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Quem ganhou o debate dos candidatos à Presidência? Colunistas do UOL opinam

Do UOL, em São Paulo

25/09/2022 04h00

Com a ausência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o líder nas pesquisas, o debate com os presidenciáveis de ontem organizado por SBT, CNN Brasil, Terra, Nova Brasil, Estadão, Eldorado e Veja ficou marcado pela bizarra participação do candidato Padre Kelmon (PTB) e sua dobradinha com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Para os colunistas do UOL, a presença de Padre Kelmon foi o ponto negativo do debate. Já as candidatas Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) se destacaram positivamente. Também participaram do debate os candidatos Ciro Gomes (PDT) e Felipe D'Ávila (Novo).

Confira a seguir a opinião dos colunistas do UOL:

Leonardo Sakamoto:

O debate foi bem ruim e não teve ganhadores. O que significa que houve um grande perdedor: o eleitorado que assistiu tudo e ficou com a impressão de que jogou seu tempo fora. Uma parte significativa da culpa por isso foi do autointitulado 'padre' Kelmon, que só faltou fazer massagem nos pés de Jair Bolsonaro, mostrando o debate como um descarado jogo de cartas marcadas.

Simone Tebet foi melhor que os demais, inclusive nas cobranças ao presidente - que, por sua vez, demonstrou que fez media training. Estava mais calmo, o que não o impediu de mentir bastante. Soraya Thronicke foi a frasista, levando o debate ao clímax ao alertar o "imbroxável" Jair para ele "não cutucar a onça com SUA VARA CURTA". Por fim, Ciro Gomes reclamou da polarização e da falta de discussão de propostas e Luiz Felipe D'Avila defendeu, veja só, "enquadrar o STF".

Ricardo Kotscho:

De onde saiu esse Padre Kelmon?

Alguém já tinha visto candidato ir a debate presidencial para fazer campanha de um outro candidato? De repente, neste sábado, no SBT, apareceu em cena um certo Padre Kelmon, do PTB de Roberto Jefferson, que ninguém sabe de onde saiu, fervoroso defensor do presidente Bolsonaro e do seu governo, que só quer salvar o Brasil das "esquerdas" e combater o aborto.

Foi a única novidade do penúltimo debate desta campanha. Só não chamou mais a atenção do que a ausência do ex-presidente Lula, o principal alvo do padre terceirizado, lembrado a todo momento pelos demais. A exceção, em meio à mediocridade generalizada, foi Simone Tebet, a única a falar coisa com coisa e a apresentar suas propostas.

De resto, foi um tal desfile de mediocridades eloquentes, que deu pena de quem perdeu mais de duas horas do seu sábado para ver a que ponto chegou a degradação da política do país, mais do que nunca um deserto de homens e de ideias, a uma semana da eleição.

Como Lula não foi, o tiroteio se concentrou no presidente, mas ninguém lhe perguntou sobre o milagre do império imobiliário do dinheiro vivo que a família tentou censurar. Agora, só falta o debate da Globo, no dia 29.

Chico Alves:

As candidatas Simone Tebet e Soraya Thronicke tiveram alguns momentos de destaque no debate quando atacaram Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas não chegaram a pontificar como na vez anterior.

Bolsonaro teve que responder a algumas acusações, mas não foi fustigado de forma compatível à destruição que causou no país. Ciro Gomes se manteve professoral e inflamado, mas não trouxe nenhuma carta escondida na manga que o fizesse deslanchar nas pesquisas. Felipe D'Ávila (Novo) foi irrelevante como sempre.

O grande destaque negativo foi mesmo o tal Padre Kelmon. A política brasileira já foi rebaixada o bastante com os delírios de Bolsonaro, com a fisiologia do Centrão e com a intromissão de militares nessa seara. Tudo o que o país não precisa é de um personagem obscuro, fundamentalista, ligado a uma desimportante Igreja Católica Apostólica Ortodoxa del Peru, com propostas da Idade Média. O grande risco é uma figura tão exótica um dia se tornar presidente do Brasil.

Tales Faria:

Simone e Soraya venceram o debate por terem conseguido polarizar com Bolsonaro. O presidente perdeu, porque está mal com o eleitorado feminino e, mais uma vez, brigou com as mulheres, inclusive criticando a jornalista Clarice Oliveira, do jornal O Estado de S. Paulo.

Ciro desperdiçou uma oportunidade de se destacar. Parecia mais abatido do que nos outros debates, sem saber se atuava de maneira mais ou menos agressiva. E Lula foi atacado por todos, talvez menos do que seria se estivesse presente. Não perdeu nem ganhou com o debate.

José Roberto de Toledo:

Acho que a sensação geral do debate foi de farsa. Não só porque os candidatos não estavam muito à vontade, mas principalmente pela presença desse Kelmon, que diz que é padre, a Igreja Ortodoxa do Brasil não reconhece ele sendo parte dela. [...] Isso acho que deixou até os outros candidatos desconfortáveis

Josias de Souza:

Se a mediocridade do debate presidencial no SBT serviu para alguma coisa foi para retardar a decisão do pedaço do eleitorado que cogita lançar mão do voto útil. Sem Lula e com dois Bolsonaros —o falso cristão e o fake-padre Kelmon—, o debate não produziu fato novo capaz de virar votos ou seduzir indecisos.

Numa disputa em que a margem de erro das pesquisas separa o petista da vitória no primeiro turno, o debate da TV Globo, na próxima quinta-feira, a três dias da eleição, tornou-se estratégico para o pedaço do eleitorado que tem o poder de decidir se haverá ou não segundo turno.

Quatro fatores estimularam o adiamento da opção pelo voto útil: 1) A ausência de Lula —único interessado; 2) O bom desempenho de Simone Tebet; 3) A conversão de Soraya Thronicke em rainha dos memes; e 4) O apelo dramático de Ciro Gomes ao eleitor: "Você precisa me ouvir". A presença de Kelmon, o fake-padre, abastardou o debate. O timbre rupestre do pau mandato de Roberto Jefferson deu a Bolsonaro uma aparência de madre Tereza. Ausente, Lula apanhou indefeso. Mas o orçamento secreto do capitão fez sombra às perversões petistas. De resto, ficou no ar uma interrogação: Quem ganha exposição num debate medíocre é melhor ou pior do que quem perde?