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Leia a íntegra da entrevista de Bolsonaro ao Jornal da Record

O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, participa de sabatina no Jornal da Record - Reprodução/YouTube/Jornal da Record
O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, participa de sabatina no Jornal da Record Imagem: Reprodução/YouTube/Jornal da Record

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

26/09/2022 21h59Atualizada em 26/09/2022 23h39

O candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) participou de sabatina nesta segunda-feira (26) do Jornal da Record. O atual chefe do Executivo foi o primeiro entrevistado entre os seus adversários na corrida eleitoral.

Bolsonaro criticou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mentiu sobre a segurança das urnas eletrônicas, se negou a firmar se vai deixar a Presidência se perder as eleições — afirmou que vai esperar o resultado — e que disse que a rejeição do eleitorado feminino a seu nome é "narrativa".

A entrevista foi conduzida pelo jornalista Eduardo Ribeiro.

Leia a íntegra da entrevista:

[Eduardo Ribeiro]: Boa noite. O Jornal da Record está no ar para entrevistar os candidatos à Presidência da República mais bem colocados nas pesquisas eleitorais. Hoje, pela sequência aprovada pelas campanhas, é a vez do presidente Jair Bolsonaro, que concorre à reeleição pelo Partido Liberal.

Essa entrevista tem transmissão simultânea no portal R7, no Play Plus, e em todos os perfis das redes sociais da Record TV. A nossa conversa tem duração de 40 minutos e o último minuto, o minuto final, é reservado para as considerações finais. Presidente, muito obrigado por aceitar o convite da Record TV. Uma boa noite para o senhor.

[Jair Bolsonaro]: Primeiro, boa noite a todos. Boa noite, Eduardo. Eu espero poder colaborar para que tenhamos uma boa entrevista, que o público também tenha uma informação verdadeira a meu respeito.

[Eduardo Ribeiro]: Eu agradeço por isso. O tempo da entrevista começa a contar a partir de agora. Eu gostaria de começar, presidente, tentando entender para onde é que vão os preços dos combustíveis depois das eleições?

As reduções subsequentes nas últimas semanas e meses foram comemoradas, mas diferentes analistas de dentro e de fora do governo, afirmam com alguma categoria de que, mesmo o senhor dizendo que não fez nada disso por canetada, essas reduções terão um preço logo ali na frente. Então a pergunta que eu lhe faço é: Quem é que vai pagar por isso? É o consumidor que já vinha pagando? É o governo que vai precisar lidar com a perda de arrecadação dos estados ou vai ser a Petrobras?

[Jair Bolsonaro]: No passado, a Petrobras era usada politicamente com canetadas para diminuir o preço dos combustíveis para que o presidente daquele momento tivesse ganho político na frente. Nós não fizemos isso. Logicamente, quando a Petrobras aumentava seus preços, eu me indignava, como cidadão. O que nós fizemos? Junto ao parlamento brasileiro, primeiro nós botamos um teto no imposto estadual, o ICMS. Tinha estado que cobrava 35% no preço do litro do combustível, passou-se para 17. Nós abrimos mão dos impostos federais: do diesel, da gasolina, do álcool, já tínhamos aberto mão do gás lá atrás. Essa não... não digo diminuição, zerar essa alíquota está mantido já no orçamento numa peça prevista para o ano que vem. E detalhe, desde junho venho diminuindo o preço dos combustíveis e nós estamos arrecadando muito mais. Deixo bem claro, a Petrobras sofreu essa política de redução de preços na base da canetada, nós fizemos com o parlamento brasileiro.

Bolsonaro sancionou projeto de lei que limita o ICMS, mas vetou compensação aos estados para manter os valores de gastos com saúde e educação antes da sanção. A aprovação do projeto no Congresso aconteceu em meio a preocupação do presidente com a rejeição dos eleitores com a alta dos preços dos combustíveis.

O endividamento da Petrobras ao longo de 14 anos de PT não só na base da canetada, por causa das canetadas, mas por causa de corrupção também, chegou na casa dos 900 bilhões de reais. Isso dá para você fazer 60 vezes a transposição do Rio São Francisco. Então se eu tivesse tomado uma medida de força, de canetada, como dizem, pode ter certeza que o dólar iria lá para cima, a bolsa sofreria também os seus reveses, fizemos exatamente como manda a legislação e como pode ser feito com a participação do Congresso Nacional.

[Eduardo Ribeiro]: Mas com a política de preços efetivamente o senhor não mexeu, o senhor não alterou. O senhor deve fazer isso? Pretende fazer isso?

[Jair Bolsonaro]: Olha, eu não posso fazer isso. A Petrobras é que faz isso através de seus conselhos e diretores. Eu sempre, quando indico um chefe de estatal, ele é o dono daquele pedaço. Então juntamente com... nos momentos de reduzir o preço do combustível na refinaria, que foi feito sim desde quando assumiu-se o último presidente, ele foi feito levando-se em conta a tal da PPI, levando-se em conta o preço do barril de petróleo lá fora.

Quando aumentava o petróleo lá fora, diretorias anteriores aumentavam imediatamente o preço do petróleo. Você não tem, segundo PPIs, segundo o estatuto da empresa de aumentar imediatamente. E quando diminuía o preço do barril lá fora, não acompanhava aqui dentro. O novo diretor pegou o preço do petróleo na casa dos 108 dólares. Atualmente está em 82 dólares. Eu acho até que ele tem uma certa reserva, uma certa gordura para diminuir mais esse preço ainda. Ou seja, esse novo presidente segue o estatuto e sempre dá um prazo para ver se aquele aumento daquele dia não foi algo anormal. Então, essa é a nova política da Petrobras que está sendo muito bem conduzida pelo Caio.

[Eduardo Ribeiro]: O senhor me faz lembrar que durante a escalada de preços, o senhor falou algumas vezes sobre a privatização da Petrobras. Eu queria saber se num eventual novo mandato, o senhor volta a discutir isso ou não?

[Jair Bolsonaro]: A Petrobras é uma gigante, não é? Nós temos muitas estatais no Brasil. A Petrobras foi o local onde o PT, Lula e Dilma usaram para botar apadrinhados e botar corruptos lá dentro, tá? Então essas pessoas afundaram a Petrobras, quase quebraram a Petrobras. Onde se podia imaginar no mundo você quebrar uma estatal petrolífera? Então, quando você privatiza alguma coisa, a vantagem que você tem é que quem tiver, quem for te suceder, não vai fazer o uso político daquela empresa.

