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Lula mais incisivo no debate agrada PT, mas briga com padre foi 'derrapada'

Do UOL, no Rio

30/09/2022 10h46Atualizada em 30/09/2022 15h34

O PT comemorou o desempenho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no debate da TV Globo ontem (29). Para aliados, a estratégia de ser mais incisivo em resposta aos ataques de adversários funcionou, mas quase passou do ponto.

Integrantes da campanha avaliam que Lula acertou em sempre perguntar sobre propostas e errou ao "cair na pilha" do Padre Kelmon (PTB) no terceiro bloco. Por outro lado, a avaliação é que ficou clara a dobradinha de Kelmon com o presidente Jair Bolsonaro (PL) contra Lula, o que pode favorecer o petista.

Sem deixar barato. À frente em todas as pesquisas, Lula foi orientado a se manter nas pautas propositivas para tentar evitar desgastes desnecessários. Mas, diferentemente do que ocorreu no debate promovido por UOL/Band/Folha de S.Paulo/TV Cultura, a proposta foi que o petista revidasse aos ataques e provocações.

No primeiro debate presencial, a estratégia de evitar desgaste desandou em uma percepção de apatia do ex-presidente, em especial no embate com Bolsonaro sobre corrupção. Ontem, na visão dos petistas, foi diferente.

Lula já chegou respondendo à primeira pergunta de Ciro Gomes (PDT) com dados e um toque de provocação ao perguntar se ele estava nervoso.

Fez o mesmo em relação a Bolsonaro, contra quem conseguiu três direitos de resposta (e mais um contra Kelmon). Lula rebateu parte das críticas de ambos, que chamou de mentirosas, e não passou a imagem de apatia. Bolsonaro também obteve quatro direitos de resposta.

Para os petistas, essa postura foi o principal acerto de Lula ontem, em especial no primeiro bloco.

Quase passou do ponto. Já o pior momento foi a discussão com Kelmon, em que a cúpula petista diz avaliar que o ex-presidente poderia ter deixado passar as provocações.

No terceiro bloco, o candidato do PTB afirmou que Lula foi "chefe do maior esquema de roubo de corrupção da história mundial". Lula respondeu chamando-o de "candidato laranja" e dizendo que ele estava "fantasiado" de padre.

Kelmon passou a interrompê-lo e o bate-boca começou, com microfones cortados, e bronca do apresentador William Bonner. Embora quem acompanhasse da TV não tenha ouvido o que os dois falaram, petistas dizem que Lula poderia ter evitado o desgaste, que logo repercutiu nas redes sociais.

O ponto, para eles, é que Kelmon não tem nada a perder nem imagem pública a preservar, enquanto o petista busca manter a imagem de estadista.

Dobradinha da noite. Por outro lado, dizem os petistas, a avaliação é de que a parceria entre Kelmon e Bolsonaro ficou explícita.

Com conversas frequentes entre os dois, que sentaram lado a lado por sorteio, e seus assessores durante os intervalos, Kelmon usou quase todas as suas incursões para atacar Lula —fosse ele ou não o interlocutor.

Se Lula deveria ter segurado um pouco a onda na hora da discussão, há uma ponderação de que o petista, ao mesmo tempo, estabeleceu limites.

Não mudou. A campanha avalia ainda que o debate não mudou os rumos da eleição. Com possibilidade de vitória em primeiro turno na margem do erro, os petistas acham o programa poderia ter sido definitivo, se Lula fosse extraordinariamente bem ou péssimo —o que não foi o caso, dizem.

Mais uma vez, avaliam que a senadora Simone Tebet (MDB-MS) foi o destaque positivo —o que pode ser um empecilho para a vitória em primeiro turno— e que Bolsonaro seguiu falando para o público dele.

Horário ruim. Além disso, conforme Lula reclamou em entrevista à imprensa na manhã de hoje, a duração e o horário do debate (das 22h30 à 1h40) não agregam o público que está na mira do petista.

Embora o objetivo de um debate com o alcance como o da Globo seja conversar com um público mais amplo possível —a audiência superou o dobro do horário e bateu recorde em 16 anos—, a campanha de Lula queria atingir as classes média e baixa, em especial. Logo, se um trabalhador tem de acordar às 5h, não vai ficar até 2h assistindo a um programa de televisão, por mais que o assunto lhe interesse ou que ele considere importante.

Agora, uma estratégia é tentar estimular cortes de vídeos em que o ex-presidente foi bem para circular nas redes sociais, visto que o horário de propaganda na televisão foi encerrado ontem.