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Governo procurou igreja que ajuda venezuelanas, diz diretor da Cáritas

Paulo Morais, da ONG Cáritas - Eduardo Militão/ UOL
Paulo Morais, da ONG Cáritas Imagem: Eduardo Militão/ UOL

Do UOL, em Brasília

16/10/2022 17h04

O governo de Jair Bolsonaro (PL) procurou a ONG Cáritas, entidade da igreja Católica que ajuda venezuelanos em São Sebastião, em Brasília, horas depois da polêmica em que o presidente da República e candidato à reeleição sugeriu que mulheres visitadas por ele em 2021 atuariam com prostituição de adolescentes. Mas as venezuelanas e amigos delas ouvidos pelo UOL negaram. Eles disseram que Bolsonaro visitou um projeto de ação social com refugiados do país estrangeiro.

Uma fonte contou ao UOL que os representantes do governo foram à ONG Cáritas neste domingo (15) solicitando informações sobre as venezuelanas. Sem informações, voltaram a circular pela cidade do Distrito Federal.

Mais tarde, o diretor da ONG, Paulo Morais, disse, em entrevista a jornalistas, que foi acionado por uma pessoa do governo cujo nome não se lembra. Ele afirmou que o representante pediu uma reunião às 15h30 com um representante do Ministério dos Direitos Humanos ou com a própria titular da pasta. Segundo Morais, o tema da conversa não foi antecipado.

No entanto, o diretor da ONG negou a existência de prostituição com venezuelanos em São Sebastião. Embora não conheça as mulheres visitadas por Bolsonaro em abril de 2021, ele disse que recebeu relatos de que elas estão assustadas com a repercussão da entrevista do presidente, que sugeriu exploração sexual de adolescentes com refugiados da Venezuela na região.

Durante a entrevista, militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do Palácio do Planalto aguardavam à distância as palavras do diretor da ONG. Quando a entrevista terminou, eles falaram, reservadamente, aos jornalistas que não haveria mais nenhuma reunião no local.

Depois, Morais confirmou aos jornalistas que a reunião realmente foi cancelada.

Movimentação acontece horas antes do debate

As movimentações do governo e do GSI da Presidência ocorrem horas antes do debate presidencial entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), na noite deste domingo promovido pelo UOL em parceria com a Band, a Folha de S.Paulo e TV Cultura.

Em uma entrevista na sexta, Bolsonaro disse que foi a São Sebastião e que viu um grupo de 15 a 20 meninas "bonitas" venezuelanas de 14 e 15 anos "se arrumando" num sábado. "Se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha..."

"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, 'posso entrar na tua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, [num] sábado de manhã, se arrumando —todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora. E como chegou neste ponto? Escolhas erradas"

O episódio foi explorado pela oposição. Políticos aproveitaram a declaração de Bolsonaro para criticar o trecho "Pintou um clima". O presidente protestou: "O PT ultrapassou todos os limites", disse em live feita na madrugada.