Topo

48 horas na disputa apertada entre Moro e Alvaro Dias ao Senado no Paraná

À esq., ox-ministro Sergio Moro (União Brasil) e o senador Alvaro Dias (Podemos) - Isac Nóbrega/PR e Waldemir Barreto/Agência Senado
À esq., ox-ministro Sergio Moro (União Brasil) e o senador Alvaro Dias (Podemos) Imagem: Isac Nóbrega/PR e Waldemir Barreto/Agência Senado

Colunista do UOL

01/10/2022 20h13Atualizada em 02/10/2022 17h39

Sergio Fernando Moro chega ao estacionamento do parque Barigui, uma região de classe média alta em Curitiba, com pressa, ao que seria seu último ato de campanha. Um grupo de cabos eleitorais, que chegou ao local num ônibus, sacode bandeiras. Moro para para gravar um vídeo com um apoiador e cumprimenta algumas pessoas antes de subir na carroceria de uma velha picape F-75.

"Cada minuto aqui é um voto que a gente perde", diz o candidato. Cerca de três dezenas de carros seguem a carreata que, pelas horas seguintes, percorrerá os principais bairros da capital paranaense. Em ação, Moro não é um candidato comum: ele não afaga eleitores, não beija crianças e é meio cerimonioso. Trata a maioria das pessoas por senhor e senhora.

A chegada ao último dia de campanha é o desfecho de um caminho acidentado que levou à disputa apertada com o senador Alvaro Dias (Podemos), um ex-aliado. Moro, que já foi uma das figuras públicas mais populares do Brasil, agora luta, voto a voto, para não naufragar na sua primeira eleição.

Em quase dez meses, o Podemos chegou a anunciar Moro como candidato a presidente, mas eles se desentenderam e Moro mudou para o União Brasil (fusão do DEM com o PSL). Daí perdeu a candidatura a presidente e a candidatura ao Senado por São Paulo (onde sua mulher concorre a deputada federal).

É um enredo de novela em que as mágoas se sucedem de lado a lado. Em 2018, Alvaro Dias, então um candidato nanico sem chances de vencer a disputa presidencial, lançou o balão de ensaio de que, sendo eleito, iria nomear Sergio Moro, o famoso juiz da Lava Jato e ministro da Justiça —à época, Moro não se manifestou, autorizando o uso de seu nome pelo candidato.

Da parte de Moro, Dias tentou surfar na onda de popularidade do então ministor em 2018. Um amigo de longa data de Moro disse ao UOL que, quando a deputada Renata Abreu e o senador Alvaro Dias viajaram a Washington para encontrá-lo em 2021, houve o acordo para que, não dando certo o projeto presidencial, o ex-juiz da Lava Jato pudesse ser candidato ao Senado pelo Paraná.

Como não deu, ainda segundo a versão do entorno de Moro, Dias teria rompido o acordo, exigindo que o ex-juiz e ex-ministro disputasse o governo contra Ratinho Júnior (PSD) —o que foi recusado. O atual governador tem chance de ser reeleito no primeiro turno.

Na entourage de Alvaro Dias, a versão do rompimento é bem mais simples: foi Moro quem rompeu o acordo depois que sua tentativa de ser candidato a senador por São Paulo não deu certo por falta de comprovação de domicílio eleitoral.

"Pacto diabólico"

A disputa no Paraná está acirrada: segundo o Ipec de hoje, Moro tinha 35% das intenções de voto contra 41% de Alvaro Dias,

Muito atacado por adversários por fazer do Paraná seu "plano B", Moro abraçou o antipetismo como plataforma e tem dito que o antigo aliado fez um "pacto diabólico" com o PT.

Nesta semana, Moro usou peças de propaganda para dirigir-se diretamente a eleitores de Bolsonaro e Ratinho Júnior, que lideram as pesquisas: "Precisamos de união para vencer esse pacto diabólico entre o Alvaro, o PSB, o MST, o Lula e o PT".

A equipe de advogados de Alvaro Dias tentou tirar o vídeo do ar —com alegação de que o PT tem candidato próprio e não há acordo com a sigla—, mas a Justiça Eleitoral manteve a peça.

"Dizer que celebrei um acordo diabólico e clandestino é agredir a inteligência das pessoas", disse Dias.

Numa eleição apertada, a pretensão de atrair para si o voto útil bolsonarista esbarra na rejeição dele, principalmente entre estratos mais velhos da população, por ter sido ministro de Bolsonaro e saído do governo acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal.

Paulo Martins (PL) é o candidato mais alinhado com o presidente e para quem Ratinho Júnior tem feito campanha abertamente. Hoje Sanches aparece em terceiro nas pesquisas (14%, segundo o Ipec).

Numa segunda frente, os apoiadores de Moro nas redes sociais estão realçando o fato de Dias ter 78 anos —idade para "descansar".

Pouso de emergência

Alvaro Dias passou a reta final de campanha tentando reforçar uma base de prefeitos e apoiadores no interior do Paraná, que vem construindo desde os anos 1980 através de destinação de recursos no período em que governou o estado (1987-1990) e via emendas parlamentares (ele exerce ininterruptamente mandatos no Senado desde 1999).

Na quinta, o helicóptero que o levava entre agendas em cidades do interior teve de fazer um pouso de emergência numa fazenda. Ladeado por vacas que pastavam, o senador fez uma transmissão ao vivo. Ele terminou a campanha com uma caminhada pelo centro de Londrina com o prefeito Marcelo Belinati (Progressistas).

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado no primeiro parágrafo do texto, Moro não subiu em uma Rural Willys. Era uma velha picape F-75. A informação foi corrigida.