Topo

Bolsonaro é questionado sobre 51 imóveis em dinheiro vivo e ataca imprensa

Do UOL, em São Paulo

28/10/2022 15h43

O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, voltou a atacar hoje a imprensa e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ao participar de uma transmissão ao vivo com o youtuber Thiago Nigro nas redes sociais. Ao ser questionado sobre os 51 imóveis que a família dele comprou com pagamentos parciais em dinheiro vivo, ele disse que a imprensa quer tirá-lo da Presidência.

"O UOL, a Folha, o Estadão, O Globo não me dão paz desde antes de eu assumi a Presidência. Eles querem me tirar daqui, fazem parte do sistema. Sistema que integra também nosso TSE, que me ataca o tempo todo, haja vista o tratamento dispensado a mim e ao Lula", declarou.

Ele continuou, citando decisões recentes da Corte. "Tudo contra mim pega, até me proibiram de fazer live na minha casa", disse.

"Agora essa questão de dezenas de milhares de inserções no rádio, está comprovado, o que TSE faz? Nada. E ainda diz que partido não poderia contratar auditoria com dinheiro do fundo partidário, diz ainda que nos estamos querendo tumultuar o Estado democrático de direito. É isso que fazem o tempo todo".

Nesta semana, o TSE barrou uma ação da campanha de Bolsonaro. O pedido era para investigar supostas irregularidades na propaganda eleitoral transmitida por rádios da região Norte e Nordeste. Segundo a equipe do presidente, esses veículos teriam deixado de transmitir diversas inserções dele, o que supostamente favoreceria seu adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para o presidente do Tribunal, o ministro Alexandre de Moraes, a campanha não apresentou nenhuma prova concreta da acusação e parece uma tentativa de tumultuar a reta final do segundo turno das eleições. Ele também encaminhou um ofício à Procuradoria-Geral Eleitoral para apurar se o pedido, de fato foi um crime eleitoral.

Bolsonaro criticou a decisão e disse que irá "às últimas consequências" para que as acusações sejam investigadas.

Reportagem que revelou compra de imóveis com dinheiro vivo foi publicada pelo UOL em setembro. O material revelou que 51 dos 107 imóveis negociados pelo presidente ou pela família dele desde 1990 foram pagos, ao menos parcialmente, com dinheiro vivo. O trabalho, feito ao longo de sete meses, consultou mais de mil páginas de documentos requeridos a cartórios de 16 municípios para fazer o levantamento.

Na live de hoje, Bolsonaro voltou a negar que tenha cometido qualquer ilícito. "Pegaram desde 1990 tudo que foi comprado, que disse que esse dinheiro foi comprado com dinheiro (sic). Se fosse, eu não teria nada a ver com isso. Mas o que está na escritura é moeda nacional corrente, toda escritura diz isso", declarou.

"No passado, era comum comprar imóvel em dólar, porque a inflação era altíssima e a moeda de referência passou a ser o dólar", declarou. "Eu ser responsabilizado pela compra de imóveis de parentes e ex-parentes meus? Não tem cabimento isso".

A afirmação do presidente está errada. Dos 51 imóveis, 17 foram citados em investigações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), a partir de dados de quebra de sigilo sobre o esquema de rachadinha nos gabinetes de Carlos e Flávio Bolsonaro.

Os jornalistas Juliana Dal Piva e Thiago Herdy explicaram como rastrearam o pagamento de cada um dos imóveis. Os detalhes e fotos das certidões que embasam a reportagem podem ser consultados aqui.

A reportagem chegou a ser censurada pela Justiça de Brasília. O pedido partiu do senador Flávio Bolsonaro, sob o argumento que o texto citava dados de uma investigação do MP-RJ anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Em sua decisão, o desembargador Demetrius Gomes Cavalcanti, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, desconsiderou o dever da imprensa de informar e o direito da sociedade à informação de interesse público.

No mesmo dia, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) André Mendonça — que foi indicado por Bolsonaro — derrubou a decisão, dizendo que a censura "por melhores que sejam as intenções, não encontra guarida na Constituição Federal".