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O que se sabe sobre tiroteio e morte em Paraisópolis em agenda de Tarcísio

Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante a agenda em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, instantes antes dos tiros - Stella Borges/UOL
Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante a agenda em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, instantes antes dos tiros Imagem: Stella Borges/UOL

Do UOL, em São Paulo

28/10/2022 14h26

Os desdobramentos dos episódios envolvendo o tiroteio entre criminosos e policiais militares que faziam a segurança do entorno de um ato de campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, têm impactos políticos na reta final do segundo turno das eleições. A ação, ocorrida no dia 17 deste mês, deixou um suspeito morto.

O tema inclusive pautou o debate da TV Globo de ontem (27) entre o ex-ministro da Infraestrutura do governo Jair Bolsonaro (PL) e Fernando Haddad (PT), seu adversário na disputa pelo governo de São Paulo. Veja o que se sabe do caso.

Campanha de Tarcísio manda cinegrafista apagar imagens. A Folha de S.Paulo publicou um áudio do momento em que um integrante da campanha de Tarcísio mandou um cinegrafista da Jovem Pan apagar as imagens do confronto, que interrompeu o ato da campanha do candidato.

"Tem que apagar. Essa mensagem que você filmou aqui também. Mostra o pessoal saindo, tem que apagar essa imagem. Não pode divulgar isso, não", ordenou o membro da campanha, identificado como Fabrício Cardoso de Paiva, servidor licenciado da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), segundo informação revelada pelo The Intercept Brasil e confirmada pelo UOL Notícias.

Após negar vídeo de apoio a Tarcísio, cinegrafista pede demissão. Após relatar ter sido pressionado pelo integrante da campanha de Tarcísio a apagar as imagens, o cinegrafista Marcos Andrade pediu rescisão do contrato dele com a Jovem Pan. O episódio ocorreu na última quarta-feira (26).

Ele disse ter sido chamado por seus superiores para conversar e foi informado que a equipe de Tarcísio teria pedido a demissão dele —a informação foi negada pela campanha. A emissora garantiu ao repórter que não faria isso, mas solicitou que ele fizesse um vídeo em apoio ao candidato.

"Sejamos práticos. Amanhã, esse cara [Tarcísio] ganha as eleições e a primeira coisa que a Jovem Pan ia fazer era me demitir. Eu achei por bem me demitir, porque não teria mais clima para eu trabalhar lá", disse.

17.out.22 - Tarcísio fala em coletiva à imprensa após evento de campanha com tiros em Paraisópolis - Stella Borges/UOL - Stella Borges/UOL
17.out.22 - Tarcísio fala em coletiva à imprensa após evento de campanha com tiros em Paraisópolis
Imagem: Stella Borges/UOL

Tarcísio diz não ver irregularidades e critica "sensacionalismo." O próprio Tarcísio confirmou a veracidade do diálogo, que ocorreu dentro do comitê de campanha do candidato, logo após um grupo de jornalistas ser retirado de Paraisópolis em uma van blindada a serviço da campanha dele.

No entanto, disse não ver irregularidades na ação do integrante da sua campanha e fez ataques à imprensa, em entrevista na última terça-feira (25) após um comício em Osasco, na Grande SP.

"Pode ser que alguém, na tensão, tenha pedido para apagar alguma coisa para preservar a identidade de pessoas que fazem parte da nossa segurança. O que eu lamento é que a imprensa faça sensacionalismo. Eu não estou mais falando nesse assunto. A imprensa, toda hora, traz esse assunto para a pauta."

27.out.2022 - Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT), candidatos ao governo de São Paulo, participam do debate da TV Globo - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
27.out.2022 - Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT), candidatos ao governo de São Paulo, participam do debate da TV Globo
Imagem: Reprodução/TV Globo

O que disseram Haddad e Tarcísio no debate. Após o episódio, Fernando Haddad já havia criticado a postura do integrante da equipe de Tarcísio por ter mandado o cinegrafista apagar as imagens. "É uma prática típica de milícia. Não é prática de quem tem compromisso com a verdade", criticou.

No debate da TV Globo desta quinta-feira (27), questionou o seu rival nas eleições. "Você concorda com a atitude dele?". Na resposta, Tarcísio voltou a falar em "sensacionalismo" e repetiu a justificativa de que o objetivo era a "preocupação com a segurança" das pessoas filmadas.

Versão inicial de "atentado" reaparece. Embora tivesse recuado na versão inicial de que teria sido vítima de um atentado, Tarcísio voltou a tratar o caso como um ataque à candidatura, versão já descartada pela investigação conduzida pela Polícia Civil. "É um absurdo um candidato ao governo ser abordado por criminosos."

Em seguida, Haddad voltou a atacá-lo pelo pedido para apagar as imagens. "A partir do momento que você vai desligando imagem, tirando câmera do uniforme, jogando fora as coisas, você compromete a investigação. Sabe o que isso gera? Suspeição."

