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Vice de Ciro nega dobradinha com Bolsonaro e apoia ACM Neto se dizer pardo

Stella Borges e Larissa Maurício

Do UOL, em São Paulo e colaboração para o UOL

28/09/2022 12h05Atualizada em 28/09/2022 15h47

A candidata a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes (PDT), a vice-prefeita de Salvador Ana Paula Matos (PDT), negou hoje que o pedetista esteja fazendo uma dobradinha com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e declarou apoio a ACM Neto na polêmica envolvendo a autodeclaração dele como pardo.

As declarações foram dadas durante sabatina promovida por UOL e Folha de S.Paulo. Mara Gabrilli (PSDB), vice de Simone Tebet (MDB), foi a entrevistada de segunda-feira (26) e Geraldo Alckmin (PSB), vice de Lula (PT), é o de amanhã. Braga Netto (PL), da chapa de Bolsonaro, não confirmou presença.

Destaques da sabatina:

  • Ana Paula negou que tenha ocorrido uma dobradinha Ciro-Bolsonaro no último debate
  • Disse que a violência política é consequência dos problemas sociais do país
  • Apoiou ACM Neto por ter se declarado pardo ao registrar sua candidatura
  • Defendeu o termo "fascismo de esquerda" usado frequentemente por Ciro
  • Declarou que o voto útil em Lula este ano é diferente do "voto útil" pedido por Ciro em 2018

O que Ana Paula disse:

Será que você vai fazer dobradinha com alguém dizendo que ele é corrupto, que no seu governo tem corrupção, dando número, fatos e dados? Agora eu não posso dar um bom dia a alguém, não posso cumprimentar? Pegaram no primeiro debate da Band ele [Ciro] cumprimentando o Bolsonaro, e ele disse, 'eu cumprimentei todos e cumprimentarei, porque o meu papel é unir o país' (...) Acha que um presidente atual, com toda a força política, organização e apoio e uma pessoa experiente como o Ciro iriam usar, na frente das câmeras, colocar na mão para cumprimentar como uma forma de expressão a parceria? Não faz sentido

Se passada a eleição ganha o atual presidente, o ex-presidente ou o nosso presidente Ciro Gomes, as pessoas continuarem sem emprego, sem perspectiva, não vai ser só esse momento de confusão não, o Brasil vai voltar a uma convulsão social. É a realidade.

Se você pede [voto útil] é uma coisa, quando você faz todo o movimento e diz, a partir do medo, utilizando o momento de violência política, dizendo, 'olha, se vocês não elegerem no primeiro turno pode ser questionado o resultado da eleição pelo atual presidente, olha, se a gente não conseguir fazer com essa eleição no primeiro turno pode ser que o outro ganhe', quando eles sabem que a gente na pesquisa, o Ciro ganha tanto no segundo turno, tanto do Bolsonaro quanto do Lula. Aquela época [2018] não. Aquela época se mostrava que o Haddad, que foi quem concorreu pelo PT não ganharia na pesquisa. E mais, mesmo que Ciro tivesse transferido todos os votos que ele teve, juntado com todos de Haddad, o presidente ainda ganharia com onze milhões de votos de frente

Como foi a sabatina

Ana Paula saiu em defesa de Ciro quando questionada sobre uma suposta dobradinha dele com Bolsonaro no debate realizado no último sábado (24), realizado por um pool de veículos. Ela disse que Ciro apresentou "fatos e dados" contra o chefe do Executivo federal.

Um vídeo que mostra o presidenciável e o ministro das Comunicações Fábio Faria gerou críticas ao candidato. Nele, é possível ver que Ciro cumprimenta Faria e conversa com o ministro. Em seguida, o auxiliar segue para dizer algo ao presidente.

Na segunda-feira (26), em entrevista ao podcast "Flow", Ciro disse que o motivo de seu cochicho com o presidente foi porque seu adversário queria saber o nome do presidenciável do PTB, padre Kelmon, com quem Bolsonaro fez tabelinha.