Então, a vontade de privatizar é em parte minha, sim, existe essa vontade, e existe, em parte, por parte da população brasileira, mas nós sabemos da dificuldade de privatizar uma Petrobras. E a nossa missão principal é sanear suas dívidas, estamos fazendo muito bem, evitamos loteamento político da empresa. Você deve se lembrar, por ocasião do Petrolão, cada partido indicava um diretor da estatal. Partidos indicavam também as pessoas para comporem os conselhos, e isso não deu certo.

Então, como um todo, a nossa política de privatizar, obviamente separando, preservando uma coisa que é estratégia, pode citar como, por exemplo, não se fala em privatizar, no meu governo, a Casa da Moeda, não se fala em privatizar, por exemplo, a questão de Banco do Brasil, Caixa Econômica, que têm que ser mantidos... as demais empresas não são fáceis as suas privatizações, tá? Em grande parte, elas passam pelo parlamento brasileiro. Privatizamos a Eletrobras, que era deficitária.

[Eduardo Ribeiro]: Então eu devo entender que o senhor tem vontade, mas não vai encaminhar a privatização. Queria mudar agora o assunto para emprego. Presidente, o senhor assumiu com 12 milhões de desempregados e esse número passou, ano passado, já para 15 milhões, muito em função da pandemia, é verdade, e hoje nós temos ainda 10 milhões de pessoas tentando assinar a carteira de trabalho.

Na TV, a sua campanha fala em gerar seis milhões de empregos, eu fui lá ler o seu plano de governo, "Caminho para a prosperidade", mas não há ali uma explicação de como fazer isso, então queria entender qual o caminho para gerar empregos em um eventual novo mandato.

[Jair Bolsonaro]: Meu plano de governo é um norte, não é? É continuar fazendo o que fizemos até agora. O Eduardo, quem enfrentou uma pandemia como eu? Dois anos de pandemia, com uma política errada, de grande parte dos governadores, obrigando o povo a ficar em casa. "Fica em casa, a economia a gente vê depois." Entre dois mil e... ou melhor, 2020 e 21, anos da pandemia, foi... praticamente não tivemos desemprego no Brasil no tocante à carteira de... carteira assinada, porque nós fizemos dois grandes programas, conhecidos como BEM e Pronampe, que deu meios para o empresariado não demitir funcionários, então 2020 acabamos praticamente no zero a zero.

21 já começamos a recuperação, criando mais de dois milhões de empregos no Brasil. Mas como, isso? Também desburocratizando, desregulamentando. Hoje, nós somos o sétimo país mais digital do mundo. Isso facilita a pessoa a criar seu próprio negócio. Quando você fala em desregulamentar, nós arquivamos, não é? Deixamos de lado mais de quatro mil normas trabalhistas, chamadas normas regulamentadoras, que só atrapalhavam a vida do empresariado.

Não é possível afirmar que o Brasil fechou os anos de 2020 e 2021 com saldo positivo na criação de empregos e desempregos formais. Isso porque, em 2020, houve uma mudança na metodologia na forma de calcular a criação de empregos. A mudança de metodologia é informada nas notas técnicas do Ministério da Economia, no entanto, raramente aparece nas declarações públicas de Bolsonaro e outros integrantes do governo.

Então, essa liberalidade, essa, essa desregulamentação, desburocratização tem ajudado quem empreende a criar empregos, e as pessoas, por exemplo, a criar empresas também. Você pode ver: em 2010, se levava quatro meses para abrir uma empresa; hoje, no meu governo, você leva menos de 24 horas.

[Eduardo Ribeiro]: Essas pessoas, esses empresários, novos empresários, também gostariam de ouvir o presidente que tenta se reeleger falar sobre impostos. O senhor há de reconhecer que foi eleito prometendo tirar o peso do Estado, lembra?

[Jair Bolsonaro]: Sim.

[Eduardo Ribeiro]: Das costas de quem produz. Entretanto, apesar de algumas reduções, e muito importantes, a nossa carga tributária é ainda uma das maiores do mundo. Então, como é que o senhor espera convencer o seu eleitor de que agora, em mais um mandato, o senhor de fato vai, dessa vez, reduzir impostos?

[Jair Bolsonaro]: Você pode ver: nós reduzimos o IPI em 35% de mais de quatro mil produtos! Ao longo do nosso mandato, nós temos reduzido pontualmente impostos, como a própria gasolina, álcool, diesel, gás de cozinha. E entender o governo, o Paulo Guedes é que é o grande mentor disso tudo, ele entendeu que, na situação que nos encontramos, com a carga tributária excessivamente alta, ao diminuir, você aumenta a arrecadação. Isso é uma verdade.

Os números da economia têm mostrado isso: temos batido recorde de arrecadação, no meu entender, em função, em grande parte, da desregulamentação, desburocratização e também da diminuição da carga tributária. Alguns governadores reclamam, porque quando você fala em IPI, uma parte fica com o governo, outra parte fica com os governadores, mas alguém que, por exemplo, vai comprar uma bicicleta e paga 200 reais a menos, ou 100 reais a menos, ele vai gastar no outro lugar isso aí, e vai gerar imposto esse novo produto comprado por ele.

Os governadores, no meu entender, estão entendendo isso aí, a sociedade, no meu entender, está feliz no tocante a isso daí, porque estamos combatendo de verdade a inflação. E com a diminuição da carga tributária, como o caso do IPI, nós estamos buscando a reindustrialização do nosso país.

[Eduardo Ribeiro]: Presidente, seus adversários costumam explorar o argumento de que o senhor não valoriza as mulheres, que o senhor não produz políticas públicas voltadas a elas, inclusive eles fazem um recorte de investimentos lá no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e falam sobre uma redução drástica nos investimentos para o orçamento inclusive do ano que vem. Nesse momento, se olharmos para as pesquisas, se vê também uma resistência de parte do eleitorado feminino à sua candidatura à reeleição. Como reverter essa imagem?

