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Cade pede inquérito contra institutos que indicavam Lula na frente

Metade das pesquisas eleitorais avaliadas pela reportagem foram encomendadas por instituições financeiras - Divulgação/TSE
Metade das pesquisas eleitorais avaliadas pela reportagem foram encomendadas por instituições financeiras Imagem: Divulgação/TSE
Anna Satie, Beatriz Gomes e Weudson Ribeiro

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Brasília

13/10/2022 15h02Atualizada em 19/10/2022 13h04

O presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Alexandre Cordeiro Macedo, indicado por Jair Bolsonaro (PL) no ano passado, pediu hoje a abertura de um inquérito administrativo para apurar se os institutos de pesquisa manipularam os resultados das sondagens sobre intenção de voto no primeiro turno da eleição presidencial. No pedido, constam apenas institutos que apontavam a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, o que foi confirmado nas urnas no 1º turno.

Em ofício enviado hoje ao superintendente da autarquia, Alexandre Barreto e Souza, o dirigente diz que é "improvável que os erros individualmente cometidos sejam coincidências ou mero acaso", e indicam um "comportamento coordenado" das empresas Datafolha, Ipec e Ipespe.

Na avaliação dele, a suposta combinação entre os institutos seria ilícito administrativo contra a ordem econômica.

O pedido não cita a Brasmarket e o Instituto Equilíbrio Brasil, por exemplo, que divergiam dos demais e colocavam Bolsonaro em primeiro lugar nas intenções de voto, cenário que não se confirmou nas urnas no 1º turno.

Vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, o Cade investiga acusações de prática de cartel, decide sobre fusões de empresas, entre outras funções ligadas à livre concorrência. A indicação de Macedo à presidência foi defendida pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP).

Pesquisas divulgadas pelo Ipec, Datafolha e Ipespe na véspera do primeiro turno da eleição mostravam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 49% a 51% das intenções de votos válidos, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) ficava entre 35% e 37%. A margem de erro era de dois a três pontos percentuais para mais ou para menos.

O resultado das urnas em 2 de outubro foi de 48,43% dos votos válidos para Lula, enquanto Bolsonaro teve 43,2%. Os dois se enfrentarão no segundo turno, marcado para o próximo dia 30.

'Pesquisa não é prognóstico'

As diretoras do Datafolha e do Ipec, Luciana Chong e Marcia Cavallari, respectivamente, concederam entrevistas no dia seguinte à apuração, dizendo que as pesquisas não têm a intenção de prever qual será o resultado exato das urnas, mas mostrar qual é a intenção de voto do eleitor em um determinado momento.

"Não se pode dizer que houve erro, porque a pesquisa não é prognóstico. Ela é feita ao longo de toda a eleição, fizemos oito rodadas nessa eleição para mostrar a fotografia de cada momento", disse Chong.

Tanto ela quanto Cavallari afirmam que a diferença entre as pesquisas e o resultado das urnas tenha sido causada por eleitores que decidiram o voto de última hora.

"Acreditamos que teve um movimento de decisão de última hora, especialmente de eleitores de Ciro, Simone Tebet, indecisos e os que poderiam votar branco e nulo, e esse movimento acabou sendo mais em favor de Bolsonaro", avaliou Chong.

Ipec lamenta pedido de inquérito

Em nota enviada ao UOL, o Ipec disse lamentar mais uma iniciativa que atenta contra os institutos de pesquisas, que "apenas cumprem o seu papel de mensurar a intenção de voto do eleitor, baseado em critérios científicos e nas informações coletadas no momento em que as pesquisas são realizadas".

"As variações entre as pesquisas e o resultado das urnas no 1º turno da eleição presidencial coincidirem em quase todos os institutos apenas demonstram a adoção de princípios estatísticos e modelos que suportam a atividade de pesquisa", continua.

O instituto também declarou que é uma empresa de capital privado e que trabalha de forma independente, sem ligação com grupos econômicos e até mesmo outro instituto de pesquisa.

"Pautamos a nossa conduta profissional e empresarial em princípios éticos, razão pela qual o Ipec repudia veementemente ações baseadas em teorias que querem confundir e induzir a sociedade à desinformação, com o claro propósito de desestabilizar o andamento das atividades de pesquisa."

Presidente do Cade foi indicado por Bolsonaro

Alexandre Cordeiro Macedo, que era superintendente-geral do Cade desde 2017, foi indicado por Bolsonaro para assumir a presidência do órgão em junho de 2021.

O nome foi apoiado pelo ministro da Casa Civil e presidente do PP, Ciro Nogueira, que defendeu Cordeiro Macedo em sabatina no Senado em julho do ano passado. "O senhor Alexandre Cordeiro Macedo tem vasta experiência na área do Direito, com ênfase em direito administrativo e em direito econômico, tendo já ocupado cargos importantes na hierarquia do Cade, conselheiro e superintendente geral", afirmou ele na ocasião.

Logo após a apuração do primeiro turno das eleições apontar que a disputa presidencial não terminaria naquele dia, Nogueira foi às redes sociais dizer que as empresas de pesquisa cometeram um "escândalo", e pediu que os eleitores de Bolsonaro se recusem a responder os institutos antes do segundo turno.

"Depois do escândalo que cometeram, todos os eleitores do presidente Bolsonaro só tem uma resposta às empresas de pesquisa: não responder a nenhuma delas até o fim da eleição", escreveu.