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Ex-ministro de Dilma, amigo de Kassab: por que Afif topou 'missão Tarcísio'

Ex-assessor de Guedes, Guilherme Afif Domingos coordena plano de governo de Tarcísio em SP - Elaine Menke/Câmara dos Deputados/29.mar.2022
Ex-assessor de Guedes, Guilherme Afif Domingos coordena plano de governo de Tarcísio em SP Imagem: Elaine Menke/Câmara dos Deputados/29.mar.2022

Do UOL, em São Paulo

16/10/2022 04h00

"A minha missão aqui me foi delegada pelo nosso querido e comum amigo Paulo Guedes: 'Vai ajudar o Tarcísio'", contou Guilherme Afif Domingos (PSD), 79, sobre o pedido do ministro da Economia para que ele fosse para a campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo de São Paulo. A declaração foi dada em maio, dias depois de Afif deixar o cargo de assessor especial de Guedes para coordenar o plano de governo de Tarcísio.

Empresário e político com mais de 40 anos de vida pública, Afif tem passagens por diferentes governos e prestígio junto a políticos de diferentes matizes. Em 1989, quando concorreu à Presidência, teve Guedes como seu guru econômico. Agora, é cotado por Tarcísio, líder nas pesquisas de intenção de voto, para fazer parte de um eventual governo.

Foco no empreendedorismo. Descendente de libaneses e italianos, Afif é formado em administração de empresas, presidiu entidades ligadas ao comércio, como a ACSP (Associação Comercial de São Paulo), e sempre esteve ligado ao universo do empresariado.

É um dos arquitetos do Simples, regime de tributação diferenciado para pequenos empresários, e, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), discutiu a lei que instituiu o MEI (Microempreendedor individual), sancionada pelo então presidente em 2008. Os dois foram deputados constituintes na década de 1980.

Camaleão político. O político tem passagens pelos últimos três governos —Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL)— e ainda foi o vice do então tucano Geraldo Alckmin no governo de São Paulo.

Questionado pelo UOL Notícias sobre sua facilidade em transitar entre diferentes governos, Afif se define como uma "pessoa de bandeira".

Eu sou uma pessoa de tema, sempre estive ligado ao empreendedorismo, ao universo da pequena empresa

Prefácio de obra de Olavo de Carvalho. Afif escreveu a introdução de uma coletânea de artigos do escritor e guru bolsonarista Olavo de Carvalho, morto em janeiro deste ano, publicada pelo Diário do Comércio, jornal editado pela ACSP. Olavo escreveu artigos na publicação por quase dez anos.

"Como liberais, acreditamos no confronto de ideias, mas, infelizmente, o que se assiste no Brasil, é a predominância quase esmagadora, tanto na mídia, como nos ambientes universitários, de uma única corrente de pensamento", escreveu Afif na obra, intitulada "Cartas de um terráqueo ao planeta Terra".

Segundo ele, essa "única corrente", por em algumas ocasiões, "diferenciada por nuances, leva a maioria dos observadores a acreditar que existe um debate verdadeiro entre as diversas posições e opiniões divulgadas com frequência".

Um (ex) crítico no governo. Em 2009, Afif chamou o PAC, um dos principais programas do governo de Lula, de "Plano de Abuso da Credulidade".

Na mesma ocasião, chegou a afirmar que a então ministra Dilma Rousseff não tinha "biografia política para comandar um país". "É a mesma coisa que você entregar um Boeing para quem nunca pilotou um teco-teco", comparou à época.

A então presidente Dilma Rousseff (PT) conversa com Afif Domingos em cerimônia no Palácio do Planalto - Alan Marques/Folhapress/28.jul.2015 - Alan Marques/Folhapress/28.jul.2015
A então presidente Dilma Rousseff (PT) conversa com Afif Domingos em cerimônia no Palácio do Planalto
Imagem: Alan Marques/Folhapress/28.jul.2015

Quatro anos, depois, no entanto, Dilma o indicou como ministro da então recém-criada Secretaria da Micro e Pequena Empresa —na época, a escolha conseguiu conciliar a questão político-partidária de inclusão do PSD no rol dos ministros e o perfil técnico para a função.

