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Mara Gabrilli chama voto útil de "inútil" e culpa Bolsonaro por violência

Stella Borges e Larissa Maurício

Do UOL, em São Paulo e colaboração para o UOL

26/09/2022 11h08Atualizada em 26/09/2022 14h41

A senadora Mara Gabrilli (PSDB), candidata a vice-presidente na chapa de Simone Tebet (MDB), criticou hoje a campanha pelo voto útil a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e culpou o presidente Jair Bolsonaro (PL), que concorre à reeleição, pela escalada de violência política.

As declarações da senadora foram dadas durante sabatina promovida por UOL e Folha de S.Paulo.

Destaques da sabatina:

  • A candidata criticou o voto útil dizendo que é inútil para o Brasil "escolher o menos pior"
  • Disse que Bolsonaro é um negacionista que desrespeita as mulheres e que Lula "avassalou o Brasil com corrupção"
  • Culpou o atual presidente pela escalada de violência nas eleições, mas disse não ver condições para acontecer uma ação parecida com o caso de Capitólio, nos Estados Unidos
  • Admitiu que indicou recursos em emendas do orçamento secreto
  • Disse que votaria novamente a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT)

O que Mara disse:

Eu acho um desserviço para o Brasil, eu não vejo esse voto como voto útil, eu acho inútil, inútil porque você trabalha, é inútil para o Brasil votar no menos pior, é inútil para Brasil não olhar para trás, não olhar a gente tem exemplos de brasis que a gente já viveu, então quando você vai lá e faz uma opção, entendeu? Baseado no medo, baseado naquele que você não quer né? Optar pelo menos pior...

Por um lado a gente tem um presidente negacionista, um presidente que negou vacina no braço do brasileiro, um presidente que desdenha fome, um presidente que desrespeita mulher, um presidente que eu posso dizer que a Simone com muita coragem na CPI, foi ela que denunciou a tentativa de superfaturamento de vacinas enquanto até hoje ele fica falando que quem toma vacina pode virar jacaré, mas estava querendo ganhar em dólar em cima da vacina, e, por outro lado, a gente tem um ex-presidente que avassalou o Brasil com corrupção que começou lá em Santo André, virou mensalão, virou petrolão, a gente já conhece

Eu acho que o responsável por essa escalada política tem sido nosso Presidente da República, fomentando a discórdia, a raiva, o sentimento e a violência. Eu sempre acredito que um Presidente da República tem que ser uma figura que dê exemplo à população, porque as pessoas realmente seguem o exemplo de um mandatário dessa envergadura

Como foi a sabatina

Mara criticou a campanha por voto útil a Lula para derrotar Bolsonaro no primeiro turno. Segundo pesquisa Datafolha publicada na quinta-feira passada (22), Lula lidera as intenções de voto, com 47%, seguido por Bolsonaro, com 33%. Tebet aparece em terceiro lugar, com 5%, tecnicamente empatada com Ciro Gomes (PDT), que tem 7%.

Questionada se apoiaria Lula ou Bolsonaro num eventual segundo turno, a senadora disse que "precisa" acreditar em sua campanha, mas deixou claro que não votaria em nenhum dos dois.

"Quando fui convidada [para a chapa de Tebet], deixei muito claro que não apoiaria nem um nem outro. Não dou meu voto nem para um nem para o outro de forma alguma", disse.

Bolsonaro tem culpa pela violência. A candidata também atribuiu a Bolsonaro o aumento de casos de violência relacionados à política e se disse "frustrada" com os eventos recentes. A senadora, no entanto, disse não crer que um episódio semelhante ao ocorrido no Capitólio norte-americano aconteça. "Não acho que o presidente tenha atualmente uma força para causar uma rebelião dessa envergadura."

Usou o orçamento secreto. Questionada sobre reportagem do jornal O Estado de S. Paulo que apontou que ela indicou emendas R$ 19,2 milhões em emendas do orçamento secreto, Mara admitiu o uso da verba, mas disse que ela foi aplicado de forma transparente.

Quando eu recebi esse recurso, quando me foi oferecido, que eu abracei com unhas e dentes no meio da pandemia, quando os hospitais filantrópicos estavam quebrando, as Santas Casas não conseguindo atender, os municípios não conseguindo atender os pacientes de covid, primeiro que ele nem tinha esse sobrenome, "secreto", e depois que eu nunca trabalhei de forma secreta, eu sempre tive total transparência na forma como eu destinei emendas

Defendeu o impeachment de Dilma. Ela disse também que não mudaria o seu voto favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), mesmo com o arquivamento do inquérito civil sobre as pedaladas fiscais que justificaram o processo contra a petista.

A pedalada foi a forma que encontraram para conseguir fazer o impeachment, mas tinham muitos outros crimes ali, elencados de uma forma ou de outra

A favor ou contra? Durante a sabatina, Mara se posicionou a favor das cotas raciais, "totalmente a favor" ao uso de câmeras nos uniformes de policiais e defendeu a restrição ao porte de armas. A senadora se disse contra a liberação do aborto — exceto nos casos já previstos em lei — e a legalização da maconha.

Na seara econômica, a parlamentar disse ser contra a privatização da Petrobras e a revogação da reforma trabalhista.

Dificuldade para mulheres. A parlamentar afirmou ainda não ter se incomodado com elogios considerados machistas recebidos por ela e Tebet no dia em que a chapa foi anunciada e exaltou a trajetória das duas. Mara sofreu um acidente que a deixou tetraplégica em 1994.

Tudo é mais difícil para mulher neste país. Não importa a área, a gente tem que estar sempre trabalhando para vencer obstáculos, e a gente traz uma chapa que, além de duas mulheres com toda essa trajetória, ainda tem uma tetraplégica, que eu acho que é muito a cara do que a gente quer para o Brasil. Se nossas competências não foram exaltadas naquele dia, talvez faça parte de uma cultura que é uma cultura realmente machista e que muitas vezes as pessoas não estão atentas ao que realmente importa, e, por isso, a necessidade de mostrar, de fazer

Mara também admitiu um desgaste do PSDB com o processo das prévias — o ex-governador de São Paulo João Doria venceu a eleição para ser o candidato a presidente, mas desistiu em maio deste ano, diante de seu isolamento dentro do partido.

Eu votei no João Doria para as prévias, acreditava nele como candidato à Presidência da República, infelizmente não aconteceu, por várias razões. Mas, por outro lado, é a primeira vez na história do PSDB que o PSDB tem como candidata à Presidência da República uma vice mulher, então a gente perde de um lado, mas ganha do outro

A senadora se emocionou ao contar o relato de uma mulher que tem um filho com deficiência e não tem condições de frequentar um parque devido à falta de acessibilidade do local. "Quando a gente fala em inclusão, a gente está falando de um Brasil gigante."

Mara também foi questionada sobre o papel da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, na busca por destaque à questão das pessoas com deficiência. Embora tenha elogiado a esposa de Bolsonaro no que diz respeito ao uso da língua brasileira de sinais, a parlamentar disse que houve "momentos de retrocesso", citando que o governo não queria expandir o teste do pezinho.

Calendário das próximas sabatinas

  • Ana Paula Matos (PDT), vice de Ciro - 28/09 (quarta-feira) às 10h
  • Geraldo Alckmin (PSB), vice de Lula - 29/09 (quinta-feira) às 10h
  • Braga Netto (PL), vice de Bolsonaro - ainda não confirmou

'Assista à íntegra da sabatina Folha/UOL com Mara Gabrilli: