Topo

Governo de SP: Veja íntegra da sabatina UOL/Folha com Fernando Haddad (PT)

Do UOL, em São Paulo

26/10/2022 12h26Atualizada em 26/10/2022 12h26

Durante a sabatina UOL/Folha nesta manhã (26), o candidato ao governo de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad, disse que Tarcísio de Freitas (Republicanos) é um aventureiro e chamou de "barbaridades" as propostas do adversário para o estado, como a retirada das câmeras dos uniformes policiais e a dispensa da vacinação para funcionários públicos.

Para o petista, Tarcísio não tem condições de governar São Paulo e vai entregar o comando para o Centrão. Ele também disse que fez muitos acenos ao eleitor de centro, mas que "não quer ganhar a qualquer custo. Não vale a pena". Veja a íntegra da sabatina, conduzida pelos jornalistas Fabíola Cidral e Leonardo Sakamoto, do UOL, e Carolina Linhares, da Folha de S. Paulo.

[Fabíola Cidral]: Olá! Bom dia. Seja bem-vinda, seja bem-vindo à nossa série de sabatinas promovidas pelo UOL e pelo Jornal Folha de São Paulo. Você já sabe a nossa missão aqui, no UOL e na Folha, é te ajudar. Quem você quer no comando do estado de São Paulo pelos próximos quatro anos? Estamos fazendo uma série de sabatinas, não só com o estado de São Paulo, mas de outras. Você prefere, em São Paulo, Haddad ou Tarcísio, que foram para o segundo turno? Convidamos os dois candidatos para uma hora de conversa, de entrevista. Infelizmente, o candidato Tarcísio de Freitas não aceitou participar da nossa sabatina. Portanto, hoje vamos entrevistar Fernando Haddad, do PT, que aceitou participar da sabatina, já está conosco aqui ao vivo. Olá, candidato Fernando Haddad, bom dia, seja bem-vindo.

[Fernando Haddad]: Bom dia, bom estar você.

[Fabíola Cidral]: Também conosco Leonardo Sakamoto, do UOL. Olá, Sakamoto. Bom dia!

[Leonardo Sakamoto]: Bom dia, Fabíola. Bom dia, Carolina. Bem-vindo, prefeito.

[Fabíola Cidral]: E Carolina Linhares do jornal Folha de São Paulo. Bom dia, Carol.

[Carolina Linhares]: Bom dia. Bom dia para todo mundo.

[Fabíola Cidral]: Vamos lá, candidato. Já participou aqui da sabatina, sabe como é. A gente começa falando um pouco da sua história, para quem ainda não conhece Fernando Haddad, um pouquinho da sua história, da sua formação, e depois a gente dispara o cronômetro para uma hora, para que a gente possa conversar, saber um pouco mais sobre o seu pensamento em relação ao Brasil e também suas propostas. Fernando Haddad nasceu em São Paulo, capital paulista, é professor universitário, formado em direito, mestre em economia, doutor em filosofia, foi ministro da Educação entre 2005 e 2012, foi prefeito da cidade de São Paulo entre 2013 e 2016, e disputou as eleições presidenciais de 2018 contra o atual presidente Jair Bolsonaro. Teve quase 45% dos votos. E neste ano disputa a sua terceira eleição, dessa vez, ao governo de São Paulo. No primeiro turno, teve 35,7% dos votos, contra 42,3% de Tarcísio. Foram mais de 8 milhões e 300 mil votos para Haddad.

Na última pesquisa divulgada ontem, aparece empatado tecnicamente com o candidato do presidente Jair Bolsonaro. A pesquisa Ipec revelou que Tarcísio tem 52% dos votos válidos, e Haddad, 48% dos votos válidos. Contando com a margem de erro, estão empatados tecnicamente. É claro que eu quero começar por isso, eu acho que é a notícia mais dente quente da sua campanha e da disputa aqui em São Paulo, queria saber se esse resultado da pesquisa Ipec trouxe ânimo à sua pesquisa depois do balde de água fria que aconteceu com o encerramento das urnas no primeiro turno. Muita gente ficou… seus apoiadores ficaram espantados com o resultado, né? E agora veio essa pesquisa mostrando empate técnico. Que ânimo isso traz para essa reta final, candidato?

[Fernando Haddad]: Fabíola, Carolina, Léo, é um prazer estar com vocês, poder conversar nessa reta final. É óbvio que pesquisa é sempre fotografia do momento, mas traz ânimo em virtude da tendência. Tendência é uma coisa que conta muito, sobretudo na reta final e quando a eleição está apertada, como é o caso da eleição agora, em São Paulo. Então eu acho que os partidos que estão na minha coligação estão muito animados. Eu tenho recebido manifestações, sobretudo do interior, de que há uma virada em curso, e eu acho que a gente tem toda a condição de chegar no domingo à vitória, se a gente souber trabalhar esses dias finais e se o meu adversário resolver participar de algum debate. Porque eu sei que ele está recusando sabatina, recusando entrevista, recusou três debates, SBT, Record e Cultura, e eu acho que o mínimo que ele deveria fazer, ele que mudou há seis meses para São Paulo, o mínimo que ele deveria, por respeito ao eleitor paulista, era se apresentar. Eu tive um debate com ele, na Bandeirantes, educadíssimo. Todo mundo elogiou o clima de debate, o clima de confronto de ideias, então ele não tinha razão nenhuma para se furtar a participar desses eventos. Eu lamento o fato de ele ter desaparecido. Espero que na quinta-feira ele compareça à Rede Globo, pelo menos, para dar uma satisfação para o eleitor de São Paulo.

[Fabíola Cidral]: Mas até a gente olhando aí o primeiro turno, que eu falei do "balde de água fria", você até abriu um sorriso aí, não comentou, mas eu achei curioso a sua expressão. Porque foi em alguns, né? As pesquisas todas mostravam, claro, o senhor à frente. A gente já entendeu tudo isso, as pesquisas estavam trazendo uma trajetória, teve o Rodrigo Garcia, e tudo mais, teve essa mudança de voto na urna. No entanto, todas as pesquisas até aqui mostram uma diferença, inclusive Datafolha. O último Datafolha dá dez pontos percentuais de diferença. Queria entender, e além de candidato, o senhor é um estudioso também da política, qual é o erro? Houve, na sua análise, de repente, no primeiro turno, um erro de análise do antipetismo no interior de São Paulo, por exemplo? Isso não foi captado? Porque isso era negado por alguns da sua campanha: "Ah, não, isso já era!". Houve algum erro, na sua análise, nesse primeiro turno, para que o resultado fosse esse?

[Fernando Haddad]: Não, o que houve na minha opinião, e aí é uma opinião mesmo, porque não me debrucei sobre os números todos, porque eu estou em campanha, mas eu acho que houve uma migração de votos do Rodrigo para o Tarcísio, na última semana. Eu acho que o Rodrigo errou na avaliação de que poderia ir para o segundo turno, não no lugar do Tarcísio, mas no meu. E na minha opinião esse erro que ele cometeu foi um erro fatal da campanha dele. O fato de ele ter utilizado todo o espaço da campanha do Edson Aparecido ao Senado para me atacar, imaginando que ele fosse para o segundo turno, e eu não, eu acho que isso comprometeu a campanha do Rodrigo.