[Jair Bolsonaro]: Primeiro, a questão do orçamento. O orçamento não é um decreto. Eu mando um projeto para a Câmara. O meu projeto tem que ter um limite de teto. Tudo que porventura abaixou, a Câmara pode aumentar. Aumentar como? Entrando no dito orçamento secreto, que está na casa dos 18 bilhões de reais. E é orçamento impositivo. Então o orçamento, ele é realizado a quatro mãos. Então, não justifica essa bronca pontual, muitas vezes, sobre redução.

No tocante a mulher, nós valorizamos a mulher. Nós temos, eu criei o Ministério da Mulher com a Damares. Um outro ministério meu, que é da articulação política, esteve na mão da Flávia Arruda. Um outro Ministério extremamente importante, da Agricultura, esteve com a Tereza Cristina, que é um orgulho para nós o trabalho dela. Poderia citar coisas pontuais. Anotei aqui para não esquecer.

Criamos o canal 180, violência contra a mulher. Criamos não, implementamos melhor, disciplinamos e criamos o disque-denúncia também em Libras e WhatsApp. Acredite, Edu, você levava, no governo anterior, até 60 minutos para ser atendido nesse disque violência contra a mulher. Em nosso governo, você é atendido em média 30 segundos. É só alguém fazer o teste aí. Aprovamos recentemente uma nova lei sobre laqueadura. A mulher tinha que ter 25 anos para buscar laqueadura. Passamos para 21 anos. A mulher também tinha que ter consentimento do marido para fazer a laqueadura, acabamos com o consentimento do marido. A mulher tinha que esperar seis meses após o parto para fazer a laqueadura. Ela pode fazer a laqueadura, agora, imediatamente. Nós também intitulamos terras pelo Brasil: 400 mil novos títulos 80% da Reforma Agrária, 80% foram para as mulheres. As mães com filhos com zika vírus, nós demos a pensão para elas. Não era para elas, era para o filho em determinadas condições. Então, criamos isso daí para as mulheres. Diminuímos 18% a gravidez na adolescência. As mães de raros passaram a ter um atendimento prioritário na rede de saúde.

Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que Bolsonaro cortou em 90% o orçamento para ações de combate à violência contra mulheres. Segundo a reportagem, o corte pode levar, inclusive, a paralisação do serviço Ligue 180. Além disso, iniciativas citadas por Bolsonaro na resposta à Record, como a nova lei da laqueadura, foram propostas feitas pelo Congresso e que o presidente apenas sancionou (ou seja, aprovou o texto dos parlamentares).

O meu governo é o que, proporcionalmente, mais prendeu machões pelo Brasil. Nós fizemos operações com a Damares, com o ministro da Justiça em cima das pessoas que faziam maldade para com as mulheres. Com duas operações de âmbito nacional. Operações Maria da Penha e Resguardo. Demos também, me acusavam, em 2018, que eu ia acabar com o Seguro Defesa, aquele dinheiro que por quatro meses o pescador recebia para ele não pescar porque o peixe estava se procriando. Não só nós mantivemos, obviamente, a questão do Seguro Defesa, como nós estendemos para as marisqueiras; e, por último, demos também uma pensão, BPC, para a escalpelada, aquelas mulheres da região Amazônica e região do Marajó também.

[Eduardo Ribeiro]: Me permita insistir na questão, também, se há todo esse rol mencionado pelo senhor, por que ainda assim enfrenta resistência entre o eleitorado feminino?

[Jair Bolsonaro]: Não é resistência, é uma narrativa por parte daqueles que me acusam porque não têm mais nada do que me acusar. Essa acusação, repito, Eduardo, é desde antes de 2018: "Ele não gosta de mulher". Eu tenho uma filha, eu quero o bem dela. Eu tenho três netas, eu quero o bem delas, eu quero o bem da minha esposa. Por que eu seria contra as mulheres? Não justifica isso. É uma narrativa que, com fatos, a gente mostra que fizemos muito mais que vários outros governos juntos no passado.

Última pesquisa Datafolha, divulgada em 23 de setembro, mostrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 49% das intenções de voto entre o eleitorado feminino contra 29% dos votos para Bolsonaro. O atual chefe do Executivo também recebe frequentemente críticas por ataques contra mulheres.

[Eduardo Ribeiro]: Presidente, os seus opositores falam bastante, usam a questão da campanha eleitoral, do uso da máquina pública para fazer campanha. O acusam disso e acionaram a Justiça Eleitoral nessas eleições. Algumas vezes, a justiça deu ganho de causa e proibiu o senhor de usar imagens do discurso no Sete de Setembro, depois da sua passagem por Londres, no funeral da rainha, inclusive o seu discurso na Assembleia Geral da ONU. A minha pergunta é a seguinte: se o senhor não usa o cargo para, como não conseguiu reverter essas decisões, então?

[Jair Bolsonaro]: Eu não tenho ascendência, eu não mando no Tribunal Superior Eleitoral.

[Eduardo Ribeiro]: Mas pode argumentar com os seus advogados.

[Jair Bolsonaro]: Argumento, mas não existe, não tem como convencê-los. Estou proibido de fazer live dentro da minha casa oficial, tenho que ir para casa de alguém. Perseguição política. Não posso usar as imagens do 7 de Setembro no horário eleitoral gratuito nosso. Ué, mas por quê? Eu convoquei o pessoal a ir às ruas. Eu tive um evento cívico-militar e depois fui conversar com o povo, ali do lado, sem a faixa presidencial.

Ou seja, o TSE fica o tempo todo aceitando qualquer ação de partidos, em especial do PT, para tentar atrapalhar a minha campanha. Você pode ver, a ministra Cármen Lúcia agora mandou retirar de Brasília qualquer outdoor que tenha as cores verde e amarela dando a entender que estariam fazendo campanha para mim. Pessoas do povo que botam uma bandeira na frente da sua propriedade, ou um outdoor, como temos visto pelo Brasil todo, um outdoor com a bandeira do Brasil: "Deus, Pátria, família, liberdade" passou a ser para o TSE propaganda política.

