Bolsonaro critica suspensão de inquérito e diz que Moraes é o vice de Lula
O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), criticou hoje o ministro e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, pela decisão de suspender inquérito da Polícia Federal e apuração do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para investigar institutos de pesquisas eleitorais.
Segundo o mandatário do Palácio do Planalto, a interrupção das investigações perpetuará o que ele chama de "mentiras" —em referência aos levantamentos publicados por institutos como Datafolha, Ipec (ex-Ibope) e outros.
"O que ele [Moraes] fez? Não pode investigar. Ou seja, os institutos [de pesquisa] vão continuar mentindo. E é nessas mentiras... Quantos votos ele [Moraes] arrasta para o outro lado? Geralmente, votam em quem está ganhando. Dois, três milhões de votos", declarou Bolsonaro em entrevista aos canais do YouTube "Paparazzo RubroNegro", "InstaVerde" e "Futbolaço".
As críticas direcionadas às amostras eleitorais ocorrem por conta da diferença entre as intenções de votos em Bolsonaro apresentadas nas pesquisas na véspera do primeiro turno e o resultado das urnas.
As empresas negam qualquer tipo de má-fé e afirmam que as discrepâncias não podem ser tratadas como equívocos, pois a disputa eleitoral é dinâmica e os estudos são uma fotografia de cada momento.
Moraes agiu em favor de Alckmin, diz Bolsonaro. O presidente associou a decisão de Moraes à suposta tentativa de favorecer a candidatura do rival no segundo turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele também acusou o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) de agir em favor do vice de Lula, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB).
Parabéns, Alexandre de Moraes. O seu candidato não é o Lula. O seu candidato é o Alckmin
Jair Bolsonaro
"Você [Moraes] foi secretário de Segurança do Alckmin em São Paulo. Com o Alckmin governador. Nós sabemos para quem ele advogava no passado. E, na verdade, não é o Alckmin com o Lula. É o Alexandre de Moraes com o Lula. Essa que é a verdade", completou.
Decisão do TSE. Moraes considerou na decisão que nem a Polícia Federal nem o Cade teriam competência para conduzir investigações contra os institutos de opinião.
O ministro afirma que as apurações "parecem demonstrar a intenção de satisfazer a vontade eleitoral" de Bolsonaro. Desde o resultado do primeiro turno, o presidente e seus aliados têm atacado os institutos de pesquisa. Para Moraes, se isso se confirmar, as condutas podem caracterizar desvio de finalidade e abuso de poder.
Na Polícia Federal, o inquérito foi requisitado pelo ministro da Justiça, Anderson Torres, a partir de uma representação da campanha do candidato à reeleição.
O Ministério da Justiça afirmou que "a divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime, punível com detenção de seis meses a um ano e multa".
Já o presidente do Cade, Alexandre Cordeiro Macedo, indicado por Bolsonaro no ano passado, pediu a abertura de um inquérito administrativo para apurar se os institutos de pesquisa manipularam os resultados das sondagens sobre intenção de voto no primeiro turno da eleição presidencial.
Em ofício enviado a Alexandre Barreto e Souza, superintendente da autarquia, Macedo diz que é "improvável que os erros individualmente cometidos sejam coincidências ou mero acaso", e indicam um "comportamento coordenado" das empresas Datafolha, Ipec e Ipespe.
Arrependimento por fala sobre virar jacaré. Durante a entrevista aos podcasts no YouTube, Bolsonaro voltou a dizer que se arrepende de algumas de suas falas relacionadas à pandemia do coronavírus. Ele mencionou especificamente uma declaração, que ocorreu em dezembro de 2020, quando comparou a possibilidade de efeitos adversos da vacina da Pfizer com "virar jacaré".
"Arrependimento existe, mas não tem como voltar atrás", comentou o presidente. "E daí, no calor da disputa, eu falei o que... Vai que você vire jacaré. Isso aí foi quase que mortal para mim. Alguns levaram ao pé da letra. Virar jacaré, ignorante, terraplanista... Se pudesse voltar atrás, mas não posso. Lamento, me desculpe, lamento."
Segundo ele, o objetivo era apenas usar uma "figura de linguagem" para "advertir a população".
Quis advertir a população com uma figura de linguagem de que estava tomando uma vacina sem saber os efeitos colaterais
Jair Bolsonaro
Bolsonaro disse ainda que recebeu conselhos de aliados para que fingisse ter ele próprio tomado a vacina contra a covid-19 —o chefe do Executivo federal ficou marcado por ser um ferrenho crítico da imunização obrigatória. "Muitos falaram: toma aí uma água destilada e diz que tomou vacina", afirmou. "(...) Não tomei. É um direito à minha liberdade, meu Deus do céu."
Crianças com covid. Bolsonaro voltou a mentir em relação a casos de mortes de crianças que foram infectadas pelo coronavírus durante a pandemia.
Na visão do presidente, "a molecada não sofre com o vírus" e, por esse motivo, ele considerou um erro o fato de as escolas terem sido fechadas em razão do agravamento da crise sanitária. O argumento do chefe do Executivo federal: "alguém conhece algum filho de alguém que morreu de vírus?", questionamento feito aos entrevistadores dos podcasts.
Falei: escola, a molecada não sofre com o vírus, pô. Tanto é que você não viu moleque morrendo de vírus por aí. Alguém conhece algum filho de alguém que morreu de vírus? Não tem
Jair Bolsonaro
Em julho desse ano, reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que, em dois anos, as mortes de crianças até cinco anos de covid-19 foram mais do que o triplo das causadas, em uma década, por outras 14 doenças que podem ter mortalidade evitada por vacinação e outras ações de saúde.
Em 2020 e 2021, 1.508 crianças morreram de covid. Já as doenças que compõem a Lista Brasileira de Mortes Evitáveis somaram 44 óbitos nesse período. Entre 2012 e 2021, totalizaram 498 mortes.
A lista, formulada por especialistas de diversas áreas ligadas à saúde infantil e coordenada pelo Ministério da Saúde, reúne as seguintes doenças: neurotuberculose, tuberculose miliar, tétano neonatal, tétano, difteria, coqueluche, poliomielite, sarampo, rubéola, hepatite B, caxumba, rubéola congênita, hepatite viral congênita e meningite meningocócica do tipo B.
Suspeitas em relação a óbitos. Bolsonaro também voltou a lançar suspeitas infundadas sobre a confiabilidade dos dados registrados pelas secretarias municipais e estaduais de saúde quanto aos óbitos por covid-19.
Para o presidente, crianças teriam morrido de outras causas durante a pandemia, mas acabaram entrando no registro de óbitos causados pelo coronavírus devido a interesses econômicos. Bolsonaro não tem provas que corroborem a afirmação.
"O que aconteceu em grande parte... O moleque tinha um traumatismo craniano. Caiu de bicicleta. Levava para o hospital, colocavam em um leito de UTI covid. Por quê? Porque ele recebia, por dia, [do governo] R$ 2.000. Enquanto a UTI para traumatismo era R$ 1.000. Botava lá. E se o cara morreu de traumatismo craniano, o garoto, tinha que colocar covid."
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