Eu, na verdade, eu era minoritário na minha campanha. Eu queria ir com o Rodrigo para o segundo turno, porque eu achava que para a eleição presidencial era melhor ir com o Rodrigo do que com o Tarcísio, porque a gente eliminava o risco de São Paulo cair nas mãos do Centrão, que é o que está em jogo nessa campanha. Imagina você, o estado mais importante da federação, ser governado pelo Republicanos do Edir Macedo, pelo PTB do Roberto Jefferson, pelo PL do Waldemar da Costa Neto, pelo PP do Ciro Nogueira, estaríamos muito bem arrumados se essa tragédia acontecesse. Então, eu esperava que o Rodrigo fizesse um outro tipo de campanha. Mas, pensando melhor depois, lendo reportagens de junho, julho, eu acho que a aliança do Rodrigo com o Tarcísio já estava pré-agendada. Parece que houve um encontro inclusive da cúpula do PSDB com o próprio Bolsonaro, em junho, e isso foi reportado pelo jornal Valor Econômico, e eu entendi depois que já havia uma trama em curso que acabou não dando certo, né? O Rodrigo ficou de fora, e nós hoje estamos disputando em condições competitivas, na minha opinião.

[Fabíola Cidral]: Olhando para isso, candidato, o senhor acha que seu maior adversário é o antipetismo ou o Tarcísio?

[Fernando Haddad]: Olha, não consigo fazer muito bem essa divisão porque hoje a rejeição ao Tarcísio cresceu muito, e cresceu por razões... por questões propositivas. Essa ideia de vender a principal estatal paulista, a Sabesp, tirar as câmeras dos uniformes dos policiais, tornar a vacinação de criança facultativa, tornar facultativa a vacinação de funcionários públicos que têm interação com os cidadãos — caso típico de médico, enfermeiro, professor —, eu acho que essas propostas são uma loucura, uma aventura que ele está querendo trazer do Rio para São Paulo. Isso não vai funcionar em São Paulo. São Paulo é terra da modernidade, é terra da ciência. Eu, sinceramente, acho um milagre ele ter essa intenção de voto ainda, depois de propor tanta barbaridade para a gente aqui de São Paulo.

[Leonardo Sakamoto]: Candidato, na conversa que a gente teve na sabatina do primeiro turno, eu havia perguntado para o senhor a respeito da... e aí se encaixa no que a Fabíola perguntou, a respeito do tamanho do antipetismo em São Paulo, perguntei até se o senhor não achava que o antipetismo não atrapalharia, e o senhor disse na época que avaliava que em São Paulo o antibolsonarismo e o antidorismo são forças muito maiores. A partir dos resultados que saíram nesse primeiro turno, da situação que estamos agora, o senhor continua tendo essa avaliação, que o antibolsonarismo e o antidorismo são maiores do que o antipetismo em São Paulo?

[Fernando Haddad]: Na época que eu te respondi, as pesquisas todas indicavam essa realidade. A campanha do Bolsonaro, focada muito no antipetismo, aumentou o percentual de pessoas indispostas com o presidente Lula, com o PT. É verdade isso. Então a situação de um mês pra cá mudou porque a campanha do Bolsonaro investiu muito no antipetismo, e essa coisa, Sakamoto, essa coisa da religião me preocupa muito. Porque o bolsonarismo, uma das características do bolsonarismo é colocar uma religião contra a outra, e isso tem repercutido no seio de pessoas que têm uma fé mais fervorosa e que caem muitas vezes nesse discurso maluco de que alguém pretende fechar igrejas, de que alguém pretende instalar banheiro unissex em escola, são coisas que eu nunca li num documento, nunca li numa proposta, num plano de governo. O fato é que pelo Zap as coisas acontecem dessa maneira, e a gente não aprendeu ainda a lidar com o fake news como deveria. Não é um quadro de 2018. 2018, você sabe que eu fui vítima de fake news, e ali a gente não sabia nada, não sabia o que estava acontecendo. Se não fosse inclusive uma matéria da Folha de S.Paulo mostrando como é que se deu a máquina de fake news, talvez a gente tivesse até hoje sem saber. O fato é que a gente está aprendendo a lidar com isso, com a fake news. A própria Justiça Eleitoral acho que está melhorando e aperfeiçoando...

[Fabíola Cidral]: Nesses casos, candidato, desculpa só cortar, é que o senhor tá falando sobre fake news, e muitos casos relacionados à campanha nacional. Nesse caso, na sua análise, há uma mistura disso? Porque, por exemplo, aqui em São Paulo, a gente até participou de debates, o senhor até passou cola pra Tarcísio, estava algo ali bem amistoso, né? Ou teve também muita fake news estadual? Ou o que o senhor está falando é reflexo da disputa nacional?

[Fernando Haddad]: Acho que é reflexo mais da disputa nacional. Eu não acho, eu não vejo as nossas campanhas aqui no estado, eu não vejo acontecer o mesmo tipo de fenômeno que acontece no plano nacional. Então é óbvio que me afeta indiretamente, porque, quando cola uma fake news contra o Lula, isso me afeta, naturalmente. Porque os votos estão muito casados, né? O Ipec de ontem deu 52 a 48 pro Bolsonaro, 52 a 48 pro Tarcísio, então tá muito colado os votos. Então não há como não refletir. Mas a verdade é que as fake news que estão circulando sobre mim são as de 2018. São as mesmas de 2018.

[Fabíola Cidral]: Candidato, eu estava lendo uma história de bastidores ali, no dia seguinte da eleição, ou dois dias depois, que o senhor ficou muito bravo ali numa discussão a respeito sobre o resultado, né? Eu queria saber o que aconteceu, assim? Por que o senhor ficou bravo com algumas análises de campanha? O que te incomodou ao analisarem ali o resultado das urnas dentro da sua campanha?

[Fernando Haddad]: Você sabe que eu sou uma pessoa muito transparente, né, eu não dou informação em off, eu falo o que eu penso, eu até sou sincero pra além do que as pessoas acham razoável. Mas eu sou muito sincero. Eu acho que aquela plantação de notícias de que o Lula não teria ganhado no primeiro turno por conta da campanha em São Paulo ridículas! É a segunda vez em 11 eleições que o PT vai pro segundo turno. Em 11 eleições aqui em São Paulo, é a segunda vez, apenas, que nós vamos pro segundo turno. E eu te digo com toda a sinceridade: se nós não estivéssemos no segundo turno aqui em São Paulo, a situação nacional estaria muito difícil. Então o fato de eu estar no segundo turno dá segurança de que nós vamos ter paridade de disputa no plano nacional. Dá uma condição pro Lula aqui em São Paulo muito vigorosa, e o resultado do Lula tá aí, né? É o segundo melhor resultado da história no estado de São Paulo na eleição nacional. E a mais importante eleição nossa em 40 anos. Desde 1982.

[Leonardo Sakamoto]: Candidato, até pra retomar um pouco, o senhor falou de fake news, mas também falando dessas questões dos discursos contraditórios, nós tivemos aqui em São Paulo um episódio na qual a campanha... o candidato Tarcísio de Freitas e membros da campanha dele estavam em Paraisópolis no momento em que houve um tiroteio, e aí, inicialmente, eles falaram que foi um atentado contra eles, e depois voltaram atrás, a polícia disse depois, policiais disseram que não tinha relação com a campanha, mas a gente, ontem, né, nós fomos surpreendidos com a informação de que o... de um diálogo que vazou envolvendo membros da equipe em que eles pedem, eles ordenam que pra um cinegrafista que havia registrado o acontecimento, o tiroteio, que apagasse aquelas imagens, e aí a própria campanha depois disse que falou: "Não, vocês estão descontextualizando, né? Não é bem isso", essas imagens acabaram sendo veiculadas pela Jovem Pan, mas tem esse áudio de que foi pedido pra que fosse apagado, né? E a campanha disse que foi um erro de interpretação, tudo mais. Como é que o senhor avalia esse episódio?