Nós resgatamos o patriotismo no Brasil. A esquerda, o PT e seus afiliados, sempre pisaram na bandeira, tocaram fogo na bandeira, rasgavam a bandeira. Não queriam saber da bandeira nacional. A bandeira deles é uma bandeira vermelha e eu resgatei isso aí. Hoje em dia, o TSE, de forma parcial, me persegue dessa forma.

[Eduardo Ribeiro]: Presidente, vamos falar um pouquinho mais de economia, porque, ao contrário da previsão de alguns analistas, esse primeiro semestre traz bons resultados para a economia brasileira, como a correção para baixo da inflação, deflação, correção para cima do PIB, e geração de empregos. Paulo Guedes inclusive chegou a dizer que a economia anda bombando. Mas se vai bem assim, por que isso não se reverte em intenção de voto?

[Jair Bolsonaro]: Olha, primeiro que eu não acredito em pesquisas, eu não acredito no Datafolha. Eu ando pelo Brasil todo, sou bem recebido em qualquer lugar, como amanhã estarei na Bahia, e também Pernambuco, cidades limítrofes. Fui muitíssimo bem recebido em Garanhuns, terra daquele cara. Olha como foi minha recepção no último fim de semana em Campinas, em Contagem, no Brasil todo. Agora, não dá para você acreditar em pesquisas. As pesquisas diziam que em 2018 eu perderia para qualquer um.

As pesquisas das eleições de 2018 captaram a vantagem de Bolsonaro no primeiro turno. Apenas uma pesquisa, divulgada no dia 28 de setembro, mostrou o então candidato Fernando Haddad (PT) na frente de Bolsonaro em uma disputa no segundo turno. Reportagem mostra os cenários das últimas eleições presidenciais.

Economia: tivemos dois anos de pandemia. Aquela política de obrigar o povo a ficar em casa, de fechar comércio, de inclusive, pegando 38 milhões de pessoas que trabalhavam durante o dia para comer a noite, perderam sua renda. Nós criamos o Auxílio Emergencial. Inclusive, o Auxílio Emergencial para mãe chefe do lar passou a ser dobrado naquela época. Hoje, o Auxílio Brasil, de 600 reais, que vai ser definitivo, também, 80% são mulheres que recebem. Os analistas estão na décima terceira semana consecutiva mostrando novos números positivos por parte da nossa economia. Trabalho, em grande parte, obviamente, do nosso ministro Paulo Guedes.

A inflação está indo lá para baixo, emprego lá para cima, o nosso Produto Interno Bruto tem crescido também. Tem estados no Brasil, como por exemplo, Santa Catarina e Paraná, que os empregadores têm dificuldade de conseguir mão de obra. Nos pedem muitas vezes, via Ministério da Defesa, que nós transportemos de Roraima para lá os nossos irmãos venezuelanos que estão fugindo da ditadura apoiada por Lula lá na Venezuela.

As medidas de distanciamento social foram adotadas para evitar a disseminação do coronavírus. Bolsonaro deu declarações controversas como "não sou coveiro" quando foi questionado sobre 300 mortes diárias pelo coronavírus no início da pandemia. O Brasil acumula mais de 685 mil óbitos. Sobre a inflação, o Brasil permanece no topo do ranking dos países com maiores taxas de inflação entre as principais economias mundiais, mesmo após o país ter registrado deflação histórica em julho, como informa a Folha de S.Paulo em matéria de agosto deste ano.

[Eduardo Ribeiro]: Diante de uma retomada econômica é possível se comprometer com ganhos reais do salário mínimo? Vamos falar sobre isso porque o senhor teve um único ano, primeiro ano, 2019, um ganho real. Desde então, o salário mínimo apenas vem repondo as perdas da inflação. O que o senhor encomenda para a equipe econômica no eventual novo mandato?

[Jair Bolsonaro]: Foi em função da pandemia, nós gastamos 700 bilhões de reais em 2020, não só para combater o vírus, como os recursos para estados e municípios. Para Auxílio Emergencial. Nós pagamos Auxílio Emergencial para 68 milhões de pessoas em 2020. Não tínhamos como ir além do reajuste equivalente ao da inflação. Obviamente, como o nosso governo é um governo que não rouba, diferentemente do Lula que roubou a nação em tudo quanto é lugar, nos sobra dinheiro para você, em concordância com projeto junto ao parlamento brasileiro, buscar dar um reajuste maior para o salário mínimo.

[Eduardo Ribeiro]: Nessa reta final, eu vejo sua campanha explorando bastante o fato de que o seu principal adversário, ex-presidente Lula foi condenado e preso em função de envolvimento em casos de corrupção. Apesar de ele não ter sido, de fato, absolvido, e sim por questões processuais os casos terem sido anulados pelo STF, e só por isso ele concorrer a essa eleição, eu queria saber do senhor como é que o eleitor comum, o senhor acha que ele consegue separar a diferença entre absolvição e o que de fato aconteceu?

[Jair Bolsonaro]: Olha, muita gente consegue. Alguns com o tempo vão entendendo o que aconteceu. Quando eu falo da Petrobras, é uma realidade. O BNDES, malversação dos recursos públicos, chegou na casa dos 400 bilhões de reais. O BNDES emprestou dinheiro para a Venezuela. Eu costumo dizer, em Belo Horizonte não tem metrô, mas em Caracas, capital da Venezuela, tem dinheiro do BNDES. Hoje em dia a dívida da Venezuela conosco, que não vai pagar, está na casa de um bilhão e 600 milhões de dólares. Mais de cinco bilhões de reais. E ele emprestava esse dinheiro por quê?

A Venezuela deve US$ 793 milhões de dólares, não US$ 1,6 bilhão, segundo os dados oficiais do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O dado é de outubro de 2021, e, na época, com a cotação de R$ 5,60 o dólar, a dívida ficava em R$ 4,45 bilhões.

O Lula mandava o BNDES emprestar recursos para essas ditaduras? Além de fazer obra, uma parte dessa grana servia para refinanciar ditaduras em outros países aqui da América do Sul. E você pode ver, em delações premiadas, você pode... tem vários delatores, um de um presidente da Petrobras, ele disse dentro do hangar da TAM aqui em Congonhas que o Lula sabia de todo o esquema de corrupção.

