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Bolsonaro ganha apoio de conservador chileno que admitiu derrota para Boric

Candidato derrotado extrema-direita à presidência do Chile, José Antonio Kast, apoia Bolsonaro - Ivan Alvarado/Reuters
Candidato derrotado extrema-direita à presidência do Chile, José Antonio Kast, apoia Bolsonaro Imagem: Ivan Alvarado/Reuters

Colaboração para o UOL, em Brasília

30/09/2022 19h46Atualizada em 03/10/2022 09h20

O político ultraconservador chileno José Antonio Kast declarou hoje apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). "Neste domingo, o Brasil joga pela liberdade. Do Chile, desejamos todo sucesso ao presidente Bolsonaro para que derrote uma vez mais a esquerda radical", disse em vídeo divulgado pela campanha do chefe do Executivo.

O presidente brasileiro comemorou a mensagem: "Líder da bem-sucedida campanha contra a nova constituição chilena, Kast envia seu apoio para que o Brasil siga no caminho da ordem e da liberdade, sendo um farol para a América Latina e para o mundo. Deus, Pátria, Família, Vida e Liberdade".

O resultado marcou a derrota de um candidato que levantou bandeiras alinhadas com a direita norte-americana, com críticas à imigração ilegal. Kast também pedia a militarização do sul do país, onde os mapuche estão em confronto contínuo com proprietários de terras.

O gesto de apoio do político chileno ocorre num momento decisivo para a campanha de Bolsonaro, que aparece atrás ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas. Além de Kast, nos últimos dias, o jogador Neymar Jr, o tricampeão de Fórmula 1 Nelson Piquet, o ex-jogador de basquete Nenê Hilário e José Alvo, lutador peso-pena de MMA, também se posicionaram a favor de Bolsonaro.

Ao mesmo tempo, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) torna o PL (Partido Liberal), a que Bolsonaro é filiado, alvo de investigação pelo uso de recursos para pagar a produção de um relatório em que a sigla questiona a segurança das urnas eletrônicas e ataca o sistema eleitoral brasileiro. O gasto estimado com a confecção do documento foi de ao menos R$ 225 mil.

Ontem, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes determinou que o partido do presidente Jair Bolsonaro (PL) apresente em 48 horas comprovantes de pagamentos feitos ao IVL (Instituto Voto Legal). A empresa responsável pelo dossiê aponta que eventuais falhas do sistema eletrônico de votação podem abrir brechas para invasão interna ou externa, "com grave impacto nos resultados das eleições" de outubro.

O pagamento à entidade consta do balanço financeiro do PL enviado ao TSE, segundo registros de uma conta bancária identificada como "outros recursos". As informações englobam o período de janeiro a julho deste ano. A transferência eletrônica ocorreu no dia 29 de julho.

Procurada pelo UOL, a defesa do PL não havia se manifestado até a última atualização desta reportagem. Ao UOL, integrantes do PL afirmaram que Valdemar Costa Neto não endossou a divulgação do relatório.

Boric defende a democracia no país

Alvo de críticas de Jair Bolsonaro (PL), o presidente do Chile, Gabriel Boric, elogiou, em entrevista à revista Time, manifestos em defesa do sistema eleitoral brasileiro, como os publicados pela USP (Universidade de São Paulo) e pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Na avaliação do mandatário, aliado político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a América Latina deve reagir em caso de tentativa de golpe contra a democracia.

"Foi muito esperançoso ver a carta de São Paulo, que tem um milhão de assinaturas a favor da democracia, com a transversalidade dos signatários de vários setores da sociedade e da política. Foi um sinal poderoso da sociedade civil brasileira. Se houver uma tentativa como aconteceu, por exemplo, com a Bolívia em 2020, em que se acusou de fraude que não foi, e um golpe de estado foi validado, a América Latina tem que reagir em conjunto para colaborar na prevenção", disse.

A manifestação ocorre depois de o governo do Chile ter convocado o embaixador do Brasil em Santiago, Paulo Roberto Soares Pacheco, a prestar esclarecimentos sobre ataques feitos contra Boric durante o primeiro debate com candidatos à Presidência da República, organizado pelo UOL, em parceria com Band, a Folha de S.Paulo e a TV Cultura.

"Lula apoiou o Presidente do Chile também, o mesmo que praticava atos de tocar fogo em metrôs lá no Chile. Para onde está indo o nosso Chile?", questionou Bolsonaro em suas considerações finais no evento.

Quem é José Antonio Kast

Católico e ativista antiaborto apoiado por eleitores de extrema-direita, Kast reconheceu publicamente a derrota nas urnas para o esquerdista Gabriel Boric, líder dos protestos estudantis de 2011 que tornou-se presidente do Chile em 2021.

"Deu os parabéns a Boric por sua grande vitória. A partir de hoje ele é o presidente eleito do Chile e merece todo o nosso respeito e colaboração construtiva. O Chile sempre em primeiro lugar", escreveu o advogado em sua conta no Twitter após as eleições.

Em abril deste ano, Kast tornou-se presidente da Rede Política por Valores, uma organização que se define como "uma rede internacional de representantes políticos que promovem e defendem a vida, a família e as liberdades fundamentais".

A organização também é composta por Jaime Mayor (ex-ministro da Espanha), María del Rosario Guerra (senadora colombiana), Rodrigo Cortés (político mexicano), Laima Andrikiene (deputada da Lituânia) e Rodrigo Goñi (deputado do Uruguai), entre outras figuras internacionais de ultradireita.

A Rede Política para Valores assegurou, em comunicado, que Kast "é uma referência consolidada para políticos e ativistas cívicos na Ibero-América pela sua atuação consistente ao longo de duas décadas na defesa e promoção da dignidade humana, vida, família e liberdades fundamentais".