[Fernando Haddad]: Olha, em primeiro lugar, eu quero registrar que a primeira providência que eu tomei quando soube do episódio em Paraisópolis foi ligar pro Tarcísio. Pra me solidarizar, pra saber se ele estava bem, porque uma coisa é política, uma coisa é disputa eleitoral, e a outra coisa é integridade das pessoas, psicológica e física. Então eu estava preocupado se ele estava bem psicologicamente, porque eu sabia que ele estava distante do tiroteio, mas ainda assim, ele podia ter ficado abalado com o episódio, ele tem família, ele tem filhos, a primeira providência foi ligar pra ele. Ele não me atendeu no momento que eu liguei, mandei uma mensagem, e ele me retornou já à noite pra contar do episódio, e ele falou pra mim: "Haddad, não tem nada de atentado. Eu vou desmentir isso porque não houve atentado. Foi um episódio ali, eu inclusive estava dentro do prédio, eu estava seguro onde aconteceu. Fosse um atentado, seria um atentado contra mim". Então ele foi o primeiro a me dizer de viva voz que não tinha acontecido atentado nenhum. Os bolsonaristas tentaram criar esse clima. Você vê aquele Mário Frias, aquele idiota completo, tentou me vincular àquele negócio, uma coisa absurda! Isso é típico deles, uma coisa ridícula que eles fazem. Mas o Tarcísio não fez isso. Agora, eu fiquei sabendo que houve essa... esse áudio, é um áudio que ninguém contesta a veracidade. Ninguém contestou que aquele diálogo ocorreu. Portanto, a integridade do áudio não foi colocada em discussão. E aquele áudio é muito grave. Porque é uma pessoa da equipe do Tarcísio praticamente intimidando um cinegrafista a apagar as imagens do que aconteceu em Paraisópolis. Do ponto de vista jurídico, obviamente que tem que ouvir os especialista e tal, mas eu sou formado em Direito, tenho OAB, do ponto de vista jurídico, isso é ilegal. Simples assim. Você tem que preservar os elementos que permitam a investigação policial chegar à verdade.

[Leonardo Sakamoto]: Na sua avaliação, foi uma destruição de provas então, a equipe do Tarcísio mandou destruir provas do que havia acontecido?

[Fernando Haddad]: Na minha avaliação, o profissional que intimidou, porque o cinegrafista não ia fazer isso, não é? Nenhum cinegrafista apaga uma imagem que ele registrou. Ele é um profissional da notícia, ele vai apagar uma imagem que ele registrou? Ou seja, aquilo era uma intimidação. Levar o sujeito para um lugar e intimidar, diz aí, "Apaga as imagens, porque isso não interessa que a população saiba o que aconteceu", isso é crime, gente! Isso aí não tem muito o que escapar.

[Fabíola Cidral]: O que está por trás disso?

[Carolina Linhares]: É isso que eu ia perguntar, qual é a sua desconfiança? A que serviria apagar esse vídeo? Qual é sua desconfiança em relação a esse episódio especificamente?

[Fernando Haddad]: Carolina, eu achei estranho desde o começo esse episódio. Falei na ocasião: "Está muito estranho isso aí". Porque inclusive eles tinham dito que os policiais militares estavam com câmeras nos uniformes, que, aliás, o Tarcísio é contra. Eu fico imaginando por que alguém é contra a transparência? Agora, eu não posso, eu não sou irresponsável de ficar fazendo ilações. O que eu estou dizendo é, objetivamente: a pessoa que intimidou o jornalista, o câmera, a apagar imagens, cometeu um ato ilícito. Você não pode fazer isso. Muito menos sendo uma pessoa de licença ou não, eu não sei se quem mandou apagar era aquele profissional que a Abin disse que estava de licença, mas uma pessoa da Abin, da Agência Brasileira de Inteligência, de licença, determina uma pessoa apagar uma imagem? Desculpa, mas em qualquer lugar do mundo, isso aí levanta suspeita. Agora, o meu papel não é de ficar investigando o que aconteceu, para isso que tem Polícia Civil no país, Polícia Federal no país. Você tem que saber o que aconteceu. Por que o cara mandou fazer isso? Não tem sentido uma pessoa de um órgão de inteligência mandar apagar imagem. Você tem que preservar a imagem. E se você vai colocar alguém em risco, você bota a imagem sob sigilo da autoridade policial. Não tem problema nenhum. Às vezes uma imagem não pode vir a público por razões de investigação, você a põe sob sigilo na mão da autoridade policial, e não mandar apagar. Mandar apagar, me desculpem, mas não tem razoabilidade nenhuma e é tipificado no Código Penal.

[Fabíola Cidral]: Esse episódio te ajudou na campanha de alguma maneira, na sua análise?

[Fernando Haddad]: Olha, eu não sei. A repercussão é muito ruim. Imagina se isso tivesse acontecido com alguém da minha equipe. Ia ser um escândalo. Porque como é que é isso? Vocês estariam me questionando aqui, qual a providência que eu tomaria em relação a isso. Eu te digo a verdade: se alguém da minha equipe cometer uma ilegalidade, eu entrego para as autoridades, eu não quero saber. Entende? Essas coisas não se brincam. Essas coisas não têm partido, não têm família, não têm. Essas coisas, ou você faz o que a lei determina, ou você está sendo cúmplice, ou conivente com o ato ilícito, e isso eu jamais serei, jamais compactuarei. Se eu identifiquei o erro, eu passo isso para o Ministério Público, para a imprensa, para a Polícia, alguém vai ficar sabendo do que aconteceu. Agora, a partir do momento que você toma conhecimento de uma ilegalidade e não faz nada, você está prevaricando. É crime também.

[Carolina Linhares]: Eu queria mudar um pouco de assunto, pegando dois ganchos aí do que o senhor falou. O senhor falou sobre a ausência do Tarcísio nos debates, né? Enfim, a gente sabe que ele cancelou aí com algumas emissoras, o senhor vem criticando isso. Agora, o presidente Lula, que é o candidato do senhor à Presidência da República, também cancelou a participação, coincidentemente, nos debates dessas mesmas emissoras. O senhor acha que é um erro do presidente Lula não comparecer ao debate?

[Fernando Haddad]: Olha, eu acho que o Tarcísio foi para muito além disso. Porque uma coisa é você querer, vou participar de dois debates, vou participar de três debates. Agora, ele não tem ido a nenhuma sabatina, ele não está dando entrevistas. O Roda Viva, o Roda Viva não é um debate, é um programa de entrevista, ele mandou o Kassab representá-lo no Roda Viva, nunca vi um negócio desse. Olha, eu não vou, mas eu quero o espaço para o Kassab que me apoia. O Kassab vai mandar no governo dele? Quem é que vai mandar no governo dele? Ele não é daqui, ele não conhece as pessoas daqui, ele não conhece os bairros daqui, não conhece as ruas daqui, não conhece as cidades daqui. Vai mandar quem para o debate? Achei ridículo o cara mandar o Kassab falar bem dele no Roda Viva? Qual é o medo da pessoa participar do Roda Viva?

[Carolina Linhares]: Mas o problema então é não participar das sabatinas, mas nos debates tudo bem?

[Fernando Haddad]: Eu acho que o problema é o conjunto da obra, Carolina. Depois do debate da Band, ele desapareceu, e ele é uma pessoa recém-chegada ao estado de São Paulo. O papel dele é se apresentar, ele não tem 50 anos de vida pública como o Lula. Ele tem seis meses de vida pública, ele nunca participou de uma eleição, ele quer ser governador do maior estado da federação sem nunca ter morado aqui, sem nunca ter matriculado um filho na escola daqui, sem nunca ter trazido a esposa pra cá. Ele não tem a menor ideia do que é o Estado de São Paulo. Não sabe o que é o Butantan, ele não sabe o que é a USP, não sabe o que é a Unicamp, não sabe o que é a polícia militar paulista, a polícia civil paulista, ele não sabe o que é a Sabesp. Ele não conhece esse estado. A obrigação dele é se apresentar para o estado. Ele quer ser o primeiro mandatário de São Paulo e não se apresenta? Ele quer pegar o vácuo do bolsonarismo e se tornar governador do estado sem nunca ter aparecido aqui?

[Fabíola Cidral]: Candidato—

[Fernando Haddad]: Acho que não é razoável. O comportamento dele não… não é razoável.

