Lula defende governador de AL afastado: 'Jamais deixarei um companheiro'
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu o governador afastado de Alagoas e candidato à reeleição Paulo Dantas (MDB) —que foi alvo de operação da PF (Polícia Federal) no início da semana. O petista fez comício nesta quinta-feira (13), em Maceió, no mesmo instante em que o STJ (Supremo Tribunal de Justiça) julgava o afastamento de Dantas.
O candidato ao governo alagoano foi afastado inicialmente na terça-feira (11), após operação da PF. Ele é apontado pela PF como principal beneficiário e "autor intelectual" de suposto esquema de desvio de verba pública por meio de "rachadinha", prática em que servidores, muitas vezes fantasmas, repassam parte de seus salários.
A suspeita é que parte dos valores sacados pelos funcionários tenha sido usada para pagar despesas pessoais de Dantas, como a aquisição de imóveis de luxo.
No fim da tarde desta quinta (13), logo após o comício de Lula na capital alagoana, a Corte Especial do STJ validou o afastamento de Dantas, por 10 votos a 2. Os ministros reduziram, porém, o período de afastamento, de 180 dias para até o dia 31 de dezembro deste ano. O governador continua elegível.
Com viagem marcada ao Nordeste, Lula não só manteve a rota, como defendeu Dantas.
Tinha pessoas que falavam 'Lula, não vai lá não, porque tem um candidato que foi condenado'. Quero dizer para vocês: eu jamais deixarei um companheiro no meio do caminho."
Lula durante comício em Maceió
A agenda em Maceió incluiu um cortejo, com Lula e Dantas na mesma caminhonete, lado a lado. O deslocamento começou por volta das 16h e durou pouco mais de 30 minutos —foi o mais curto entre as caminhadas do segundo turno. Depois, todos subiram em um trio elétrico.
Casos parecidos? Sem ter analisado o caso, Lula, que disse que não pretendia "se meter" por "não ser advogado", acabou comparando o processo de Dantas com o seu —quando foi preso pela Operação Lava Jato, em 2018, e ficou encarcerado por 580 dias em Curitiba. As condenações foram suspensas em 2021.
"Eu sei o que você tá passando", disse Lula. "Na minha opinião, todo mundo é inocente até que se prove o contrário."
Essa condenação precipitada sua me cheira a minha condenação. Por que eu fui condenado? Exatamente para evitar que eu fosse candidato em 2018."
Lula, a Dantas
Enquanto o ex-presidente falava, o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) era criticado pela multidão com gritos ofensivos. Na disputa eleitoral do estado, o adversário de Dantas, o candidato Rodrigo Cunha (União Brasil), é apoiado por Lira.
Acusações. Aliados de Dantas fazem ligação entre a deflagração da operação, no meio do segundo turno, e a influência do deputado na PF local.
"Quem é que tem interesse em evitar que você seja candidato? Alguém. Não vou dizer o nome, mas a verdade é que você deve ter um esquema nesse estado que pertence a essa oposição", disse Lula —a fala pode ser interpretada como uma referência a Lira, aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Tomei a decisão de vir para mostrar minha solidariedade, minha confiança, e que você seja julgado decentemente e depois, se fizerem provas, aí podem te condenar. Mas te condenar para você não ser candidato é um erro que já cometeram comigo", finalizou Lula —antes do STJ definir pela validação do afastamento.
Defesa própria. Sem citar o processo ou se defender citando provas ou contestando fatos, na sua vez de falar, Dantas refutou a operação e alfinetou Lira.
"Tentam agora no segundo turno, de maneira autoritária, mesquinha e perversa, montar uma grande armação contra a minha pessoa, mas eu quero dizer ao alagoano e alagoana, fui prefeito por duas vezes, deputado estadual, líder do governo de Renan Filho [MDB] e e estou há cinco meses no governo de Alagoas", disse Dantas —que era vice de Renan Filho, governador que saiu do cargo para concorrer ao Senado.
Sou ficha limpa e não devo nada à Justiça. Rodrigo Cunha, Arthur Lira, vocês não são soberanos. Quem vai escolher o governador de Alagoas é o povo de Alagoas."
Paulo Dantas, governador afastado
Dantas tenta a reeleição no estado —ele ficou em primeiro lugar no primeiro turno das eleições e se mantém na liderança nas pesquisas de intenção de voto. No início deste mês, teve 46,64% dos votos e seu adversário, Cunha ficou com 26,74%.
Mais emedebistas. Antes dos discursos, na caminhonete junto de Lula e Dantas, também estavam o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o ex-governador Renan Filho.
No trajeto pelo centro, o trio elétrico seguiu repetindo "Lula é Paulo e Paulo é Lula". O ex-presidente pediu a fala rapidamente durante o cortejo e, sem citar o caso, defendeu voto em Dantas.
O governador afastado também fez um discurso curto. "Hoje é dia de festa, dia de Lula em Alagoas", bradou, agradecendo a presença dos apoiadores.
Influência. O apoio de Lula a Dantas foi costurado por Renan Calheiros —a quem é atribuído o não adiamento da viagem à capital alagoana.
Na avaliação do senador, com a operação ocorrida a poucos dias da visita, teria sido considerado um desrespeito e uma falta de lealdade por parte de Lula caso o encontro fosse adiado ou cancelado. Para os articuladores, seria, também, confissão de culpa para Dantas.
Muitos petistas argumentam, no entanto, que Lula não tinha qualquer contato com Dantas antes da eleição e não deveria arriscar a imagem em meio a uma situação delicada. Após conversar com Renan, Lula pessoalmente defendeu a ida e a manutenção do apoio.
Aliado antigo do petista e grande articulador do apoio do MDB a Lula, Renan fez um dos primeiros a discursar no trio elétrico e criticou o atual governo.
Essa gente que tá aí é capaz de qualquer coisa para impedir que o povo eleja seus governantes."
Renan Calheiros, senador
Defesa dos pares. As lideranças locais defenderam Dantas, sem citar o processo diretamente. Renan Filho citou o que chamou de legado para justificar a sucessão e o apoio.
"Está em jogo a continuidade das mudanças que o estado vem fazendo nos últimos anos", disse Renanzinho. "Não vão conseguir", completou o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), vice-prefeito de Maceió e vice na chapa de Dantas.
Querem levar essa eleição na mão grande, na mão grande não vão levar as eleições não. Não é nas conspirações silenciosas que tribunais, afrontando direitos e a democracia, que vão fazer. Esse genocida que está no Palácio do Planalto vai ser enxotado."
Randolfe Rodrigues (Rede-AP), senador
Por outro lado, no Twitter, Lira comemorou a decisão do STJ. "O povo de Alagoas não merece e não quer esse candidato de Renan Calheiros no poder", escreveu.
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