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Leia a íntegra do primeiro bloco do debate presidencial na Globo

Sete candidatos participaram do debate da Globo - Globo/ João Miguel Júnior
Sete candidatos participaram do debate da Globo Imagem: Globo/ João Miguel Júnior

Do UOL, em São Paulo, no Rio e em Brasília

29/09/2022 23h41Atualizada em 30/09/2022 02h50

O terceiro e último debate entre candidatos à Presidência da República nas Eleições 2022 aconteceu nesta quinta-feira (29), realizado pela Rede Globo. Participaram Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil), Luiz Felipe D'Avila (Novo) e Kelmon Souza (PTB), o Padre Kelmon.

No primeiro bloco, o embate foi monopolizado por Lula e Bolsonaro —que lideram as pesquisas de intenção de voto. No total, os dois pediram seis direitos de respostas após serem atacados —foram quatro pedidos do petista e dois do presidente, que tenta a reeleição.

No mesmo bloco, Padre Kelmon chamou Bolsonaro, repetindo a dobradinha do último debate, para falar sobre corrupção —foi aí que apareceram os primeiros direitos de resposta. Bolsonaro chamou Lula de mentiroso e ex-presidiário; Lula citou as suspeitas de rachadinhas e a "quadrilha" da vacina, a CPI da Covid.

Leia a íntegra do primeiro bloco do debate na Globo:

[William Bonner]: Boa noite, bem-vindos aos Estúdios Globo para o último debate do primeiro turno entre candidatos à Presidência da República. É uma oportunidade para avaliar as propostas deles antes do voto de domingo. Estão aqui conosco Ciro Gomes, do PDT; Jair Bolsonaro, do PL; Padre Kelmon, do PTB; e Luiz Felipe D'Avila, do NOVO; Luiz Inácio Lula da Silva, do PT; Simone Tebet, do MDB; e Soraya Thronicke, do União Brasil. Candidatos, boa noite, muito obrigado pela presença de todos. A ordem das perguntas foi decidida num sorteio com a presença de assessores. Os candidatos vão fazer perguntas entre si ao longo de quatro blocos. No primeiro e no terceiro, o tema vai ser livre; no segundo e no quarto, eu vou sortear os temas aqui nessa urna. Os candidatos devem, em suas perguntas, respeitar o tema que for sorteado. Em cada bloco, todos os candidatos têm que ser questionados uma vez. O candidato vai ter 30 segundos para fazer a pergunta e um minuto para réplica; o candidato que responder vai ter três minutos, e ele pode dividir como ele quiser esse tempo entre a resposta e a tréplica. E aí, no último bloco, cada candidato vai ter um minuto e 30 segundos para as considerações finais. O candidato que se considerar ofendido em sua honra pode pedir um direito de resposta, aí a produção do debate vai analisar o pedido de acordo com as regras que foram assinadas pelas assessorias de todos os candidatos e eu vou anunciar que a decisão assim que possível. Se o pedido for considerado procedente, aí o candidato ofendido vai ter um minuto para se defender. Vamos começar, então. Lembrando que, neste primeiro bloco, o tema é livre, como eu já disse, o candidato que foi sorteado para abrir essa rodada foi Ciro Gomes. Candidato, por favor, o senhor pode vir até o púlpito central e escolher a quem o senhor vai fazer a primeira pergunta desse debate.

[Ciro Gomes]: Eu desejo perguntar ao presidente Lula.

[William Bonner]: Candidato Lula, por favor, o senhor vem até o púlpito? A pergunta deve ter trinta segundos, no máximo, candidato, por favor. Pode fazer a pergunta.

[Ciro Gomes]: Bom, com a intenção de a gente achar as raízes dessa tremenda crise brasileira, presidente, como é que o senhor explica que, depois de 14 anos de governo do PT, os cinco brasileiros mais ricos acumulassem, como acumulam hoje ainda, o que possuem os cem milhões de brasileiros mais pobres? Números oficiais: o desemprego chegou perto de 12% ao fim desses 14 anos, explodiu o endividamento das famílias, enfim, e... é isso que o senhor deseja repetir se tiver a ventura de presidir novamente o Brasil?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Ô Ciro, você poderia começar a fazer essa pergunta de outra forma. Você deveria perguntar para mim como é que, no governo do PT, os mais pobres tiveram 80% de aumento real na sua renda, enquanto os ricos tiveram só 20%. Você poderia perguntar como é que nós geramos 22 milhões de empregos. Você poderia perguntar como é que nós aumentamos o salário mínimo em 77% no período em que eu fui Presidente da República. Você poderia perguntar por que nós fizemos reforma agrária e colocamos 52 milhões de hectares de terra à disposição do assentamento de 70 mil famílias, por que nós criamos os programas de inclusão social que você cansou de elogiar quando você participava do governo.

[Ciro Gomes]: Eu participei do governo e me afastei justamente por conta das contradições graves de economia, você sabe bastante bem disso, e, mais grave ainda, as contradições morais. Mas, de novo, o senhor pega os 14 anos, separa um pedacinho e esquece o resultado final. São números oficiais: o senhor concentrou, na mão... o PT concentrou na mão de 85% das transações financeiras na mão de cinco bancos, impôs a maior taxa de juros do planeta Terra, o que destruiu a economia popular, seis milhões de empresas estão no Serasa, e arrebentou o crédito das famílias. Quando acabou o período do PT, 63 milhões e 400 mil famílias estavam humilhadas no SPC e no Serasa. A grande questão é: ficar falseando um período do tempo e não prestar contas gerou a tragédia do Bolsonaro, porque se fosse verdade essa montanha de coisas boas, por que o Bolsonaro, essa tragédia que aconteceu com o Brasil, foi eleito depois do PT?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Ciro, estou achando você nervoso. Estou achando você nervoso. Eu vou te dizer uma coisa que você poderia dizer, a bem da verdade, para as pessoas que estão nos ouvindo. A verdade nua e crua, você saiu do governo para ser candidato a deputado federal, contra a minha vontade, que queria que você fosse para o BNDES. A segunda verdade é que você viveu, no meu período de governo, nos oito anos que eu fui presidente, o momento de maior conquista social desse país, a maior inclusão social da história do país, e você sabe disso. Eu não estou pegando um período pequeno, eu estou pegando os anos. E quando você cita o governo do PT, você se esquece que o atual presidente herdou o governo não da Dilma, ele herdou o governo de um golpista que ficou três anos no governo antes dele entrar e que foi um dos responsáveis pela quebra desse país com o Eduardo Cunha na presidência da Câmara dos Deputados.