[Fabíola Cidral]: Mas ele se diferencia do Bolsonaro, na sua análise? Porque alguns falam isso, o Tarcísio está com o Bolsonaro, mas ele não é igual o Bolsonaro. Alguns colocam ele assim, ele é menos bolsonarista do que o próprio, do que o Bolsonaro, claro. E aí, chama atenção até algumas declarações de voto, né? Por exemplo, a gente pega o ex-governador José Serra, declarou voto a Lula e declarou voto a Tarcísio, dando a entender justamente isso. Como é que o senhor analisa esse posicionamento? Por exemplo, de José Serra e outros que apoiam Lula, mas apoiam Tarcísio no estado de São Paulo. O Tarcísio é menos bolsonarista ou não?

[Fernando Haddad]: Olha, eu até acreditava que fosse, mas eu não acredito mais. Porque é o seguinte, uma coisa é o que você pensa, e o Tarcísio tem formação técnica para saber que é errado tirar a câmera de policial, que é errado não vacinar uma criança, ele tem formação para saber disso. Se você trouxer ele para uma sala fechada e falar: Tarcísio, abre o jogo. Ele vai dizer para você: Não, tem que vacinar. Sim, câmera no uniforme policial é recomendável, porque diminui a letalidade, inclusive de policiais. Ele sabe. Agora, ele está se dispondo a um papel. Esse é o perigo. E ele vai ficar... ficaria se eleito, mais refém ainda das forças que o apoiam. Porque ele não tem o menor lastro no estado de São Paulo, nenhum lastro. O problema dele não é o que no íntimo ele pensa, o problema é o que ele está disposto a fazer para chegar ao poder. E ele está disposto a se desvirtuar para chegar ao poder, o que na minha opinião é tão grave quanto ser o Bolsonaro, é fazer o que o Bolsonaro pensa sem sequer acreditar nisso. Como são os casos que eu estou citando. São coisas absurdas, não são coisas razoáveis que estão em disputa. São coisas absurdas. Você vai parar de vacinar contra Poliomielite? Contra a paralisia infantil? Ah, é liberdade individual. Como assim? As pessoas estão numa escola, tem 30, 40, 50 alunos por sala de aula. Ah, o professor pode ou não se vacinar, como assim? Ele vai conviver com crianças, com jovens. Do que nós estamos falando? São Paulo não pode cair, é uma aventura isso aqui, esse Tarcísio é um aventureiro.

[Leonardo Sakamoto]: Candidato, a gente foi surpreendido também no domingo pela... por um... pelo ataque do ex-deputado Roberto Jefferson a uma equipe da Polícia Federal que tentava prendê-lo na sua residência em Comendador... em Levy Gasparian, Rio de Janeiro. O que acontece é o seguinte: a avaliação do candidato Tarcísio de Freitas, ele sugeriu inclusive numa entrevista à Rádio Bandeirantes que Roberto Jefferson enfrentava, ele criticou a ação, mas sugeriu que ele enfrentava problemas de saúde mental, ou seja, que o ato do Roberto Jefferson teria sido um ato tresloucado ou relacionado a um descompensamento. Eu queria que o senhor avaliasse, o senhor concorda com o candidato Tarcísio, o senhor acha que não foi uma questão de saúde mental, foi uma questão premeditada? Como é que o senhor avalia a resposta tanto de Tarcísio quanto de Bolsonaro a esse episódio?

[Fernando Haddad]: Ele é médico pra dar um laudo psiquiátrico pro Roberto Jefferson? É ele médico pra falar de vacina? Do que ele tá falando? Ele não é médico. Ele tentou escapar pela tangente, ao invés de condenar uma pessoa que tem na despensa, você tem arroz, feijão, sal, açúcar na tua despensa, o cara tem uma granada na despensa dele. Três granadas. Tem um policial, que eu soube ontem, eu não pude apurar a veracidade da informação, mas eu soube ontem que uma das pessoas vai ter que passar por uma cirurgia porque um estilhaço da granada parou na cabeça do policial, que estava cumprindo uma determinação judicial. Ele não estava lá fazendo outra coisa. Ele estava cumprindo uma determinação, sua obrigação legal. Uma pessoa que tem granada em casa merece algum tipo de defesa? Algum tipo de atenuante? Olha... Às vezes a impressão que me dá é que nós estamos vivendo dois universos: o universo do Tarcísio, que não é paulista, que não sabe do que tá falando, e a realidade. A realidade é a seguinte: um sujeito que é presidente de um partido, que apoia o Tarcísio, de quem ele se diz amigo em vídeo, uma pessoa que ele respeita muito. Pô, ele respeitava esse cara até outro dia, e agora ele tá chamando o cara de louco? Sem laudo pericial? Como é que é isso, entendeu? Eu acho que nós temos baixar a bola, baixar a bola, nós temos aí três, quatro dias pra eleição, vamos nos tranquilizar, gente, fazer conta do que nós estamos falando. Nós estamos falando de um sujeito que recebeu um policial federal com uma granada na mão. E que é presidente—

[Fabíola Cidral]: Por exemplo, mas a possível eleição de Tarcísio de Freitas em São Paulo, é só isso que eu quero entender, candidato, qual é o risco dessa situação que a gente tá falando, né? Porque muito tá sendo interpretado sobre essa atitude de Roberto Jefferson como uma desrespeito às instituições, como você recebe a Polícia Federal na sua casa com granadas e 50 tiros de fuzil, né? E isso é o que até hoje uma reportagem do UOL mostra, dentro dos grupos de Telegram dos bolsonaristas, fala que essa é uma atitude que tem que ser replicada, né? Que deve ser seguida, alguns dizem isso, grupos mais radicais, né? Eu queria só entender qual é a ligação que o senhor faz com o Tarcísio de Freitas exatamente. Há algum risco nesse sentido pro estado de São Paulo? Quer dizer, caso o Tarcísio de Freitas seja eleito nesse domingo, qual é o risco que São Paulo vai correr em relação a isso, a essa extrema-direita radical?

[Fernando Haddad]: O Tarcísio não vai mandar. Não vai governar o estado de São Paulo. É isso que vai acontecer, Fabíola. Ele não tem a menor condição de governar esse estado. Um estado que ele não conhece, um estado que ele não vai conseguir compor com as forças políticas pra dar respaldo ao que precisa ser feito. Um governador, um prefeito, um presidente, um ministro toma decisões difíceis. Não é como ele disse ali, ontem ele falou de Paraisópolis, depois que ele não conseguiu negar a veracidade do áudio, ele disse assim: "Deve ter sido num momento de pressão". Pressão é o que ele vai sentir a vida inteira governando São Paulo. Vão ser momentos de pressão o tempo todo.

[Fabíola Cidral]: Quem vai mandar, então? Se ele não vai mandar no estado, quem vai mandar?

[Fernando Haddad]: O centrão que vai mandar. O centrão é que vai mandar.

[Fabíola Cidral]: O centrão, quem é o centrão assim quando o senhor tá falando? Centrão no estado de São Paulo? Só explica melhor isso, candidato.

[Fernando Haddad]: Tô explicando. Ele vai cair nas garras, não tem como ele não cair nas garras do Valdemar da Costa Neto, não tem como ele não cair nas garras do Milton Leite, que manda hoje na Prefeitura e no Estado de São Paulo, que é um vereador que tem filhos deputados. Ele não tem como não cair nas garras do Edir Macedo e do Republicanos, ele não tem como! Ele é um homem isolado. Ele não tem time. Ele não tem. Ele vai importar?

[Leonardo Sakamoto]: Mas, Haddad, desculpa te interromper, mas o PL e outros partidos bolsonaristas cresceram muito na Assembleia Legislativa de São Paulo. Você também não cairia, não teria, acabaria ficando refém do centrão aqui em São Paulo também?