Outra delação do Palocci, ele diz que a Odebrecht reservou para ele R$ 300 milhões numa conta lá fora do Brasil, esse era o PT. O próprio Lula está sendo cobrado agora pela Receita em 14 milhões de reais de sonegação de impostos. Olha, se tem 14 milhões de sonegação, ele mexeu com algo de 40 a 50 milhões.

A decisão do procurador da Fazenda Nacional Daniel Wagner Gamboa cobrou R$ 18 milhões de Lula. A cobrança é relacionada ao Instituto Lula e a LILS, empresa de palestras do petista. A defesa do ex-presidente acionou o STF para recorrer da decisão.

Então essa corrupção foi endêmica, existiu no Brasil. Bem, a verdade, o amigo do Lula, senhor Edson Fachin, ministro do Supremo Tribunal Federal, resolveu entender que deveria ser julgado em Brasília, e não em Curitiba, por isso que ele, na turma que ele estava, anulou por três a dois os processos. Agora, a corrupção existe. Tanto é verdade que vários delatores devolveram mais de seis bilhões de reais. Ou seja, ninguém ia devolver essa grana se não tivesse roubado. Então o PT roubou e muito, com o Lula na frente desse grande esquema de corrupção que se fez presente, inclusive na própria delação do Palocci, em todos os órgãos públicos, exceto o Banco Central.

As acusações feitas pelo ex-ministro Antonio Palocci foram anuladas pelo STF (Supremo Tribunal Federal). A Polícia Federal, em agosto de 2020, concluiu que o ex-ministro não apresentou provas e que as acusações foram todas desmentidas pela investigação.

[Eduardo Ribeiro]: Presidente, me permita agora trazer um assunto sobre o qual nem sempre o senhor é claro. Acho que todos conhecem os seus questionamentos às urnas eletrônicas. Recentemente, o senhor falou que vai respeitar o resultado das eleições, depois disse: "Respeito se elas forem limpas", sem, para isso, dizer qual mecanismo o senhor vai usar para diagnosticar uma eleição que não foi limpa.

E subiu a temperatura, agora há pouco tempo, dizendo que se o senhor não vencer no primeiro turno algo de errado aconteceu dentro do TSE. Com toda a humildade eu lhe pergunto: o que é que o Brasil de fato pode esperar do senhor caso seja derrotado nas urnas?

[Jair Bolsonaro]: Eleições limpas, sem problema nenhum.

[Eduardo Ribeiro]: Como diagnostica?

[Jair Bolsonaro]: Você pode ver: assim como você não tem, hoje em dia, como comprovar um processo eleitoral, tá? O outro lado não tem como provar que ele foi sério também. A história é muito longa. Gostaria muito de conversar contigo, uma hora depois, a partir do término desse programa aqui, sobre esse assunto.

Por exemplo: o inquérito da Polícia Federal de novembro de 2018 não foi concluído até hoje. O que é que está naquele inquérito? O Tribunal Superior Eleitoral informou à Polícia Federal que um grupo de hackers ficou por oito meses dentro do TSE, inclusive no período eleitoral. Quando a Polícia Federal pede os logs, que são as impressões digitais do que aconteceu nos computadores, sete meses depois o TSE informa, está assinado lá por parte do diretor de tecnologia de informática do TSE, que os logs foram apagados por uma empresa terceirizada que fez manutenção dos computadores. Ou seja, nem o TSE tem controle daquilo, são empresas terceirizadas que fazem a contagem dos votos.

Em depoimento ao TSE, o delegado do caso negou ter encontrado indícios de fraude nas urnas ao apurar a invasão hacker. Entenda como o inquérito é usado pelo presidente para questionar a credibilidade das urnas.

Bem, eles convidaram as Forças Armadas, as Forças Armadas apresentaram várias sugestões, foi uma briga para aceitar uma ou outra sugestão, uma má vontade enorme do TSE para com as Forças Armadas para nós buscarmos uma maneira de diminuir a possibilidade de fraude.

A última cartada agora, tomei conhecimento, não só por parte das Forças Armadas, bem como por parte do Ministro da Controladoria-Geral da União e do Ministério da Justiça. Eles informaram ao presidente do TSE a relação de nomes de técnicos que dizem que querem que se façam presentes, dentro da sala-cofre, por ocasião das eleições. Eu acho que, com isso, a chance de fraude não zera, chega próxima a zero; zerado somente com o voto impresso, a exemplo do que acontece nas eleições do Paraguai.

Nenhum ataque capaz de alterar o resultado das urnas foi identificado no TPS (Teste Público de Segurança), concluído em maio deste ano pelo TSE. O relatório da comissão avaliadora do TPS concluiu que não foram identificadas vulnerabilidades. Nenhum dos investigadores conseguiu violar a integridade ou sigilo do voto.

[Eduardo Ribeiro]: Então devo entender que se o senhor não ganhar, o senhor vai questionar?

[Jair Bolsonaro]: Olha, eu vou esperar os resultados. Nas ruas, eu nunca vi, eu tenho falado nos meus pronunciamentos, como falei em Campinas, que um candidato que tem 45% das intenções de voto sem poder sair às ruas, sem poder se dirigir ao público, tá? E o que é a democracia? É a vontade popular. A gente não está vendo a vontade expressa nos institutos de pesquisa, em especial o Datafolha, e muito menos dentro do TSE. Eu termino com uma coisa aqui, não queria falar, mas termino: os mesmos juízes que tiraram o Lula da cadeia e o tornaram elegível são exatamente os mesmos que conduzem o processo eleitoral brasileiro e que tudo dificultam para que a Comissão de Transparência Eleitoral consiga participar para evitar a possibilidade de questionamentos ao término das eleições.

[Eduardo Ribeiro]: Vamos falar um pouco sobre Auxílio Brasil agora, por favor, presidente, porque, para o orçamento de 2023, já há lá um novo valor, mas não é o valor que o senhor efetivamente anuncia. O senhor se compromete aqui com a manutenção e com a ampliação? Guedes e o senhor já sabem de onde tiram o dinheiro em um eventual novo mandato?

[Jair Bolsonaro]: Primeiro, até final do ano passado, era Bolsa Família, média 190 reais. Tinha família ganhando 80 reais. Se essas famílias conseguissem um emprego, perderiam o Bolsa Família. Bem, mas tinha que dar alguma coisa, porque a inflação de alimentos se fez presente no mundo todo, no Brasil não foi diferente. Conseguimos aprovar no parlamento a renegociação dos casos dos tais dos precatórios e conseguimos passar para 400 reais de forma definitiva.

