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Com petistas contra, defesa de Lula do governador de AL é vitória de Renan

O ex-presidente Lula (PT) e o governador afastado Paulo Dantas (MDB) em caminhada de campanha em Maceió - PEI FON/ZIMEL PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O ex-presidente Lula (PT) e o governador afastado Paulo Dantas (MDB) em caminhada de campanha em Maceió Imagem: PEI FON/ZIMEL PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL e do UOL, em Maceió

14/10/2022 04h00Atualizada em 14/10/2022 14h11

A ida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Maceió ontem (13), no dia do julgamento do afastamento do governador Paulo Dantas (MDB), foi considerada uma vitória do senador Renan Calheiros (MDB-AL). Por temor de risco à imagem, a ala mais ligada ao petista na campanha e em Alagoas preferia que a visita, marcada desde a semana passada, fosse adiada.

Nos bastidores, aliados temiam que o desgaste do presidente frente às graves denúncias que atingiram o governador prejudicasse a campanha nacional em um estado em que Lula já não tem tanta folga. Muitos foram contra a manutenção da visita, mas o próprio ex-presidente bateu o martelo.

O candidato ao governo alagoano foi afastado inicialmente na última terça (11), após operação da PF (Polícia Federal). Ele é apontado como principal beneficiário e "autor intelectual" de suposto esquema de desvio de verba pública por meio de "rachadinha", prática em que servidores, muitas vezes fantasmas, repassam parte de seus salários. Ontem, durante o comício, o afastamento foi mantido pelo STJ (Supremo Tribunal de Justiça) por 10 votos a 2.

No fio do bigode. Alçado ao cargo de governador tampão, em maio, como sucessor do então governador Renan Filho (MDB), quando deixou o governo para concorrer ao Senado, Dantas se tornou o "governador de Lula" em Alagoas por costura de Renan, o pai.

O senador tem boa relação com Lula desde o governo do petista, entre 2003 e 2010, mas foi estreitando o laço com os anos. Durante o impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016, Renan foi um dos opositores dentro do MDB e se tornou adversário da gestão Jair Bolsonaro (PL) —o que o aproximou mais da esquerda. Desde a pré-candidatura do petista, o alagoano foi o principal patrocinador do apoio do MDB (mesmo que em partes) a ele.

Tanto Lula quanto Renan lembram disso e, segundo aliados, a aliança não precisou ser explicitada em nenhum momento após a deflagração da operação. O petista, que costuma falar ser "do tempo que se fazia acordos no fio do bigode" e eles eram cumpridos, sabe que não poderia desmarcar a viagem.

Aliados eram contra. Dentro do círculo mais próximo, interlocutores não tinham a mesma certeza. Um dos objetivos da vinda de Lula ao Nordeste é não só eleger os governadores que ele apoia como aumentar sua margem nos estados.

Embora tenha vencido, Alagoas foi o estado em que recebeu menos votos na região (56%) e perdeu em Maceió. Fazer um evento no dia em que o STJ julgaria o afastamento, como ocorreu, certamente não o ajudaria a conquistar mais votos, argumentaram.

Ao UOL, um petista histórico de Alagoas disse avaliar que a visita se deve mais à força que Renan tem junto ao PT nacional. Para o interlocutor, não seria o momento para o encontro que, agora, traria mais "estragos que benefícios" ao ex-presidente.

"Não é momento para uma visita assim. Nacionalmente, o estrago é muito maior que o benefício, temos essa consciência. Mesmo que os argumentos sejam parecidos com o que houve com Lula em 2018", disse.

Muitos petistas falavam ainda que Lula não tinha qualquer contato com Dantas antes da eleição e não deveria arriscar a imagem em meio a uma situação delicada. O petista não abriu mão.

Segundo fontes, isso teria sido considerado um desrespeito público e uma falta de lealdade a Renan, caso o encontro fosse adiado ou cancelado. Para os articuladores, poderia ser encarado, também, como confissão de culpa para Dantas. Por decisão pessoal, o ex-presidente manteve a agenda.

Tinha pessoas que falavam 'Lula, não vai lá não, porque tem um candidato que foi condenado'. Quero dizer para vocês: eu jamais deixarei um companheiro no meio do caminho
Lula, em comício em Maceió

Defesa aberta. No comício, como já havia feito em entrevista coletiva nesta semana, Lula defendeu abertamente a candidatura de Dantas e questionou a operação da PF, sugerindo, sem citar nomes, influência do deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, que apoia o senador Rodrigo Cunha (União-AL), concorrente do governador ao Palácio.

"Eu sei o que você tá passando", disse Lula. "Na minha opinião, todo mundo é inocente até que se prove o contrário."

Essa condenação precipitada sua me cheira à minha condenação. Por que eu fui condenado? Exatamente para evitar que eu fosse candidato em 2018
Lula, a Dantas

Recém-chegado. Paulo Dantas é um político discreto e, ao longo do seu mandato de deputado estadual (2019-2022) não defendeu, nem se posicionou com a esquerda nacional. Em regra, quem fez a defesa de Lula no plenário foi o deputado Ronaldo Medeiros (PT-AL), único petista da Alal (Assembleia Legislativa de Alagoas).

Paulo era aliado de Arthur Lira (PP) e do governo Renan Filho (MDB) até pelo menos o início do ano. Entretanto, a maior ligação dele foi sempre com o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (MDB).

Marcelo e Arthur também tinham uma aliança, mas que acabou desfeita porque ambos queriam o comando do União Brasil. Com mais força nacional, Lira tomou o partido em Alagoas para ele e depois ainda filiou Cunha (então PSDB). Em resposta, Marcelo guinou todo o grupo de deputados que ele controlava na assembleia para o MDB. Na janela partidária, o MDB ganhou 9 novos filiados —Dantas já era do MDB.

O eleito. A partir dali, o nome de Dantas passou a ser defendido pelo chamado grupão da Assembleia e pelo então governador Renan Filho (MDB) para ser o candidato ao mandato tampão e ser o nome do grupo para as eleições de 2022.

Dantas venceu a eleição para o mandato tampão em maio com 21 dos 27 votos. O vice dele, José Wanderley Neto (MDB) foi eleito vice e está interinamente no cargo de governador.

Na eleição de 2022, o MDB de Victor e Renan elegeu 14 dos 27 deputados estaduais. Nem todos votam em Lula, como é o caso público de Bruno Toledo, deputado que entrou no MDB mas é critico do petista.