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Dona de rádio que teria indicado erro em inserções apoia Bolsonaro

"Foi um prazer conhecer uma mulher tão carismática!", afirmou Lídia Prata, da rádio JM FM - Reprodução/Instagram
'Foi um prazer conhecer uma mulher tão carismática!', afirmou Lídia Prata, da rádio JM FM Imagem: Reprodução/Instagram

do UOL, em Brasília

26/10/2022 16h28Atualizada em 26/10/2022 17h17

Uma das donas da rádio JM Online —que, segundo o servidor da Justiça Eleitoral Alexandre Machado, "admitiu que havia deixado de repassar 100 inserções" da campanha de Jair Bolsonaro— fez campanha para o presidente e candidato à reeleição. Ela postou uma foto usando adesivo do candidato no peito em um encontro com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Há quatro dias, a empresária Lídia Prata Ciabotti exibiu em rede social uma foto vestindo uma camisa verde e com o adesivo de Bolsonaro enquanto entrega um exemplar do Jornal da Manhã para Michelle. A primeira-dama participava do evento "Mulheres com Bolsonaro", em Uberaba (MG). "Foi um prazer conhecer uma mulher tão carismática!", escreveu Lídia.

Nos comentários, uma seguidora responde: "Me parece estranho a dona de um jornal com adesivo de um candidato!!". A empresária responde: "Por que? Não posso fazer minha escolha?"

Lídia é diretora administrativa do grupo JM de Comunicação, que inclui o "Jornal da Manhã", um periódico impresso que circula lá, o site "JM Online", a rádio JM 95.5 FM, a JM-TV e a editora e gráfica Vitória.

Na manhã desta quarta-feira (26), o UOL questionou à emissora quando serão incluídas na programação as inserções de Bolsonaro que, segundo a rádio, não foram veiculadas e qual o motivo dessa falha. Em nota, a emissora não respondeu sobre a publicação com Michelle Bolsonaro. Lídia Prata fechou seu perfil em rede social depois dos e-mails e telefonemas da reportagem.

Um dos proprietários da emissora, o diretor-executivo Luiz Ciabotti, disse ao UOL que desconhecia a falta de inserção de propagandas. Ele afirmou que consultaria seus funcionários e retornaria à reportagem com informações sobre o suposto correio eletrônico enviado ao TSE.

A reportagem procurou a rádio mais duas vezes depois disso, para falar com Luiz e Lídia, sobre o e-mail e sobre a foto dela com Michelle Bolsonaro. Os esclarecimentos serão publicados quando forem recebidos.

Em 10 de outubro, Lídia Prata divulgou foto sua com o jogador de vôlei Maurício Sousa, deputado federal eleito. "Ele ressaltou que está pronto para trabalhar por Uberaba", escreveu Lídia.

Servidor foi exonerado do TSE. Nesta quarta-feira (26), Alexandre Machado, servidor do TRE-DF (Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal) e ex-coordenador do pool de Emissoras do TSE, disse à Polícia Federal que "recebeu um e-mail emitido pela emissora de rádio JM Online no qual a rádio admitiu que dos dias 07 a 10 de outubro havia deixado de repassar em sua programação 100 inserções (...) referente ao candidato Jair Bolsonaro".

A mensagem teria sido encaminhada à Secretaria-Geral do TSE. Machado foi exonerado do cargo depois disso, informou ele à Polícia Federal.

O e-mail da rádio JM teria chegado ao TSE depois de alegações da campanha de Bolsonaro de que emissoras do Nordeste não teriam divulgado inserções do PL, mas apenas do PT, de Luiz Inácio Lula da Silva.

A rádio JM, porém, não está na lista de emissoras cujas programações foram analisadas pela campanha. A empresa fica em Uberaba (MG).

Rádio exibiu programa e inserções hoje. O UOL escutou a programação da rádio JM nesta quarta-feira (26) no horário do almoço. Ao meio-dia, a rádio iniciou o programa eleitoral de Lula. Foram cinco minutos. O programa de Bolsonaro começou em seguida, às 12h05. Ele durou outros cinco minutos.

Logo depois, às 12h13, houve uma inserção de 30 segundos de Jair Bolsonaro na rádio. Às 12h16, foi a vez da inserção de Lula.

Mais tarde, durante uma entrevista com um evangélico militante bolsonarista chamado apenas de "seu Orlando", um entrevistador iniciou a conversa falando que agora existem "provas" lá em Brasília de que não foram feitas inserções de Bolsonaro. Ele não mencionou que a "prova" seria um e-mail enviado pela própria rádio ao Tribunal Superior Eleitoral.

Mais tarde, um outro locutor identificado apenas como Paulo disse que estavam sendo feito "levantamentos". "Com certeza, a rádio JM vai trazer as informações em relação a isso aqui o mais rápido possível", iniciou. "Só ter o tempo de fazer os levantamentos."

Batalha de narrativas. Desde o início da semana, a campanha de Bolsonaro tem questionado as inserções da propaganda eleitoral nas rádios. A equipe do presidente acusa emissoras do Nordeste de omitir transmissões da campanha e, por consequência, favorecer o adversário Lula (PT).

A exoneração de Alexandre Machado nesta quarta deu munição para a equipe. Nos bastidores, aliados do presidente dizem que o fato está criado e vai gerar uma "batalha de narrativas" sobre a lisura do processo eleitoral.

Integrantes do TSE, porém, rebatem as alegações de Machado e dizem que ele não fez denúncia ou queixa sobre fraudes em inserções de rádio. O UOL apurou ainda que a exoneração do servidor já era esperada em razão de problemas relacionados à produtividade e o relacionamento com outros colegas do tribunal.