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Fala de Bolsonaro afronta proteção a mulheres e migrantes, dizem entidades

Jair Bolsonaro em visita a venezuelanos na comunidade Morro da Cruz, em São Sebastião (DF) - Reprodução
Jair Bolsonaro em visita a venezuelanos na comunidade Morro da Cruz, em São Sebastião (DF) Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

18/10/2022 17h37Atualizada em 23/02/2023 19h08

As afirmações do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o encontro com venezuelanas em São Sebastião (DF), em 2021, afrontam a proteção a mulheres e migrantes, diz nota assinada hoje por 21 entidades que atuam com imigração e refugiados.

"Tal manifestação afronta diretamente garantias asseguradas nas políticas do Estado brasileiro de proteção a adolescentes, mulheres e migrantes, e as coloca em ainda maior risco de violência pela estigmatização, desinformação e xenofobia", diz a nota.

Entre os signatários estão Cáritas Brasileira, Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, Conectas Direitos Humanos, Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante e Missão Paz.

Em pelo menos três ocasiões gravadas em vídeo, Jair Bolsonaro insinuou que havia exploração sexual de adolescentes na casa das venezuelanas em São Sebastião. A suspeita do presidente, de acordo com suas falas, decorre do fato de ter encontrado adolescentes maquiadas e arrumadas em um sábado de manhã.

Mas, como o UOL mostrou no domingo (16), a garagem da casa estava transformada em um salão de beleza como parte de uma ação social quando Bolsonaro chegou.

A fala do presidente promove desinformação sobre a comunidade venezuelana do Distrito Federal, uma vez que organizações da sociedade civil locais confirmaram que não há indícios da existência de redes de exploração sexual na região e não foram apresentadas provas sobre as graves insinuações efetuadas."
Nota divulgada por entidades

As entidades também demonstram preocupação com o fato de "a primeira-dama [Michelle Bolsonaro] e a senadora eleita Damares Alves terem forçado um encontro, em caráter sigiloso, sem a presença de organizações e instituições que atuam na defesa de crianças e adolescentes e pessoas migrantes, mesmo após a inicial recusa das líderes venezuelanas da comunidade".

No domingo, militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do Palácio do Planalto estiveram em um projeto social da Cáritas com imigrantes venezuelanos em São Sebastião. O objetivo era promover o encontro das venezuelanas com Damares e Michelle. A reunião ocorreu apenas no dia seguinte, em segredo.

'O momento requer que seja dada prioridade absoluta à proteção a essas adolescentes migrantes e às lideranças venezuelanas expostas neste episódio", conclui a nota.

O que Jair Bolsonaro disse

Em entrevista a um podcast na sexta-feira (14), Bolsonaro disse sobre o encontro: "Tinha umas 15, 20 meninas, [num] sábado de manhã, se arrumando —todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida". O vídeo viralizou porque o presidente usou a expressão "pintou um clima" após falar das adolescentes.

Em outra entrevista a um programa no YouTube, em 12 de setembro, Bolsonaro disse, sobre o mesmo episódio: "Tinha umas 15, 20 meninas nessa faixa etária, 14, 16 anos. Todas muito bem arrumadas, tinham tomado banho, estavam fazendo o cabelo. Venezuelanas. Estavam se arrumando para quê? Querem que eu fale? Para fazer programa"

Em 16 de maio, na abertura de uma feira de alimentos e bebidas, Bolsonaro discursou: "Tinha umas 20 venezuelanas, meninas bonitas de 14, 15 anos. Se arrumando para quê? Se arrumando sábado à tarde para quê? É isso que nós queremos para nossas filhas e netas?". A fala foi transmitida pela TV Brasil e em uma live no Facebook do presidente.

"Não tem nada a ver com o que ele está falando agora", disse ao UOL uma das venezuelanas que estava no encontro e que pediu para ter seu nome preservado.

"Esse dia foi uma ação que acontecia na casa. Uma brasileira que fazia curso de estética vinha até aqui para fazer a prática do que estava aprendendo, de corte de cabelo, design de sobrancelha. Então, nós reuníamos um grupo de mulheres e era isso o que acontecia naquele dia".

"Eu acho isso [fala do Bolsonaro] um absurdo. Não tem nada disso [prostituição]. A gente foi com esse objetivo, para treinamento e deixar elas mais bonitas", contou ao UOL a cabelereira Lu Silva, responsável pela ação social.

Após a repercussão, Bolsonaro divulgou nesta terça-feira (18) um vídeo para contemporizar as falas anteriores. Ao seu lado, estavam a primeira-dama Michelle Bolsonaro e uma representante no Brasil de um político da oposição venezuelana.

"Se as minhas palavras, que por má-fé foram tiradas de contexto, de alguma forma foram mal-entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas", disse o presidente.