Estado decisivo: como foi a votação em MG para presidente desde 1994?
Desde a redemocratização do Brasil nunca um candidato à presidência que perdeu em Minas Gerais conseguiu se eleger nacionalmente. Mais do que isso, em Minas Gerais a divisão dos votos costuma ficar bem próxima da média nacional.
O último domingo (2), primeiro turno das Eleições 2022, foi mais um exemplo de como o estado possui força no resultado eleitoral. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terminou o pleito na liderança, com 48,43% dos votos, enquanto o segundo colocado, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), obteve 43,20% dos votos. Em Minas Gerais, Lula teve 48,29% e Bolsonaro, 43,60%.
"Em Minas, existe praticamente um retrato do Brasil. Por ser um estado muito grande, encontra-se segmentos do eleitorado da mais alta renda e segmentos das faixas menores. É um microcosmo da própria dimensão da votação que se tem no Brasil", aponta o cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando.
Esse cenário se evidencia na composição sociodemográfica do estado, com regiões que seriam muito semelhantes a outras localidades do país. O norte de Minas, por exemplo, possui características muito semelhantes de parte do Nordeste brasileiro, enquanto a Zona da Mata mineira se assemelha ao Rio de Janeiro, e o sul e o triângulo mineiro se aproximam de São Paulo.
"Minas Gerais apresenta características sociodemográficas que expressam uma certa heterogeneidade que é muito semelhante à heterogeneidade do país. Ele expressa bem as características do eleitorado nacional em apenas um estado", explica o cientista político e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Leonardo Avritzer.
Em 2018, Jair Bolsonaro, no então PSL, venceu Fernando Haddad (PT) por 55,13% a 44,87%, no segundo turno. Em Minas Gerais, 58,19% dos votos foram para Bolsonaro, enquanto o petista levou 41,81%.
Já em 2014, a diferença entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) também foi bastante próxima nos cenários nacional e estadual. No primeiro turno, Dilma terminou líder com 41,59% dos votos, contra 33,55%, enquanto no voto mineiro a ex-presidente conquistou 43,19%, e Aécio recebeu 39,82% - o tucano tinha Minas como seu reduto eleitoral.
No segundo turno, novamente um cenário muito próximo: no Brasil, Dilma terminou a eleição com 51,64%, enquanto em Minas ela teve 52,41%, e Aécio Neves fez 48,36% nacionalmente e 47,59% em MG.
De 1994 a 2010, o cenário se repetiu, tanto no primeiro quanto no segundo turno. A diferença entre a votação nacional e em Minas foi muito próxima, com uma diferença de, no máximo, cinco pontos percentuais.
A maior diferença entre o resultado nacional e o resultado em Minas Gerais foi em 1994, quando FHC (PSDB) terminou a votação com 54,28%, mas no estado recebeu 64,82% dos votos. Lula, na segunda colocação, recebeu 27,04% dos votos no Brasil, enquanto em Minas recebeu 21,90%.
Voto dissociado entre estado e presidente
Avritzer ressalta que em Minas Gerais, a campanha estadual costuma ser dissociada da campanha federal, o que provoca situações como a vista no último domingo em que Lula venceu no estado, mas o atual governador Romeu Zema (Novo), foi reeleito no primeiro turno com 56,18% dos votos.
Em 2002 e 2006, em meio à polarização entre PT e PSDB, Lula conquistou o eleitorado mineiro, que também elegeu Aécio Neves para o governo do estado. Em 2006, por exemplo, o petista foi reeleito no segundo turno com 65,19%, enquanto o Aécio também foi reconduzido ao cargo, com 77,03% em primeiro turno.
"Essa é a grande questão do segundo turno, se o Zema conseguirá votos para Bolsonaro de forma a diminuir ou até ultrapassar Lula no estado", aponta Prando.
Já Leonardo Avritzer acredita que será muito difícil mudar o quadro do primeiro turno. "Não parece que ele conseguirá reverter essa tendência mais estrutural do estado de votar em candidatos mais progressistas, desde 2002".
O pesquisador da UFMG lembra também que, em 2018, Minas Gerais foi o estado do Sudeste em que Bolsonaro teve o pior resultado, com derrotas significativas no norte e nordeste mineiro.
Confira os resultados no Brasil e em Minas Gerais desde 1994
2022
1º turno
- Lula (PT): 48,43% no Brasil e 48,29% em Minas Gerais
- Bolsonaro (PL): 43,20% no Brasil e 43,60% em Minas Gerais
2018
2º Turno
- Bolsonaro (PSL): 55,13% no Brasil e 58,19% em Minas Gerais
- Fernando Haddad (PT):44,87% no Brasil e 41,81% em Minas Gerais
1º Turno
- Bolsonaro (PSL): 46,03% no Brasil e 48,31%% em Minas Gerais
- Fernando Haddad (PT): 29,28% no Brasil e 27,65% em Minas Gerais
2014
2º Turno
- Dilma Roussef (PT): 51,64% no Brasil e 52,41% em Minas Gerais
- Aécio Neves (PSDB): 48,36% no Brasil e 47,59% em Minas Gerais
1º Turno
- Dilma Roussef (PT): 41,59% no Brasil e 43,19% em Minas Gerais
- Aécio Neves (PSDB): 33,66% no Brasil e 39,82% em Minas Gerais
2010
2º Turno
- Dilma Roussef (PT): 56,05% no Brasil e 58,45% em Minas Gerais
- José Serra (PSDB): 43,95% no Brasil e 41,55% em Minas Gerais
1º Turno
- Dilma Roussef (PT): 46,91% no Brasil e 46,98% em Minas Gerais
- José Serra (PSDB): 32,61% no Brasil e 30,76% em Minas Gerais
2006
2º Turno
- Lula (PT): 60,83% no Brasil e 65,19% em Minas Gerais
- Geraldo Alckmin (PSDB): 39,17% no Brasil e 34,81% em Minas Gerais
1º Turno
- Lula (PT): 48,61% no Brasil e 50,80% em Minas Gerais
- Geraldo Alckmin (PSDB): 41,64% no Brasil e 40,62% em Minas Gerais
2002
2º Turno
- Lula (PT): 61,27% no Brasil e 66,44% em Minas Gerais
- José Serra (PSDB): 38,72% no Brasil e 33,55% em Minas Gerais
1º Turno
- Lula (PT): 46,44% no Brasil e 53,01% em Minas Gerais
- José Serra (PSDB): 23,19% no Brasil e 22,85% em Minas Gerais
1998
1º Turno
- Fernando Henrique Cardoso (PSDB): 53,06% no Brasil e 55,67% em Minas Gerais
- Lula (PT): 31,71% no Brasil e 28,05% em Minas Gerais
1994
1º Turno
- Fernando Henrique Cardoso (PSDB): 54,28% no Brasil e 64,82% em Minas Gerais
- Lula (PT): 27,04% no Brasil e 21,90% em Minas Gerais
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