente o candidato que mais gastou com compra de levantamentos e testes eleitorais, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) atualizados até ontem (13).

O postulante à reeleição desembolsou R$ 2,2 milhões até o momento em duas aquisições.

Serviços contratados. A principal fornecedora da campanha foi a Cota Pesquisas, com sede no Paraná, que cobrou R$ 1,7 milhão por "pesquisas de mercado e de opinião pública". A despesa foi registrada em 15 de agosto e é categorizada no TSE como "prestação de serviço de pesquisa de opinião pública".

Outro serviço foi prestado pelo Ibespe Estudos & Marketing, sediado em São Paulo, que realizou pesquisas eleitorais para a chapa do presidente, ao custo de R$ 500 mil. A despesa foi registrada em 28 de agosto.

Ao contrário das pesquisas contratadas por veículos de imprensa e por bancos, os levantamentos pagos pelas campanhas não são divulgados para o público. Eles são de consumo interno e servem para nortear as estratégias dos marqueteiros.

A prestação de contas organizada pelo TSE é feita com base em relatórios parciais, que são emitidos e contabilizados ao longo do processo eleitoral.

Até o momento, todos os gastos da campanha de Bolsonaro foram pagos com recursos do fundo partidário do PL e com doações de pessoas físicas. O candidato ainda não utilizou verba do fundo eleitoral.

Outros presidenciáveis. Entre os concorrentes à chefia do Executivo federal, apenas Ciro Gomes (PDT) e Luiz Felipe D'Ávila (Novo) também compraram pesquisas, dados e/ou amostras eleitorais.

O pedetista pagou mais de R$ 297.400 por cinco fornecimentos, entre estudos qualitativos e baseados em grupos focais. Já D'Ávila gastou R$ 50 mil por serviços de "consultoria em gestão empresarial".

Haddad gastou quase R$ 2 milhões. Candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad é o segundo que, entre todos os participantes da eleição, mais gastou com estudos e testes eleitorais.

A campanha do petista pagou R$ 1.997.400 à Midia Pull por "pesquisas quantitativas e qualitativas", de acordo com relatórios de prestação de contas.

Rodrigo Garcia, governador de SP e pleiteante à reeleição pelo PSDB, gastou R$ 858.990 em uma "pesquisa de análise de desempenho do candidato", serviço fornecido pela empresa On Line Estratégia de Pesquisa Mercadológica.

E os partidos, também gastaram? Sim. As legendas encomendaram pesquisas, estudos, testes e serviços de dados eleitorais que, até ontem, somavam R$ 457.199,83. São fornecimentos que constam na prestação de contas feita especificamente pelas siglas, sem relação com direta com candidaturas pontuais.

O MDB foi a agremiação que fez a aquisição mais cara (R$ 170 mil), serviço prestado pelo Cipec (Centro Integrado de Pesquisa e Comunicação) e categorizado no TSE como "atividades de consultoria em gestão empresarial. Já o PSD pagou R$ 111.142,75 a duas empresas do ramo por "pesquisas de mercado e de opinião pública".

'Datapovo'. Na tentativa de descredibilizar os dados coletados pelos institutos de pesquisa, estratégia que Bolsonaro utiliza desde 2018, apoiadores do presidente se apegam ao que o candidato tem chamado de "datapovo".

O termo foi cunhado para expressar o apoio popular em manifestações de rua, comícios e atividades de campanha do atual presidente.

Apoiadores de Bolsonaro comparecem ao desfile militar de 7/9 - 7.set.2022 - Wilton Junior/Estadão Conteúdo - 7.set.2022 - Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Apoiadores de Bolsonaro comparecem ao desfile militar de 7/9
Imagem: 7.set.2022 - Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Em grupos de WhatsApp e do Telegram, segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, eleitores e entusiastas da campanha bolsonarista tentaram instrumentalizar a celebração do 7/9 em alusão à figura do "datapovo" (um trocadilho com o nome do Datafolha).

O feriado, que marcou o bicentenário da Independência do Brasil, teve discursos do candidato à reeleição em Brasília e no Rio de Janeiro.

Registros das manifestações e a reprodução da fala de que a estimativa de público em Brasília teria sido de 1 milhão foram largamente usados para contrapor as pesquisas de intenção de voto ou para reafirmar que Bolsonaro será "reeleito no primeiro turno".

Entretanto, é impossível comparar uma pesquisa eleitoral com quantas pessoas vão a um ato. Enquanto a manifestação atrai apenas apoiadores, os levantamentos têm a intenção de entender como pensam todos os eleitores.

E o Datafolha? Segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, divulgada em 10 de setembro, Bolsonaro passou de 32% para 34% das intenções de voto, mas ele continua atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 45%. A diferença de 11 pontos percentuais é a menor distância entre eles desde maio deste ano, quando o petista era o preferido de 48% dos eleitores, ante 27% do atual governante.

Já amostra do Ipec divulgada na segunda-feira (12) observou 15 pontos de vantagem do líder Lula no embate com Bolsonaro. O petista tem 46% das intenções de voto (dois pontos percentuais a mais do que na última amostra) e o atual presidente, 31%.

A reportagem do UOL entrou em contato com a campanha de Bolsonaro com um pedido de posicionamento. Não houve resposta até o momento.