Topo

PT prioriza Lula com dinheiro; no PL, Bolsonaro precisa dividir com outros

Márcio Macêdo, tesoureiro da campanha de Lula, e Valdemar da Costa Neto, presidente do PL - Alexandra Martins/Câmara dos Deputados e Sergio Lima/Folhapress
Márcio Macêdo, tesoureiro da campanha de Lula, e Valdemar da Costa Neto, presidente do PL Imagem: Alexandra Martins/Câmara dos Deputados e Sergio Lima/Folhapress

Do UOL em Brasília

26/09/2022 04h00Atualizada em 26/09/2022 09h14

Com uma verba pública turbinada pelo Congresso de R$ 4,9 bilhões para as campanhas eleitorais neste ano — um recorde entre os recursos já destinados ao fundo desde sua criação em 2017 —, os partidos tentam equilibrar seus gastos entre as corridas para o Palácio do Planalto e para a formação de bancadas parlamentares, o que garantirá recursos para os próximos anos.

Esta tarefa está nas mãos dos donos dos cofres de cada sigla e tem provocado impasses internos.

Como está a divisão? O PT não poupa fundos para a campanha do seu presidenciável, Luiz Inácio Lula da Silva. Já no PL, o partido liberou poucos recursos para a reeleição de Jair Bolsonaro, o que provocou atritos internos e fez sua campanha reforçar a busca por doações.

No União Brasil, dono da maior fatia do dinheiro público, há atrasos no repasse para a candidatura da senadora Soraya Thronicke.

Quem cuida do dinheiro dos presidenciáveis?

  • Lula (PT) - Márcio Macêdo
  • Jair Bolsonaro (PL) - Flávio Bolsonaro
  • Ciro Gomes (PDT) - Carlos Lupi
  • Simone Tebet (MDB) - Marcelo Castro
  • Soraya Thronicke (União) - Maria Emília de Rueda

Em busca de doações. No PL de Bolsonaro, o uso do dinheiro para as campanhas é controlado de perto pelo presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, mas é o filho "01" do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL), o responsável pelas doações e os recursos ligados à disputa presidencial.

Flávio tem um perfil mais discreto do que os irmãos e se filiou à mesma legenda do pai em novembro do ano passado. O parlamentar é investigado pela suspeita de se apropriar de salários de funcionários do gabinete quando era deputado estadual no Rio de Janeiro — o que ele nega.

Flávio Bolsonaro, Valdemar da Costa Neto e Jair Bolsonaro durante ato de filiação ao PL - Reprodução - Reprodução
Uso do dinheiro é controlado de perto por Valdemar (ao centro), mas Flávio Bolsonaro (à esq) o responsável pelas doações e os recursos ligados à disputa presidencial
Imagem: Reprodução

Nos bastidores, o senador está focado na busca de doações para incrementar o cofre, já que o PL quer investir nas candidaturas de parlamentares para manter a maior bancada da Câmara na próxima legislatura.

R$ 1. Bolsonaro recebeu até agora R$ 16,8 milhões dos fundos partidário e eleitoral, distribuídos por sua legenda, enquanto o seu adversário Lula (PT), recebeu R$ 89 milhões. Com isso, sua campanha tem corrido atrás de doações.

Flávio foi às redes sociais no começo deste mês incentivar apoiadores a doar R$ 1 ou valores similares para a campanha do presidente, o que gerou dificuldades burocráticas e contábeis para a chapa.

Bolsonaro é o candidato no país que mais recebeu doações de pessoas físicas até o momento: já arrecadou R$ 12 milhões por este meio, a maioria com empresários do agronegócio. Repasses de pessoas físicas respondem, até o momento, por 44,4% das receitas da campanha do atual presidente, que levantou R$ 27,4 milhões no total.

Foco no Congresso. Como todos os anos, os partidos dividem os recursos do fundo eleitoral, dinheiro dos cofres públicos destinado a financiar campanhas, entre todos os candidatos da sigla (presidente, governador, senador, deputado federal e estadual). As campanhas não têm mais financiamento empresarial desde 2018.

Em 2022, no entanto, a corrida para as cadeiras da Câmara dos Deputados está mais acirrada devido ao aumento das exigências da cláusula de barreira, regra criada com o intuito de diminuir o número de partidos, o que vai exigir uma votação mais robusta para se eleger. Essa mudança traz uma preocupação a mais, já que, o fundo eleitoral e o tempo de TV das campanhas são divididos proporcionalmente entre todas as legendas com base no número de deputados eleitos por cada uma delas na eleição anterior.

No total, o PL tem neste ano R$ 286,7 milhões para gastar nas campanhas. Desse total, R$ 88,3 milhões podem ser usados para a equipe de Bolsonaro, seguindo o teto estabelecido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), valor mais de 30 vezes maior que o utilizado por ele em 2018, quando foi eleito.

Valdemar demonstrou preocupação sobre o recurso desde o início da pré-campanha. O cálculo sobre qual fatia do fundo era devida ao PL foi feito com base na eleição de 2018, quando foram eleitos 33 deputados. Hoje, no entanto, a sigla tem 77, com efeito da ida de Bolsonaro para o PL na janela partidária, e terá muito mais campanhas para alimentar. Por esse motivo, aliados de Bolsonaro já reforçaram a captação de doações para sua campanha.

