Bolsonaro aposta em Damares e igrejas evangélicas contra Lula no Nordeste
Derrotado nos nove estados do Nordeste no primeiro turno da disputa pelo Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, vai tentar diminuir a diferença para seu adversário no pleito, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), buscando votos em igrejas evangélicas.
Um comitê de mulheres foi formado, e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e a senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) serão as principais cabos eleitorais na região.
A previsão é que, entre quinta-feira (13) e sábado (15) da próxima semana, elas visitem todas as capitais do Nordeste. O foco principal do esforço serão as mulheres. Se tem dificuldades com o voto feminino, o presidente lidera no voto evangélico.
O esforço contará com pastores e bispos de projeção nacional como o pastor da Assembleia de Deus Silas Malafaia. Ele ajudou a organizar um encontro com 250 líderes religiosos na próxima quinta no Recife.
"É uma reunião para dar consciência. Para o povo do Nordeste não ser enganado e quebrar a ideia de que o Lula trouxe benefícios."
Menos razão, mais sentimentos. Em reunião em Brasília ontem, Damares Alves citou os argumentos que pedirá para as lideranças religiosas usarem na busca por votos. A senadora eleita disse que não adianta citar motivos racionais —como Pix e queda do desemprego—, mas "falar ao coração do pai e da mãe".
As críticas à esquerda e as consequências de uma vitória de Lula para as pautas conservadoras estão no topo dos argumentos. Organizador do evento de lançamento da campanha de Bolsonaro em Aracaju, o senador eleito Laércio Oliveira (PP-SE) convidou pastores para discursar no ato e levar esta mensagem.
"O melhor argumento são os valores bíblicos que são contrários ao progressismo da esquerda, como aborto, liberação das drogas, ideologia de gênero e demais pautas de costumes", declarou o senador eleito.
Faltam cabos eleitorais fortes no Nordeste. A decisão de apostar em lideranças religiosas ocorre em um contexto no qual o presidente não tem grandes cabos eleitorais no Nordeste. O papel de puxadora de votos caberá a Damares Alves e, principalmente, a Michelle Bolsonaro.
A primeira-dama deve ter um ritmo intenso de viagens na próxima semana. Na segunda e terça-feira, ela visita quatro capitais do Norte. Entre quinta e sábado, Michelle estará em todas as capitais do Nordeste.
O engajamento das lideranças evangélicas ocorre na mesma semana em que a primeira-dama afirmou que é preciso que as igrejas não se omitam. Em culto na Assembleia de Deus Ministério do Belém, em São Paulo, na terça-feira, Michelle disse que as igrejas evangélicas precisam se posicionar.
No mesmo dia, o bispo Samuel Ferreira recebeu Bolsonaro e a primeira-dama num culto na Assembleia de Deus Ministério de Madureira. Durante a pregação, ele declarou que vai correr o Nordeste entre o Piauí e a Bahia.
Contra a abstenção. Em reunião em Brasília ontem, Damares declarou que as chances de virar votos de Lula são mínimas. Ela sugeriu que as lideranças religiosas foquem em eleitores que não votaram no último domingo e naqueles que optaram pelos outros candidatos.
A senadora eleita pediu que deputados não desmobilizem suas equipes e organizem eventos como adesivaços. Damares ressalta que os participantes devem usar camisa verde e amarela, bandeiras do Brasil, e que estes atos devem ser grandes para repercutir na imprensa.
Na campanha boca a boca, ela afirmou que foi criado um grupo de WhatsApp para fornecer argumentos para conquistar votos. A senadora também disse que a campanha do presidente disponibilizou um QR Code que contém todas as informações sobre entregas do governo federal.
A orientação é usar a transposição do rio São Francisco e o Auxílio Brasil ampliado para atrair o eleitor nordestino. Até mesmo moradores do Distrito Federal, onde Damares se elegeu, estão sendo incentivados a procurar parentes nordestinos.
Sem mencionar fraude. A alegação de que as urnas eletrônicas não são seguras está fora do esforço de conquistar votos entre os evangélicos do Nordeste afirmou Damares na reunião de ontem. "Houve fraude? Nenhum de nós vai tocar neste assunto agora. Nós vamos falar sobre conquistar votos. Se teve problemas nas urnas, é o Ministério Público Eleitoral que vai investigar. Não somos nós."
Declaração sobre analfabetismo atrapalha. A estratégia para o Nordeste foi montada e as lideranças evangélicas estão sendo mobilizadas e abastecidas de argumentos. Mas a campanha de Bolsonaro está enfrentando dificuldades com a declaração do presidente que ligou a derrota nos nove estados da região ao analfabetismo.
"Lula venceu em 9 dos 10 estados com maior taxa de analfabetismo. Você sabe quais são esses estados? No nosso Nordeste."
Bolsonaro refuta as críticas, mas sua fala está sendo explorada por Lula para atacar Bolsonaro no Nordeste. Críticas à declaração devem estar nos discursos do petistas em suas viagens à região
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