Alvo de ações por fala sobre venezuelanas, Bolsonaro monta ofensiva a Lula
Alvo de ao menos três ações no Poder Judiciário por ter usado a expressão "pintou um clima" ao se referir a adolescentes venezuelanas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados montam ofensiva contra adversários que usarem o episódio como arma eleitoral em favor do ex-presidente Lula (PT).
Integrantes da equipe jurídica do candidato à reeleição dizem ver margem para conseguir, no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), derrubar publicações em redes sociais que o associam ao crime de pedofilia. Em outra frente, congressistas apoiadores do mandatário deverão reforçar a estratégia de resgatar frases controversas do petista sobre aborto e outros temas da chamada pauta de costumes, cara ao eleitorado de Bolsonaro.
Outra medida adotada pela equipe tem sido promover anúncios com a frase "Bolsonaro NÃO é pedófilo" nas redes sociais. "Ainda é cedo para calcular os danos que essa distorção covarde da fala do presidente pode provocar. Estamos focados em nivelar o jogo", disse um membro da campanha bolsonarista ao UOL, que afirmou que a expectativa é o que tema seja abordado por Lula no debate, realizado hoje, às 20h, em parceria com Folha de S.Paulo, TV Bandeirantes e TV Cultura.
Na sexta-feira (14), em entrevista ao canal Paparazzo Rubro-Negro, no YouTube, o presidente disse que, durante um passeio de moto pela região administrativa de São Sebastião, nas proximidades de Brasília, teve contato com meninas de 14 e 15 anos.
"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na tua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, num sábado de manhã, se arrumando —todas venezuelanas. E eu pergunto: Meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora. E como chegou neste ponto? Escolhas erradas", disse o presidente na entrevista.
Ao UOL, uma das venezuelanas que mora na casa visitada por Bolsonaro afirmou que, naquele dia, o local servia de espaço para uma ação social de corte de cabelo e design de sobrancelhas. De acordo com ela, duas das adolescentes presentes eram sua filha e sua sobrinha.
Desde a tarde de ontem, a declaração de Bolsonaro sobre as jovens repercute nas redes sociais. O assunto chegou a ser um dos mais comentados no Twitter, com os termos "Bolsonaro pedófilo" e "Bolsonaro pervertido" ultrapassando a marca de 100 mil citações.
Randolfe Rodrigues e PSOL acionam STF
Após a repercussão do vídeo de Bolsonaro, o senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) acionou o STF (Supremo Tribunal Federal), em que pediu à ministra Rosa Weber que determine a abertura de investigação contra Bolsonaro a fim de oferecer proteção às menores vítimas de supostos crimes sexuais, bem como a sua devida e necessária responsabilização por suas omissões.
"As condutas públicas e reiteradas do presidente Jair Bolsonaro, de verdadeiro desprezo às mulheres —embora tente vender-se indevidamente como o protetor de mulheres e vulneráveis— refletem na condução de políticas públicas básicas para o país e também merecem ser combatidas. Ademais, não só as disposições constitucionais, internacionais e legais que protegem as mulheres são violadas pela conduta do presidente Bolsonaro", diz o congressista.
As falas de Bolsonaro têm sido difundidas nas redes sociais por críticos, que o acusam de pedofilia. A deputada eleita Erika Hilton (PSOL-SP) protocolou hoje notícia-crime contra o presidente, também no STF. A medida será acompanhada pelo presidente nacional da sigla, Juliano Medeiros.
Bolsonaro passa acintosamente todos os limites morais ao afirmar que 'pintou clima' entre ele e pré-adolescentes de 14 anos, e mostrar que, mesmo numa situação em que ele, em tese, vislumbrou exploração sexual infantil, sua atitude foi a de interesse e não de proteção daquelas meninas
Líder do PSOL na Câmara dos Deputadas, Sâmia Bomfim (SP)
Em ofício enviado à PGR (Procuradoria-Geral da República), o deputado distrital Leandro Grass (PV-DF) questiona se Bolsonaro não acionou as autoridades competentes "para que providências fossem tomadas" no caso e pede ao procurador-geral Augusto Aras que instale procedimento investigatório para apurar se houve crime por parte do chefe do Executivo.
Bolsonaro se defende de críticas
Na madrugada deste domingo (16), o presidente usou suas redes sociais para se defender das críticas de que tem sido alvo por causa das declarações sobre meninas venezuelanas.
"Fiz uma live de dentro de uma casa de umas meninas venezuelanas. Devia ter umas 12, 13, 14 meninas. Eu mostrei a minha indignação, estava na região periférica de Brasília, quando eu parei e vi umas meninas de 14, 15 anos, arrumadas, meninas humildes, e eu pedi para entrar na casa delas", disse.
Sem explicar o que quis dizer com a expressão "pintou um clima" nem se informou a alguma autoridade sobre a suposta situação de exploração sexual, ele afirma que o PT tenta explorar as falas sobre o encontro de maneira deturpada.
"O PT recorta pedaços [da entrevista ao podcast] como se eu estivesse atrás de programas. Fiz uma live, foi demonstrado o que estava acontecendo. O PT pega pedaço e fala 'pintou um clima'? Que vergonha é essa? Sempre combati a pedofilia. Se fosse algo escondido, tudo bem, mas não foi nada escondido. Abri uma live por indignação sobre o que estava acontecendo."
Filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também usou seus perfis nas redes sociais para defender o pai.
"É completamente abominável a mais nova mentira da esquerda! Pegou uma fala mal colocada do presidente para lhe imputar uma fake news nojenta! Um pai com uma filha e duas netas! Bolsonaro sempre foi um ferrenho combatente da pedofilia", afirmou o congressista.
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