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'Satânicos': conhecido por ataques de ódio, Gilvan da Federal é eleito

Gilvan da Federal (Patriotas) durante sessão em que mandou a colega Camila Valadão "calar a boca" - Reprodução TV Câmara Municipal de Vitória
Gilvan da Federal (Patriotas) durante sessão em que mandou a colega Camila Valadão "calar a boca" Imagem: Reprodução TV Câmara Municipal de Vitória

Matheus Brum

Colaboração para o UOL

04/10/2022 12h59

As urnas no Espírito Santo consagraram o candidato Gilvan Aguiar da Costa como o segundo mais votado para deputado federal pelo Espírito Santo. Sob o nome de Gilvan, o Federal da Direita, o candidato concorreu pelo PL do presidente Jair Bolsonaro na capital Vitória. Ele recebeu 87.994 votos.

Na Câmara Municipal de Vitória, Gilvan colecionou polêmicas e processos por conta de falas preconceituosas contra mulheres, população LGBTQIA+ e religião de matriz africana. Gilvan tem 46 anos, é nascido no Maranhão e graduado em Engenharia Agronômica e Direito. Trabalha como policial federal.

'Deus fez o homem e a mulher. O resto é jacaré'

Em abril de 2022, Gilvan causou polêmica ao fazer uma fala preconceituosa contra a população LGBTQIA+. Em uma sessão ordinária, houve duas moções de aplauso na Câmara de Vitória. Uma das homenageadas era Deborah Sarará, mulher trans e ativista das causas LGBTQIA+. A moção foi em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

Logo após a homenagem, Gilvan subiu na tribuna e fez um discurso de ódio. "Gostaria de perguntar à vereadora do PSOL, que fez uma moção de aplauso às mulheres, se a Deborah Sabará nasceu mulher. Pode ser outra coisa, mas mulher não é. Deus fez o homem e a mulher. O resto é jacaré, é invenção do mundo", disparou o então vereador.

Na sequência, Gilvan continuou com os ataques. "Eu quero saber também se ela consegue engravidar. Se essa pessoa aqui, Deborah Sabará, consegue engravidar. Consegue amamentar? Se me provarem que homem engravida, eu quero ser mãe, pai, sei lá o quê. Quero chegar aqui com barriga, quero gerar um filho, quero amamentar", discursou o vereador.

A ativista Deborah Sarará fez um boletim de ocorrência contra o vereador. Gilvan também foi denunciado pelo Ministério Público Estadual. Em maio de 2022, ele se tornou réu pela Justiça capixaba, mas ainda não foi julgado.

'Imprensa manipuladora, covarde e mentirosa'

Em abril de 2021, poucos meses depois de ser empossado como vereador, Gilvan da Federal atacou a imprensa e os partidos de esquerda.

"Continuarei confrontando quem defende assassinato de bebês, legalização das drogas, ideologia de gênero, promiscuidade, pornografia para nossas crianças e a imprensa manipuladora, covarde e mentirosa", disse no púlpito da Câmara.

Terminou dizendo: "enquanto tiver força e saúde, não deixarei que a nossa nação seja entregue ao comunismo".

'Cala a sua boca'

Em março de 2022, no dia seguinte às comemorações do Dia Internacional da Mulher, Gilvan da Federal atacou a vereadora de Vitória, Camila Valadão (PSOL).

Enquanto discursava, o vereador alegou que Valadão estava tentando o interromper. "Você não espera nada, você cala a sua boca aí. Está na minha fala. Cala a sua boca, cala a sua boca, cala a sua boca. Você está na minha fala. Cala a sua boca, fique quietinha", atacou o vereador.

Na sequência, o presidente da Câmara de Vitória pediu para que Gilvan seguisse a política dos "bons costumes". No entanto, o vereador ignorou e voltou a atacar. "Eu não tenho política de bom costume com o PSOL. Não tenho. Quem defende aborto, 'vacina salva' e assassinato de criança não tem conversa comigo. Não tem politicamente correto com o PSOL comigo, não. Nem com o PT. Então pode calar a boca de vocês, quando eu estiver falando".

'Vereadora não está com traje formal'

No Dia Internacional da Mulher, em 2021, Gilvan da Federal também atacou Camila Valadão (PSOL). Na sessão, que foi presidida por Valadão e pela outra vereadora, Karla Coser (PT), Gilvan atacou a psolista porque ela estava com um bottom escrito "Fora Bolsonaro".

"Creio que os vereadores aqui têm de estar com traje formal, e na minha opinião a vereadora não está com traje formal para a sessão. Quem quer respeito, se dá ao respeito", atacou o vereador.

Camila entrou com o processo na Corregedoria da Câmara contra o vereador. No entanto, o processo foi arquivado.

'Fizeram uma macumba aqui'

Outro ataque de Gilvan da Federal foi contra as religiões de matriz africana. Em novembro de 2021, a vereadora Karla Coser (PT) convocou representantes do movimento negro de Vitória para a sessão. Na ocasião, foram entoados cantos e outras tradições de matriz africana.

Dias após a sessão, Gilvan subiu na tribuna com um detergente e uma esponja e fez um discurso de ódio. "O que houve na sessão solene, nem posso chamar assim, convocada pela vereadora do PT, é uma afronta a Deus. Praticamente fizeram uma macumba aqui", atacou o vereador.

Na sequência, Gilvan disparou contra a vereadora. "Vocês são satânicos. É meu dever combatê-los, combater os satanistas", disse o vereador.

Por causa dessas falas, o Ministério Público do Espírito Santo denunciou Gilvan por "discurso de ódio". A Justiça, no entanto, ainda não se manifestou sobre o caso.