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Em aliança diferente no RJ, Paes recebe Lula em clima de Carnaval

Do UOL, no Rio de Janeiro

25/09/2022 12h51

O prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (PSD) recebeu hoje o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na quadra da Portela, em Madureira, zona norte, com marchinhas, bateria de escola de samba e porta-bandeira. Em alianças estaduais diferentes, os antigos aliados formalizaram o apoio, em clima de Carnaval, para tentar encerrar a eleição em primeiro turno.

No estado do Rio, Lula apoia o deputado federal Marcelo Freixo (PSB) ao governo, na chapa com o deputado estadual André Ceciliano (PT-RJ) ao Senado. Já o PSD de Paes compõe a chapa do ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) com o ex-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Felipe Santa Cruz como vice.

Por causa das diferenças, nem Freixo nem Neves, que também apoia Lula, estavam no palco. Sem falar em diferenças, Paes e Lula pregaram união por "vira voto" e criticaram a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas as diferenças geraram, mais uma vez, ruídos na plateia.

Lula chegou ao Rio hoje depois de dois comícios ontem (24) em São Paulo. Os atos abrem a última semana de campanha do primeiro turno, focada no Sudeste, maior colégio eleitoral do país, com mais de 40% do eleitorado.

Aliança demorada. A união de Paes e Lula em um palco vem sendo costurada há mais de um ano. Em junho de 2021, o ex-presidente e o prefeito do Rio se reuniram para entender se seria possível um palanque único na disputa pelo governo do estado do Rio de Janeiro.

Sem acordo fechado, Lula se engajou na campanha de Freixo e Paes, na de Neves. Agora, a 7 dias do primeiro turno das eleições, eles firmam aliança. A Quadra da Portela foi escolhida pela proximidade de Paes — portelense — e por ser um expoente da cultura do subúrbio carioca e do Carnaval.

Candidaturas demais. Enquanto Paes falava, promoveu Santa Cruz, que não pode discursar por causa do apoio de Lula a Freixo.

"Aqui todo mundo quer saber de Lula presidente. Pode votar em quem quiser, desde que vote no Lula para presidente", dizia Paes, colocando panos quentes — foi aplaudido.

Quando começou a saudar Santa Cruz, os aplausos foram substituídos por gritos de "Uh, é Freixo!". Descontraído, o prefeito respondeu "É Lula! É Lula!", gritou.

Vaias. Outro momento de indisposição aconteceu quando o microfone anunciou a presença do deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), ex-secretário de Fazenda e Planejamento do Rio de Janeiro que saiu do cargo para concorrer às eleições. Antigo opositor do PT, ele foi vaiado por toda a quadra.

Além de Pedro Paulo, outros afilhados políticos de Paes estiveram no palco, a maioria de partidos de centro.

Candidatos a deputado estadual ou federal, ex-secretários mudaram o perfil do palco de Lula, que nos outros comícios no Rio de Janeiro era lotado de candidatos de esquerda, principalmente do PSOL e do PT.

Em seu discurso, Lula brincou: "O Eduardo Paes sabe que esses deputados que ele está apoiando, se forem eleitos e votarem contra o governo lá, vai ter um cacete entre nós aqui". O prefeito riu.

Alianças distintas. O Rio de Janeiro é o estado em que o PT enfrentou mais problemas para completar sua "frente ampla". Com a união improvável de Paes, César Maia (PSDB), Benedita (PT) e Freixo em torno de Lula, os comícios muitas vezes enfrentam resistência por parte da militância, que não aceita um ou outro nome.

A maior dificuldade é uma união em torno do nome de Ceciliano rumo ao Senado, já que o PSB, partido de Freixo, lançou o nome do deputado federal Alessandro Molon na mesma disputa. Com duas candidaturas do mesmo campo, os comícios costumam ser rachados, apesar da insistência de Lula — e hoje, Paes — em convencer seus apoiadores do voto em Ceciliano.

Eduardo Paes (PSD), Lula (PT) e André Ceciliano (PT) na quadra da Portela - Lucas Borges Teixeira/UOL - Lucas Borges Teixeira/UOL
Eduardo Paes (PSD), Lula (PT) e André Ceciliano (PT) na quadra da Portela
Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

No santuário do samba. Lula chegou na Rua Clara Nunes pouco depois das 11h acompanhado de Paes e da Tia Surica, da Velha Guarda da Portela. Os três percorreram a área externa da quadra, acenando para a militância.

A cada vão, o petista para e acenava para a multidão, que gritava "puta que pariu, é o melhor presidente do Brasil". Empolgado, Paes fazia o "L" e puxava "Olê olê olá, Lula Lula".

Em seu discurso, Lula brincou: "Tudo que eu queria ouvir era samba, e não discurso".

Eu nunca consigo colocar o pé numa praia do Rio de Janeiro. Eu só venho pra cá na reunião. Eu tô na Portela, gente, eu vi ali a porta-bandeira. Vim com a disposição, mas não: [me colocaram para fazer e ouvir] discurso."
Lula (PT) em comício no Rio de Janeiro

Clima de carnaval. Quem chegava à Rua Clara Nunes, bloqueada para o acesso de carros, já ouvia o batuque de samba. À frente da quadra da Portela, onde foi colocado um telão para os que não conseguiram entrar, um pequeno bloco de carnaval sobre pernas de pau tocava marchinhas, sambas e músicas da campanha lulista.

