RJ: Parentes de prefeitos dominam votos para o Legislativo em suas cidades
O resultado das eleições para o Legislativo mostra que parentes de prefeitos —que inclusive tiveram cargos em seus municípios— aparecem no topo do ranking dos mais votados no estado do Rio de Janeiro, impulsionados pelos desempenhos em suas cidades.
Levantamento do UOL mostra que ao menos oito deputados eleitos no RJ obtiveram até 52% dos votos válidos dos municípios comandados por parentes deles. Primeira colocada na disputa para a Câmara dos Deputados no RJ, Daniela Mote de Souza Carneiro, a Daniela do Waguinho (União Brasil), teve metade dos votos válidos de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. O município é administrado pelo marido dela, Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, do mesmo partido.
Outro exemplo é o de Douglas Ruas (PL), filho do prefeito de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, Capitão Nelson, do mesmo partido. Ele chegou a mais de um terço dos votos para deputado estadual da cidade. No ranking geral para uma vaga na Alerj (Assembleia Legislativa do RJ), ficou na segunda posição.
Ruas e Daniela têm em comum o fato de terem tido um desempenho fora da curva em cidades que estão entre os maiores colégios eleitorais fluminenses —São Gonçalo é o terceiro, e Belford Roxo, o oitavo.
Daniela obteve 213.706 votos, dos quais 114.345 vieram de Belford Roxo. Na cidade, dos 228.029 eleitores que votaram para deputado federal, 50,1% escolheram a esposa do prefeito Waguinho, presidente estadual do União Brasil.
Em termos percentuais, quem se aproximou mais dela foi Murillo Gouvea, também do União Brasil. Ele conquistou 42,4% dos eleitores de Itaperuna, no noroeste fluminense. A cidade, porém, é bem menor, e este número representou 21.787 votos.
Gouvea, que é filho do prefeito de Itaperuna, Alfredo Paulo Marques Rodrigues, o Alfredão, foi eleito com um total de 49.921 votos. Antes de se candidatar, ele exerceu o cargo de secretário de Governo na gestão do pai.
Daniela do Waguinho venceu 1ª eleição disputada
Pedagoga de formação, Daniela do Waguinho se aproximou da política em 2017, quando foi nomeada pelo marido como secretária municipal de Assistência Social e Cidadania.
A escolha foi questionada pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) à época, alegando que se trataria de nepotismo. O caso foi parar no STF (Supremo Tribunal Federal), que não chegou a analisar a nomeação, pois Daniela foi exonerada do cargo.
Em 2018, logo na primeira eleição que disputou, ela conquistou uma vaga de deputada federal, com um desempenho expressivo: 136.286 votos.
Nas duas campanhas de Daniela do Waguinho, houve acusações de truculência.
Em 2018, a então candidata a deputada estadual pelo PT Tainá Sena disse que foi agredida por seguranças da mulher do prefeito enquanto falava com eleitores. Segundo relato dela à época ao jornal Extra, tiros chegaram a ser disparados para o alto. Daniela afirmou que a situação estava sendo usada para que a adversária "ganhasse notoriedade".
Este ano, no fim do mês passado, foram os candidatos a deputado estadual Danielzinho (PSDB) e Sula do Carmo (Avante) que denunciaram agressões atribuídas ao grupo de Daniela, quando faziam uma caminhada no bairro Roseiral. Na confusão, uma mulher grávida se feriu e perdeu o bebê.
Procurada por meio de sua assessoria de imprensa, a deputada não se manifestou.
Prefeito enviou cartas pedindo voto para o filho
Entre os candidatos a deputado estadual, o maior percentual de votos em uma cidade foi de Gustavo Tutuca (PP), que já tinha uma vaga na Alerj e foi reeleito —52,2% dos eleitores de Piraí, no Sul Fluminense, o escolheram (8.029 votos). Ele é filho de Artur Henrique Gonçalves Ferreira, o Tutuca, atual prefeito do município.
Em números absolutos, porém, foi de Douglas Ruas, filho do prefeito de São Gonçalo, Capitão Nelson, o melhor desempenho em um município: 149.576 eleitores —35,5% dos votos válidos para deputado estadual na cidade— foram para ele.
Ao todo, Ruas teve 175.977 votos, o segundo no ranking para o cargo. Ele só perdeu para Márcio Canella (União Brasil), do mesmo grupo político de Daniela do Waguinho, que conquistou 181.274.
Até se desincompatibilizar para a disputa, Ruas foi secretário municipal de Gestão Integrada de São Gonçalo. A oposição na cidade chegou a pedir que o MP-RJ apurasse nepotismo na nomeação, mas a investigação foi arquivada porque os promotores entenderam que foi um ato legítimo de livre escolha do prefeito.
Durante a campanha, Capitão Nelson enviou cartas nominais aos eleitores pedindo votos para o filho, como noticiou a colunista Berenice Seara, do jornal Extra.
Em nota, a Prefeitura de São Gonçalo disse que suas bases de dados não foram utilizadas para os envios. Sobre Douglas Ruas ter sido secretário, a administração municipal negou qualquer ilegalidade e afirmou que ele tinha "todas as qualificações para o cargo, com graduação em Direito e MBA em Gestão Pública".
Irmão, primo, esposa?
Ainda no pleito para deputado estadual, outro desempenho de destaque foi de Vinícius Cozzolino (União Brasil). Ele teve 56.655 votos de Magé, na Baixada Fluminense, ou 45,5% do total no município, comandado por seu primo Renato Cozzolino.
Vinícius, eleito com um total de 70.270 votos, foi secretário de Governo na atual gestão do primo.
Em Duque de Caxias, segundo maior colégio eleitoral do estado, Rosenverg Reis (MDB) teve na cidade 83.387 votos (20,5%) para deputado estadual. Já Gutemberg Reis (MDB) ficou com 77.039 votos para federal (17,7%).
Eleitos, os dois são irmãos de Washington Reis, ex-prefeito do município, que se retirou do cargo para concorrer como vice na chapa do governador reeleito Cláudio Castro (PL), mas teve a candidatura barrada pela Justiça Eleitoral.
Em Angra dos Reis, Célia Jordão (PL) teve 31.363 votos na cidade para deputado estadual, ou 37,7%. Eleita com um total de 49.680 votos, ela é esposa do prefeito Fernando Jordão, do mesmo partido.
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