[Ciro Gomes]: Você que botou os dois?

[William Bonner]: Candidato, por favor.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Deixa eu lhe falar uma coisa, Ciro: você sabe o Brasil viveu, no período Lula, em que você fazia parte do governo, o melhor momento. As pessoas puderam comprar televisão nova, puderam comprar geladeira nova, puderam comprar carro novo, puderam comer picanha com churrasco, que você não gosta que eu fale, porque você talvez coma algo melhor do que picanha; o povo não consegue. As pessoas conseguiam viajar de avião. Muita gente de classe média dizia que o aeroporto estava virando uma rodoviária de tanta gente que entrava. Então, Ciro, a verdade nua e crua é que eu tive o prazer de governar um país, e nunca neguei que você me ajudou, e fazer a maior política de inclusão social da história do país. É verdade: banqueiro ganhou dinheiro, empresários ganharam dinheiro, os empresários rurais ganharam dinheiro, aumentaram as nossas exportações. Você sabia que, quando eu cheguei no governo, tinha só cem bilhões de fluxo de exportação? Nós fomos para 482 bilhões. Você sabe que a gente devia para o FMI; nós pagamos, ainda fizemos uma reserva de 370 bilhões. Esse é o Brasil que eu deixei quando eu deixei a Presidência, um Brasil que era motivo de orgulho, respeitado pelos Estados Unidos, respeitado pela China, respeitado pela Argentina, respeitado por todos os países como o país de maior inclusão social da primeira década do século XXI.

[William Bonner]: Seu tempo, candidato. Tempo esgotado, muito obrigado aos dois candidatos. Pela ordem determinada em sorteio prévio, padre Kelmon é quem vai fazer a pergunta agora. Eu solicito ao candidato que se dirija até o púlpito central, informe a quem o senhor vai dirigir a sua pergunta, candidato.

[Padre Kelmon]: Ao presidente Bolsonaro.

[William Bonner]: Candidato tem Bolsonaro pode se dirigir ao púlpito, por favor. 30 segundos para a pergunta.

[Padre Kelmon]: Presidente, o senhor enfrentou a pandemia com 500 milhões de doses de vacina, e deu 600 milhões de reais de Auxílio Emergencial para os brasileiros no fica em casa. Economia, a gente vê depois, o Auxílio Brasil é agora, permanente para o povo. O senhor pretende manter essa política no seu mandato, no segundo mandato?

[Jair Bolsonaro]: Prezado padre, vamos manter sim, com responsabilidade fiscal. Nós fomos um governo que atendemos aos mais humildes, aos mais pobres. No tempo do Lula, o Bolsa Família era em média 190 reais, e quem conseguisse emprego perdia o Bolsa Família. No nosso governo, nós botamos 600 reais. Hoje em dia são 21 milhões de famílias que recebem o Auxílio Brasil. E essas famílias podem arranjar emprego, com o seu chefe, que não vai perder o Auxílio Brasil. Muito pelo contrário, vai ganhar mais 200 reais ainda. E deixo claro, quando nós negociamos passar o Bolsa Família para o Auxílio Brasil, na Câmara, toda bancada do PT votou contra. Ou seja, eles não têm qualquer preocupação em atender os mais humildes, eles querem que os mais humildes sofram para dizer que eles são os salvadores da pátria. Essa política nossa, do Auxílio Brasil, vai continuar. Repito, 20 milhões de famílias, e entre essas, 80%, ou seja, quase 16 milhões, são mulheres que estão à frente recebendo o Auxílio Brasil de 600 reais.

[Padre Kelmon]: A política da esquerda, a política do PT que governou este país por 13, 14 anos, nós não podemos nos enganar, porque são mais do mesmo, não é? Mentem o tempo todo, enganam as pessoas. Vêm até você na televisão para fazer... para te encher de elogios, mas, na verdade, uma esquerda que já contaminou toda a América Latina. Nós sabemos, nós sabemos qual é o plano da esquerda. Nós sabemos que a esquerda quer calar a voz dos padres, quer calar a voz da igreja, uma esquerda que segue a agenda 20/30, uma esquerda que denigre aqueles que querem fazer o bem. Então nós já estamos procurando cada vez mais colocar isso como informação para que as pessoas tenham consciência, tenham consciência que nessa eleição precisa escolher homens de direita.

[William Bonner]: Tempo, candidato. O seu tempo. Tréplica do candidato Bolsonaro.

[Jair Bolsonaro]: O que está em jogo, Padre Kelmon, é o futuro de uma nação. Nós não podemos voltar à fase de pouco tempo onde era realmente uma cleptocracia, ou seja, a roubalheira imperava em nosso país. O governo Lula foi o chefe de uma grande quadrilha, dezenas de delatores devolveram seis bilhões de reais para pegar uma pena menor. Ou seja, nós não podemos continuar num país da roubalheira, o que é pior também, padre, e também é muito grave, o governo que nos antecedeu não se tinha qualquer compromisso, qualquer respeito com a família brasileira. É um governo que quis impor uma agenda de ideologia de gênero, ensinando crianças em sala de aula a se interessar por sexo precocemente. É um governo que, todos sabem, que quer a liberação das drogas. Ou seja, esse governo do PT, que nos deixou há pouco tempo, parece que desconhece a dor de uma família que tem um filho no mundo das drogas. Esse governo do PT, ou melhor, desgoverno de há pouco tempo. Por exemplo, Lula defendia que se roubasse celular para tomar uma cervejinha. Ou seja, quantos jovens foram assassinados por essas pessoas roubando celular e protegidos por Lula? Quando ele também cada vez mais fala em desarmar a população de bem, e atacar as polícias por todo o Brasil, nós sabemos que isso estimula a violência em nosso país. Ou seja, nós não podemos voltar a esse estado de coisa que aconteceu há pouco tempo aqui no Brasil, onde a roubalheira imperava. E eu acabei com a mamata. Em especial, da grande mídia, a Rede Globo foi uma que eu acabei com a mamata com eles, e bem como botei um fim nos abusos.

