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Brasil tem concentração recorde de votos nos dois primeiros colocados

Os presidenciáveis Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL)  - Divulgação/Ricardo Stuckert e REUTERS/Ricardo Moraes
Os presidenciáveis Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) Imagem: Divulgação/Ricardo Stuckert e REUTERS/Ricardo Moraes

Do UOL, em Brasília

03/10/2022 00h37Atualizada em 03/10/2022 17h41

Com 99,93% das urnas apuradas no país, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) concentraram 91,62% dos votos nesta eleição. O petista tem 48,41% e o presidente, 43,21%.

O resultado é histórico.

Até esta eleição, os dois primeiros colocados na corrida presidencial tinham somado, no máximo, 90,25% dos votos. Foi em 2006, quando Lula concorreu justamente contra o seu atual vice, o então governador paulista Geraldo Alckmin, que estava no PSDB.

Em 2018, Bolsonaro e Fernando Haddad (PT) concentraram 75% dos votos, assim como Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) em 2014. Em 2010, Dilma e José Serra (PSDB) somaram 79,52% dos votos.

Lula participou das eleições anteriores. Era dele também o segundo recorde de concentração de votos: contra a reeleição do tucano Fernando Henrique Cardoso, em 1998 (84,77%).

Na primeira disputa entre eles, em 1994, obtiveram, juntos, 81,32% dos votos; com Serra, em 2002, somou 69,64% dos votos; e na disputa contra Fernando Collor de Mello (PTB), em 1989, a concentração foi de 49,16%.

Polarização

O resultado reflete a polarização entre os candidatos, dizem analistas políticos.

Bruno Bolognesi, professor na UFPR (Universidade Federal do Paraná), afirma que a eleição é sempre o comparativo entre os candidatos e, portanto, quanto mais competitiva for a disputa, maior a tendência de concentração de votos.

Quanto mais um lado estiver crescendo, mais o outro vai reagir e tentar recuperar a diferença até que a eleição se decida"
Bruno Bolognesi, professor na UFPR

Bolognesi acrescenta que na reta final da disputa o eleitor tende a sentir um efeito psicológico da "onda" para escolher um lado.

Responsável pela análise de risco político na Tendências Consultoria, Rafael Cortez diz que é natural esse movimento de o eleitor fazer uma opção que tenha viabilidade nas urnas e se movimentar em direção aos mais competitivos para "não jogar o voto fora".

Não por acaso no fim da campanha as candidaturas não protagonistas acabam perdendo fôlego por causa dessa manifestação do eleitor"
Rafael Cortez, analista política

Cortez aponta dois fatores que favoreceram a concentração de votos em Lula e Bolsonaro: o capital político deles e o alto custo de entrada em uma campanha presidencial.

"A eleição de 2022 colocou em conflito dois nomes de muito conhecimento, um presidente e um ex-presidente. São pessoas com capital político consolidado. O espaço para alternativas ficou menor do que geralmente nas eleições", afirma.

Segundo ele, custa caro entrar em uma eleição nacional; se o candidato não tem imagem consolidada, vai demandar alto investimento de recursos financeiros e de fundo eleitoral e partidário para participar da disputa. Além disso, afirma, para ter chances na corrida o postulante precisa investir na articulação política nos estados e em palanques para nacionalizar seu nome.

"É difícil entrar e poucos conseguem passar as barreiras. Isso resulta em concentração de forças", afirma Cortez.