Deixo bem claro: toda a bancada do PT na Câmara votou contra o novo Auxílio Brasil de 400 reais. Chegamos 22. Em acerto com o parlamento, conseguimos mais 200 até o final do ano, e mais ainda: já acertado com o Arthur Lira, já acertado com o Paulo Guedes que temos de onde tirar esses 600 de forma definitiva. Então é a palavra minha, é palavra do Paulo Guedes, é do próprio Arthur Lira, que bota em votação o projeto...

[Eduardo Ribeiro]: Posso perguntar de onde é, presidente?

[Jair Bolsonaro]: Pode. Vem da taxação dos dividendos para quem ganha acima de 400 mil reais. E segundo o Paulo Guedes dá, em cima disso, até para dar uma mexida na tabela do Imposto de Renda. Então está garantida a quantidade de 600 reais. A esquerda, o PT tem pregado por aí que eu vou acabar com o Auxílio Brasil, da mesma forma que pregaram, em 2018, que eu ia acabar com o Seguro Defeso para os pescadores.

Repito: nós, ao passarmos para 400 reais na Câmara, o PT foi contra, igual à gasolina quando nós votamos a diminuição de impostos para diminuir o preço da gasolina: toda a bancada do PT no Senado votou contra a diminuição do preço da gasolina, do álcool, do diesel e do gás de cozinha.

[Eduardo Ribeiro]: Presidente, infelizmente o Brasil e o mundo enfrentaram uma pandemia que nos custou milhões de vidas. Os seus opositores falam desde o primeiro ano da pandemia e isso está na campanha eleitoral de maneira evidente, que o senhor poderia ter contribuído para evitar muitas dessas mortes, tivesse ao menos comprado vacina mais cedo. Quando o senhor é acusado de ser antivacina, o senhor diz o quê?

[Jair Bolsonaro]: Primeira coisa, eles queriam que comprasse vacina em 2020. Me aponte um país do mundo que tenha vendido uma dose de vacina em 2020. A primeira vacina, no mundo, foi aplicada em dezembro de 2020. No Brasil, nós começamos a aplicar em janeiro de 21, e eu comprei 500 milhões de doses de vacina, de modo que todo brasileiro que quis tomar, de forma voluntária, tomou.

[Eduardo Ribeiro]: Mas a bem da verdade, o governo foi procurado por uma das indústrias e se compilou depois 45 dias de atraso. O senhor não reconhece isso?

[Jair Bolsonaro]: Não, isso daí, com essa empresa, foi com a Pfizer, o contrato que eles queriam que nós assinássemos, em dezembro, por que foi postergado? Você tem que ler o contrato. Igual a quem vai ler um medicamento novo, tem que ler a bula. Os efeitos colaterais, a própria Pfizer dizia que não se responsabilizava por qualquer efeito colateral.

O governo recebeu ofertas para compra dos dois imunizantes em maio de 2020. Já sobre os efeitos colaterais, a isenção de responsabilidade é um mecanismo comum para que as empresas não sejam processadas por eventuais reações adversas. Pfizer e Moderna fecharam contrato com isenção de responsabilidade com o governo norte-americano.

[Eduardo Ribeiro]: Nas vacinas emergenciais é assim que acontece com outros fabricantes também.

[Jair Bolsonaro]: Não, mas espera aí, ela tem que dizer, por exemplo, os efeitos colaterais. Elas carimbaram como "sigiloso" por 75 anos, nos Estados Unidos e os efeitos colaterais ninguém sabe. Ela diz que são conhecidos a partir de 23, e mais ainda, o Brasil não poderia ter qualquer ação judicial contra possíveis mortes ou outros problemas de efeitos colaterais. Era uma gama de condicionantes, que eu não tinha como assumir isso aí. O que foi feito? O parlamento votou um projeto nesse sentido, que eu não sou responsável por isso. Não posso ser. E daí, o que aconteceu? Que nós compramos a vacina, a Pfizer, no ano seguinte, com uma condição de entrega de uma quantidade muito maior do que se estivesse assinado em 2020.

Deixo bem claro, em 2020, no contrato, ela não, os mesmos 500 mil dólares em janeiro, ela não assumia o compromisso de entregar essas doses. Então, não teve atraso de vacina. O Brasil foi o país que mais vacinou, que melhor atendeu a população que foi atrás de vacina. O que é muito importante, por parte do governo federal, de forma voluntária, ninguém obrigou ninguém a tomar vacina. Agora, uma crítica que eu faço a todos, em especial aos parlamentares e parte da imprensa: criminalizaram o tratamento precoce. Essa é a verdade virá à tona mais cedo ou mais tarde. Não deram a liberdade que o médico sempre teve para, em um caso desconhecido, buscar uma forma de melhor tratar essa pessoa.

[Eduardo Ribeiro]: Presidente, não foi a imprensa, a Associação de Brasileira de Infectologia, Organização Mundial da Saúde e outras instituições.

[Jair Bolsonaro]: Se você fala a OMS, vê quem está à frente dela e a quem ele está subordinado. Tiveram esses problemas todos.

O tratamento precoce, defendido por Bolsonaro até hoje, não tem eficácia comprovada na prevenção da covid-19. A OMS desaconselha o uso da hidroxicloroquina, um dos remédios já defendidos pelo presidente.

[Eduardo Ribeiro]: Podemos falar de um outro reflexo, se o senhor me permitir, evidente, da pandemia, que ocorreu dentro da educação, tivemos um atraso enorme.

[Jair Bolsonaro]: Estou com dados aqui, por exemplo, só pode ver: os vacinados, hoje em dia, estão morrendo, em média, 100 pessoas por dia, caiu agora, e 80% são vacinados. A grande maioria com doses duplas. Ou seja, não se conhece nem a efetividade da vacina, por quanto tempo vale. Mas deixar bem claro, nós compramos em condições melhores do que qualquer outro país, conseguimos produzir vacina no Brasil, inclusive, e atendemos as pessoas que queriam a vacina.