A justificativa dada por Ciro Gomes no "Flow" diverge da explicação dada anteriormente pelo candidato. No Twitter, o pedetista afirmou que, na emblemática cena, Jair Bolsonaro havia pedido direito de resposta "ao ser indiretamente atacado" por Soraya Thronicke, e ele "reprimiu" o candidato do PL ao apontar que a senadora não havia mencionado o nome dele.

Ana Paula disse enxergar a violência política no país como consequência dos problemas sociais no Brasil, ressaltando que as pessoas expressam de algum modo" expressar sua "dor" por passar fome, não ter emprego e uma moradia digna.

Eu não posso escolher o que comer, não posso escolher onde meu filho estudar, eu não posso escolher onde morar, eu vou, de algum modo, participar dessa discussão política. Então o que eu tô querendo te dizer é que o problema da violência é real, mas é um problema que a política pode até, nesse momento de escolha, aumentar, maximizar, mas, na verdade, qual é a essencialidade do debate que a gente precisa ter? E eu me proponho a fazer isso com vocês aqui

Negra, Ana Paula defendeu o candidato ao governo da Bahia ACM Neto por ter se declarado pardo no pleito deste ano e disse que votará nele.

Sabe quando foi que se declarou pardo? Quando não tinha nenhum benefício eleitoral, em 2016, na certidão de nascimento minha e na dele está como pardo (...) A grande discussão não é a cor da pele de Neto. Se A Bahia tem 82% das pessoas negras e pardas, ele não é louro de olho azul, a discussão é que ele vem de um berço familiar com dinheiro (...) É uma questão muito mais de questionamento social do que da cor da pele

A candidata também defendeu o uso do termo "fascismo de esquerda" por Ciro para se referir à campanha do PT pelo voto útil, com o objetivo de encerrar a eleição no primeiro turno.

"A esquerda, assim como a direita, vem com essa campanha de voto útil. Ciro está falando: 'vocês estão querendo entrar na cabeça do povo. Ele entende o fascismo como a tentativa de se criar uma lógica racional para fazer com que a pessoa não enxergue o ponto de vista que seria dela, e que ela aceite [o candidato] que vai vencer em primeiro lugar. Ele está denunciando isso. É o termo que as pessoas entendem."

Ainda sobre o voto útil, Ana Paula disse sentir que o movimento domina o debate público. "O que se desenha, e posso falar como alguém que está na terceira colocação nas pesquisas, é uma tentativa de dizer que a gente não tem direito de disputar, pois é um momento de violência política, um momento de escolher o candidato A ou B. Não acredito nisso. Eu acredito que a gente tem que buscar o melhor para o Brasil", completou.

Pesquisa Ipec realizada com entrevistas pessoais, contratada pela TV Globo e divulgada na segunda-feira (26), aponta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está com 48% das intenções de voto e tem possibilidade de vitória em 1º turno, com 52% dos votos válidos. Bolsonaro aparece com 31% e 34% dos votos válidos.

Em seguida, aparecem Ciro Gomes (PDT), com 6% e Simone Tebet (MDB), que manteve 5%. A senadora Soraya Thronicke (União Brasil) e o candidato do Novo, Felipe D'Ávila, ficaram com 1% e empatam tecnicamente com Tebet. Os demais candidatos foram citados, mas não alcançam 1% das intenções de voto.

Ela disse entender que o movimento petista pelo voto útil difere daquele feito por Ciro em 2018, por ser basear no medo e no momento de violência política.

A favor ou contra? Durante a sabatina, Ana Paula disse ser a favor das cotas raciais, que o uso de câmeras nos uniformes de policiais "precisa ser estudado" e entende que o uso indiscriminado de armas é "ruim para o Brasil". Ela se disse contra a liberação do aborto — exceto nos casos já previstos em lei — e a legalização da maconha.

Na seara econômica, a pedetista disse ser contra a privatização da Petrobras. Sobre a reforma trabalhista, diz entender que é preciso fazer uma "refundação do pacto trabalhista", que vai além de revogar a reforma.

Assista à íntegra da sabatina UOL/Folha com Ana Paula Matos: