Lula quer furar bolha com partidos de direita na aliança e menos comícios
A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu reavaliar a estratégia eleitoral para o segundo turno.
Para a cúpula petista, é preciso trazer parte dos partidos de direita e centro-direita derrotados no primeiro turno da eleição presidencial e mirar seus eleitores que são resistentes ao PT, mas tampouco apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL) —isso incluiria uma recondução dos eventos, como diminuição de comícios para militantes.
A coordenação de campanha —que já conta com uma aliança de dez partidos— reuniu-se na tarde de hoje em um hotel em São Paulo para avaliar a conjuntura eleitoral e as expectativas para a segunda etapa.
Lula fechou o primeiro turno, ontem (2), com uma vantagem 6,2 milhões de votos sobre Bolsonaro e a 1,57 ponto percentual de de encerrar a corrida. O petista teve 48,4% dos votos válidos e Bolsonaro, 43,2%.
Surpresa com reação bolsonarista. Embora não admitam publicamente, a campanha tomou uma surpresa com a reação dos eleitores de Bolsonaro ontem.
Os institutos de pesquisa acertaram os patamares de Lula, mas não conseguiram rastrear o bolsonarismo, que promoveu viradas como em São Paulo, onde o petista pensava ganhar.
Parte da campanha estava um pouco baqueada nesta segunda. Ontem, também chamou atenção a demora para o ex-presidente virar o placar na apuração. Com o avanço inicial pelo Centro-Oeste, Lula só tomou a dianteira quando a apuração estava por volta dos 70% das urnas —os petistas esperavam no máximo em 50%.
A avaliação é que houve uma transferência antecipada do voto útil bolsonarista na reta final, em especial no Sudeste, temendo a vitória de Lula no primeiro turno.
Para fora da bolha. A estratégia do PT é, agora, tentar rastrear os eleitores que historicamente nunca foram simpáticos ao PT, mas que também têm resistência a Bolsonaro. O foco das investidas deverá ser em:
- São Paulo, maior colégio eleitoral do país e onde se esperava vitória,
- Minas Gerais, onde esperavam vantagem maior,
- e no Rio de Janeiro, que elegeu o bolsonarista Cláudio Castro (PL) no primeiro turno
"Um conselho que dou para os meus companheiros: a partir de amanhã, é menos conversa entre nós e mais conversa com o eleitor", disse Lula, após a reunião nesta tarde.
Não precisamos conversar com quem já nos conhece, com quem a gente já sabe que votou na gente ou sabe que vai votar. Precisamos conversar com aqueles que parecem que não gostam da gente, que parecem que não votam na gente, que parecem que não gostam do nosso partido. É com esses que vamos conversar
Lula
Uma das ideias circuladas, embora não tenham batido o martelo, é diminuir o número de grandes comícios —artifício muito usado no primeiro turno— e focar em outros tipos de agenda, como caminhadas e novas rodas de conversa com setores e públicos mais resistentes. A decisão deve ser tomada ainda nesta semana.
À direita. Outro ponto crucial dessa estratégia é trazer novos partidos para aliança, de outros campos políticos. Dos dez partidos que compõem a aliança atual, só Solidariedade, Pros, Avante e Agir não são de esquerda ou centro-esquerda (e têm pouca representação).
Nesta segunda, os petistas já passaram a procurar alianças com os derrotados de ontem. Segundo a presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), o partido já iniciou conversas com o PDT, de Ciro Gomes, o MDB, de Simone Tebet —que sugeriu apoio a Lula em seu discurso após as eleições—, o PSDB, e o União Brasil, de Soraya Thronike.
Estamos conversando com o União Brasil, queremos ter a Soraya junto conosco. E vamos procurar o PSDB para conversar, para gente poder não só em SP, mas nos outros estados do Brasil, estarmos juntos e termos eles na campanha nacional
Gleisi Hoffmann
"Vamos conversar com esses partidos e dialogar para ampliar essa campanha. Vamos conversar com outras personalidades do mundo político, cultural e intelectual", disse Gleisi, após a reunião.
Ela também procurou o presidente do PDT, Carlos Lupi, ex-ministro de Lula. "Senti muita disposição em conversar, dissemos a ele que gostaríamos de ter o Ciro Gomes na nossa campanha e aqui a avaliação é unânime em relação a isso", completou.
"Já conversamos com o MDB", disse Gleisi. "Queremos muito ter a Simone em nossa campanha, achamos importante até pelo que ela representa na defesa da democracia", disse. Nesta segunda, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, que compôs a chapa de Tebet, já declarou apoio a Lula.
De olho no ninho. Também cobiçam o PSDB, antiga sigla de Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice de Lula. Nesta segunda, o senador Tasso Jereissati (PSDB), ex-presidente da sigla, juntou-se a outros tucanos históricos, como ex-senador Aloysio Nunes, e declarou voto em Lula.
O partido, que também integrava a chapa de Tebet, perdeu a eleição em São Paulo, seu principal reduto, sem que o governador Rodrigo Garcia (PSDB) vá ao segundo turno, mas garantiu três segundos turnos: Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Sul.
Em dois deles, no Nordeste, eles enfrentam candidatos da aliança —que, curiosamente, também são dois candidatos preteridos por Lula. Em Pernambuco, a deputada Marília Arraes (SD-PE) disputa com a ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB) e, na Paraíba, o governador João Azevêdo (PSB) enfrenta o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB).
Embora Lula tenha escolhido outros candidatos no primeiro turno, a tendência natural é que Lula apoie ambos. Já no Rio Grande do Sul, onde o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) enfrenta o ex-ministro bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL), integrantes da cúpula defendem uma aproximação, com declaração formal de apoio.
Agora, a escolha não é ideológica, agora nós vamos conversar com todas as forças políticas que tenham voto, que tenham representatividade, significância política nesse país, para que a gente consiga somar num bloco democratas contra os que não são democratas
Lula
Em São Paulo, o PT também defende uma aproximação com Garcia em torno de Fernando Haddad (PT), que disputa o segundo turno com o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas, neste caso, assumem interlocutores, é mais provável que não consigam.
"Estamos conversando com o União Brasil, queremos ter a Soraya junto conosco. E vamos procurar o PSDB para conversar, para gente poder não só em São Paulo, mas, nos outros estados do Brasil, estarmos juntos e termos eles na campanha nacional", disse Gleisi.
O que houve? Outro desafio debatido na reunião e que chamou atenção dos petistas ontem é tentar entender onde estão os bolsonaristas que claramente não apareceram nas pesquisas e onde estão esses eleitores indecisos que eles procuram.
O Sudeste, que reúne 42% do eleitorado brasileiro, foi o local onde a campanha avalia ter ido pior e onde quer se reposicionar. O foco das próximas viagens, que devem ser definidas amanhã, devem focar na região. Outro ponto de foco deverá ser o interior de São Paulo, que Lula não visitou neste ano.
Vamos conversar mais com o povo. Vamos voltar a percorrer todos os estados. Estou convencido que vamos alargar a nossa vantagem no Nordeste. Vamos alargar em Minas Gerais, vou visitar regiões de Minas que não pude visitar [antes do primeiro turno]
Lula
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