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Bolsonaro mente na Record sobre urnas e diz que enfrenta perseguição do TSE

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

26/09/2022 20h11Atualizada em 27/09/2022 00h10

O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), repetiu hoje mentiras sobre a confiabilidade da urna eletrônica e acusou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de "perseguição política" contra a sua campanha. Em sabatina realizada pela Record, o governante também defendeu os atos de 7 setembro — os quais transformou em comício em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Indagado hoje no Jornal da Record se pretende aceitar o resultado da eleição em caso de derrota, o chefe do Executivo se negou a responder diretamente, voltou a citar como condição a realização de "eleições limpas" e que "vai esperar" o desfecho da disputa.

[Com] Eleições limpas, sem problema nenhum
Bolsonaro na Record, em resposta sobre o que o país pode "esperar" dele em caso de derrota na eleição

Pesquisa Ipec divulgada hoje (26) mostra que Bolsonaro está em desvantagem na corrida contra o principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que optou por não comparecer à sabatina na emissora. De acordo com o levantamento, o petista tem 52% dos votos válidos, contra 34% do postulante à reeleição.

Destaques da entrevista:

  • Bolsonaro tentou mais uma vez colocar em xeque a segurança do processo eleitoral, se negou a dizer se vai deixar o poder caso seja derrotado e criticou as pesquisas eleitorais;
  • Voltou a citar um ataque hacker em 2018 ao TSE, que já afirmou, assim como a Polícia Federal, que não levou risco à integridade das eleições daquele ano.
  • Disse considerar que é vítima de perseguição política do TSE e fez críticas a Lula;
  • Atacou reportagem do UOL que mostra que a família Bolsonaro fez pagamentos com uso de dinheiro vivo na compra de imóveis nos últimos 30 anos;
  • Atribuiu a resistência do eleitorado feminino à sua candidatura a "narrativas" de adversários;
  • Defendeu o tratamento preventivo da covid, embora seja comprovadamente ineficaz.

Ataque hacker dentro do TSE. Assim como havia feito na entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, o presidente voltou a citar a ação de um "hacker" dentro do TSE —em referência a uma investigação da Polícia Federal sobre suposta tentativa de invasão da urna eletrônica em 2018. O inquérito está em andamento na Direção de Inteligência Policial da PF — o TSE sustenta que a invasão cibernética não levou risco à integridade das eleições naquele ano.

"Assim como você não tem, hoje em dia, como comprovar um processo eleitoral, tá? O outro lado não tem como provar que ele foi sério também [referindo-se a 2018, ano em que ele próprio foi eleito presidente do país]. A história é muito longa. Gostaria muito de conversar contigo, uma hora depois, a partir do término desse programa aqui, sobre esse assunto. Por exemplo: o inquérito da Polícia Federal de novembro de 2018 não foi concluído até hoje."

De acordo com o TSE as urnas eletrônicas começaram a ser utilizadas no Brasil em 1996 e, "nunca foi comprovada nenhuma fraude no equipamento". Em testes realizados antes das eleições neste ano, TSE também não identificou nenhum ataque capaz de alterar o resultado das urnas.

Candidato se diz vítima de 'perseguição'. Bolsonaro acusou ainda o tribunal de "perseguição política", criticou ministros e disse entender que a Corte aceita "qualquer ação de partidos, em especial do PT, para tentar atrapalhar a campanha".

"Estou proibido de fazer live dentro da minha casa oficial [o Palácio da Alvorada], tenho que ir para casa de alguém. Perseguição política. (...) Ou seja, o TSE fica o tempo todo aceitando qualquer ação de partidos, em especial do PT, para tentar atrapalhar a minha campanha", disse o presidente, que prevê a realização de transmissões diárias nesta semana.

O presidente citou também a proibição imposta pelo tribunal em relação ao uso, durante o horário eleitoral, das imagens captadas durante o feriado de 7/9, quando ele sequestrou as festividades do bicentenário da Independência para pedir voto e atacar institutos de pesquisa.

