Tática de Zambelli falha com marido, mas elege 70% de liga bolsonarista
Em março desse ano, durante a pré-campanha eleitoral, uma cerimônia em Brasília marcou a filiação de parlamentares bolsonaristas ao PL. O partido para o qual havia migrado o presidente Jair Bolsonaro (PL) lançou uma novidade na ocasião: uma frente de candidatos a deputado federal que concorreriam, um em cada estado, com o mesmo número de urna: 2210.
Articulado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), o coletivo exigia dos participantes a fidelidade absoluta a Bolsonaro. A "Liga da Lealdade", como ela foi batizada, teve sucesso parcial: dos 20 nomes que se candidataram, 14 foram eleitos, o que representa 70% do total. Mas algumas apostas do PL, inclusive o marido de Zambelli —Coronel Aginaldo, que concorreu no Ceará— não tiveram sucesso nas urnas.
Qual é a razão da "Liga da Lealdade"? O grupo foi criado para dar a Bolsonaro uma base consistente na Câmara e evitar "traições", que, segundo os aliados, o presidente sofreu ao longo do mandato. Eleito em 2018 pelo antigo PSL, Bolsonaro rompeu com o partido já no primeiro ano de governo e, sem conseguir viabilizar a própria sigla, acabou indo para o PL, para onde levou 17 deputados aliados.
"É nos momentos difíceis que a gente sabe se as pessoas são leais mesmo ou não", declarou Zambelli ao anunciar a criação da frente bolsonarista, em março. Segundo explicou ela na ocasião, o grupo exigia não apenas fidelidade ao presidente, mas também aos "posicionamentos em relação a Deus, pátria, família e liberdade".
Quem fez parte da frente? Inicialmente, a ideia da liga da lealdade era ter 27 candidatos, sendo um em cada estado e no Distrito Federal, todos compartilhando o número de urna 2210.
Ao final das costuras políticas, porém, foram confirmadas 20 candidaturas para a Câmara. Em sete unidades federativas —Acre, Alagoas, Distrito Federal, Maranhão, Piauí, Roraima e Tocantins—, não houve candidato.
Segundo Zambelli, os critérios de adesão ao grupo barraram alguns nomes e, ao final, não houve tempo para preencher as 27 vagas. "Os nomes que se apresentaram passaram por um crivo e esse trabalho começou a partir da filiação de cada um de seus integrantes, e o prazo para avaliação e estruturação de uma liga nacional ficou exíguo", explicou a deputada ao UOL Notícias.
Dos 20 nomes que concorreram, dez já tinham mandato na Câmara e os outros dez eram novatos na política. Entre os veteranos, além de Zambelli, havia nomes como José Medeiros (MT), que já foi deputado e senador, e Delegado Éder Mauro (PA), que irá para seu terceiro mandato na Câmara.
Já a turma de estreantes tinha nomes conhecidos apenas localmente, mas outros haviam ganhado projeção fora da política. Eram os casos do cantor Netinho (BA) e do jogador de vôlei Maurício Souza (MG), que foi abraçado pelo bolsonarismo ao fazer uma publicação contra uma nova versão do Superman em que o personagem é bissexual.
Como foi a campanha? Além de compartilhar o mesmo número de urna, a "Liga da Lealdade" esteve unida em alguns atos de campanha e outros eventos políticos. Em agosto, parte do coletivo foi à sede da PGR (Procuradoria-geral da República) para pedir a cassação do registro do PT, em uma tentativa de evitar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participasse das eleições.
"Durante a campanha conversamos bastante e trabalhamos com um plano de comunicação semelhante onde, não raro, dois ou mais integrantes da liga apareceram em peças de comunicação com o mesmo número", diz Zambelli.
A maioria dos membros do grupo dependeu de recursos públicos. Para 15 candidatos, os repasses do PL representaram 90% ou mais das receitas de campanha, seja do fundo partidário —verba que é distribuída anualmente às legendas— ou do fundo eleitoral. Apenas dois candidatos, Gustavo Gayer (GO) e Sanderson (RS), não recorreram ao dinheiro do partido.
Quem foi eleito? Dos 20 nomes que foram às urnas, 14 foram eleitos. Alguns foram campeões de votos: além de Zambelli e Éder Mauro e Gayer, Filipe Barros (PR), Capitão Alberto Neto (AM) e Cabo Gilberto (PB) ficaram entre os três mais votados em seus estados.
Com 946 mil votos, Zambelli acabou em segundo lugar em São Paulo, à frente de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, e atrás apenas de Guilherme Boulos (PSOL), que ultrapassou um milhão de votos.
Quem ficou pelo caminho? Seis nomes, porém, foram derrotados nas urnas. Um deles foi Coronel Aginaldo (CE), ex-comandante da Força Nacional e marido de Zambelli. Com pouco mais de 23 mil votos, ele acabou em 47º entre os candidatos do Ceará e ficou como suplente.