[William Bonner]: Tempo esgotado, candidato. Muito obrigado, candidato Kelmon. Durante a fala do candidato Bolsonaro, o candidato Lula pediu direito de resposta, foi concedido. Eu peço ao candidato Lula que se dirija ao púlpito e aos senhores que voltem a seus lugares, por favor. O senhor pode retornar ao seu lugar, candidato Bolsonaro. O seu microfone está fechado porque não é a sua vez de falar. As regras serão respeitadas, candidato Bolsonaro. Candidato Bolsonaro! A partir de agora o senhor tem direito a um minuto para sua resposta.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu só esperava que em um debate entre pessoas que querem ser Presidente da República, o atual Presidente tivesse um mínimo de honestidade, um mínimo de seriedade. Ele falar que eu montei quadrilha? Com a quadrilha da Rachadinha dele, que ele decretou sigilo de 100 anos, com a rachadinha da família, sabe, do Ministério da Educação, com barras de ouro? Ele falar de quadrilha comigo? Ele precisava se olhar no espelho e saber o que está acontecendo no governo dele. Ele saber o que foi a quadrilha da vacina! O que foi o oferecimento de um dólar por cada vacina importada! Isso não fui eu que disse não, isso é a CPI que está dizendo. Se quer pedir direito de resposta, peça para a CPI, não peça aqui no debate, não. Você quando vier no microfone, você se comporte como Presidente. Respeite quem está assistindo, não minta! Não minta, que é feio um Presidente da República mentir como você mente toda hora, descaradamente, não é possível!

[William Bonner]: Seu tempo, candidato, muito obrigado. Durante a fala do candidato Lula, em defesa do seu direito de resposta, o candidato Bolsonaro pediu direito de resposta e foi concedido. Candidato, por favor, o senhor volte ao púlpito para falar durante um minuto em resposta ao candidato Lula.

[Jair Bolsonaro]: Mentiroso! Ex-presidiário! Traidor da Pátria! Que Rachadinha? Rachadinha é teus filhos roubando milhões de empresas, após a tua chegada ao poder. Que CPI é essa? Da farsa? Que você vem defender aqui. O que achou a meu respeito? Nada! Que dinheiro de propina? Não teve propina, propina teve o seu Carlos Gabas, do Consórcio do Nordeste! Dos governadores amigos teus! Que foi descoberto em 50 milhões de reais, e nada foi apurado. O seu governo, através de Carlos Gabas, e Consórcio do Nordeste, fez muitos nordestinos morrerem por falta de ar porque foi desviado o dinheiro da compra de respiradores. Nada tem contra o meu governo. Nada! Deixe de mentir! Tome vergonha na cara, Lula!

[William Bonner]: Tempo esgotado, candidato. Eu vou pedir aos candidatos que, em respeito ao público, procurem manter um nível de tranquilidade adequado para um ambiente democrático como nós pretendemos que seja este debate. Candidato Lula pediu direito de resposta durante a fala do candidato Bolsonaro, foi concedido. Candidato Lula, pode voltar ao púlpito.

[Ciro Gomes]: A gente pode esperar lá fora?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu vou?

[William Bonner]: As regras do debate foram acertadas por todos os senhores.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Para não atrapalhar o debate, mas é uma insanidade um Presidente da República vir aqui e dizer o que ele fala com a maior desfaçatez. É por isso que no dia 02 de outubro, o povo vai te mandar para casa. Eu vou fazer uma coisa, vou fazer um decreto, acabando com seu sigilo de 100 anos, para saber o que tanto você quer esconder por 100 anos. Eu vou fazer um decreto, assinar para saber o que esse homem esconde por 100 anos! E vou parar por aqui porque eu quero que os outros participem do debate. O Presidente, quando aparecer aqui, por favor, minta menos.

[William Bonner]: Bom, o candidato Bolsonaro pediu direito de resposta, não foi concedido, nós vamos dar sequência ao nosso... Candidato, eu vou pedir ao senhor que respeite as regras do debate, por favor. O seu microfone está fechado, mas o senhor vai atrapalhar a dinâmica do nosso debate. Eu vou seguir em frente então. Pelo sorteio feito previamente, quem deve fazer a pergunta agora é o candidato Felipe D'Avila. Por favor, candidato, dirija-se ao púlpito. O senhor tem 30 segundos para fazer uma pergunta e, claro, dizer a quem vai perguntar, por favor.

[Felipe D'Avila]: Ciro Gomes.

[William Bonner]: Candidato, por favor.

[Ciro Gomes]: Quero direito de resposta, por favor.

[Felipe D'Avila]: Boa noite, Ciro.

[Ciro Gomes]: Boa noite, professor.

[Felipe D'Avila]: Ciro, nós divergimos em algumas questões econômicas. Eu acredito no livre mercado, você acredita na intervenção do Estado; eu acredito que é fundamental o Brasil ter a responsabilidade fiscal, você acredita no fim do teto do gasto; eu acredito nas privatizações, e você acredita nas estatais; mas tem uma coisa que nós sabemos e concordamos: o PT e o Lula foram os autores do maior escândalo de corrupção da história do Brasil...

[William Bonner]: Tempo, candidato. Tempo.

