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Para 'não dar chance' a Bolsonaro, ato clama por voto em Lula no 1º turno

Lula participou de ato de campanha em São Paulo - Divulgação/PT
Lula participou de ato de campanha em São Paulo Imagem: Divulgação/PT

Do UOL*, em São Paulo

26/09/2022 23h13

A cantora Daniela Mercury sobe ao palco iluminado e canta uma música de fora do seu repertório. Pabllo Vittar aparece pouco depois, faz um discurso, mas não canta. Ela dá lugar à atriz Mônica Martelli, que, emocionada, conta um relato pontual. Em silêncio, a plateia acompanha tudo aplaudindo ao final das falas enquanto os apresentadores interagem com a câmera.

O que parece a entrega de algum prêmio de música é o último grande ato de campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno, em um auditório fechado do Anhembi, em São Paulo. Com artistas, influenciadores, intelectuais e políticos, o evento, transmitido ao vivo na internet, foi tomado pelo discurso em prol do fim da eleição presidencial já no primeiro turno, em 2 de outubro.

Por trás, também aparecia um receio: o que poderá vir a acontecer em um eventual segundo turno contra o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL)? "É trabalhar com os indecisos, com quem está na dúvida, com aqueles que querem anular seu voto em protesto. Não é momento para isso minha gente", disse a atriz Thalma de Freitas, apresentadora do evento. "Não vamos dar chance [de segundo turno], não vamos dar essa chance, não."

Com a divulgação da pesquisa Ipec (ex-Ibope), apontando possibilidade de vitória do petista em primeiro turno na margem de erro —comemorada ao vivo no evento—, o "vira voto" foi o tema da noite, como tem sido nos comícios desta reta final. A seis dias do pleito, o clima de "já ganhou" tomou a plateia, mas foi tratado nos discursos com certa ressalva.

O discurso de Lula. O ex-presidente falou ao final, pouco antes das 21h. Em discurso lido e protocolar, o ex-presidente repetiu temas que vem abordando durante a campanha: desemprego e renda, retomada econômica e criação de novos ministérios, como da Segurança e Povos Originários —tudo recheado com críticas a Bolsonaro.

Além de mirar no presidente, Lula dedicou trechos do discurso a atacar o Centrão, grupo de deputados que domina a pauta da Câmara e que tem dado sustentação ao governo.

"Chega de desvio de recursos dos medicamentos, do combate à violência contra as mulheres, do tratamento para o câncer e da merenda das crianças, para alimentar o orçamento secreto do Centrão", disparou.

Geralmente acompanhado de gritos de "Primeiro turno!", este tem sido o tom de grande parte dos últimos discursos. Em São Paulo e no Rio, no final de semana, o comitê lulista fez um intensivão pelo "vira voto".

Tem que manter acesa a chama até dia 2. É hora de falar com aquele vizinho, aquela vizinha, que brigamos por conta de 2018. Voltar pro grupo da família, tentar conversar, é a hora do amor, da união
Janja, esposa de Lula

Cheio, mas morno. O auditório estava lotado, mas a plateia encarou o evento como um show em teatro. Com cerca de cinco horas de duração, ativistas de diferentes áreas sociais, artistas de diversas áreas —incluindo nomes internacionais— e intelectuais revezavam-se com vídeos com mais falas de apoio e apresentação de jingles ao vivo.

Pensado para ser transmitido ao vivo, os apresentadores faziam interações com apoiadores famosos na plateia, como o comediante Gregório Duvivier e o escritor Itamar Vieira Júnior, no intervalo dos discursos.

Sem bandeiras ou cantos políticos, o público, sentado, aplaudia a cada fim de fala, dava gritos em apoio, porém sem qualquer jeitão de comício. Aos presentes, ficou a impressão de uma entrega de prêmios. Os artistas falavam palavras bonitas, porém ensaiadas.

O clima mais comportado era quebrado, no máximo, por um grupo da juventude petista, à direita da plateia, que puxava os gritos políticos e antigos jingles.

Pabllo e Daniela Mercury foram as artistas mais aplaudidas presencialmente. Para quem mandou vídeo, a empolgação aumentou com Gilberto Gil, ex-ministro de Lula, Caetano Veloso, o roqueiro Roger Waters e os atores de Hollywood Danny Glover e Mark Ruffalo.

Atrás dos jovens. Este é o último grande ato da campanha neste primeiro turno. Por causa da legislação eleitoral, comícios só são permitidos até a próxima quinta (29), mesmo dia em que será realizado o debate entre os candidatos à Presidência na TV Globo. Lula faltou no último, promovido por SBT, CNN Brasil, Terra, Grupo Estado, revista Veja e rádio Nova Brasil FM.

O objetivo do evento, com muitos artistas, influenciadores e transmissão ao vivo, é engajar em especial o público jovem. Lula quer evitar alta abstenção entre o eleitorado de 16 e 30 anos, que, apontam as pesquisas, são mais favoráveis ao petista.

Diferente de outros eventos, este foi especialmente organizado por Janja e muito articulado entre artistas e novas mídias. "Devo à Janja esse sucesso aqui. Ela cismou de organizar isso com outras pessoas. estamos aqui colhendo o que foi plantado", disse o petista.

*Colaborou Juliana Arreguy, do UOL, em São Paulo