Não posso usar as imagens do 7/9 no horário eleitoral gratuito. Mas por quê? Eu convoquei o pessoal a ir às ruas. Eu tive um evento cívico-militar e depois fui conversar com o povo ali do lado, sem a faixa presidencial"
Jair Bolsonaro

Bolsonaro afirmou que o processo eleitoral é conduzido pelos "mesmos juízes" que "tiraram o Lula da cadeia" e, por esse motivo, ele diz se sentir alvo de perseguição. O presidente, porém, não fez referência nominal aos membros da Corte — os ministros do STF Edson Fachin (autor da decisão que suspendeu as condenações do ex-presidente Lula), Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes (que hoje preside o TSE) já foram reiteradamente atacados por Bolsonaro em outras ocasiões.

"Os mesmos juízes que tiraram o Lula da cadeia e o tornaram elegível são exatamente os mesmos que conduzem o processo eleitoral brasileiro e que tudo dificultam para que comissão de transparência eleitoral consiga participar para evitar a possibilidade de questionamentos ao término das eleições."

Imóveis pagos com dinheiro vivo. Bolsonaro disse novamente que "não ter nada a ver" com o pagamento em dinheiro vivo de imóveis adquiridos por sua família ao longo das últimas três décadas, como foi revelado em reportagem do UOL.

"Olha só, nesse bolo eu trouxe cinco irmãos, duas ex-mulheres, minha mãe falecida, um ex-cunhado e mais algumas pessoas... O que eu tenho a ver com a compra de imóveis por essas pessoas? Eu não tenho nada a ver com isso. Eu estou longe do Vale do Ribeira [região de SP onde ele nasceu] há muito tempo. E ao longo de 32 anos", disse.

O presidente afirmou que tem sido alvo de uma "acusação barata" e negou que as escrituras dos imóveis apontem, de fato, pagamentos com dinheiro em espécie —o termo utilizado é "moeda corrente".

Bolsonaro e aliados têm acusado o UOL de confundir deliberadamente o uso da expressão "moeda corrente nacional" com "dinheiro vivo", porém a argumentação do candidato à reeleição é improcedente. Em 9 de setembro, o UOL publicou uma nova reportagem que mostra detalhes do levantamento e como as informações foram analisadas.

Na sabatina, Bolsonaro também reclamou de que o mesmo tipo de levantamento não foi feito com outros candidatos. "? Por que para cima de mim? E agora esse assunto foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal como sendo um assunto criminoso e mentiroso."

Na semana passada, os textos chegaram a ser censurados pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, mas o ministro do STF André Mendonça derrubou a censura.

Rejeição entre as mulheres. Durante a sabatina, Bolsonaro foi questionado sobre os motivos pelos quais tem alta rejeição entre o eleitorado feminino. Segundo ele, não há "resistência", e sim uma "narrativa" supostamente construída pelos adversários.

"Não é resistência, é uma narrativa por parte daqueles que me acusam, porque não têm mais nada do que me acusar", Jair Bolsonaro

"Eu tenho uma filha, quero o bem dela. Eu tenho três netas, eu quero o bem delas, eu quero o bem da minha esposa. Por que eu seria contra as mulheres?", questionou.

Kit covid. Bolsonaro defendeu mais uma vez o uso de medicamentos sem eficácia contra a covid-19 — embora não tenha citado nomes — sob argumentação da "liberdade que o médico sempre teve para, em um caso desconhecido, buscar uma forma de melhor tratar essa pessoa".

Deixo bem claro, a vacina não é um remédio, é um preventivo. Agora, o remédio em si, foi criminalizado o médico que porventura quisesse fazer uso do tratamento precoce
Jair Bolsonaro

Cobrança de imposto. Em uma de suas críticas a Lula, Bolsonaro disse que o petisa está sendo cobrado pela Receita em R$ 14 milhões de sonegação de impostos.

"Olha, se tem 14 milhões de sonegação, ele mexeu com algo de 40 a 50 milhões", disse

O valor cobrado pelo procurador da Fazenda Nacional Daniel Wagner Gamboa, na verdade, é de R$ 18 milhões. A cobrança é relacionada ao Instituto Lula e a LILS, empresa de palestras do petista. A defesa do ex-presidente acionou o STF para recorrer da decisão.

Primeiro entrevistado. Bolsonaro foi o primeiro presidenciável a ser sabatinado pela Record. A entrevista durou aproximadamente 40 minutos — Lula, apontado como favorito nas principais pesquisas, decidiu não comparecer.

Ciro Gomes, candidato do PDT, deve ser sabatinado amanhã (27). Na quarta (28), será a vez de Simone Tebet, do MDB.