[Ciro Gomes]: Certamente, professor, e eu aproveito para... o presidente Lula reclama das mentiras do Bolsonaro, mas ele faz uma coisa assim mais hábil do que o Bolsonaro, e nisso ele é campeão, ninguém pode tirar esse valor dele: então ele pega um pedaço do governo em que ele teve uma onda de bonança no estrangeiro e produz esses números e tal. Mas os números que eu trouxe aqui são todos oficiais. Foi um desastre completo. O Bolsonaro, na minha opinião... o povo brasileiro julgue... teve 70% dos votos nos centros mais dinâmicos da vida brasileira, 2/3 dos votos de São Paulo, Rio, Minas, Rio Grande do Sul, evidentemente não foi pela obra... ele não tinha obra nenhuma... e nem pela promessa... não tinha proposta nenhuma... foi a consequência doída da generalizada mágoa que o nosso povo experimentou pelo encontro terrível da pior crise econômica da história. Não é brincadeira, não: 63 milhões de brasileiros saíram do crediário... de viajar, pagar passagem aérea... para o SPC, e o desemprego bateu em perto de 12%. Isso é fato. No período do PT, eles transferiram quatro trilhões de reais... dados do Tesouro Nacional... para os bancos e 350 bilhões para os pobres, além do quê, a corrupção se generalizou de um jeito tal que não dá para esconder. 16 bilhões de reais foram devolvidos. Ora, de onde é que vem essa montanha de dinheiro? Quando devolviam, diziam: "Roubei no governo do PT com conhecimento do Lula". Muitos depoimentos disseram isso. Não tenho prazer nenhum em dizer isso, mas é o que aconteceu.

[Felipe D'Avila]: É verdade, Ciro. Na verdade, o seguinte: o Mensalão é compra de voto, é compra de apoio no Parlamento brasileiro. Então a minha pergunta sempre é: como é que essa pessoa tem capacidade moral para liderar o Brasil nessa transformação, para tirar o Brasil desse buraco? E aí, é muito importante dizer uma coisa: eu gostaria que vocês votassem nos candidatos do Partido NOVO. É a melhor vacina contra a corrupção, contra a malandragem. Todos os nossos candidatos do Partido NOVO são ficha limpa, passaram por processo seletivo, a bancada mais econômica. É fundamental que você, eleitor, vacine o Congresso Nacional contra os mensaleiros que assaltaram esse país. Eu peço a vocês: entrem no site do Partido NOVO, novo.org.br, e selecione o candidato do seu estado, vote em alguém ficha limpa para colocar o Brasil no caminho certo e não deixar mais que esses assaltos aos cofres públicos aconteçam no Congresso Nacional.

[Ciro Gomes]: Professor, o mais grave é que parece que o presidente Lula não quis aprender nada com as amargas lições que tomou, e eu nunca deixei de denunciar as coisas erradas da perseguição processual que ele sofreu, nunca deixei de negar, mas não dá para realmente aceitar esse tipo de nonsense de que não aconteceu nada. Veja, são 16 bilhões de reais que devolveram, isso é físico. Percebe? E isso é, disparado, o melhor— o maior escândalo de corrupção — desvendado, naturalmente — da história do Brasil. Isso não dá para fazer de conta que não aconteceu, porque senão nós vamos ter que achar uma explicação absolutamente marciana por que esse paraíso que ele descreve quando vem aqui fazer esses números resultou na tragédia do Bolsonaro. Ô irmão, você é meu irmão brasileiro, eu tenho profundo respeito e carinho, estou aqui por isso, por amor a ti, ao meu país, à nossa pátria. Será possível que a solução para a tragédia moral, a tragédia econômica, social que nós estamos vivendo hoje é voltar ao passado que deu causa a essa tragédia? Tudo que eu peço a você, com muito respeito, com muito respeito, é que você, daqui até domingo, pare um pouco para pensar, sabe? Não ensine ao seu filho que corrupção, o prêmio dela é a impunidade no Brasil. Não ensine que roubar, sabe, é uma coisa que pode ser feita e vai ser premiada, ainda, por esse tipo de conduta. Uma nação assim se suicida. Se nós pegarmos artistas, cientistas e tal, todo mundo passando pano e juntando Caetano com Geddel, para ficar em dois baianos, esse país está mergulhado em um conchavo absolutamente mortal.

[William Bonner]: Obrigado, candidato. Eu peço aos senhores que retornem aos seus postos. Durante a fala do candidato Ciro, o candidato Lula pediu um direito de resposta; não foi concedido desta vez, candidato, nós vamos dar sequência, então, ao nosso debate. Agora é a vez do candidato Jair Bolsonaro fazer a pergunta, aqui no púlpito, em 30 segundos. Candidato, o senhor diga, por favor, a quem o senhor vai dirigir a sua pergunta agora.

[Jair Bolsonaro]: À senhora Simone Tebet.

[William Bonner]: Candidata Simone Tebet agora se dirige até o púlpito. 30 segundos para a pergunta do candidato Jair Bolsonaro.

[Jair Bolsonaro]: Senhora Simone, a sua vice há algum tempo vem falando, e ontem falou novamente, que Lula foi o mentor intelectual do assassinato de Celso Daniel [inaudível] recebeu alguns milhões do ex-presidente para se calar. Qual é a posição da senhora sobre esse episódio?

[Simone Tebet]: Candidato Bolsonaro, primeiro que eu confio integralmente na minha vice, a minha vice é de Santo André, o pai dela já falecido foi vítima de extorsão da máfia dos transportes, na época do governo do PT. Agora, eu lamento esta questão ser trazida num debate neste momento tão importante da história do Brasil, e ser dirigida a mim. Eu acho que falta ao senhor coragem de perguntar isso ao candidato do PT, que segundo o senhor é envolvido, que está aqui. Por que não pergunta para o candidato Lula sobre esse assunto? E vamos tratar do Brasil, vamos tratar dos reais problemas, vamos tratar do problema da fome que, Vossa Excelência, como presidente da República diz que não tem. Porque é insensível, não conhece a realidade do Brasil, ou não deve andar nos grandes centros e ver nos semáforos crianças dormindo com fome e pedindo pelo amor de Deus por um prato de comida.

[William Bonner]: Sua pergunta.