No início de julho, o PL lançou um site para arrecadação de recursos para campanha e o próprio Bolsonaro entrou na campanha e gravou um vídeo pedindo doações para o PL, dizendo que a legenda cresceu muito e que precisa de dinheiro. Interessados em fazer doação, no entanto, só podem repassar valores que correspondam a até 10% da renda bruta anual declarada à Receita Federal, considerado o ano-calendário anterior ao pleito.

A expectativa por doações robustas de empresários aliados, como Luciano Hang, tem se concretizado até agora.

Lula prioritário. O PT, dono de uma fatia de R$ 499,6 milhões neste ano, definiu em junho as regras sobre o uso do dinheiro. A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá consumir todo o teto estabelecido pelo TSE para a campanhas presidencial. Há gastos altos envolvidos nas viagens e na segurança do candidato.

O deputado federal Márcio Macedo posa com Lula para foto - Reprodução/ Twitter - Reprodução/ Twitter
Marcio Macêdo, o dono do cofre responsável pela campanha de Lula, posa com o candidato
Imagem: Reprodução/ Twitter

O dono do cofre responsável pela campanha de Lula é o deputado federal Márcio Macêdo (PT-SE). Veterano no posto, ele já assumiu a mesma função em 2015, após a prisão de João Vaccari Neto no âmbito da Lava Jato. Macêdo é biólogo por formação e, nas últimas semanas, começou a figurar ao lado de Lula em palanques pelo país, como em Campina Grande (PB) e em Teresina (PI).

Macêdo foi eleito deputado federal nas eleições de 2010, ocupou o cargo de presidente dos Diretórios Municipal de Aracaju e Estadual de Sergipe do PT. Entre 2007 e 2010 foi secretário do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do estado de Sergipe na gestão do então governador Marcelo Déda (PT). Em 2015 foi escolhido para ocupar o cargo de tesoureiro do PT.

O parlamentar fez ele próprio uma doação de R$ 23,92 mil para campanha de Lula. Segundo ele, o partido também não descarta contribuições de grandes empresários, por exemplo — como mostrou reportagem do UOL, o petista é o presidenciável que mais arrecadou dinheiro por meio de financiamento coletivo (ao menos R$ 440 mil)

Pela resolução do partido aprovada em junho, Macêdo terá R$ 130 milhões para administrar na campanha de Lula. O partido definiu que os candidatos a deputado federal homens receberão R$ 148 milhões, 29,41% da fatia do fundo do PT. Pela regra do TSE, as mulheres ficarão com 30% dos recursos, R$ 151 milhões.

É de interesse da legenda também investir na bancada da Câmara para garantir uma base governista, caso Lula ganhe as eleições deste ano.

Foco nos estados. No MDB, a candidata à Presidência Simone Tebet (MS) recebeu até agora R$ 36,5 milhões para sua campanha, dos R$ 360 milhões aos quais o partido tem direito.

O senador Marcelo Castro (MDB-PI) - Pedro França/Agência Senado - Pedro França/Agência Senado
O senador Marcelo Castro (PI), dono do cofre do MDB
Imagem: Pedro França/Agência Senado

Segundo o senador Marcelo Castro, dono do cofre da legenda, a divisão dos recursos deverá seguir as mesmas regras as quais o partido usa para dividir seu fundo partidário — outra verba pública repassada mensalmente pelo TSE para o funcionamento das siglas —, priorizando estados com mais candidatos. O partido também deverá buscar doações, mas não há uma coordenação definida ainda para isso.

No PDT a divisão dos recursos é acompanhada pelo presidente da legenda Carlos Lupi. Apesar de resistências internas, com uma ala querendo que o partido priorize as candidaturas ao legislativo, a sigla deve destinar uma parcela robusta do seu fundo para a candidatura de Ciro Gomes ao Palácio do Planalto, até o momento já foram R$ 33,3 milhões.

Carlos Lupi - Divulgação - Divulgação
No PDT a divisão dos recursos é acompanhada pelo presidente da legenda Carlos Lupi
Imagem: Divulgação

Insatisfação no partido mais rico. No União Brasil, dono da maior fatia do fundo eleitoral neste ano (R$ 758 milhões), há divergências entre a candidata ao Palácio do Planalto do partido, a senadora Soraya Thronicke e os donos do cofre da sigla.

Nos bastidores, a candidata e seu vice, o economista Marcos Cintra, estão insatisfeitos com o repasse dos recursos para a campanha e circularam rumores sobre paralisação das atividades de campanha.

"Ainda que tenha havido atrasos de repasses de recursos entre as contas do partido e do comitê eleitoral, em razão dos ritos que devem ser seguidos para assegurar absoluta conformidade e respeito à legislação eleitoral, não houve qualquer prejuízo às atividades da campanha e nem a interrupção das agendas programadas", disse Thronicke, em nota.

Soraya Thronicke - Lourival Ribeiro/SBT/Divulgação - Lourival Ribeiro/SBT/Divulgação
Nos bastidores, Soraya e seu vice estão insatisfeitos com o repasse dos recursos para a campanha
Imagem: Lourival Ribeiro/SBT/Divulgação

A dona do cofre no União é Maria Emília de Rueda, irmã de Antonio Rueda, braço direito do presidente do partido, o deputado Luciano Bivar.