[Fernando Haddad]: Léo, eu fiz a conta, se os partidos democráticos de centro e centro-direita aceitarem o convite para negociar as decisões que vão ser tomadas na Assembleia, eu posso prescindir completamente do centrão. E eu tenho certeza que essas forças vão cair na real. Como vão cair no plano nacional. Por que o PSDB nacional está apoiando o Lula? Por que a Simone Tebet está apoiando o Lula? Talvez seja ministra do Lula? Por que o PDT está apoiando o Lula? Porque nós precisamos repactuar a República, e nós temos uma chance, tanto o PSDB quanto o PT, como não estavam aliados, eram adversários, contaram com essas forças para completar a maioria necessária para governar. Hoje nós temos uma situação diferente, em que essas forças, que são o rebotalho da ditadura, chegaram ao poder e estão transformando este país em um país autocrático e fundamentalista. Se a gente não entender os riscos que esse país está correndo e não unirmos as forças que promoveram a redemocratização para fazer uma transição, eliminando e isolando o extremismo, nós vamos cometer um erro muito grave. E você viu o discurso do Lula na PUC? Foi lapidar. Ele falou: "Este é governo que é um governo amplo, é um governo para reconstruir este país, as bases constitucionais deste país. Nós temos que isolar o extremismo, que representa a maior ameaça que esse país já viveu. Não tenho dúvida de que para o Lula é muito mais difícil, porque nós estamos falando de 513 deputados federais, mas aqui na Assembleia, são ao menos cem deputados, nós podemos, fazendo a conta, eu tenho cerca de 30 deputados comigo, para compor maioria, eu preciso de mais 20, 30 deputados estaduais comprometidos com princípios republicanos e constitucionais. E vamos negociar as medidas necessárias para que o Estado avance e isolar essa turma, que não merece confiança, pelo que fez com o Brasil e com São Paulo.

[Carolina Linhares]: O senhor está falando de defesa da democracia, eu queria trazer um tema que o Tarcísio tem inserido na campanha dele nessa última semana, que é a questão da censura e da liberdade de expressão. Ele tem falado disso por causa das decisões do TSE a respeito da Jovem Pan. A gente sabe que combater a desinformação é um desafio, realmente. Agora, o senhor não acha que realmente essa questão de um tribunal dizer quais são os temas e assuntos que um veículo pode abordar ou não, não é uma brecha perigosa que está se abrindo aí para frente, no sentido da defesa da democracia que o senhor está dizendo?

[Fernando Haddad]: Durante a campanha eleitoral, quem tem que zelar pela qualidade da veiculação é a Justiça Eleitoral. Se você está sendo difamado, se você está sendo injuriado, se você está sendo caluniado, você não tem o tempo da justiça comum para ter a reparação, porque o tempo da justiça comum, como o próprio nome diz, se você me calúnia, eu entro com uma ação contra você, eu vou esperar dois, três anos e vou ter a reparação. Na Justiça Eleitoral, isso é diferente. Você não tem o tempo da Justiça comum porque o dano que está sendo causado não é um dano só ao ofendido, é um dano ao eleitor, que está sendo desinformado. Então é óbvio que… Faça a conta retrospectivamente, se eu pudesse ter evitado aquelas barbaridades que falaram sobre kit gay, sobre mamadeira, sobre absurdos, coisas com as quais eu nunca tive contato, eu não tive tempo de recorrer à Justiça porque a Justiça não estava aparelhada para me proteger e proteger o cidadão, porque não é só proteger a reputação de um professor que está se colocando à disposição da sua comunidade, é respeitar o eleitor que precisa ter a melhor informação possível sobre quem é candidato para julgar a conveniência de votar num ou noutro.

[Carolina Linhares]: Mas fora do período eleitoral, o senhor defende esse tipo de decisão, ou não?

[Fernando Haddad]: Não. Fora do período eleitoral, você tem o tempo da reparação. Você pode contar com a Justiça comum. Agora, durante os 20 dias, 30 dias da eleição, você tem que ter um expediente mais rápido, para salvaguardar a integridade das pessoas, a integridade moral das pessoas. Você manda uma notícia que é absurda sobre uma pessoa… Isso vale para mim também. Se eu começar a ofender o Tarcísio aqui, ele tem que buscar reparação dele. Tanto é que a nossa disputa é uma disputa programática. Quando eu falo dele, eu falo programaticamente, eu falo: "Eu sou contra as ideias do Tarcísio, sou contra a questão das câmeras, que ele está dizendo, sou contra vender a Sabesp", eu digo exatamente o que eu sou contra e os riscos que ele representa para São Paulo, que ele desconhece por nunca ter morado em São Paulo, por nunca ter educado um filho em São Paulo, por nunca ter aberto uma empresa em São Paulo.

[Fabíola Cidral]: Candidato, o senhor disputou a eleição com Bolsonaro, a gente está nessa reta final, a gente tem falado aqui, o senhor já trouxe o assunto nacional várias vezes, então eu vou trazer também. O senhor acha que tem risco do Bolsonaro ser reeleito? Muita gente neste momento falando assim, numericamente Lula está à frente, algumas pesquisas mostraram um empate técnico no limite máximo da margem de erro. Apesar de vários episódios que poderiam afetar a campanha de Bolsonaro, ele não é afetado, né? Não há uma queda desde o início da campanha eleitoral aqui do segundo turno pra cá, uma queda de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto. Hoje, qual é a sua análise em relação à possibilidade de Bolsonaro ser reeleito?

[Fernando Haddad]: Olha, eu sou uma pessoa que quando... uma coisa é quando você faz uma análise fria e a distância, outra coisa é quando você está no tatame, entendeu? Quando você está na disputa. Eu olho para a pesquisa com algum interesse, mas eu não me movo por pesquisa. Até o juiz apitar, você tem que estar tentando fazer o melhor possível. Então, eu, tanto na minha campanha quanto na eleição nacional, a minha recomendação é a mesma: Defenda as suas ideias, vire voto, milite, lute pelo que você acredita, lute pelo país dos seus sonhos, pelo estado dos seus sonhos. Então não me fiaria em vantagem numérica. Até porque é apertada, 53, 54, não é uma coisa... não é 60/40. Então tem que trabalhar e trabalhar muito.

[Fabíola Cidral]: Quer dizer, o risco é alto. É isso, candidato? Porque até a gente estava conversando com o Marcelo Freixo recentemente e foi muito interessante a conversa com ele, porque ele também não está mais disputando, fica mais à vontade para falar sobre isso. E ele dizia, a gente é surpreendido com esse bolsonarismo que domina metade do país. O que está acontecendo? Apesar de tudo que é divulgado? Eu queria muito te ouvir sobre isso, porque sei também das suas análises, dos seus estudos, como entender esse fenômeno?

[Fernando Haddad]: Olha, a extrema-direita, ela, em geral, cresce no momento de crise econômica e de meios de comunicação novos. As redes sociais é um fenômeno muito novo. Quando surgiu o rádio, nos anos... na década de 20 do século passado, quando ele se tornou um meio de comunicação de massa, e veio a crise da guerra, e depois a Crise de 29, também você viu a emergência da extrema-direita no mundo com as consequências conhecidas, uma tragédia humanitária com milhões, dezenas de milhões de mortos. Quer dizer, a extrema-direita, ela provoca a morte das pessoas. Nós estamos vivendo um momento delicado. Não é como cem anos atrás, mas tem semelhanças. Uma crise econômica grave, internacional, que aconteceu em 2008, e uma rede social que é uma novidade do ponto de vista de comunicação. Então nós temos que zelar pela democracia e pelas nossas liberdades. Não é um fenômeno brasileiro, é um fenômeno internacional, mas no Brasil se revelou da forma que se revelou, inclusive pelo nosso passado trágico. Nós temos um passado que ainda não foi superado. Aqui é uma sociedade patriarcal, patrimonialismo, em grande medida, racista, e nós temos que superar isso. Então nesses momentos de crise, esse susto acontece. Agora, a vitória da liberdade vai acontecer. O que você tem que fazer é reduzir o dano que esse extremismo provoca, e derrotá-lo nas urnas, para evitar que ele escale. Porque um segundo mandato do Bolsonaro vai ser dez vezes pior do que o primeiro, porque ele vai se sentir autorizado a fazer o que ele faz todo dia. Todo dia ele joga na confusão. Todo dia ele joga na crise.