[Jair Bolsonaro]: Só perguntei à senhora porque vice é um cargo importante. E ela tem falado isso de quem, segundo o Datafolha da vida, está em primeiro lugar. Então isso é de extrema importância que seja tratado aqui. A questão da fome, a senhora sabe que nós investimos no Auxílio Emergencial. Eu fui talvez o único chefe de Estado do mundo que não foi pelo politicamente correto obrigando o povo a ficar em casa, e por parte da senhora e outros políticos, se viu o silêncio sepulcral sobre isso, nós atendemos aos mais necessitados. Quem porventura tiver passando fome, que tem gente passando fome, não há dúvida, mas pode se cadastrar, e vai receber o Auxílio Brasil de no mínimo 600 reais. Quanto ao decreto do senhor ex-presidente Lula que ele diz que eu assinei, eu desafio ele mostrar que decreto é esse que eu baixei e decretei sigilo em 100 anos em certas questões familiares. Duvido ele apresentar isso. Então é um mentiroso contumaz que merece, no meu entender, ser questionado aqui.

[William Bonner]: Tempo, candidato. Por favor, agora é a palavra da candidata Simone Tebet. Em tréplica, por favor.

[Simone Tebet]: Novamente, eu lamento muito. Nós estamos a dois dias, três dias da eleição, uma das eleições mais difíceis do Brasil, e hoje o que nós vemos aqui não é a apresentação de propostas, mas ataques mútuos para ver quem roubou mais, para ver quem é mais incompetente, para ver quem é mais insensível. Eu estou aqui para colocar você, eleitor/cidadão, no centro do debate, eu estou aqui para falar de como erradicar a fome, a miséria, gerar emprego, trazer para a formalidade os 40 milhões de trabalhadores que estão hoje na informalidade, mas isso é o Brasil, vocês têm uma grande responsabilidade, uma grande decisão a fazer dia 02 de outubro. Será que nós vamos levar e estender esse segundo turno para 31 de dezembro de 2026? Porque é isso que vai acontecer. Esse discurso do ódio de "nós contra eles", essa polarização, ela não vai terminar. Um se eleito não vai deixar o outro governar. E nós deixaremos de resolver os problemas sérios do Brasil por causa disso. Eu vou voltar a falar, o candidato Bolsonaro tinha que fazer essa pergunta para o candidato Lula, que está aqui. Afinal, ele está acusando o candidato Lula e seu partido de um crime. Mas não o faz, talvez por covardia, talvez porque não tenha coragem, talvez exatamente porque não queira resolver quais são as propostas que ele tem para resolver os problemas graves dos próximos quatro anos do governo. A pandemia que ele geriu muito mal e atrasou a compra de vacinas em 45 dias não está só matando agora por conta da pandemia da Covid 19, está matando porque nós temos represado nas filas dos hospitais exames, cirurgias, consultas, porque os hospitais tiveram que ficar muito tempo fechados, porque pela insensibilidade, pela incompetência, ele atrasou vacina, aliás, de mau exemplo, sequer tomou esta vacina, e hoje, lamentavelmente, o Brasil tem um passivo na área da saúde, da educação, na área da geração do emprego, lamentável, senhor presidente, que o senhor não esteja aqui para falar do Brasil real.

[William Bonner]: Tempo, candidato. Muito obrigado aos dois candidatos. Os senhores podem retornar. Durante as colocações do candidato Bolsonaro, quando dirigiu pergunta à candidata Tebet, o candidato Lula pediu direito de resposta e foi concedido. Peço ao candidato Lula que se dirija ao púlpito, por favor. O senhor tem um minuto para responder.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, eu te confesso, Bonner, que eu estou incomodado de pedir toda hora direito de resposta, mas é que não é possível conviver com alguém com a cara de pau do Presidente! Não é possível! Primeiro, o Celso Daniel era meu amigo. O Celso Daniel era o melhor gestor público que esse país teve. Ele foi chamado da prefeitura para coordenar o meu programa de governo de 2002. O TST acaba de tirar do ar o site das mentiras mentirosas da sua família, que estava hoje na rede digital sobre o Celso Daniel. Primeiro porque a Polícia Civil deu por encerrado, o Ministério Público deu por encerrado, decidiram que era um crime comum, e eu fui procurar o Fernando Henrique Cardoso para colocar a Polícia Federal. Você vem culpar o Lula da morte do Celso Daniel? Seja responsável! Você tem uma filha de dez anos assistindo ao programa que você está fazendo. Seja bastante responsável! Pare de mentir porque o povo não suporta mais!

[William Bonner]: Tempo, candidato. O candidato Bolsonaro pediu? Eu peço ao candidato Lula que aguarde só um minuto. O candidato Bolsonaro pediu direito de resposta, nós estamos analisando o pedido do candidato. Enquanto isso, eu vou dar sequência ao debate, e o senhor é o sorteado para fazer a próxima pergunta, é só o senhor escolher para qual dos candidatos o senhor vai dirigir a sua pergunta.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Queria perguntar...

[William Bonner]: Pode ser Luiz Felipe D'Avila, Padre Kelmon, Soraya Thronicke. O senhor escolheu Soraya Thronicke. O senhor tem 30 segundos para a pergunta, por favor, candidato Lula.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Candidata, a questão da fome. Os números dizem que nós temos 31 milhões de pessoas passando fome. Nós tínhamos acabado com isso em 2012, reconhecido pela ONU. Os números dizem que tem 105 milhões com algum problema de insegurança alimentar. Eu queria saber: qual a sua proposta para acabar com a fome nesse país?