Mesma situação foi a de Tio Trutis (MS), que se elegeu em 2018 mas não conseguiu renovar o mandato. Em agosto, na largada da campanha, ele se tornou réu no STF (Supremo Tribunal Federal) pela acusação de forjar um atentado a tiros contra si próprio, em fevereiro de 2020.
Também não foi reeleita a deputada Major Fabiana (RJ), integrante da chamada bancada da bala. A policial militar recebeu R$ 2,5 milhões do fundo eleitoral do PL, a maior quantia entre os integrantes da frente da lealdade, mas acabou com 30.096 votos, ficando em 76º lugar entre os candidatos a deputado federal no Rio.
Questionada sobre o desempenho do grupo, Zambelli faz um balanço positivo. "Não nos reunimos para avaliar o desempenho, mas na minha avaliação, foi um excelente resultado. Não tenho conhecimento de outro projeto político com um resultado tão expressivo", diz.
O desempenho da "Liga da Lealdade"
Eleitos:
- Carla Zambelli (SP)
- Votos: 946.244 (2ª no estado)
- Mandatos na Câmara: 1 (2019-22)
- Verba do PL: R$ 2,026 milhões (94,81% da campanha)
- Filipe Barros (PR)
- Votos: 249.507 (3º no estado)
- Mandatos na Câmara: 1 (2019-22)
- Verba do PL: R$ 2,5 milhões (90,06% da campanha)
- Delegado Éder Mauro (PA)
- Votos: 205.543 (2º no estado)
- Mandatos na Câmara: 2 (2015-22)
- Verba do PL: R$ 1,526 milhão (95,74% da campanha)
- Gustavo Gayer (GO)
- Votos: 200.586 (2º no estado)
- Mandatos na Câmara: Estreante
- Verba do PL: Não recebeu
- Capitão Alberto Neto (AM)
- Votos: 147.846 (2º no estado)
- Mandatos na Câmara: 1 (2019-22)
- Verba do PL: R$ 1,026 milhão (95,85% da campanha)
- Cabo Gilberto (PB)
- Votos: 126.876 (3º no estado)
- Mandatos na Câmara: Estreante
- Verba do PL: R$ 176 mil
- Sanderson (RS)
- Votos: 86.690 (25º no estado)
- Mandatos na Câmara: 1 (2019-22)
- Verba do PL: Não recebeu
- Daniela Reinehr (SC)
- Votos: 84.631 (12ª no estado)
- Mandatos na Câmara: Estreante
- Verba do PL: R$ 2.526 milhões (99,39% da campanha)
- Maurício Souza (MG)
- Votos: 83.396 (37º no estado)
- Mandatos na Câmara: Estreante
- Verba do PL: R$ 606 mil (92,97% da campanha)
- José Medeiros (MT)
- Votos: 82.182 (4º no estado)
- Mandatos na Câmara: 1 (2019-22)
- Verba do PL: R$ 1.026 milhão (39,04% da campanha)
- Coronel Meira (PE)
- Votos: 78.941 (22º no estado)
- Mandatos na Câmara: Estreante
- Verba do PL: R$ 96 mil (89,72%)
- General Girão (RN)
- Votos: 76.698 (10º no estado)
- Mandatos na Câmara: 1 (2019-22)
- Verba do PL: R$ 1,376 milhão (96,50% da campanha)
- Coronel Chrisóstomo (RO)
- Votos: 24.406 (7º no estado)
- Mandatos na Câmara: 1 (2019-23)
- Verba do PL: R$ 1,243 milhão (95,44% da campanha)
- Silvia Waiãpi (AP)
- Votos: 5.435 (24ª no estado)
- Mandatos na Câmara: Estreante
- Verba do PL: R$ 126 mil
Não eleitos:
- Netinho da Bahia (BA)
- Votos: 31.448 (53º no estado)
- Mandatos na Câmara: Nenhum
- Verba do PL: R$ 562,9 mil (98,62% da campanha)
- Major Fabiana (RJ)
- Votos: 30.096 (76ª no estado)
- Mandatos na Câmara: 1 (2019-22)
- Verba do PL: R$ 2,52 milhões (100% da campanha)
- Coronel Aginaldo (CE)
- Votos: 23.292 (47º no estado)
- Mandatos na Câmara: Nenhum
- Verba do PL: R$ 526 mil (97,04% da campanha)
- Tio Trutis (MS)
- Votos: 21.784 (17º no estado)
- Mandatos na Câmara: 1 (2019-22)
- Verba do PL: R$ 1,026 milhão (99,03% da campanha)
- Dárcio Bracarense (ES)
- Votos: 16.360 (35º no estado)
- Mandatos na Câmara: Nenhum
- Verba do PL: R$ 126 mil (96,03% da campanha)
- Capitão Araújo Lima (SE)
- Votos: 8.506 (26º no estado)
- Mandatos na Câmara: Nenhum
- Verba do PL: R$ 126 mil (96,23% da campanha)
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