A presidente destacou, na ocasião, que Afif tinha "papel relevante em todos os processos que, nos últimos anos, resultaram no estímulo e na valorização das micro e pequenas empresas no país".

Com a reforma ministerial de 2015, a pasta foi extinta e ele foi para a presidência do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), onde permaneceu com a chegada de Temer.

Apesar de ter se afastado do PT, Afif disse, em 2018, em uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que Lula deveria ter tido preservado o seu direito de defesa "até o fim".

'Juntos chegaremos lá'. Afif se lançou ao Palácio do Planalto em 1989, na primeira eleição da redemocratização. Até Bolsonaro se lançar à reeleição pelo PL este ano, ele tinha sido o único candidato da sigla ao posto.

O então candidato teve naquela campanha o economista e hoje ministro Paulo Guedes como um dos responsáveis pelo seu plano de governo. O jingle "Juntos chegaremos lá" ficou famoso na TV.

Guilherme Afif Domingos observa pôster de Paulo Maluf com um adesivo seu colado no rosto do candidato na eleição presidencial de 1989 - Jorge Araújo/Folhapress/26.set.1989 - Jorge Araújo/Folhapress/26.set.1989
Guilherme Afif Domingos observa pôster de Paulo Maluf com um adesivo seu colado no rosto do candidato na eleição presidencial de 1989
Imagem: Jorge Araújo/Folhapress/26.set.1989

"Queremos acabar com esse atraso, porque direita e esquerda são um atraso. Nós vamos para a modernidade, para o novo, vamos com a juventude, com as mulheres, com as crianças e com aqueles homens que acreditam que podem mudar. É por isso que eu estou aqui", dizia ele uma de suas inserções na TV.

Terminou a eleição em sexto lugar, com 4,84% dos votos. Fernando Collor (na época no PRN) e Lula (PT) disputaram o segundo turno naquele ano, com o primeiro sendo eleito.

Referência para Kassab. Ao UOL Notícias, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, destacou a "seriedade" e o "idealismo" de Afif. "Sempre o tive como uma das minhas principais referências políticas", disse o político.

Os dois se aproximaram na década de 1980, quando Afif convidou Kassab para integrar o conselho de empreendedores na ACSP —na época, o presidente do PSD ainda era estudante da USP (Universidade de São Paulo).

O então prefeito de São Paulo Gilberto Kassab e o então vice-governador de São Paulo Afif Domingos se cumprimentam enquanto AfifO então prefeito de São Paulo Gilberto Kassab e o então vice-governador de São Paulo Afif Domingos se cumprimentam enquanto Afif mostra num guardanapo de papel a sigla do novo partido que criariam - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress/18.mar.2011 - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress/18.mar.2011
Kassab e Afif se cumprimentam enquanto o segundo mostra num guardanapo de papel a sigla do novo partido que criariam
Imagem: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress/18.mar.2011

Kassab e Afif se uniram ao ex-governador Claudio Lembo para fundar o PSD, em 2011.

Pessoas próximas aos dois contaram que o fato de Afif coordenar o plano de governo de Tarcísio foi um fator importante para que Kassab definisse a aliança para a disputa do governo paulista —o vice, Felício Ramuth, é do partido. À reportagem, o presidente do PSD disse que a escolha do amigo por Tarcísio foi um "acerto".

Cargo em eventual governo. Em maio, durante um evento com Tarcísio na ACSP, Afif disse que o trabalho de coordenar o programa de governo do candidato era mínimo e elogiou a vocação dele de "tocador de obra". "O programa de governo está aqui, na cabeça dele [Tarcísio]. Ele sabe o que ele quer. Vamos fazer diretrizes", disse.

Na última terça-feira (11), ao falar sobre a composição de seu secretariado, caso eleito, o candidato do Republicanos disse que seu coordenador de campanha fará parte da equipe, sem especificar qual pasta ele ocuparia.

"Quando eu trouxe o Afif para coordenar o plano de governo, eu estou dando a sinalização que é um plano focado no empreendedorismo, no crédito para o micro e pequeno empreendedor, focado na redução da carga tributária, focado na livre iniciativa, na construção do emprego (...) O Afif vai estar na equipe de governo? Seguramente", respondeu.