"Nada a esconder". "O que você acha que a gente quer esconder? Vou te falar: nada. E a investigação da Polícia Civil vai deixar isso muito claro", respondeu Tarcísio.

"Você não destrói material de uma cena de crime". Em seguida, Haddad insistiu no assunto, dizendo que o integrante da equipe de Tarcísio orientou a destruição de provas.

"Se eu tivesse no teu lugar, eu diria o seguinte: 'Olha, a pessoa errou, não devia ter mandado apagar, devia ter entregue para o delegado, ele que julga a conveniência de manter ou não as imagens sob sigilo'. E destruição de material, meu querido, só com autorização de juiz. Você não destrói material de uma cena de crime", disse Haddad.

Tiroteio em Paraisópolis durante agenda de Tarcísio de Freitas - Reprodução - Reprodução
Tiroteio em Paraisópolis durante agenda de Tarcísio de Freitas
Imagem: Reprodução

Homem morto estaria desarmado, dizem testemunhas. Sob a condição de anonimato, quatro moradores de Paraisópolis ouvidos pelo The Intercept, que alegam ter presenciado a ação, disseram que o homem morto na ação estaria desarmado.

Carregador perto de homem baleado. A versão é contestada pela Polícia Civil. Um vídeo logo após os tiros no suspeito baleado já caído no chão mostra um carregador de pistola perto dele.

As imagens também registraram a moto usada por ele, flagrado instantes antes dos disparos enquanto filmava uma viatura descaracterizada usada pelos policiais à paisana que faziam a segurança no entorno. O outro homem, filmado na garupa do veículo, fugiu do local.

A polícia apreendeu duas armas —uma pistola usada por um dos PMs à paisana que atirou no começo da ação e um fuzil de outro agente que chegou ao local em seguida. Os investigadores ainda aguardam pela perícia para determinar de onde partiu o tiro que atingiu o suspeito morto. Mas tudo indica que foi o tiro dado pelo agente à paisana, pela dinâmica da ação apurada até agora.

Segundo a Polícia Civil, a equipe de segurança do Tarcísio não se envolveu no tiroteio.

O que diz a SSP. Em nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) disse que o caso é investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa) e pela Corregedoria da PM.

Até o momento, 13 pessoas foram ouvidas. "Detalhes serão preservados para garantir autonomia ao trabalho policial", diz um dos trechos do texto enviado hoje à tarde pela secretaria à reportagem do UOL Notícias.

O que os policiais faziam no local? Devido ao ato de campanha de Tarcísio de Freitas em Paraisópolis, policiais militares à paisana foram ao local para verificar as condições de segurança no entorno. Mas a presença deles ali teria despertado a suspeita de pessoas supostamente ligadas ao tráfico de drogas.

Após serem abordados e terem o veículo blindado filmado por dois homens em uma moto, foi possível ouvir uma rajada de tiros. Os agentes à paisana então foram encurralados e houve o confronto, segundo a Polícia Civil. Em seguida, acionaram reforço dos policiais militares da região.

Felipe Silva de Lima e Rafael de Almeida Araujo foram identificados como suspeitos do tiroteio em SP - Reprodução/Polícia Civil - Reprodução/Polícia Civil
Felipe Silva de Lima e Rafael de Almeida Araujo foram identificados como suspeitos do tiroteio em SP
Imagem: Reprodução/Polícia Civil

Quem era o suspeito morto. O homem morto no confronto foi identificado como Felipe da Silva Lima, 27. Atingido por um tiro no peito, ele chegou a ser socorrido e levado ao hospital Campo Limpo, segundo a polícia. Mas não resistiu aos ferimentos.

O homem que estava na garupa da moto quando a dupla filmou a viatura descaracterizada foi identificado pela investigação como Rafael de Almeida Araújo, e está foragido.

Alteração da cena do crime. Foram apreendidos carregador, coldre, cartuchos e estojos. Um policial militar que participou do confronto disse ter retirado esses objetos de lá por temer que os objetos fossem subtraídos por moradores, modificando a cena do crime.

Especialistas ouvidos pelo UOL Notícias veem possível fraude processual. Questionada, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) disse que investiga o episódio.

Diversas faixas contra o candidato a governador, Tarcísio de Freitas e o presidente candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, foram colocadas na comunidade - Reprodução - Reprodução
Diversas faixas contra o candidato a governador, Tarcísio de Freitas e o presidente candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, foram colocadas na comunidade
Imagem: Reprodução

Faixas de oposição a Tarcísio em Paraisópolis. Após o episódio, dezenas de faixas em oposição a Tarcísio e ao presidente Jair Bolsonaro (PL) foram colocadas pelas ruas de Paraisópolis. "Na nossa comunidade não. Respeite as favelas. Fora Bolsonaro! Tchau Tarcísio! A favela é contra a opressão", diziam as mensagens.