[Carolina Linhares]: Falando de derrota nas urnas, o senhor falou agora há pouco, o senhor explica a derrota do senhor em 2016/2018 muito pelo contexto de lava jato, de impeachment, de fake news, de Lula preso. Nessa eleição, apesar da força do bolsonarismo que a gente está vendo, existe um contexto muito pouco mais favorável, um contexto diferente, o Lula está na frente nas pesquisas, fez uma aliança muito ampla que a gente não viu em outras eleições, e ainda assim o senhor aqui em São Paulo está atrás nas pesquisas. O que explica isso? Qual é o contexto dessa eleição? Existe um contexto que explique ou é um problema da candidatura do senhor especificamente?

[Fernando Haddad]: Carolina, deixa eu te falar uma coisa, isso aí é o eleitor que julga, entendeu? A gente faz o melhor possível. Tem partidos que nunca vão chegar ao poder e continuam defendendo o que eles acreditam. Porque a vitória a qualquer custo, ela não vale a pena. Não vale a pena. Posso te assegurar isso. No meu caso, não vale a pena a vitória a qualquer custo. Então imagina um partido pequeno, que não tem expectativa de poder. Ele pode passar a vida defendendo aquelas ideias, e você vai perguntar: "Puxa, mas vocês têm 10% do eleitorado, vocês não vão fazer nada para chegar em 50?". E o cara vai dizer pra você: "Eu não quero fazer nada pra chegar em 50 que vá de encontro ao que eu entendo que deva ser o mundo". Então a pessoa vai defender as ideias dela. Eu, quando vou pra uma eleição, eu não vou fazendo cálculo eleitoral apenas. É óbvio que eu quero ganhar a eleição. Mas eu tô defendendo um programa de governo. Se o eleitor paulista entender que o programa é bom e que eu tenho condições de executá-lo, ele vai me eleger. Se ele achar que não, ele vai eleger outra pessoa. E isso faz parte do jogo. Às vezes, as pessoas às vezes lidam com eleição como se fosse um campeonato que você tem que ganhar a todo custo. Eu não raciocino dessa maneira. Eu sou uma pessoa...

[Carolina Linhares]: Mas pro senhor não vale a pena fazer um aceno pro eleitorado de centro? O senhor não acha que tem que conquistar esse eleitorado?

[Fernando Haddad]: Carolina, eu estava no final de semana na estrada do M'Boi Mirim com o Boulos e o Alckmin no meu carro de som. Acho que mais aceno do que esse, de querer conciliar a sociedade paulista em torno de um projeto que faça sentido, mais aceno que isso é impossível. Enquanto o meu adversário tá com Roberto Jefferson, Edir Macedo, Valdemar da Costa Neto, Kassab, eu tô com Alckmin, Márcio França, Boulos, Marina Silva, é isso.

[Fabíola Cidral]: Candidato, o senhor acabou de falar, assim, "a gente disputa a eleição não pra ganhar, não é um jogo de campeonato", me pareceu um discurso um pouco já de derrota, quer dizer, já tá aceitando caso perca, não?

[Fernando Haddad]: Não, querida, é que, pra mim, uma eleição é uma coisa que envolve uma proposta. Que eu acredite e que eu consiga defender com paixão. Eu nunca participei de uma eleição sem paixão. Em virtude das ideias que eu acredito. Então eu já disputei em situações muito adversas defendendo os projetos com a mesma paixão de quando eu liderava a pesquisa. Então, pra mim, a disputa democrática tem o eleitor como soberano. Ele é que vai decidir o rumo, ele é que pode rever, ele é que pode se reinventar, ele é a pessoa que vai dar o rumo pro estado e pro país. O que eu digo pra você é o seguinte, quando a Carolina fala: "Faltou aceno?". Não faltou aceno. Nós fizemos a maior coalizão progressista, inclusive indo pra centro-direita, da história do estado de São Paulo. De todos os tempos. É uma... é um palanque que enche os olhos.

[Carolina Linhares]: Mas o que o senhor acha que falta, então? Porque o senhor diz: "Eu tenho a melhor proposta, eu tenho o melhor time, eu acenei pro centro, eu tô com o Lula, que tá na frente", quer dizer, tudo favorável, e o senhor atrás nas pesquisas, o que falta?

[Fernando Haddad]: Isso é seu papel responder. Pra mim, não falta nada. Tanto é que—

[Carolina Linhares]: Mas o senhor... Um candidato que tenta ganhar teria que tentar responder essa...

[Fernando Haddad]: Eu posso te garantir isso. No domingo, eu vou votar 13 pra governador e 13 pra presidente. Com muita convicção. Mas muita convicção. Agora, você que é analista hoje, eu tô de férias da Universidade de São Paulo.

[Carolina Linhares]: O senhor que é cientista político, eu tô perguntando o que falta pra vencer.

[Fernando Haddad]: Eu tô de licença...

[Leonardo Sakamoto]: Haddad, deixa eu entrar numa outra questão, até porque nosso tempo tá correndo e estamos chegando já pra reta final da conversa, queria perguntar alguns pontos de programa, abrir alguns pontos de programa, de propostas, né? Uma matéria do nosso colega Carlos Madeiro aqui no UOL apontou que nos últimos quatro anos o número de brasileiros no Cadastro Único entre em situação de extrema pobreza, ou seja, miséria, aumentou 10 milhões, agora nós temos 49 milhões na extrema pobreza, o que dá 23% da população brasileira. Em São Paulo, especialmente, você tem dois levantamentos nesse sentido. Você tem um da própria Prefeitura, que afirmou que entre janeiro e julho deste ano, os primeiros meses, aumentou em 10% o número de paulistanos em extrema pobreza, e os mesmos responsáveis pela rede de segurança alimentar que apontaram que o Brasil tinha subido de 19 milhões em 2020 pra 33 milhões de pessoas passando fome neste ano apontam que São Paulo tem sete milhões de pessoas passando fome. Qual é, como fome é uma coisa que não pode esperar, quais seriam as suas medidas iniciais para atuar no combate à fome dos paulistas?

[Fernando Haddad]: Léo, o modelo econômico brasileiro, de seis anos para cá, está errado. Nós estamos afundando a sociedade brasileira, imaginando que arrocho salarial em cima dos pobres vai aumentar o lucro dos ricos, que vão investir mais. Eles não vão investir mais. Simplesmente porque eles não têm para quem vender. Eles estão aumentando os lucros? Sim, estão embolsando dinheiro ao invés de investir. O mercado interno brasileiro está diminuindo, Léo. O modelo está errado. Quando eu falo que eu vou repor as perdas do salário mínimo paulista, e o salário mínimo paulista, em janeiro, vai para R$ 1.580,00, é disso que eu estou falando. Quando eu falo que vou diminuir o ICMS da carne e da cesta básica, é disso que eu estou falando. Eu estou ampliando o orçamento da base da pirâmide. Porque é ela que vai fazer a roda da economia girar. Não tem Auxílio Emergencial, Auxílio Brasil que resolva esse problema. Não vai resolver. Muita gente achava que o Lula era mágico porque tinha inventado o Bolsa Família. O Bolsa Família foi um item de um projeto econômico que envolvia a valorização do salário-mínimo, envolvia PAC, envolvia plano de desenvolvimento da educação, envolvia obras de infraestrutura no Nordeste, transposição, cisterna, luz para todos. Não era um item—

