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Amigos de venezuelanas negam prostituição em local com ação social

São Sebastião (DF) tem projetos de ajuda humanitária para venezuelanos - Eduardo Militão/ UOL
São Sebastião (DF) tem projetos de ajuda humanitária para venezuelanos Imagem: Eduardo Militão/ UOL

Do UOL, em Brasília

16/10/2022 16h19Atualizada em 16/10/2022 17h09

Amigos e vizinhos das venezuelanas visitadas por Jair Bolsonaro (PL) em 2021 reforçaram que o local não era usado para prostituição infantil, ao contrário do sugerido pelo presidente em entrevista na semana passada. Eles pediram anonimato e conversaram com o UOL neste domingo (16), em São Sebastião, uma das cidades do Distrito Federal.

Eles confirmam entrevista concedida por uma das venezuelanas ao UOL: não havia prostituição, mas ação social.

Uma das pessoas ironizou Jair Bolsonaro, dizendo que, se houvesse mesmo prostituição com adolescentes no local, o presidente da República deveria ter tomado uma atitude, como denunciar o crime à polícia, ao Ministério Público ou à Defensoria.

O local visitado por Bolsonaro é uma rua bem movimentada em São Sebastião, em que os moradores hoje comemoram a eleição para deputado distrital de Rogério do Morro da Cruz (PMN), morador da região. Um evento político aconteceu hoje.

Venezuelanos são atendidos por entidades

Várias instituições fazem ou fizeram trabalhos sociais com venezuelanos em São Sebastião. Alguns exemplos são a Rede Bartô, a Cáritas, da Igreja Católica, e projetos dos governos federal e do Distrito Federal.

No centro da cidade, a Rede Bartô atuou até o ano passado, informou Fernanda Maciel, presidente da entidade. Na periferia, a Igreja Católica atende cerca de 80 indígenas venezuelanos, dentre as quais mais de 20 crianças com reforço escolar, atendimentos médicos e abrigo.

"Acompanhei de perto uma parte da ação social em São Sebastião em 2019. Na época, o trabalho era mantido por uma iniciativa que envolvia vários países e viabilizado pela Cáritas Internacional. Os venezuelanos de São Sebastião contavam ainda com o apoio de uma igreja Assembleia de Deus local. Eu e minha família fomos lá diversas vezes e não vimos nada parecido com o que o PR [presidente da República] descreveu", escreveu a publicitária Gabriela Seraine, no Instagram.

Em conversa com o UOL, Seraine confirmou as informações. Ainda no post, ela disse: "É nojento ele [Bolsonaro] julgar um grupo de adolescentes por estarem maquiadas".

Bolsonaro sugeriu prostituição infantil

Em uma entrevista na semana passada, Bolsonaro disse que foi a São Sebastião e que viu um grupo de 15 a 20 meninas "bonitas" venezuelanas de 14 e 15 anos "se arrumando" num sábado . "Se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha..."

"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, 'posso entrar na tua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, [num] sábado de manhã, se arrumando —todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora. E como chegou neste ponto? Escolhas erradas."

Políticos da oposição aproveitaram a declaração de Bolsonaro para criticar o trecho "Pintou um clima", ao associá-lo ao sentimento por relações indevidas com menores de idade. O presidente protestou: "O PT ultrapassou todos os limites", disse.