Deixo bem claro, a vacina não é um remédio, é um preventivo. Agora, o remédio em si foi criminalizado o médico que porventura quisesse fazer uso do tratamento precoce.

Estudo feito por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostrou que as vacinas tiveram uma efetividade entre 83% a 99% para casos graves e óbitos entre as faixas etárias de 20 e 80 anos.

[Eduardo Ribeiro]: Presidente, em um eventual segundo mandato, como é que o senhor lida com o atraso que a educação está vivendo em função também da pandemia? Quando o senhor olha para o seu Ministério da Educação, o senhor teve quatro ministros. Isso não é um recado ruim sobre o rumo que o senhor queria dar para uma pasta tão estratégica?

[Jair Bolsonaro]: Nós tivemos três ministros, um sequer assumiu, foi dois dias depois.

[Eduardo Ribeiro]: Verdade.

[Jair Bolsonaro]: Dado a problemas, ele sequer assumiu. É uma pasta extremamente importante. Agora, a pandemia jogou os nossos números lá para baixo. Na prova do Pisa, que são 70 países, que pega a garotada da nona série do ensino fundamental, é terrível! A molecada não sabia nada. Fruto da herança do PT. Eu até falava: "Não tem como piorar a educação que já está lá embaixo". Bem, com a pandemia, com o "fica em casa", eu por exemplo determinei que as academias militares não fossem fechadas, e nenhum cadete foi hospitalizado ou sequer morreu de Covid. Fizeram isso na educação. A juventude, ela não é, ela não sofre com o vírus, né? Ela tem uma reação natural a isso, tanto é que você não viu mortes de jovens por Covid, coisa rara acontecer. Casava quando o jovem tinha alguma comorbidade.

Mas esse atraso? Se levava, até pouco tempo, três anos para se alfabetizar uma criança. No nosso governo agora, temos um aplicativo que está sendo usado já em milhares de escolas pelo Brasil, se alfabetiza uma criança agora em seis meses. Isso é uma coisa fantástica que vai repercutir lá na frente nessas provas que nós fazemos regularmente, como por exemplo até a prova do Pisa.

Estados e municípios criticaram ao longo da pandemia a falta de coordenação do governo federal para atuar em ações de aprendizagem. As escolas foram fechadas também para evitar a disseminação do vírus.

[Eduardo Ribeiro]: Meio ambiente. O senhor em algumas oportunidades falou sobre suspeitas, mas nunca foi claro em relação às queimadas ilegais no seu governo dentro do ambiente da Amazônia. Objetivamente, presidente, elas aconteceram ou não, e qual é o plano para ampliar o controle?

[Jair Bolsonaro]: Olha só, a Amazônia é uma área equivalente à Europa Ocidental, uma área enorme, né? Fogo criminoso existe, desmatamento criminoso existe, mas não nesses números que falam por aí. O próprio Lula, há questão de um mês atrás, falou que ele presidente ia ser desmatamento zero. Eu mandei analisar os três anos e meio dele e os meus três anos e meio. No dele teve o dobro de desmatamento. Então falar, qualquer um fala. A própria França agora parou de nos criticar, por quê? Queimou-se quase todas as florestas na França. E olha que a França é uma área pequena perto da região Amazônica, a França equivale a um terço do Estado do Amazonas.

Essa política de superdimensionar números tem a ver obviamente com o mercado, com o agronegócio. Ameaçavam a gente o tempo todo não importar alimentos nossos, tendo em vista acusações mentirosas de fogo, desmatamento desproporcional na Amazônia. Com os problemas que a Europa está vivendo agora, você pode ver, a própria Alemanha já voltou a consumir combustível fóssil, né?

Outros países que tinham na sua norma ambiental deixado de repouso 20% da propriedade cada fazendeiro não plantando naquele ano, aboliram isso daí. Porque a fome bateu na porta da Europa, ela está sofrendo muitíssimo com a guerra da Ucrânia que, em parte, abastecia com alimentos aqueles países. Nós estamos muito bem no tocante a isso, fizemos várias operações, mesmo com as Forças Armadas trabalhando, imagine uma área do tamanho da Europa Ocidental para você falar que não vai pegar fogo. Tentamos rever esse assunto em 2019, 20, o projeto chamado regularização fundiária. Em havendo qualquer foco de calor, desmatamento, você ia saber o CPF da pessoa que estava lá. A esquerda trabalhou contra, o presidente da Câmara, daquela época, foi contra também. Não conseguimos avançar isso aí. Com isso, você inibia fogos criminosos. Muitas vezes o incêndio é na área que é permitida o fogo todo ano, e quem pratica isso aí, em parte, é o ribeirinho, é o caboclo, é o indígena, então há um excesso no tocante a isso.

Eu convido o pessoal, faz uma viagem para a Amazônia e vê se na floresta vai ver algum foco de incêndio mesmo durante o verão. Existe muito é na periferia.

[Eduardo Ribeiro]: Me permita perguntar para o senhor sobre uma das polêmicas que o senhor enfrenta nessa campanha eleitoral. A notícia de compra de imóveis por parentes seus, por pessoas da sua família ao longo dos últimos 30 anos. Segundo documentos, com dinheiro em moeda corrente, que muitos entendem como dinheiro vivo. Houve compras de imóveis com dinheiro vivo?

[Jair Bolsonaro]: Olha só, nesse bolo entrou cinco irmãos, duas ex-mulheres, minha mãe falecida, um ex-cunhado e mais algumas pessoas. O que eu tenho a ver com a compra de imóveis por essas pessoas? Eu não tenho nada a ver com isso. Eu estou longe do Vale do Ribeira há muito tempo. E ao longo de 32 anos. Esse ex-cunhado que tem o maior número de imóveis comprados, ele tem umas 30 lojas comerciais no Vale do Ribeira, entre móveis e material de construção. Tem compra de lote dele, com imóveis, de três mil reais. A matéria do UOL não diz os imóveis que foram vendidos.