[Leonardo Sakamoto]: Haddad, desculpa te interromper, mas nesse sentido o que você está colocando, na verdade… Eu estava querendo saber mais o que o candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad—

[Fernando Haddad]: Eu falei do salário mínimo paulista, falei do ICMS da carne e da cesta básica, falei do projeto de reindustrialização do estado. Nós temos que fazer uma reforma tributária em São Paulo, até para pressionar o Governo Federal, o Congresso Nacional, a votar a reforma tributária no âmbito nacional. Nós estamos perdendo empregos, perdendo empregos. Nós precisamos de uma renda básica de cidadania para quem está abaixo da linha de pobreza. O governador tem que se envolver com a população em situação de rua. Isso deixou de ser um assunto exclusivo de prefeito, como sempre foi. O governador tem que chamar os prefeitos à responsabilidade. Nós estamos com um problema de ensino médio em São Paulo gravíssimo. Os jovens estão evadindo do ensino médio. Precisam voltar para o ensino médio, ainda que seja pela concessão de uma bolsa, ou de uma poupança, ou de um estágio. Nós temos que certificar profissionalmente os jovens que concluem o Ensino Médio, porque eles estão saindo sem uma profissão. O Estado de São Paulo tem o Instituto Federal, que eu criei, tem o Sistema S, tem o Centro Paula Souza, isso é base para o desenvolvimento paulista. As universidades, USP, Unesp, Unicamp, têm que se aproximar do setor produtivo, colocar o conhecimento produzido aqui para reindustrialização do Estado. Nós temos que nos unir à indústria 4.0 em relação ao meio ambiente, em relação ao carro híbrido, em relação a placas de células fotovoltaicas, energia eólica. Nós temos fazendas para produzir energia sustentável. Nós temos que investir em pesquisa para extrair o hidrogênio do etanol e produzir energia elétrica, nós temos que combater o greening da citricultura, que está consumindo os pés de laranja do nosso estado. Passo três dias aqui dizendo para você o que tem que fazer, Léo. Tenho um programa com 120 páginas explicando detalhadamente o que nós vamos fazer. O meu adversário nem sonha com o que eu estou dizendo porque ele não sabe do que eu estou dizendo. Não pode participar da sabatina porque ele não teria o que te responder. Eu tenho 25 anos de docência na Universidade de São Paulo, estudando Direito, Economia, Filosofia, Antropologia, História, Geografia para servir o meu estado, para servir o país. Eu dialogo com todas as comunidades científicas do estado, com todas as lideranças comunitárias do estado, eu conheço um por um dos líderes comunitários deste estado. Da moradia, do meio ambiente, da ciência, da tecnologia, do que você quiser. Eu estou disputando com um sujeito que mudou agora para cá. E que—

[Fabíola Cidral]: Candidato, tem muita gente aqui na nossa audiência, e chegam várias perguntas interessantes. Tem uma aqui que eu achei até curiosa, porque agora o senhor falou várias coisas dos seus projetos, né? Mas o Felipe Sabian pergunta assim: "Ele também é candidato a ministro?", querendo saber se há alguma possibilidade, caso o senhor não vença em São Paulo, caso o Lula vença nacionalmente, o senhor vai ser ministro?

[Fernando Haddad]: Olha, essas coisas, pra mim, eu quando visto uma camisa, eu estou no campo jogando o campeonato. Tá certo? O meu campeonato é campeonato paulista, eu quero ganhar o campeonato paulista da eleição. Nós nunca ganhamos um campeonato paulista. Nós já ganhamos o Brasileirão, já ganhamos o Paulistão, mas nunca ganhamos o campeonato paulista. Eu estou jogando o campeonato paulista, até domingo, eu estou obcecado pela vitória no campeonato paulista. Nós não temos esse título. Eu quero esse título. Eu acho que São Paulo vai melhorar muito abrindo as portas—

[Fabíola Cidral]: Com certeza, esse é o assunto, está disputando. Mas caso haja possibilidade, aceitaria ser um ministro?

[Fernando Haddad]: Fabíola, nunca conversei sobre esse assunto com o presidente Lula. Te dou minha palavra. Nunca.

[Fabíola Cidral]: Porque todo mundo está achando que você vai ser ministro da Economia, que não vai ser da Educação. Há essa possibilidade?

[Fernando Haddad]: Quero dizer para você que todo mundo tem que pensar que vou ser o governador, porque é o que eu estou batalhando para ser.

[Carolina Linhares]: Deixa eu fazer a pergunta de um jeito diferente. Se o senhor perder, o senhor gostaria de ter um papel no governo?

[Fernando Haddad]: Carolina, você me faz essas perguntas, você sempre encontra um jeito de fazer uma pergunta que eu não posso te responder. Você pergunta, ah, se você perder a eleição...

[Carolina Linhares]: Porque o Governo Lula vai ser um governo de aliança ampla, enfim, vai ser uma experiência interessante esse governo, certamente o senhor que dedica a sua vida à vida pública vai querer participar dessa experiência, não vai?

[Fernando Haddad]: Carolina, primeiro lugar, eu tenho uma esposa que tem uma carreira na Universidade de São Paulo, que é professora titular, que fez uma concessão em 2003 e me acompanhou até Brasília, que eu não queria dividir a família, queria que a família tivesse unida, fomos os quatro para Brasília. Se não fossem os quatro para Brasília, eu não teria ido para Brasília em 2003. Porque eu não ia ficar semana inteira distante da minha esposa. São coisas que na segunda eu vou ver. Até domingo, eu estou disputando essa eleição. Cheguei competitivo na última semana, que era o que eu queria que acontecesse, e convoco as pessoas que estão assistindo, lute por esse Estado até domingo. Nós estamos a muito pouco, muito pouco de uma vitória inédita no Estado de São Paulo. E vamos parar dessa coisa de litoral, interior, capital, somos todos paulistas, vamos construir um estado bom para todo mundo. Tem muita coisa boa do interior que tem que estar presente nas regiões metropolitanas, e muitas coisas boas da grande cidade que tem que ir para o interior. Nós temos que democratizar o Estado e acabar com essa coisa de quem é cosmopolita, quem é... tenho imediato metade da minha família no interior, metade dos meus tios optaram por ficar no interior, meu pai, meus irmãos vieram para a capital, e três tios ficaram no interior. Eu gosto do Estado todo, e nós vamos governar para todo o estado.

[Fabíola Cidral]: Bom, vamos para o pinga-fogo? Muitas dessas questões você já respondeu, mas é sempre bom a gente colocar aqui. Contra ou a favor a legalização do aborto?

[Fernando Haddad]: Contra.

[Fabíola Cidral]: Descriminalização da maconha?

[Fernando Haddad]: Contra.

[Fabíola Cidral]: Contra. Vai aumentar a tarifa do transporte público? Já está nas contas aí? Já está fazendo as contas, não?

[Fernando Haddad]: Não, não estou fazendo as contas porque eu vou fazer no âmbito do bilhete único metropolitano.

[Fabíola Cidral]: Mas vai ter que ter reajuste?

[Fernando Haddad]: Depende do valor da tarifa do bilhete único metropolitano.

[Fabíola Cidral]: Concessão de parques públicos à iniciativa privada: contra ou a favor?

[Fernando Haddad]: Isso é caso a caso, não tem razão para dar uma resposta genérica, não.

[Fabíola Cidral]: Depende do caso.

[Fernando Haddad]: Toda concessão ou privatização é caso a caso. Eu sou a favor... eu sou a favor de vender o Ceagesp, sou contra vender a Sabesp, por exemplo.

[Fabíola Cidral]: Já respondeu duas então aqui. Inspeção veicular em todo o estado de São Paulo, contra ou a favor?

[Fernando Haddad]: Contra.

