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Ao contrário de Bolsonaro, Tarcísio não vai explorar tiros em Paraisópolis

Do UOL, em São Paulo

18/10/2022 16h29

A campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo de São Paulo não pretende explorar o caso do tiroteio que encerrou ontem uma agenda na comunidade de Paraisópolis, na capital paulista. O episódio, porém, foi utilizado na própria segunda (17) pela equipe do presidente Jair Bolsonaro (PL), que já inseriu o caso na propaganda eleitoral gratuita na TV.

Para interlocutores de Tarcísio, o caso é "assunto encerrado". Eles ressaltaram que o próprio candidato enfatizou não ter sido alvo de atentado e que pretende apresentar "conteúdo" para tratar do problema da violência em comunidades.

Horas depois do episódio, em uma declaração à imprensa, o ex-ministro da Infraestrutura descartou que os tiros tiveram conotação política ou eleitoral e afirmou, sem provas, que foi alvo de um "ato de intimidação do crime organizado".

Investigações conduzidas pela Polícia Civil apontam que a ação ocorreu porque criminosos armados foram surpreendidos por policiais à paisana, que faziam a segurança da agenda do candidato na comunidade. Um suspeito foi baleado e morreu.

Ontem, quando questionado sobre o assunto, Tarcísio disse que o episódio não seria explorado e que sua campanha seguiria normalmente.

'Atacados por criminosos'. Apesar de o assunto ser visto como "página virada" na campanha de Tarcísio, Bolsonaro, padrinho político do candidato, levou ao ar na sua propaganda eleitoral o caso do tiroteio ontem à noite.

"O candidato a governador de São Paulo Tarcísio de Freitas e sua equipe foram atacados por criminosos em Paraisópolis", afirma o locutor da propaganda do presidente, que concorre à reeleição.

Além do tiroteio, a propaganda ainda cita:

Propaganda de TV que campanha de Bolsonaro levou ao ar hoje (18) - Reprodução - Reprodução
Propaganda de TV que campanha de Bolsonaro levou ao ar hoje (18)
Imagem: Reprodução

"Seguiremos trabalhando forte e de cabeça erguida contra o crime", completou o narrador.

Na propaganda eleitoral exibida hoje à tarde, o caso de Paraisópolis voltou a aparecer, mas mais brevemente, sem citar os casos da facada e da Michelle.

Discussão nas redes. Assim que se soube do tiroteio e da interrupção da agenda de Tarcísio, políticos e perfis ligados ao presidente usaram suas contas nas redes sociais para cravar que o candidato ao governo paulista havia sofrido um atentado.

Por trás da pressa em dizer que Tarcísio havia sido alvo do ataque, os posts relacionavam de forma mentirosa as ações do PCC (Primeiro Comando da Capital) ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT. É falso, por exemplo, um tuíte atribuído ao petista em que ele supostamente parabeniza moradores da comunidade pelo tiroteio durante a passagem de Tarcísio.

Governador diz que é possível descartar versão de atentado. Em evento na manhã de hoje, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), descartou a hipótese de que os tiros tenham ocorrido em decorrência de um atentado contra Tarcísio.

"Aparentemente, é possível descartar a versão de atentado. É um crime comum. Graças a Deus, o Tarcísio e a sua equipe não tiveram nenhum tipo de problema", disse, respondendo a um questionamento feito pela reportagem do UOL Notícias em uma agenda na capital paulista.

Já o secretário João Camilo Pires de Campos, da Segurança Pública, adotou uma postura mais cautelosa ao comentar o tema. "Há um inquérito robusto, analisando e pesquisando esse fato. Qualquer coisa que se diga ou se antecipe, não há prudência. Então, vamos aguardar."

O que aconteceu? Uma agenda de campanha de Tarcísio foi interrompida por tiros na manhã de ontem na comunidade, que fica na zona sul de São Paulo. Ele não se feriu.

A reportagem estava no local e ouviu ao menos 25 disparos. Segundo o UOL Notícias apurou com PMs que atuam na região, Tarcísio não era o alvo dos disparos.

Tiroteio em Paraisópolis durante agenda de Tarcísio de Freitas - Reprodução - Reprodução
Tiroteio em Paraisópolis durante agenda de Tarcísio de Freitas
Imagem: Reprodução

O candidato participava da inauguração do primeiro polo universitário da comunidade e conversava com integrantes do projeto no terceiro andar do prédio quando os disparos começaram do lado de fora, por volta das 11h20.

Assim, que os disparos começaram, integrantes da equipe de segurança do candidato e membros do projeto social pediram que os cerca de 30 presentes se abaixassem e ficassem longe das janelas.

Tarcísio deixou o local em uma van blindada, escoltado por seguranças, depois que a PM chegou ao local e os tiros cessaram, cerca de 15 minutos depois. Após o candidato deixar o prédio, policiais militares fortemente armados também orientaram que as demais pessoas saíssem do local às pressas.

Como foi a ação que resultou em tiroteio. A ação começou quando policiais militares à paisana, que estavam no entorno do evento que contava com a presença de Tarcísio, abordaram dois homens sem capacetes em uma moto. Entre eles, o homem que acabou sendo morto, que estava na condução do veículo.

Após uma discussão com os agentes, eles saíram do local e voltaram em um grupo com ao menos oito homens armados. Dois deles portavam fuzis. Foi nesse momento que ocorreu o confronto, com a participação dos policiais à paisana e de outros fardados, que estavam nas imediações, mas não foram vistos pelos criminosos.

Polícia identificou suspeitos. Dois homens foram identificados como suspeitos de participar do tiroteio. Ao todo, segundo a polícia, oito suspeitos participaram do tiroteio. Até o momento a polícia identificou Felipe Silva de Lima, 27, como o suspeito morto na troca de tiros, e Rafael de Almeida Araujo, que estava garupa da moto de Felipe.

Felipe chegou a ser socorrido e levado para o Hospital Campo Limpo, mas não resistiu e morreu. Rafael está foragido.