O UOL revelou que 107 imóveis adquiridos pelo presidente, seus filhos, ex-mulheres e irmãos desde os anos 1990 e que, em 51 deles, as aquisições foram feitas total ou parcialmente com o pagamento em dinheiro. Os textos chegaram a ser censurados pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, mas o ministro do STF André Mendonça derrubou a censura. (Para ler as reportagens, clique aqui e aqui)

O meu filho Flávio só tem um imóvel e está na conta dele 15 imóveis. Ele comprou na planta duas no passado, barato, e revendeu na frente com um pouco de lucro, depois revendeu tudo e comprou uma casa muito boa em Brasília com metade de financiamento, é entra na conta nossa como se nós tivéssemos... como se fosse um grande propino duto da minha parte para abastecer familiares. Mas não aponta de onde poderia vir possivelmente esses recursos. Você só pode ser um criminoso, praticar corrupção se tiver cargos, nunca tive um cargo no governo Fernando Henrique. Obviamente, não tive de Lula nem Dilma.

Nunca tive um cargo por mais humilde que seja em qualquer ministério, em qualquer estatal, em qualquer governamental, por que essa acusação barata? E lá diz dinheiro vivo. Qualquer transação se você for olhar na escritura está escrito "moeda corrente". O que é moeda corrente? Moeda corrente é naquela época. Agora pegar imóveis desde 1990 e botar na minha conta? Por que não fez com os demais candidatos? Por que para cima de mim? E agora esse assunto foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal como sendo um assunto criminoso e mentiroso.

[Eduardo Ribeiro]: Quando eu escuto o senhor falar que o Brasil não vai ficar de braços cruzados diante da perseguição religiosa que acontece nesse instante na Nicarágua, eu me pergunto o que exatamente o senhor vai fazer além de acolher homens e mulheres que estão sendo expulsos do país. Tem algo mais em mente?

[Jair Bolsonaro]: O próprio acolhimento já é uma sinalização de que nós não estamos satisfeitos com a política lá, do Ortega, amigo particular de Lula. É uma covardia ele fechar rádios e TVs católicas, prender padres e expulsar freiras com 80, 90 anos de idade. Então o primeiro recado eu dei na ONU, ninguém no mundo todo se solidarizou com o Ortega, com a Nicarágua. Nós temos feito gestões junto ao Ministério das Relações Exteriores, com demais países, notas de sanções ao governo da Nicarágua. Isso que estamos fazendo nesse primeiro momento. Deixo claro, nós recebemos, não é só... temos recebido não só nicaraguenses, temos recebido haitianos, venezuelanos e tantas outras pessoas, ucranianos, pessoas que são perseguidas em seus países, e muitas delas perseguições religiosas.

[Eduardo Ribeiro]: Presidente, há pouquíssimos dias das eleições o Brasil vive hoje um clima tenso, de violência política. São declarações fortes, são agressões contra integrantes de institutos de pesquisa, apenas opositores, infelizmente casos de morte, inclusive. Eu vi que no último debate o senhor chegou a falar: "Olha, eu sou torcedor do Palmeiras, mas atenção você que torce para o Palmeiras, não vá brigar porque senão vai me culpar". Por que o senhor não dá esse mesmo recado, ou o senhor daria esse mesmo recado a seus apoiadores políticos? Não é papel de todos os candidatos tentar pacificar esse momento? O senhor tem um minutinho para essa resposta.

[Jair Bolsonaro]: Como é que eu vou chegar para todo mundo, "não brigue"? É lógico que eu não quero que brigue. Tá? Agora, quando há um problema, potencializa em cima de mim. Há poucos dias, um cara matou a esposa e um filho de dois anos e tinha uma tatuagem do Lula no braço. A imprensa, em um primeiro, grande parte da imprensa, no momento, divulgou o fato, mas, quando descobriram que inclusive o filho tinha o nome de Luiz Inácio e tinha uma tatuagem no braço, não tocou mais no assunto.

Eles ficam procurando, porque existem mortes violentas no Brasil, diminuímos bastante, mas existe. Qualquer morte violenta o cara vai lá e vê o agressor: tem um perfil simpático à minha pessoa, ou é torcedor do Palmeiras, ou seja lá o que for, botam na minha conta. Lógico que a gente faz um apelo, tá? Não briguem, mas, poxa, se isso resolvesse o problema, estaria safo. Agora, usam isso politicamente contra a minha pessoa.

[Eduardo Ribeiro]: Presidente, a gente está concluindo aqui o seu tempo de entrevista e vamos então para o seu minuto final, se o senhor me permitir, para suas considerações finais.

[Jair Bolsonaro]: Falamos muito de economia, vou falar de outras pautas, não é? Nós, por exemplo, somos contra a ideologia de gênero. A gente entende o que patrimônio da família são seus filhos, tá? E o lugar, na escola, o lugar da garotada é se instruir, e não ser educado. Nós, por exemplo, somos contra a liberação das drogas. Alguém já viu o sofrimento de uma mãe que tem um filho no mundo das drogas? Nós somos contra isso, o outro lado é favorável a isso, não é? Nós defendemos a propriedade privada, tá? Como algo sagrado para nós.

Nós defendemos, por exemplo, a legítima, o legítimo direito à defesa. Nós, por exemplo, somos contra o aborto. Você não pode banalizar isso aí. Nós entendemos e respeitamos a vida desde a sua concepção. Nós não aceitamos mais emprestar dinheiro para ditaduras pelo mundo todo, como o PT de Lula fez, emprestando para ditaduras que não pagam a gente. Nós somos contra o loteamento de estatais, ministérios e bancos oficiais, coisa muito usada no passado, usado em moeda política para apoio dentro do Parlamento e também para praticar corrupção. Nós somos o governo do bem: nós queremos a paz, a tranquilidade, a ordem e o progresso. E Deus, Pátria, família e liberdade.

[Eduardo Ribeiro]: Presidente, mais uma vez, muito obrigado pela participação nessa entrevista e nessa sabatina. Olha, para rever a entrevista com o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo PL, você pode acessar o portal R7 ou então o PlayPlus.

Amanhã, terça-feira, eu já faço o convite, nós vamos receber o candidato do PDT, Ciro Gomes, e, na quarta-feira, é a vez da senadora Simone Tebet, candidata do MDB. Agora o Jornal da Record faz um rápido intervalo e na volta, os meus colegas Christina Lemos e Celso Freitas apresentam as principais notícias desta segunda-feira no Brasil e no mundo. Eu me despeço aqui, boa noite e até amanhã.