[Soraya Thronicke]: Em primeiro lugar, eu gostaria de dar boa noite a todos e agradecer pela oportunidade, e dizer para você aí, que está em casa, que enquanto eles brigam, a boiada passa. Enquanto eles brigam, nos distraindo, o Brasil passa fome, o Brasil ainda encara escândalos de corrupção. E eu mostrei para você que eu tenho coragem, e a minha coragem não começou agora na campanha. A minha coragem vem lá atrás, de 2013, quando eu levantei da fila dos que reclamam e vim para a fila dos que fazem; quando indignada com os escândalos de corrupção do governo PT, e ainda indignada com os escândalos de corrupção que existem, eu fiz o que eu podia naquele momento com a caneta de advogada e pedi prisão de dois prefeitos de Campo Grande em prol de crianças com síndrome de down. Eu também, pela liberdade de expressão, consegui um salvo conduto para que nós pudéssemos nos manifestar livremente nas ruas de Campo Grande, e, acima de tudo, entrei com uma ação popular na ausência, na omissão do Ministério Público. Uma ação popular que bloqueou 730 milhões da JBS! Escândalos e escândalos, e escândalos de corrupção é o que nós somamos dos candidatos que lideram as pesquisas, somam juntos 20 anos de corrupção e de má gestão. E eu digo para você, você que tem aí a possibilidade, usa a sua caneta como eu usei, e vamos juntos com a proposta do imposto único federal, nós, sim, conseguiremos abaixar o preço da comida, o preço do tributo, que pesa sobre nosso consumo, e passar para movimentação financeira, que é muito mais justo. Preste atenção, em todas as minhas propostas, as propostas do imposto único federal, que é a primeira, a primeira medida que nós iremos tomar, porque para cuidar das pessoas, a gente tem que cuidar das contas, o que ninguém cuida há mais de 20 anos.

[William Bonner]: Sua réplica, candidato Lula.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Candidata, a senhora é advogada.

[Soraya Thronicke]: Sim.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Então eu vou lhe contar uma coisa por que o combate a corrupção deu certo. Primeiro porque, no nosso tempo de governo, a gente criou uma coisa chamada Portal da Transparência. A senhora, como advogada, deveria acompanhar, que a senhora poderia acompanhar as contas do governo em tempo real. Depois, nós criamos uma coisa chamada fiscalização da CGU. Colocamos a CGU como ministro; em cada ministério tinha alguém da CGU para fiscalizar a conta dos ministros. Depois, nós criamos a Lei do Acesso à Informação, que qualquer pessoa poderia adentrar ao governo pedindo informação e saberia até a cor do papel higiênico do banheiro da Presidência da República, do Presidente da República. Depois, nós criamos a Lei Anticorrupção. Depois, nós criamos a lei contra o crime organizado. Depois, nós fizemos a nova lei contra lavagem de dinheiro. Depois nós fizemos— colocamos a AGU no combate à corrupção, colocamos o COAF na fiscalização das movimentações bancárias atípicas, colocamos...

[William Bonner]: Seu tempo, candidato.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: ? no combate aos cartéis?

[William Bonner]: Candidato, seu tempo acabou. Seu tempo acabou. Agora é a vez da tréplica da candidata Thronicke.

[Soraya Thronicke]: Infelizmente, tudo isso acabou. Mesmo assim, com tudo isso, graças a Deus, descobrimos um dos maiores escândalos de corrupção, Petrolão, e vergonhosamente — vergonhosamente — nós ainda temos de suportar a corrupção. Quando nós levantamos a bandeira, eu, em 2018, e muitos outros candidatos levantamos a bandeira do combate à corrupção, eu achei que ali a coisa fosse realmente andar; infelizmente, nós, hoje, passamos por essa decepção no combate à corrupção.

[William Bonner]: Tempo esgotado, candidatos. Eu vou pedir aos dois que retornem aos seus lugares, agradeço. E, durante o exercício do direito de resposta do candidato Lula, o candidato Bolsonaro pediu também direito de resposta; foi concedido. Candidato Bolsonaro, por favor, o senhor pode se dirigir ao púlpito. O senhor tem um minuto para a sua resposta.

[Jair Bolsonaro]: O ex-presidiário diz que eu decretei o sigilo da minha família. Qual o decreto? Me dá o número do decreto. Fala que eu atrasei compra de vacina. Nenhum país do mundo comprou vacina em 2020. Para de mentir! Quando se fala em fome, eu dei 600 reais de Auxílio Brasil. Você dava pouca coisa para os mais pobres, usava esses mais pobres como massa de manobra para ganhar voto. Quando se fala em devolver seis bilhões que os delatores devolveram, foi de roubalheira do seu governo. Só a Petrobras, o endividamento foi 900 bilhões de reais no seu governo. Isso daria para fazer 60 vezes a transposição do São Francisco. Tu foi condenado em três instâncias, por unanimidade, e o processo deixou de existir porque você tinha um amiguinho no Supremo Tribunal Federal que disse que você tinha que ser julgado em Brasília, e não em Curitiba.

[William Bonner]: Tempo, candidato, obrigado. Agora é a vez da candidata Soraya Thronicke fazer a pergunta. Candidata, a senhora, por favor, ao retornar ao púlpito, diga a quem a senhora vai fazer a pergunta em 30 segundos.

[Soraya Thronicke]: Padre Kelson.

[Padre Kelmon]: Kelmon.

[Soraya Thronicke]: Kelvin?

[Padre Kelmon]: Isso.

[Soraya Thronicke]: Padre— candidato Padre. Candidato Padre, gostaria de perguntar para o senhor para quantas pessoas, durante a pandemia, o senhor deu a extrema-unção? Gostaria de saber do senhor se o senhor sabia que de cada seis pessoas que morreram na pandemia, nós poderíamos ter salvo quatro pessoas se não tivesse atrasado as vacinas, se não tivesse faltado oxigênio. O senhor não se arrepende de defender um governo que fez isso?

[Padre Kelmon]: Olha, quem tem que se arrepender de alguma coisa aqui, são alguns candidatos que estão aqui mentindo, mentindo como a senhora e outros que estão aqui, apenas para tentar enganar você, eleitor. Que a melhor, ela acabou de dizer que vai criar um imposto único, que vai melhorar sua vida. Melhorar sua vida aonde? Quanto mais imposto cobra, mais a sua vida vira uma tragédia. Para se diminuir, para se melhorar a sua vida, você precisa reduzir o tamanho do Estado. O Estado inchado, aí sim o Estado inchado, cheio de cabide de emprego, faz com que não sobre dinheiro para você. Você, eleitor, precisa ficar bem atento a esse tipo de proposta de candidatos falaciosos, que só estão aqui tentando te enganar. Essa é a verdade. Reduza o tamanho do Estado, deixe o Estado pequeno, vai sobrar dinheiro para que esse dinheiro volte para a educação e para a saúde, não criem falácias achando que vocês podem resolver o problema apenas com o verbo, façam de verdade, não minta, como tem muita gente aqui mentindo para todo mundo.