Dentro da quadra, a militância aguardava a chegada do ex-presidente com sambas tradicionais da Portela. Torcedores beijavam a bandeira da escola e sambavam, regados apenas a água mineral.

Salve o samba. Personalidades da Portela estiveram no palco junto com Lula e Paes. Tia Surica "coroou" o ex-presidente com um chapéu panamá. No palco, o primeiro casal de metre-sala e porta-bandeira da escola de samba seguraram durante todo o comício uma bandeira da Portela.

No final dos discursos, a bateria da escola de samba fez uma apresentação para Lula

No palco, integrantes da Velha Guarda do Império Serrano — também escola de samba de Madureira — acompanharam os discursos.

Paes, Lula e Ceciliano entre o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Portela - Reprodução/Youtube - Reprodução/Youtube
Paes, Lula e Ceciliano entre o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Portela
Imagem: Reprodução/Youtube

Como foi o discurso de Lula na Portela

Vira voto. Nesta reta final, o grupo de Lula tem intensificado a campanha pelo primeiro turno, pedindo que militantes virem votos de parentes e conhecidos. Nesta semana, as pesquisas do DataFolha e do Ipec (ex-Ibope) desta semana colocaram Lula 14 pontos à frente de Bolsonaro, com possibilidade de vitória no primeiro turno na margem de erro.

Com pesquisas internas semelhantes aos dois, o PT tem trabalhado com a possibilidade real de vitória no próximo dia 2 -basta convencer esta margem.

Vamos pedir mais um, mais dois, mais três votos. Ainda tem muita gente diz que vai votar em branco. O voto é a nossa única arma.
Gleisi Hoffmann, presidente do PT

Acompanhados de gritos de "primeiro turno", este tem sido o tom de grande parte dos discursos desde ontem. Em São Paulo, a comitê lulista fez um intensivão por "vira voto".

Não vamos nos preocupar em tentar convencer um fanático, como eu, um vascaíno, a torcer para o Flamengo, não vai dar certo. Não vamos tentar convencer um fanático bolsonarista a votar na gente, deixa ele.
Lula, na Portela

Devolvendo as pancadas. Enquanto pregava a importância de acabar no primeiro turno, Lula decidiu também dar uma alfinetada em Ciro Gomes (PDT), antigo aliado que tem atacado o petista e acusado e PT de tentar impedí-lo de concorrer.

Sem citá-lo, Lula lembrou o ex-governador Leonel Brizola, figura histórica do PDT e frequentemente citado por Ciro como referência.

Quem precisa tirar ele [Bolsonaro] de lá é o povo brasileiro, porque a gente está com saudade da democracia. Eu estou vendo o neto do Brizola, o Leonel. Se o Brizola estivesse aqui, ele estaria junto conosco pedindo fora Bolsonaro. Tenho certeza disso.
Lula, na Portela

Ciro tem acusado Lula de tentar pregar o chamado "votot útil" no primeiro turno. Na última semana, chamou os integrantes petistas de "nazistas" pela pressão por desistir da chapa.

Os imóveis de Bolsonaro. Um dia após ser atacado por Bolsonaro no debate presidencial,, Lula fez referência ao caso dos imóveis do clã Bolsonaro comprados com dinheiro vivo, revelado pelo UOL e censurado por algumas horas na tarde de ontem.

E o cidadão [Bolsonaro], que agora me acusa, não explica para ninguém como ele comprou 51 imóveis dando 26 milhões em dinheiro vivo.
Lula, em Madureira

"Se não fosse só o patrimônio, ele vai ter que explicar o orçamento secreto. Ele vai ter que explicar algumas coisas. Não para mim, para a sociedade brasileira", completou.

O caso. Em 30 de agosto, o UOL informou com exclusividade que o clã Bolsonaro usou R$ 13,5 milhões (R$ 25,6 milhões atualizados pelo IPCA) para comprar imóveis com dinheiro em espécie, total ou parcialmente, desde o início da década de 1990.

Em 9 de setembro, o UOL detalhou as evidências de uso de dinheiro vivo em cada uma das 51 transações relatadas pela reportagem, produzida durante sete meses e com base em informações colhidas em 270 documentos obtidos em cartórios.

Sem censura. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) André Mendonça derrubou na noite de sexta (23) a decisão judicial que censurou as reportagens no mesmo dia. O ministro determinou a "imediata suspensão dos efeitos da decisão".

O UOL havia entrado com uma ação no STF contra a decisão do desembargador Demétrius Gomes Cavalcanti, do TJ-DFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios), que censurou as reportagens do site que apontam para a compra de imóveis com dinheiro vivo feito por familiares e pessoas próximas ao presidente.

O pedido foi feito pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do presidente.

Próximos passos da campanha

Lula tem intensificado a agenda no Sudeste nesta reta final. A sete dias do primeiro turno, deverá passar a próxima semana na ponte aérea Rio-São Paulo.

Ontem, a campanha fez os dois últimos comícios da primeira etapa em São Paulo. O primeiro pela manhã no Grajaú, zona sul, e o segundo à noite em Itaquera, na zona leste - ambos ao lado de Fernando Haddad (PT), candidato ao governo;

Veio hoje para o Rio de Janeiro, mas já retorna à capital paulista amanhã (26), para um evento com artistas no Anhembi.

Entre quarta (28) e quinta (29), volta mais uma vez para o Rio de Janeiro para participar do debate presidencial da Rede Globo e fazer uma caminhada na sexta (30).

No sábado (1º), a campanha deverá ser encerrada com outra caminhada em São Paulo.