[Fabíola Cidral]: É a favor da cobrança de mensalidade nas universidades públicas?

[Fernando Haddad]: Contra.

[Fabíola Cidral]: Privatização de presídios?

[Fernando Haddad]: Contra.

[Fabíola Cidral]: Câmeras no uniforme da polícia?

[Fernando Haddad]: 100% a favor.

[Fabíola Cidral]: Contra ou a favor ao aumento de posse e porte de armas por cidadãos comuns?

[Fernando Haddad]: Contra.

[Fabíola Cidral]: Privatização das linhas da CPTM e do metrô?

[Fernando Haddad]: Depende do caso, também. Mas do jeito que está sendo feito, contra. Você vende o filé mignon e fica com o osso e não investe na qualidade do serviço.

[Fabíola Cidral]: É a favor de aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal?

[Fernando Haddad]: Contra.

[Fabíola Cidral]: Pra ligar Santos ao Guarujá, uma ponte ou um túnel?

[Fernando Haddad]: Um túnel.

[Fabíola Cidral]: Operações policiais na "cracolândia" resolvem?

[Fernando Haddad]: Sem atendimento ao usuário, não. Porque tem que separar o drogadito do traficante. A pessoa que tá dependente tem que receber tratamento, teto e frente de trabalho. E no limite, quando a pessoa colocar em risco sua própria vida ou a vida de alguém, você pode até pensar na internação compulsória, mas em casos limites, com laudo médico.

[Fabíola Cidral]: Sua melhor qualidade e seu pior defeito?

[Fernando Haddad]: Eu acho que eu gosto de estudar. Defeito é teimosia. Muito teimoso.

[Carolina Linhares]: Posso emendar uma pergunta? O senhor falou das universidades, como ministro, o senhor teve uma política de expansão das universidades, foram inauguradas várias universidades. O senhor, como governador, pretende criar uma nova universidade estadual, ou USP, Unicamp e Unesp tá suficiente?

[Fernando Haddad]: Eu me comprometi a que toda a escola, toda Etec vai também ter curso superior. Eu vou expandir muito a Univesp, eu quero que todos os municípios do estado tenham um polo da Univesp instalado, e as Etecs terão curso superior no modelo do instituto estadual.

[Leonardo Sakamoto]: Haddad, tem um ponto que vem sendo bastante repercutido, principalmente em listas, em grupos de WhatsApp, de pessoas principalmente da periferia, pelo que as pesquisas estão mostrando, que é uma questão específica de segurança pública que é o estupro, né? Em São Paulo, de 2019 até hoje, houve um aumento significativo, aumentou em mais de 25% o número de mulheres violentadas sexualmente, né? Como fazer um combate efetivo a esse crime? Como é que você pretende enfrentar esse aumento de estupro?

[Fernando Haddad]: Olha, eu acho que essa pergunta tem que ser muito, mais feita, sabe, ao longo do tempo porque é um drama social expressivo, sobretudo em relação a menores. Nós temos aí muitas meninas e meninos, né, que a partir, às vezes até em tenra idade, que são violentados, e a gente tem que criar uma rede de proteção da infância e da adolescência, criar um ambiente em que as denúncias possam ser feitas contra os abusadores, que, muitas vezes, são pessoas que são próximas dessas crianças, e que se valem da confiança dessas crianças pra ter o abuso, e no caso da mulher trabalhadora, já adulta, combater não só o assédio sexual em locais de trabalho, transporte público, vias urbanas mal iluminadas e tudo mais, como a questão da Segurança Pública stricto sensu, que é garantir que as mulheres possam se locomover pela cidade em condição de segurança. Eu acho que o meu plano de Segurança Pública vai ao encontro disso com lâmpadas LED, com bases policiais em locais de vulnerabilidade, com a lei Maria da Penha, guardião Maria da Penha, eu acho que tem várias iniciativas que compõem um todo de combate ao abuso contra a mulher e contra a criança.

[Fabíola Cidral]: E vai aumentar o policiamento, Haddad? Porque eu moro aqui na região central, a gente também, eu trabalho aqui na região central, e é muito maluco, a gente não pode sair com o celular na mão. Hoje em dia nem mesmo no Uber você consegue usar o celular nos carros, no táxi, tudo mais, com medo do vidro quebrar, algumas pessoas aqui já tiveram vidro quebrado num carro de aplicativo. O que o senhor vai fazer pra que as pessoas possam usar o celular nas ruas?

[Fernando Haddad]: O policiamento ostensivo é importante, mas sem a investigação pra chegar no receptador, não vai resolver o problema em São Paulo. O problema hoje de São Paulo, o maior problema de segurança pública em São Paulo é a falta de investigação pra chegar na organização criminosa. A gente prende em flagrante quando tem sorte de ter um policial próximo, mas não faz a investigação pra chegar no aliciador e no receptador dos bens furtados ou roubados.

[Fabíola Cidral]: Então é o aumento do policiamento mais o aumento da investigação, é disso que a gente pode entender?

[Fernando Haddad]: Isso mesmo.

[Fabíola Cidral]: Bom, muito obrigada pela sua entrevista, boa sorte aí nessa reta final, bom fôlego aí, a gente sabe que não é fácil campanha eleitoral, estado de São Paulo tão gigante. Esses próximos dias vai ficar pela capital paulista ou vai ainda pro interior e pro litoral?

[Fernando Haddad]: Não, eu estive ontem em Ribeirão, hoje eu vou começar à tarde a preparação pro dia de amanhã, que é o dia de debate, a gente faz uma discussão sobre temas que podem ser abordados, e depois eu devo estar também com o presidente Lula, que tem o debate na sexta, ele deve estar indo pro Rio amanhã, temos que ter uma conversa com ele, mas acho que estamos bem, estamos na reta final.

[Fabíola Cidral]: Um ajuda o outro no debate, é isso, Haddad? Ele te ajuda no debate estadual e você ajuda ele no debate nacional?

[Fernando Haddad]: Não, na verdade, não é uma ajuda, é uma troca de ideias sobre os temas mais relevantes pro país e pro estado de São Paulo. O que a gente, qual é a mensagem de reta final que a gente quer deixar. Você sabe que debate, mesmo nesses formatos novos, é um espaço contido, né? Você tem dez, 15 minutos. É muito importante você escolher os temas que vão passar um recado pra sociedade e ter segurança do rumo que a gente quer dar pra o estado e pro país.

[Fabíola Cidral]: Então rapidamente, uma frase, qual é o recado em São Paulo e qual é o recado no Brasil que tem que ficar? Na sua análise.

[Fernando Haddad]: Nós temos que mudar com segurança. Chega de aventura, vamos com seriedade tratar a nossa República, nossa democracia, e fazer as mudanças necessárias com a segurança que o povo merece e o respeito que o povo merece.

[Fabíola Cidral]: Fernando Haddad, muito obrigada por participar aqui da nossa sabatina UOL/Folha, bom trabalho a você, boa campanha e bom voto no domingo.

[Fernando Haddad]: Obrigado, Carolina, Leo, Fabíola, prazer estar com vocês.

[Fabíola Cidral]: Tchau, Sakamoto, obrigada, tchau, Carol, muito obrigada. E assim a gente termina mais uma sabatina UOL e Folha, que você acompanha ao vivo, hoje ouvindo Fernando Haddad mais uma vez. Digo, Tarcísio de Freitas, o candidato que é adversário de Haddad, não aceitou o nosso convite de participar aqui da sabatina, o que nós lamentamos, gostaríamos de fazer muitas dessas mesmas perguntas que fizemos a Haddad a Tarcísio de Freitas pra que você, eleitor, possa escolher que você quer no comando do estado de São Paulo pros próximos quatro anos. Muito obrigada pela sua audiência, pela sua companhia, volto daqui a pouquinho, ao meio-dia, com o UOL News, até lá.