[Soraya Thronicke]: Bem vê se que depois do Auxílio Emergencial, o senhor arrumou emprego de cabo eleitoral. Nós temos um candidato cabo eleitoral...

[William Bonner]: Por favor, o candidato padre Kelmon.

[Soraya Thronicke]: Por favor, me deixa responder.

[William Bonner]: Mantenha-se em silêncio. Em respeito à sua oponente.

[Soraya Thronicke]: Cabo eleitoral do candidato Jair Bolsonaro, que, por sua vez...

[Padre Kelmon]: É cabo eleitoral de Lula.

[William Bonner]: Candidato, o senhor não deve interromper a outra candidata. E o seu tempo será acrescido, candidata Thronicke.

[Padre Kelmon]: Desculpe, está certo.

[William Bonner]: Eu vou pedir só um minuto aos dois. Nós temos milhões de brasileiros assistindo ao debate, esperando que o debate tenha no mínimo regras que sejam respeitadas por quem as assinou. Então eu peço, por favor, ao candidato que se mantenha em silêncio, e aguarde que a sua oponente conclua o raciocínio. Nós vamos lhe dar mais tempo, candidata.

[Soraya Thronicke]: Devolve tudo, por favor. Um minuto, porque eu perdi totalmente o raciocínio.

[William Bonner]: Vai ser concedido esse tempo.

[Soraya Thronicke]: OK. Aguardo lá. Bem se vê que depois do Auxílio Emergencial, o senhor arrumou realmente um novo emprego de cabo eleitoral do candidato Jair Bolsonaro, que, por sua vez, é o candidato, é o cabo eleitoral do candidato Lula. Porque quem está colocando Lula na primeira fila, na liderança, inegável que é o candidato Jair Bolsonaro. Mas não é isso que eu vim dizer, vim falar o seguinte, nós temos hoje quase 700 mil mortes por Covid. 130 milhões de órfãos. Eu pergunto para o senhor: o que o senhor diria para consolar essas famílias, esses órfãos que estão até agora esperando uma ajuda do governo, que estão até agora sofrendo, e muitos irmãos separados, porque cada parente tem que ficar com um ou outro. O senhor não tem medo de ir para o inferno, não?

[Padre Kelmon]: Olha, vocês falam tanto de Covid, Covid, Covid. Só se morre de Covid nesse país? Só se morre de Covid no mundo? São falácias e falácias. É só o que vocês sabem fazer. Medo de ir para o inferno eu não tenho, porque todos os dias, eu morro um pouquinho de mim mesmo para viver o evangelho, coisa que a senhora não sabe o que é. Se a senhora soubesse o que é, não estava desrespeitando um padre, mandando o padre para o inferno. A senhora não me respeita.

[William Bonner]: Candidata Thronicke, por favor.

[Padre Kelmon]: A senhora deveria me respeitar. A não sabe o que significa um sacerdote, a senhora não sabe o que significa um sacerdócio, a senhora não sabe o que significa o cristianismo, se a senhora soubesse, a senhora não se dirigia para um padre dessa forma, um padre que respeita o cidadão, um padre que está num país de 84% de cristãos, sendo desrespeitado dessa forma, sendo mandado ir para o inferno por uma mulher que não sabe nem como servir a você, que está aqui mentindo, dizendo que vai lhe cobrar mais impostos, mais impostos. Esse é o caminho? Cobrar impostos? Você não aguenta mais ser cobrado. E essa senhora aqui novamente repete que a solução é imposto único, é cobrar mais imposto. A solução não é essa, a solução é reduzir o Estado, tirar os cabides de emprego. Vocês, olha, fizeram muitos cabides ali dos seus apadrinhados políticos. Para quê? Para que, candidata? Para que isso? Fale a verdade. Seja verdadeira. Fale para o povo por que a senhora está aqui. Fale que vocês são mais do mesmo. Fale que a esquerda, todos aí têm a mesma agenda. Diga para as pessoas que vocês querem fazer isso, querem destruir o Brasil. Fale para todo mundo aqui agora. Diga a verdade. Já que a senhora me mandou ir para o inferno, então diga a verdade.

[William Bonner]: Tempo esgotado, candidato. Eu vou pedir aos dois candidatos que retornem aos seus lugares. A candidata Thronicke pediu direito de resposta, está sendo analisado, candidata. Voltando um pouco à dinâmica do debate quando o candidato Bolsonaro exercia seu direito de resposta, o candidato Lula pediu direito de resposta, foi concedido. Candidato Lula, por favor, o senhor se dirija ao púlpito, o senhor tem um minuto para responder.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu confesso ao povo que está nos assistindo que eu me sinto mal. Uma espécie de estar atrapalhando o debate quando a gente poderia estar discutindo o futuro deste país. Eu, sinceramente, eu queria só lembrar as pessoas que graças ao que nós fizemos para combater a corrupção, a corrupção foi descoberta, e as pessoas foram punidas. Acontece que você poderia, no processo de combate à corrupção prender os presos e liberar as empresas para funcionar. No Brasil, se quebrou e se fechou quatro milhões e quatro postos de trabalho. O Estado deixou de receber 270 bilhões, deixou de investir, os impostos deixaram de ser arrecadados em 58 bilhões de reais. Quando o nosso candidato vem aqui e diz para apresentar a vacina. Vou lembrar alguns escândalos: imóveis, 51 imóveis, mansão de seis milhões...

[William Bonner]: Seu tempo está esgotado, candidato. Era um minuto para a sua resposta, eu peço ao senhor, por favor, retorne ao seu local. Devo dizer também que a candidata Soraya Thronicke pleiteou o direito de resposta durante a fala do adversário, Padre Kelmon, mas foi negado, candidata; e, nesse momento, o candidato Bolsonaro está pedindo também direito de resposta, vai ser analisado. Eu vou dar andamento ao debate. É a vez então da candidata do MDB, Simone Tebet, fazer a pergunta. Ela só pode perguntar ao candidato do Novo, Luiz Felipe D'Avila. Por favor, os dois ao púlpito. Trinta segundos para a pergunta, por favor, candidata.

[Simone Tebet]: Obrigada. Candidato D'Avila. Vamos falar de Brasil?

[Felipe D'Avila]: Vamos, né?

[Simone Tebet]: Vamos falar do Brasil real que ainda chora a morte dos seus filhos que morreram prematuramente por conta da incompetência de um governo que não colocou vacina na hora certa no braço de milhões de brasileiros. O Brasil está morrendo, não só de Covid, nós temos uma fila interminável de exames, consultas e cirurgias atrasadas, a pergunta é: como nós vamos zerar essas filas, como vamos resolver o problema da Saúde Pública, especialmente dos nossos idosos?

[Felipe D'Avila]: Que bom ter a oportunidade de discutir um pouco de Brasil, em meio a esse bate-boca que não leva a lugar algum. Mas olha, Simone, eu queria dizer antes que eu trabalho há 14 anos no Centro de Liderança Pública, no CLP, e nesse meio tempo que eu formei lideranças públicas no Brasil, trabalhei com estados e municípios, eu descobri uma coisa: todo mundo quer fazer a diferença, quer fazer a coisa certa na vida pública, faz duas coisas importantes: tem liderança, liderança com caráter, honestidade, disposto a comprar as boas brigas políticas; e depois a competência na gestão. As coisas precisam dar resultado. Nós precisamos saber se aquela política pública está melhorando ou não a vida das pessoas. E nessa pandemia algumas coisas interessantes aconteceram na Saúde. Nós avançamos com a telemedicina, nós avançamos com o prontuário eletrônico, nós precisamos ter essa digitalização na Saúde, que é fundamental, principalmente na saúde primária. Porque é lá que nós vamos ter um histórico das pessoas e passar, e deixar de repetir exames que acontecem depois, sufocando a saúde terciária. A digitalização é importante, focar na saúde primária é muito significativo para as pessoas.

[Simone Tebet]: Fico muito feliz, Felipe, de agora ver realmente uma pessoa sensível falando da preocupação que tem com a população que hoje está doente. Nós vamos ter que caminhar mesmo para a telemedicina, para o prontuário único, mas nós temos que especificamente pensar agora nos milhões; tem pelo menos 20% das pessoas mais pobres do Brasil, com câncer, morrem prematuramente porque não têm vaga no SUS para fazer seu atendimento, e depois já é tarde, ele vem a falecer. Nós vamos tomar três medidas imediatas para zerar essa fila. Primeiro, aumentar o dinheiro que o Governo Federal vai colocar no SUS, o financiamento. Segundo: equipar todos — eu repito: equipar todos — os hospitais regionais com os aparelhos necessários para que possam atender à população brasileira. Mas é preciso também olhar pelas Santas Casas, que atendem praticamente as mil cidades que não têm hospitais públicos. Quero aproveitar apenas para fazer um pedido para você, pai e mãe: amanhã termina a campanha de vacinação contra a poliomielite. Vamos vacinar nossas crianças para que a paralisia infantil não volte na vida dos nossos filhos.

[William Bonner]: Tempo esgotado, por favor.

[Felipe D'Avila]: É verdade, nós precisamos pegar o SUS e melhorar a coordenação com os hospitais: com os hospitais filantrópicos, com as Santas Casas, mas também precisamos, Simone, trazer os hospitais privados para dentro, porque há ociosidade nos hospitais privados, e nós podemos aproveitar isso no SUS e assim estender esse atendimento de melhor qualidade para as pessoas. Mas tem uma coisa muito importante, eu estava dizendo aqui que parte da gestão pública, da competência, é a avaliação de serviço público, e nós precisamos ter mais critério com esta avaliação do serviço público para justamente fechar hospitais que não estão cumprindo esse papel e dobrar o investimento naqueles que estão cumprindo o seu papel. Então, é muito importante nós termos essa capacidade de coordenar melhor a ação do Governo Federal com estados e municípios. Precisamos descentralizar o poder e precisamos pensar, sim, porque eu digo que o SUS é a maior parceria público-privada do mundo, funciona por causa dos hospitais filantrópicos, por causa das Santas Casas, e precisamos trazer agora os hospitais privados para dentro. É fundamental isso. Depois, nós precisamos rever a tabela do SUS. Nós sabemos disso, não é, Simone? Que a tabela do SUS está muito defasada, e sempre usamos o critério de procedimento. Não, eu acho que tem que ser por resolução do problema. O serviço público precisa prestar serviço ao cidadão. O que o cidadão quer saber é se resolve o problema da vida dele, seja na saúde ou na educação. Portanto, vamos colocar o cidadão em primeiro lugar, vamos mensurar a qualidade do serviço público, se está atendendo ou não o cidadão, e não como é hoje, que nós temos um gasto gigantesco com a máquina pública que não atende o cidadão. Nós precisamos ter um estado que serve ao cidadão, e não que se serve do cidadão para pagar o custo da máquina pública.

[William Bonner]: Candidatos, muito obrigado. Está encerrado aqui esse primeiro bloco do nosso debate. Eu devo responder ao candidato Bolsonaro que seu pedido de resposta à fala do candidato Lula foi negado. Nós terminamos esse bloco e, no próximo, vai ter o sorteio de temas aqui nessa urna para as perguntas que serão formuladas. Nós voltamos em instantes. Até já.

*Participaram desta cobertura:
Em São Paulo: Ana Paula Bimbati, Beatriz Gomes, Caê Vasconcelos, Gilvan Marques, Isabela Aleixo, Juliana Arreguy, Letícia Mutchnik e Rafael Neves.
No Rio de Janeiro: Felipe Pereira e Lucas Borges Teixeira.
Em Brasília: Camila Turtelli, Gabriela Vinhal, Hanrrikson de Andrade e Letícia Casado.